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PROJETO DESENHA PARÂMETROS ECONÔMICOS E AMBIENTAIS PARA O GARIMPO NO TAPAJÓS (PA)

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Julho de 2002

Região de mineração de ouro, onde impera a informalidade, com dimensões maiores que Portugal, Tapajós é a maior área garimpeira do Brasil e do mundo. São 100 mil Km² explorados por algo em torno de 50 mil garimpeiros. Encravada na porção sudoeste do Pará, a 1.300 quilômetros de Belém, Tapajós tem mais de 200 pistas de pouso ativas, mas já teve em tempos áureos cerca de 500. Sua produção anual é de cinco toneladas e, desde 58, quando começaram as atividades na região, registra média de 12 toneladas, tendo alcançado o pico de 25 toneladas, no final da década de 80.

Com índices assim tão gigantescos, Tapajós é considerado um desafio quando a tarefa é enumerar indicadores de sustentabilidade para a área. O próprio garimpo no país é, em si, um capítulo à parte da atividade mineral brasileira, que hoje procura se inserir dentro dos conceitos de indústria ambientalmente e socialmente saudável. Projeto em fase de gestação, ou seja, em busca de recursos, do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), instituto ligado ao ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), definiu para o Tapajós a necessidade de identificar, antes de tudo, quais são os parâmetros econômicos do garimpo ali. Seus idealizadores acreditam que, a partir daí, será uma conseqüência natural, estabelecer os padrões ambientais e sociais.

O projeto é uma parceria do engenheiro de minas do Cetem, Roberto Villas Bôas e do geólogo e consultor ambiental independente Alberto Rogério Benedito da Silva. De acordo com Alberto Rogério, em sua apresentação no seminário "Indicadores de Sustentabilidade para a Indústria Extrativa Mineral", realizado em Carajás, à semana passada, é temerário apresentar indicadores para o garimpo no Brasil, ainda mais quando se toma o Tapajós como modelo. "A indústria da mineração é precavida e tem dados, informações sistematizadas. Mas o garimpo é informal e também precário, principalmente quando se leva em conta os ajustes à legislação minerária e ambiental", explica o geólogo.
Alberto Rogério acredita que, dentro de dois meses, seja possível iniciar o trabalho de definição dos parâmetros econômicos de Tapajós. O que se quer é estabelecer uma metodologia de trabalho para mapear as áreas viáveis de serem exploradas. Ou seja, colocar a tecnologia a serviço do garimpeiro para organizar a mineração. "A idéia é quantificar o volume de ouro nos veios que forem surgindo e nos já existentes, para depois estipular o tempo de trabalho que o garimpeiro terá. Se não for viável economicamente, o próprio garimpeiro vai querer investir em outra área", conta Alberto Rogério, ao explicar a dinâmica do projeto.

Com o empreendimento devidamente estudado, ele acredita que o garimpeiro poderá organizar sua atividade e pagar melhor seu sócio e seus trabalhadores. "Hoje, quando o dono do garimpo, que é o investidor capitalista, o que investe dinheiro no beneficiamento, quebra, leva toda a cadeia de pessoas que trabalham com ele. Daí que vêm as ilhas sociais de problemas", observa. Para o geólogo, com o dinheiro melhor investido, o dono do garimpo poderá perfeitamente fazer o trabalho de recuperação da área que foi explorada.

O grande passivo ambiental do garimpo, hoje, está na água. Não é só o mercúrio que está presente nos corpos hídricos usados seja para a exploração do ouro de aluvião, seja para beneficiamento do ouro primário, aquele que está nas rochas. Quando o garimpeiro retira o ouro dos barrancos dos rios, remove cascalho e quando separa o ouro do material chamado esteril, porque não serve produtivamente, ele faz com que o rio fique removido, com alta concentração de silte e argila. As partículas são muito finas e demoram a decantar, provocando um efeito visual negativo e também a descaracterização do habitat fluvial dos seres que ali vivem. Outro efeito do carreamento dessas partículas é o assoreamento do rio, que tem sua lâmina de água diminuída com o tempo.

A agressão ambiental provocada pelo garimpo, ao contrário da mineração de outros produtos, assim, é extensiva, conforme explica Albero Rogério. "Não chega a castigar a floresta, porque desmata poucas árvores para construção das pistas de pouso, no caso de áreas isoladas como o Tapajós, embora haja degradação das matas ciliares, que acompanham os rios", avalia. Ele acredita que, com os parâmetros econômicos influenciando a lida do garimpeiro e o processo decisório de onde explorar, ficará mais fácil chegar a outras melhorias, como, por exemplo, a redução do uso do mercúrio na garimpagem.

O mercúrio é um metal pesado que se acumula no organismo humano e, a longo prazo, pode causar problemas neurológicos. A substância pode ter efeito também na carga genética das gerações futuras. Por outro lado, é a tecnologia mais fácil e mais barata para o garimpeiro que o utiliza no barranco, num equipamento chamado cobra-fumando, que separa o ouro da terra e ainda na bateia, um grande prato cônico onde ele apura o ouro. Ao sacudir ouro e mercúrio, mergulhados na água, o garimpeiro consegue que os metais fiquem no fundo do prato porque são mais pesados. A água residual é jogada no rio.

Em seguida, para separar os dois, ele usa fogo. Nesse processo, há outro agravante. Quando queimado, o mercúrio exala um gás tóxico que, aspirado ao longo da vida, é letal. "A cianetação é uma técnica alternativa, mas muito cara. E, além disso, precisa ser utilizada em tanques empilhados. Como na região chove muito, há o risco de estourar a barreira de contenção e a contaminação com cianeto é aguda. Mata na hora. Então, o garimpeiro prefere morrer aos poucos com o mercúrio, pode se dizer", conta Alberto Rogério, que já fez diversas visitas a garimpos do Pará, quando trabalhou por sete anos para o governo do estado. A realidade é praticamente a mesma em todos eles.

Na sua visão, fazer um trabalho de conscientização entre os garimpeiros é possível, seja pela regularização de sua atividade, ou pelo uso de técnicas limpas de exploração e beneficiamento. Na década de 90, por exemplo, foi o projeto Camga-Tapajós, do governo paraense, quem atingiu de forma mais abrangente a comunidade do garimpo. Foram realizados estudos sócio-econômicos, de impacto ambiental (especificamente sobre a contaminação mercurial), cursos de educação ambiental e campanhas informativas, e um trabalho de transformação do modelo de garimpagem. Esse último se traduziu no estabelecimento da figura empresarial no garimpo. Os donos de garimpo fizeram contratos de compra e venda com empresas e, assim, tinham destino certo para seu produto. As empresas ganhavam porque não precisavam investir em prospecção, fase de pesquisa cara, que, na informalidade do garimpo, já estava praticamente pronta.

Com a criação da Associação dos Mineradores de Ouro do Tapajós (Amot), a interlocução com as empresas e com as autoridades públicas ficou mais fácil ainda. Hoje, no entanto, praticamente não há contrato do tipo, vigente na região. Tudo porque o garimpo tem uma regulação própria, baseada nas leis de mercado. Alberto Rogério explica o motivo do declínio de uma parceria que foi tão promissora por um tempo. "Entre 90 e 96, a onça do ouro estava cotada entre US$ 380 e US$ 400. Depois, o preço foi caindo até chegar a US$ 260 no ano passado. Só ultimamente, o ouro recuperou um pouco seu valor e está cotado a US$ 320".

Mineral estratégico, o ouro é sempre cobiçado por exploradores aventureiros, por mais que seu preço oscile. Sua exploração está presente em 236 mil Km² da Amazônia, em pontos separados e longíquos, o que prova seu poder de capital. Transportado de avião, barco ou em precárias vias rodoviárias, como é o caso do ouro garimpado, o mineral sempre atrairá aqueles que pensam em fazer fortuna. Talvez por isso, o trabalho social e ambiental em áreas garimpeiras seja, ao mesmo tempo sacerdotal e necessário.

 
 
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Assessoria de imprensa(Lana Cristina)
 
 
 
 
 
 

 

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