Panorama
 
 
 

CONHEÇA OS OBJETIVOS DA UNIVERSIDADE LIVRE DO MARAJÓ

Panorama Ambiental
Ilha do Marajó - Brasil
Agosto de 2002
 Unilivre MARAJÓ

Encontro do savoir faire dos caboclos com a ciência e tecnologia do Trópico Úmido

A UNIVERSIDADE LIVRE DO MARAJÓ - Unilivre MARAJÓ, é uma aliança estratégica de caráter interuniversitário, de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, de duração indeterminada, com sede e foro na cidade de Belém, Estado do Pará, área geográfica de atuação em todo o arquipélago do Marajó, campus no distrito de Vila do Conde (Barcarena) e escritório em Macapá-AP.


A Unilivre MARAJÓ tem como objetivos:

· Congregar universidades e instituições de pesquisa para promoção coordenada e harmônica de atividades educativas, culturais e econômicas sustentáveis na área geocultural do Marajó, no estuário amazônico; que possam contribuir ao crescimento do índice de desenvolvimento humano (IDH) local e à proteção do meio ambiente;

· Estimular estudos e a difusão da cultura neotropical marajoara, desde seus primórdios na Pré-História amazônica até a idade contemporânea; contribuindo ao conhecimento das suas potencialidades e à solução dos problemas da sociedade local;

· Empreender campanhas de marketing destinadas a divulgar o ecoturismo e o desenvolvimento sustentável na Amazônia, com enfoque principal nas comunidades ribeirinhas do estuário da bacia amazônica;

· Contribuir à solução de problemas ambientais no ecossistema da Amazônia oferecendo alternativas para criação de empregos e geração de renda visando o desenvolvimento sustentável das populações tradicionais;

· Difundir o potencial e os produtos de turismo ecológico ou de interesse especial na região, através de conferências, seminários, cursos, treinamentos, participando de feiras e exposições, mantendo promoção permanente através de rede mundial de computadores inclusive;

· Estimular parcerias, a participação das comunidades locais e a solidariedade entre diferentes segmentos sociais das áreas onde se ofereçam produtos de turismo ecológico, participando junto a outras entidades de atividades que visem interesses comuns.

· Associar órgãos governamentais e organizações não-governamentais interessados na promoção da cultura regional, do ecoturismo e do desenvolvimento sustentável.

A associação mantenedora da Unilivre MARAJÓ não remunera membros da Diretoria, Grupos técnicos e administrativos e do Conselho Fiscal, ou outras unidades que venha a criar. Não distribui lucros ou dividendos a qualquer título, sob nenhum pretexto. Eventuais superávites de exercícios financeiros serão destinados à consecução das suas finalidades e objetivos estatutários, notadamente a promoção social e ambiental das comunidades tradicionais conveniadas.

A Unilivre MARAJÓ poderá aceitar auxílios, doações e contribuições, bem como poderá firmar convênios de qualquer natureza, nacionais ou internacionais, com organismos ou entidades públicas ou privadas. Desde que não impliquem em sua subordinação ou vinculação a compromissos e interesses conflitantes com seus objetivos e outros que arrisquem sua independência.

A Unilivre MARAJÓ será composta por voluntários e representantes de entidades associadas autorizados a desempenhar funções de direção e assessoramento superior da mesma. Entretanto, esses quadros não respondem pessoalmente pelas obrigações sociais da associação mantenedora.

PLANEJAMENTO
da Unilivre MARAJÓ

EM FASE DE APROVAÇÃO E IMPLANTAÇÃO
1 - Estrutura operacional:

1.1 - Escritório-sede da associação mantenedora (Belém):

Objetivos:

a) Centralizar a gestão técnico-administrativa da Unilivre;
b) Incumbir-se das relações federativas e internacionais;
c) Estabelecer web site da Unilivre com telemarketing e serviço de ensino à distância;
e) Participar, em cooperação com a Associação dos Municípios, a Associação de Vereadores e demais entidades governamentais e não-governamentais com atuação específica na região do Marajó, da implementação da Agenda 21 MARAJÓ.


1.2 - Campus Murtigura (Vila do Conde, Barcarena)

Histórico:

Vila do Conde, no município de Barcarena, foi a antiga Aldeia de Murtigura, hoje importante distrito industrial e portuário, pólo de exportação do Estado do Pará para o mercado internacional. Entroncamento rodo-hidroviário estratégico do Sistema de Integração do Pará (SIP), popularizado como Alça Viária.

A costa do município de Barcarena é conexão fluvial da antiga Costa-Fronteira do Pará doravante, para fins de marketing de produtos ecoturísticos; a ser chamada Costa do Sol (comunidade dos municípios de Barcarena, Muaná, Ponta de Pedras, Cachoeira do Arari, Salvaterra e Soure, com extensão até Santa Cruz do Arari, no Lago Arari; berço da civilização marajoara), na Ilha do Marajó.

Este trecho de travessia da Baía do Marajó é o caminho ancestral dos destemidos Aruãs. Que, através do "rio do Canal" (aberto no século XIX, por escavação braçal em trabalho escravo) entre os rios Marajó-Açu e Arari; comunica-se a Contracosta através do Lago Arari e o canal das Tartarugas por um longo e tortuoso percurso, que constitui atualmente potencial e desafio à pratica de canoagem em turismo aventura de atrativo internacional.

Por aí, os índios guerreiros realizavam as suas razzias em costumeiras incursões ao "rio de Guaiamã" (rio Guamá). Nome de célebre cacique do Marajó e Mexiana, nas primeiras décadas do século XVIII; origem do nome do rio que banha a capital do Pará, na corruptela em português do étimo aruaque através da Língua Geral. Pela margem oposta, neste percurso entre o continente e a Ilha grande; também os bravos Tupinambás tentavam conquistar território insular em encarniçadas lutas tribais com os donos da Ilha (chamados em tupi mbarãyu, "gente malvada", aportuguesado em marajó / marajoara, habitante da ilha do Marajó; devido à capacidade mortífera das setas envenadas atiradas com zarabatanas de paxiúba, com que os índios ilhéus defendiam-se mediante emboscadas fatídicas aos temerários invasores).

Guaiamã foi o último desses chefes guerreiros das Ilhas, que com o seu contemporâneo e confrade étnico (aruaque) Ajuricaba, tuxaua dos Manaus, enfrentou e resistiu ao domínio das "tropas de resgate" sobre aldeias livres da escravatura, respectivamente, na foz do rio-mar e na bacia Rio Negro-Urariquera.

Com tal passado histórico e delicada situação ambiental, o centro industrial exportador de Vila do Conde carece de contínuas atenções e vigilância especializada a fim de prevenir desastres ecológicos e crises sociais; localizado como se acha à margem da Baía do Marajó. Apenas a 12 quilômetros de distância da maior e mais importante área de proteção ambiental do Estuário Amazônico, a APA-MARAJÓ, a qual corresponde ao maior arquipélago marítimo-fluvial da Terra. e Pólo Ecoturístico estratégico para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Onde, ademais, se encontra polígono das mais importantes riquezas arqueológicas do Brasil pré-histórico com reconhecido potencial para ser reconhecido algum dia pela UNESCO patrimônio da humanidade.

Além da responsabilidade política, social e ambiental que essa contigüidade geográfica entre a Ilha do Marajó e o centro industrial-portuário do município de Barcarena exige; deve predominar no seio da comunidade a visão de futuro que a mesma situação potencializa em busca do desenvolvimento sustentável. Para o que uma educação alternativa, solidária e realista, com raízes profundas no genuíno paraensismo, que não é ufano e nem ingênuo mas corajoso como a herança dos antepassados deste povo, corresponde plenamente aos ideais fecundos da Unilivre Marajó e justificam a instalação de seu campus operativo em Vila do Conde em relação dialética continuada com a área cultural marajoara e seu grande contexto geocultural.

Vale frisar: O litoral sudeste da Ilha do Marajó, citado na crônica colonial como a Costa-Fronteira do Pará desenvolveu com o continente, através do Canal do Carnapijó, uma relação geocultural desde tempos imemoriais em que índios das margens opostas do "grande mar" Pará-Uaçu (Grão-Pará) pelejavam entre lutas renhidas entre si pela posse do espaço que aqui se poderia chamar de "mare nostro" amazônico.

A Aldeia de Murtigura - a ser campus da Universidade Livre do Marajó, em breve - foi na história da Amazônia lugar de descimento. Isto é, onde as tribos selvagens eram reduzidas pela a catequese jesuítica em trabalhadores escravos nos diversos ofícios que a nascente colônia requeria. As contradições do regime agravadas pelas injustiças sociais implicadas, conduziram (na opinião de estudiosos considerados) ao grande conflito amazônico de 1835-1840, conhecido como a Cabanagem.

Vila do Conde com o seu entorno geográfico (Barcarena, Acará, Moju, Beja, Abaeté, Muaná, Ponta de Pedras) está no centro de um espaço em confronto com o sistema neocolonial reinante no Pará imperial, pós-independência. A igreja de São João Batista (atualmente em risco de ruína e perdição, devido à acelerada erosão da orla de Vila do Conde) é lugar de memória que faz parte da crônica setecentista do padre João Bettendorf.

No átrio dessa igreja histórica, já tombada pelo IPHAN, ocorreu célebre proclama proferido por Eduardo Angelim, em 29 de julho de 1835; ao povo revoltado reunido na praça. Portanto, o centro histórico de Vila do Conde com a igreja de São João são indispensáveis para qualquer roteiro da Cabanagem para turismo de interesse especial. Fato que justifica a escolha supracitada para campus da Unilivre.

Objetivos específicos:

a) estabelecer escritório técnico e administrativo de apoio às atividades do sistema Unilivre;
b) articular ações de prevenção ou controle de impactos sócioambientais negativos do SIP (alça viária) e distrito industrial-portuário de Vila do Conde com implicação social, econômica ou ambiental na Ilha do Marajó;
c) Implantar o "Centro Amazônico de Pesquisas Neotropicais João Daniel - CADAN", em homenagem ao primeiro naturalista da Amazônia, o padre João Daniel, missionário no rio Moju no século XVIII; e destinado a desenvolver pesquisas e projetos para o desenvolvimento regional sustentável;
d) O CADAN realizará cursos em nível de pós-graduação e estágios supervisionados tendo como campo de observação e estudo a região eco-cultural do Marajó e o seu entorno geográfico (área metropolitana de Belém, Barcarena, Acará, Moju, Abaetetuba, inclusive a área geocultural das Guianas);
e) Projetar produtos turísticos de interesse especial para Roteiro da Cabanagem e desenvolver atividades de treinamento e reciclagem de guias de turismo especializados;
f) Participar de Rede interativa de informações turísticas em sistema coordenado pelo órgão oficial especializado do Estado do Pará, podendo realizar ou atualizar inventários turísticos municipais e realimentar banco de dados compartilhados mediante credenciamento e prestação de serviços na área geográfica de atuação da Unilivre;
g) Criação de aquário amazônico para fins educativos e turísticos no município de Barcarena, como referência a outros municípios ribeirinhos; servindo também à experimentação comercial de peixes ornamentais nativos da região com assistência técnica do MPEG e autorização prévia do IBAMA.
h) Implantação de Rádio e Televisão Educadora Marajó para apoio ao serviço de teleducação e difusão cultural da Unilivre.

ÁREA GEOGRÁFICA DO MARAJÓ

Ilha do Marajó - Arquipélago - Microrregião de Portel (continente).

1 - Núcleo Antônio Vieira (Ponta de Pedras):

Histórico:

No século XVII, terminado o estado de guerra do Estuário Amazônico, que durou 35 anos (1623-1658); entre índios do Marajó rebeldes e coloniais do Grão-Pará, pelo acordo de paz do rio dos Mapuá de 1659, proposto e concluído pelo padre Antônio Vieira; a Coroa pôde criar em 1665 a capitania da Ilha Grande de Joanes (Marajó), conforme o sistema hereditário estabelecido a partir da colonização da Ilha da Madeira, Açores, Cabo Verde e Brasil.

Assim, em 1680 no rio Arari, levantou-se o primeiro curral de gado na Ilha de Joanes ou Marajó. Os Jesuítas, que foram de importância vital para pacificação dos índios rebeldes ditos nheengaíbas (dos quais os mais belicosos foram Aruãs e Anajás), obtiveram do donatário Antônio de Sousa de Macedo a primeira sesmaria da Companhia de Jesus no Marajó (rio Marajó-Açu), em 1686.

Nesta primeira sesmaria, fundaram a primeira fazenda das missões do Marajó. Em cujas terras houve, até início do Diretório de Pombal, a aldeia das Mangabeiras (mais tarde, Lugar de Ponta de Pedras, sob invocação de N.S. da Conceição) e a aldeia dos Guaianás (Lugar de Vilar, sob o padroado de São Francisco), cerca de 1758. Deve-se lembrar, contudo que antes desta sesmaria, já os Jesuítas tinham estabelecido missão em Arucaru (Portel) e Joanes.

Para os trabalhos de desbravamento da terra, os padres levaram índios catequizados da aldeia de Murtigura (Vila do Conde), onde fundaram a Fazenda São Francisco (hoje possivelmente a fazenda "São Francisco do Malato", defronte de Vila do Conde; é remanescente daquela fazenda histórica, das três que a Companhia de Jesus teve no rio Marajó-Açu: São Francisco, Rosário (existente ainda) e São Brás (desdobrada provavelmente no Carmo e Campininha).

Na ilha Sant'Anna, foz do rio Arari, os frades das Mercês fundaram, em 1698, o primeiro engenho de açúcar, com canavial, olaria e criação de gado para o que usaram escravos africanos.

Neste espaço, que veio a ser freguesia (1757) e depois município (1878) de Ponta de Pedras, habitaram índios nuaruaques, seguramente em Laranjeiras (Baixo Arari) e em Mangabeira e no Vilar. Todavia a ocorrência de sítios arqueológicos no polígono da bacia Anabiju - Anajás Grande - Anajás Mirim (entre Ponta de Pedras, Muaná, Anajás e Chaves) prova ocupação humana pré-colombiana.

A sub-região marajoara formada por Cachoeira do Arari - Ponta de Pedras - Santa Cruz do Arari, configura uma unidade histórica e cultural que precisa continuamente ser compreendida e trabalhada em conjunto.

Aí nasceu e passou sua infância o escritor Dalcídio Jurandir (1904-1976), marajoara que ganhou o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Também se formou o Museu do Marajó, criado por Giovanni Gallo; e a Diocese de Ponta de Pedras, inaugurada e consolidada pelo bispo emérito Ângelo Rivato, cuja jurisdição acrescenta Muaná, São Sebastião da Boa Vista e Curralinho.

Fato notável, a geografia de Dalcídio tem nesta área biogeográfica o ponto focal da obra do grande escritor do Marajó, que, por curiosa circunstância, se projeta também no trabalho de Rivato e Gallo na Ilha do Marajó.

Indicativo para projetos:

a) criação do Centro Cultural Dalcídio Jurandir, mediante reconstrução e adaptação do Palácio Municipal para sede do núcleo local da Unilivre, com biblioteca pública e serviço audiovisual, mini-centro de convenções e museu da cidade;

b) Contextualização histórica da escola-sede da rede estadual em Ponta de Pedras, com sinalização e fixação de placa alusiva ao local de nascimento do escritor Dalcídio Jurandir Ramos Pereira, com troca oficial do nome da escola para a do ilustre filho do município;

c) Construção de Sítio Eco-Cultural Marajoara, constituído de: réplica de um "teso" de camutins; anfiteatro para espetáculos ao ar livre; e centro polivalente de eventos, a ser denominado Aldeia dos Guaianás, no antigo Lugar de Vilar frente à Baía do Marajó.

d) Tombamento do sítio Araquiçaua como lugar de memória da mítica Terra sem males, e criação de parque ecoturístico nesse local;

e) Albergue Científico da Ilha Sant'Ana do Arari, destinado a servir de pousada ecoturística para pesquisadores e turistas de interesse especial, assim que à formação e treinamento de recursos humanos ao desenvolvimento sustentável.


2 - Núcleo Ananatuba (Cachoeira do Arari):

Histórico:

A foz rio Arari (devido ao aparente pouso do sol no Araquiçaua, o "lugar onde o sol ata a rede" segundo a utopia tupi-guarani) foi o principal atrativo da grande ilha em face da Ilha dos Tupinambás ou Ilha do Sol (Colares), e largo trecho da margem direita da Baía do Marajó e rio Pará.

Apesar da historiografia brasileira deixar uma lacuna enorme a respeito do mito da Yvy Maraey na região amazônica; a etnologia americana com referência ao messianismo e diáspora dos povos tupinambás autoriza a creditar-se à utopia destes índios o fato da sua expansão do litoral do Nordeste para o Norte, e conseqüente aliança - inicialmente com os franceses da France Equinoxiale (Maranhão) e depois com os portugueses da Feliz Lusitânia (Grão-Pará) - que possibilitou a vitória das armas lusíadas na conquista do "rio das amazonas" e depois a criação e consolidação do Estado do Maranhão e Grão-Pará (Amazônia).

A proposta da Unilivre convida os interessados a conhecer, debater e tirar as próprias conclusões sobre isto, aproveitando para visitar a etno-história e a arqueologia da Ilha do Marajó. Um passado pré-histórico que ainda resta encoberto por nuvens e chuvas dos campos de Cachoeira.

No capitulo da arqueologia, o estrato mais antigo estudado, em torno de 1.200 anos antes de Jesus Cristo; recebeu o nome do sítio do achado: Ananatuba. Não muito longe do cobiçado sítio onde o sol ata a sua rede para dormir ao fim da jornada de cada dia, o Araquiçaua. O lugar dos lugares, cobiçado pelos profetas tupis.

Por acaso, o Ananatuba ("ananazal", plantação de ananás) também foi lugar do primeiro curral de gado, no rio Mauá; levantado pelo colono Francisco Rodrigues Pereira, em 1680. De modo que, ao longo dos séculos, a ignorância de manadas de ruminantes e o obtuso utilitarismo dos colonizadores predominou sobre a cultura dos povos nativos e a sabedoria dos velhos pajés confrontados com rivalidades internas e a diferença de crenças a partir de cosmogonias diversas. E, por falta de inteligência e acordo, os índios foram condenados à fatalidade da guerra tribal e o despojamento das suas riquezas e glórias, a padecer as misérias das epidemias e da escravidão.

Para poupar o braço indígena aviltado e enfraquecido pela colônia de exploração das drogas do sertão, abriram-se os portos do Maranhão e do Pará a navios negreiros. A escravatura africana, que tinha feito a sua estréia com uns poucos negros que acompanharam Orellana em 1542 e alguns mais trazidos pelos holandeses para as suas feitorias no Xingu (1599) e no Amazonas (1600), aumentou rapidamente. O passivo histórico é considerável e anula grande parte dos ativos da Colonização.

Com a construção do romance Chove nos campos de Cachoeira, e a premiação nacional do seu autor, teve inicio uma conscientização pública sobre o panorama social e a ecologia humana do Marajó como jamais se tinha empreendido com tamanha ousadia , clareza e arte literária. Cachoeira do Arari é pioneira mais uma vez.

O rio Arari em cujas nascentes o emblemático Lago Arari recebe anualmente o dom de todas as chuvas dos campos do Marajó inteiro; parece ser um predestinado curso de tempo-espaço. Lá em cima, surgiu a original civilização marajoara. Aí também, na valentia e modéstia da Vila Jenipapo, nasceu entre "cacos de índio", remos, tarrafas, pescadores e pescados o Museu do Marajó, fruto do casamento de um padre teimoso com a sua vocação inesperada.

Como estuário de formidáveis esperanças e agonias, a corajosa cidade de Cachoeira do Arari, nascida do desafio daquele pioneiro de 1680 advertido do perigo dos "índios bravios, desertores e negros refugiados" nos centros da Ilha, é a venerável vencedora de muitas lutas.

Indicativo para projetos:

a) Tombamento pelo Departamento Estadual do Patrimônio Histórico e Cultura - DPHAC / SECULT e projeto de restauração da Casa de Dalcídio Jurandir como exposição e espaço cultural da cidade, anexo ao Museu do Marajó;

b) Reestruturação do setor de publicações do Museu do Marajó para funcionamento da Livraria Editora Casa de Dalcídio - CasaDAL;

c) Localização, mapeamento, identificação da propriedade fundiária de ocorrência de sítios arqueológicos do Marajó, destinado a programa de preservação e educação patrimonial em convênio com o IPHAN e MPEG em parceria com os proprietários rurais e a comunidade local;

d) Reforma do Museu do Marajó para construção de mini-centro de eventos, sala de conferência e cursos de pós-graduação e extensão;

e) Projeto de revitalização do centro tradicional de Retiro Grande para atividades de ecoturismo e turismo rural;

f) Projeto comunitário demonstrativo de execução descentralizada de Caracará;

3 - Núcleo Severino dos Santos Sacaca (Salvaterra):

Histórico:

Em 1783, o naturalista luso-brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira chegou ao Pará para dar inicio à sua monumental obra Viagem Filosófica. Acompanhado do inspetor-geral da Ilha do Marajó, Florentino da Silveira Frade, ele passou imediatamente à Vila de Monforte (aldeia de Joanes), onde conheceu e teve como informante da sua obra Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes ou Marajó, o sargento-mor Severino dos Santos, índio Sacaca. O qual prestou valiosas informações para a etno-história do Marajó.

Por esta preciosa informação fica-se sabendo, por exemplo, como foram aconselhados os Joanes [Iona] pelos Caripunas, compadres destes e dos Aruãs inquietos que de tempo em tempo molestavam a aldeia dos Joanes, a procurar apoio dos portugueses do Grão-Pará. Que deste acordo resultou o apelido de Sacacas aos ditos Iona ou Joanes, e o massacre dos Aruãs no lugar Água Boa, surpreendidos pelas armas de fogo dos portugueses aliados à gente de Joanes.

Referência para a etno-história da Ilha do Marajó o relato de Severino dos Santos na Notícia Histórica informa como os Aruãs, vindos da costa norte, foram empurrando para a costa sudeste as mais velhas tribos, até então habitantes de lugares como Laranjeiras, Flecheiras, Curuxis, etc.

Salvaterra deve ser considerado como lugar de memória da Viagem Filosófica na Ilha do Marajó. Primeiro passo na aventura científica do sábio luso-brasileiro da Universidade de Coimbra, em fins do século XVIII.

Indicativo para projetos:

a) Tombamento e criação da Reserva Municipal do Patrimônio Natural de Água Boa, para fins de educação ambiental e patrimonial e uso seletivo em ecoturismo;
b) Construção de Aquário de Salvaterra, com finalidade educativa e turística em integração aos demais aquários públicos gerenciados pelo centro de pesquisas CADAN, da Unilivre;

c) Memorial Alexandre Rodrigues Ferreira, servindo de museu da cidade e exposição de produtos naturais da Ilha do Marajó.


4 - Núcleo Vicente Chermont de Miranda (Soure):

Histórico:

Embora pertença historicamente a Cachoeira do Arari a introdução da pecuária na ilha do Marajó, em 1680, com a formação das grandes fazendas particulares coube a Soure concentrar a elite pecuarista do Marajó. Aclimatação do búfalo como animal de corte e leite, ou mesmo de trabalho; acabou sendo símbolo deste importante município que mais caracteriza a própria Ilha do Marajó no seu todo.

No entanto, tradicionalmente a antiga aldeia dos Maruanás; que, na política do Diretório dos Índios, foi elevada à categoria de vila com o nome da cidade portuguesa de Soure; sempre teve por vocação a pesca do estuário do Pará. Notável pelo Pesqueiro Real que houve (e hoje é recordado pela praia do Pesqueiro) tem seus descendentes na comunidade de pescadores sourenses.

O rio Paracauari ou Igarapé Grande tornou-se rio urbano, compartilhado entre as duas cidades gêmeas do Marajó: Salvaterra e Soure. Ambas nasceram de um espaço-tempo comum e devem, portanto, se desenvolver harmonicamente para servir de referência à integração que deve haver entre todas as comunidades marajoaras, em busca do desenvolvimento sustentável do arquipélago do Marajó integralmente.

Foi através da aldeia dos Joanes, transformada, em 1758, na Vila de Monforte; em suas dificuldades de convivência com os Aruãs vizinhos; que os brancos botaram os pés na Ilha Grande dos Nheengaíbas ou Aruãs pela primeira vez. A primeira missão dos Jesuítas nesta ilha entrou naquela aldeia, ajudados por índios inimigos destes. Vindos da Ilha dos Tupinambás ou a Ilha do Sol (Colares).

Joanes foi onde supostamente o padre Luís Figueira havia sido "devorado" junto com seus companheiros de naufrágio pelos "canibais" Aruãs... Dois equívocos históricos, plantados provavelmente por informantes tupinambás. Para malquistar seus inimigos com os portugueses: primeiro, Aruãs não usavam antropofagia (porém foram vítimas dela em mãos de seus inimigos Galibi, e talvez um pouco em confronto com os tupinambás, célebres comedores de carne humana em seus ritos heróicos, somente abandonados pelo esforço da cristianização); segundo, que na praia de Joanes onde teriam chegado os náufragos levados pelo vento e as ondas, talvez já mortos; não habitavam os Aruãs, mas os Joanes [Iona} ou Sacacas.

Daquela vila de Monforte (que foi um dia aldeia dos Joanes) foi criado o município de Soure, também com terras do Lugar de Mondim, e teve sede na velha aldeia do "Maruanases" (em português arcaico, que modernamente deve-se dizer Maruaná). Soure veio a ser a primeira e única cidade do marajó até agora a ter planejamento urbano.


Indicativo para projetos:

a) Criação e/ou expansão do Museu do Gado em associação com a estação de conservação genética de bubalinos da EMBRAPA, para preservação da memória da pecuária no Marajó desde os seus primórdios;

b) Integração da "Resex Maruanases" ao aquário de Salvaterra no que se refere à memória do Pesqueiro Real;

c) Criação do Lugar do Imaginário como centro de pesquisa, registro e difusão do folclore marajoara com o seu lendário.


5 - Núcleo Arariuara (Santa Cruz do Arari):

Histórico:

A mais importante cultura marajoara pré-colombiana teve seu esplendor às margens do lago Arari. A arqueologia americana, não sabendo exatamente quem foram esses artistas da cerâmica mais elaborada que se acha na Ilha do Marajó, denominou arbitrariamente a essa desconhecida civilização de "Marajoara", pelo simples fato de ser localizada no Marajó (do mesmo modo, foram chamadas as "fases" Ananatuba, Mangueiras e Formiga, como exceção da Aruã, correspondente à nação indígena que os europeus conheceram entre outras na mesma Ilha).

O sítio arqueológico mais famoso (já quase totalmente devastado e saqueado) é o Pacoval (outrora dito Pacoval de Santa Cruz). Pacova é espécie de banana nativa, cultivada pelos índios: o registro é curioso, pois é notável a dificuldade em se cultivar plantas nas terras ácidas em volta do Lago, pela composição do solo. Ao que parece além de construírem aterros sobre campos inundáveis os "marajoara" aprenderam a modificar o solo.

Por que os antropólogos, à falta de melhor informação, não chamaram a esse perdido povo lacustre de os "Araris", em vez de reforçar sobre a memória arruinada a ótica de seus inimigos ancestrais? Pelo menos, esta palavra parecer ser perfeitamente aruaque. Na acepção de "rio das araras" (de ara (pronúncia onomatopéica, árra), arara; e ári, rio) em lugar daquele xenofóbico e pleonástico nome de origem tupi: "habitante da (terra) de gente malvada" (sic), enfim o vocábulo marajoara, ao longo do tempo, ganhou conotação diferente da sua etimologia original. Um mero detalhe do labirinto da nossa colonização e suas seqüelas culturais e mentais.

Foram uns poucos Jesuítas com o avanço das suas criações de gado sobre infinitas pastagens naturais, em direção aos centros antes indevassáveis, os primeiros brancos a penetrar o antigo santuário dos primitivos "marajoaras" ou "araris". Na verdade, a vanguarda da ocupação teria sido formada por índios mansos, conforme a Doutrina. A condição de insularidade e isolamento dos "centros" da Ilha, havia permitido aos índios do Lago permanecer afastados da guerra e da peste, por aproximadamente 100 anos, pelo menos; desde a fundação de Belém"...

Assim, os padres fundaram com os próprios índios, catequizados pouco a pouco, a Fazenda da Santa Cruz, depois vila na reforma Pombalina. Um longo período manteve os moradores do Lago Arari subordinados à distância à Vila de Cachoeira, até 1878; e depois à nova Vila de Ponta de Pedras (passando pelas alterações da revolução de 1930, para jurisdição do Município de Arary e Itaguari). Até, finalmente, em 1960, alcançar uma precária e vacilante autonomia municipal. Que começa entretanto a criar raízes e adquirir feição peculiar conforme a singularidade do lugar.


Indicativo para parceria:

a) Projeto para tombamento e restauração do teso do "Pacoval de Santa Cruz";

b) Atividade de educação ambiental a partir do Igarapé do Severino;

c) Instalação de Rádio Educadora Comunitária Arari;

d) Curso de formação de pilotos-guias locais de ecoturismo;

e) Aquário da Vila Jenipapo, de educação profissional e informação ictiológica e de limnologia aplicada;

f) Pesquisa em urbanismo em áreas lacustres da região amazônica.


6 - Núcleo Aruãs (Chaves):

Histórico:

Indicativo para parceria:

a) Marajó Park Resort / Grupo REICON, instalação de albergue científico e estação de pesquisa em ecoturismo (aquário educativo e turístico);

b) Projeto-piloto de RPPN sócio-educativa em parceria com a comunidade local para o desenvolvimento sustentável das populações tradicionais;


7 - Núcleo Foz do Amazonas (Afuá):

Indicativo para projetos:

a) Ação para treinamento de agentes comunitários de saúde com enfoque etno-psicológico (integração de valores de medicina popular ao sistema médico oficial);

b) Pesquisa em arquitetura e paisagismo amazônico para revitalização de cidades na região equatorial;

a detalhar:
8 - Núcleo Mocoões (Anajás):
9 - Núcleo Cacique Piié Nheengaíba (Breves):
10 - Núcleo Mariocai (Gurupá);
11 - Núcleo Caxiuanã (Melgaço);
12 - Núcleo Arucaru (Portel);
13 - Núcleo Piriá (Curralinho);
14 - Núcleo Pacajás (Bagre);
15 - Núcleo Samanajás (São Sebastião da Boa Vista);
16 - Núcleo Anabiju (Muaná);
17 - Núcleo Araticum (Oeiras do Pará).

NOTA - Este informe é destinado a debater o projeto. AGRADECEMOS CRÍTICAS E SUGESTÔES.

- contatar José Varella, Coordenador Geral -
e-mail: assessoria@paratur.pa.gov.br

Uma Iniciativa Marajoara

A Associação UNIVERSIDADE LIVRE DO MARAJÓ - Unilivre MARAJÓ, tem por objetivo o encontro entre o savoir faire popular da Amazônia, no arquipélago do Marajó especificamente; e o conhecimento acadêmico. Para isto, oferecerá infra-estrutura básica de campi para realização de atividades de pós-graduação, extensão universitária, pesquisa e educação continuada em cooperação com universidades brasileiras e estrangeiras, mediante cursos de especialização, estágios, seminários, oficinas, jornadas de trabalho e outras modalidades de difusão do conhecimento para desenvolvimento regional sustentável.
Dentre diversas áreas culturais da Amazônia, pretende situar Marajó no espaço nacional e mundial contribuindo assim na formação de uma imagem externa positiva do Estado do Pará e do Brasil, na perspectiva de um turismo de interesse especial - no caso, o segmento interuniversitário e acadêmico -, de modo a participar ativamente no processo de desenvolvimento sustentável da e no combate às causas da pobreza para melhoria das condições de vida das populações locais.

História de um resgate

Na década de 1960, foi criada a Prelazia de Ponta de Pedras (atual Diocese), na Ilha de Marajó, sob direção de seu primeiro bispo, dom Angelo Maria Rivatto. O qual iniciou intenso trabalho de conscientização e mobilização popular para captação de recursos de assistência social e desenvolvimento econômico familiar.
Este viria se tornar fonte de um resgate que, presentemente, parece encerrar uma primeira fase, convergindo ocasionalmente com a ocorrência de ciclo de estudos sobre a obra do escritor marajoara Dalcídio Jurandir, coordenado pela Universidade Federal do Pará - UFPA e a Universidade da Amazônia - UNAMA, através dos professores Gunter Pressler e Paulo Nunes com colaboração de círculo de especialistas dalcidianos, no Brasil e exterior.
Dalcídio Jurandir nasceu na vila de Ponta de Pedras (Marajó), passou a infância em Cachoeira do Arari; viveu e trabalhou em Gurupá e Salvaterra, localidades marajoaras; além de Belém, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Viajou ao Chile e a Rússia. A geografia de Dalcídio é o espaço insular que transborda das ilhas para a cidade grande de Belém do Pará. Donde lhe veio a fonte de criação dos personagens e da narrativa romanesca, que retrata a paisagem social entrecortada de amarguras e esperanças, numa relação dialética especialíssima. Trata da condição humana na Amazônia, na perspectiva de uma dimensão universal.
Escritor marajoara por excelência, Dalcídio Jurandir obteve o reconhecimento da Academia Brasileira de Letras através do Prêmio Machado de Assis (a maior comenda da literatura nacional), pelo conjunto da obra, parcialmente traduzida no estrangeiro. Pode assim ser ele, merecidamente, apontado como iniciador e inspirador do resgate de Marajó, que está se concretizando no momento. Ainda que, no princípio, de maneira não intencional na origem por seus diversos participantes. Concluindo ser este movimento estuário de várias ações que caminham como diferentes igarapés até confluir no grande rio regional, em marcha crescente para o mar aberto da consciência universal.
A fase histórica atual foi precedida por pronunciamento dos Bispos de Marajó, dom Angelo Rivatto, da Diocese de Ponta de Pedras, e dom frei Luiz Ascona, da Prelazia do Marajó, sobre o baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) do arquipélago de Marajó. Um alerta vigoroso, que convida a todos a empreender uma reflexão solidária efetiva, observando não apenas a responsabilidade social do fenômeno da pobreza na Ilha grande do Marajó (área de proteção ambiental e pólo de turismo maior em extensão territorial do que países como a Bélgica e Holanda, por exemplo), mas também suas conseqüências políticas no Estuário amazônico, incluindo a área metropolitana de Belém, a capital do Amapá e as relações transfronteiriças com as Guianas.
A iniciativa de criação da Unilivre MARAJÓ, portanto, é oportunidade para compreender melhor este impressionante espaço geocultural, naturalmente inserido na área cultural guianense desde a Ilha de Trinidad (nas Antilhas) até a foz do rio Amazonas; que articula as regiões culturais brasileiras do Extremo-Norte com as Guianas e o Caribe.
Em Ponta de Pedras - PA, sede da Diocese, ao longo de 30 anos de parceria da Igreja Católica com a comunidade local, nasceram duas cooperativas comunitárias: a COMIFRHUT" e a COOPIUPE. Enquanto a COMIFRHUT investiu em formação profissional, a COOPIUPE realizou uma mini "reforma agrária" silenciosa e pacífica - , organizando e/ou implantando agrovilas caboclas de feição kibutiziana. Até hoje, a sociedade e o poder público não parecem suficientemente informados e interessados em amparar e consolidar esta obra excepcional, que o projeto da Unilivre MARAJÓ tem dentre os seus objetivos.
No curso do processo, a Diocese recebeu importante participação do padre Giovanni Gallo, designado que foi ocasionalmente para a paróquia de Santa Cruz do Arari, mais exatamente em Jenipapo, no Lago Arari. Uma vila de pescadores descendentes de antigos índios marajoaras, vivendo no limite da realidade. Esta experiência vivida pelo padre ficou registrada no livro-documento "Marajó, a ditadura das águas", de sua autoria.
Nesta incrível vila, sobre vestígios da antiga arquitetura de aldeias sobre palafitas indígenas, afastada do mundo moderno; teve nascimento o Museu do Marajó (mais tarde, transferido para a cidade de Cachoeira do Arari), instituição emblemática do importantíssimo resgate de um povo e sua singular cultura, desde os primórdios, há mais de 1000 anos a.C., até os nossos dias através dos descendentes dos antigos marajoaras.
De modo que, na marca do Colóquio Dalcídio Jurandir, realizado a 30 de abril em Ponta de Pedras, no 124º aniversário da autonomia municipal - com apresentação de três dissertações por conclusão de curso baseadas nos romances Chove nos campos de Cachoeira, Marajó e Três casa e um rio, foi feliz coincidência a iniciativa para criação de campi interuniversitário dedicado ao amparo e desenvolvimento do resgate histórico de Marajó.

Da implementação do projeto Unilivre MARAJÓ

A Unilivre MARAJÓ será uma entidade não-governamental, sem fins lucrativos, destinada a prestar apoio a professores e alunos universitários nacionais e estrangeiros, contribuindo assim a difundir conhecimentos para o desenvolvimento regional sustentável que possam melhorar as condições de vida das populações tradicionais na Amazônia.
Além de se dedicar à difusão do saber popular em meio acadêmico e a contribuir à preservação da cultura marajoara e do meio ambiente na Amazônia, a entidade exercerá também função de consultoria para projetos especiais de desenvolvimento sustentável com participação popular, podendo captar recursos para execução descentralizada desses projetos isoladamente ou em parceria com terceiros.

O Brasil não pode mais desperdiçar e perder o "mais importante material arqueológico brasileiro". Conforme Heloísa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional do Rio de Janeiro (ver revista do antigo SPHAN, Rio de Janeiro, 1937). Nem deve continuar esquecido da paz do rio Mapuá de 26 de agosto de 1659, negociada com êxito pelo padre Antônio Vieira e os Sete Caciques do Marajó.
Qualquer país com amor à independência de sua gente, já teria localizado e recuperado o sítio da igreja do Santo Cristo para levantar monumento na aldeia dos extintos Mapuás. Ainda que modesto, porém tão significativo quanto o sítio do Descobrimento.
Em boa hora foi posta a candidatura do Ver-o-Peso à lista mundial da UNESCO. Mas, sem Marajó à sua ilharga, sempre há de faltar o principal na amazônica proeza. Se não tivermos coragem de lançar agora um alerta - quando o Pará velho de guerra começa a decolar e a escrever, finalmente, sua história pós-colonial -, a memória dos Nheengaíbas ficará vegetando para sempre entre devastação e pobreza, por ironia no estuário da maior bacia fluvial da Terra.

Por outra parte, há uma séria dívida do Brasil no que se refere à falta de estudos para tombamento do sítio Araquiçaua. Que se encontra em área de proteção ambiental e pólo de turismo. Este estupendo Araquiçaua (literalmente, "o lugar onde o sol ata rede de dormir"), que os brasileiros não sabem onde fica, mas os caraíbas tupinambás procuravam por todos os meios e, portanto, terminaram sua odisséia no "rio das amazonas", entre males sem fim; não deveria jamais faltar em nenhum plano nacional de ecoturismo.
Só por isto, se não houvesse mais nada, já seria bastante para Brasília propor inclusão da Ilha do Marajó na lista do Patrimônio da Humanidade. Por menos do que há no Marajó, o Pantanal mereceu atenção federal e mundial. Por que a antiga Ilha Grande dos Nheengaíbas há de ficar eternamente no limbo da história, se foi a sua gente que, por negociação e inteligência, abriu - definitivamente, em 1659; reiterado em 1823 - as portas da Amazônia aos lusitanos abandonando a tentativa estrangeira, para dar origem ao direito de soberania do Brasil na região equatorial? Esta gente ainda não foi devidamente recompensada, muito pelo contrário!

Por fim, a grande mágoa da gente marajoara: o assalto sem fim e ruína inapelável dos sítios arqueológicos. Nossa pretérita certidão de nascimento e singularidade neotropical. Por isto mesmo, o compromisso com a revitalização do nosso Museu do Marajó. Esta obra comunitária imprevista e sofrida, nascida na humildade e valentia da vila de pescadores do Jenipapo, na margem mais pobre do Lago Arari - berço da Civilização Marajoara - iniciativa de um obstinado italiano de nascimento, marajoara de coração e corpo inteiro: Giovanni Gallo.
A pedra colonial será salva: mas, a idade do barro ao barro há de retornar... Fala-se em Ecoturismo como estratégia ao desenvolvimento sustentável. Mas, falta salvar o acervo arqueológico da Amazônia. Ecologia humana é o que se deve tratar, não só micos, jacarés e plantas exóticas interessando exclusivamente à indústria farmacêutica.
Quantos museus, no país e exterior, têm afortunada posse de cerâmica marajoara e estão dispostos a participar de plano como o supracitado ou a valorizar o Museu do Marajó? Com exceção do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Estado do Pará, que têm ajudado alguma vez a Giovanni Gallo, ou da Fundação Cultural do Município de Belém que firmou convênio para recuperar a Casa de Dalcídio Jurandir, não se sabe doutros. Em suma, é pouco ou nada o que se têm feito neste sentido.
O tempo arqueológico vive em nosso inconsciente coletivo e revitaliza a civilização neotropical. É a telúrica Cobra grande. A pele de Tuluperê dos índios do Tumucumaque na arte da cestaria. O plano cosmo-equatorial suspenso por um círculo de asas de borboletas, no grande disco na cumeeira da casa guianense. Patrimônio artístico pré-histórico. Suas grandes datas e acontecimento são vértebras de espaço-tempo em construção infinita. Surdem-se como ilhas de aluvião descendo lentamente o rio-mar...

Passados 60 anos de "Chove nos campos de Cachoeira", a obra de Dalcídio Jurandir ainda está no purgatório. E o sol da plenitude democrática é um sonho abaixo do equador. Apesar de tudo, nosso Pará velho de guerra achou rumo. Mesmo assim, só um cego não vê o quanto está longe o estirão do "Araquiçaua". Ou a "Terra sem Mal", antigamente procurada na guerra e na paz pelos índios. O sonhado desenvolvimento sustentável valerá a Utopia neotropical?
Neste século, Brasília das Águas Emendadas tem que olhar a Amazônia para ver o norte do Povo Brasileiro. Descobrir onde a nação Tupinambá veio findar sua odisséia em busca do futuro, segundo os Caraíbas. Os índios cantando, dançando e subindo ao céu em transe... Premonição talvez de satélites artificiais, Internet e biotecnologia traçados antigamente pela régua e o compasso do tempo arqueológico.

Já falei demais, agora devo calar-me para não abusar da vossa paciência.

Ficarei imensamente grato e bem pago de muitas noites e madrugadas insones, longos dias de sofrimento e canseira ao longo de rios, varjas e sítios há mais de sessenta outubros; se Vossas Excelências responderem ao povo marajoara com mais consideração e apreço.

Sinceramente,
José Varella

Venha descobrir o sítio
onde o Sol ata rede para dormir
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com a ciência e tecnologia do Trópico Úmido
visitar a história, a antropologia, o ecodesenvolvimento neotropical

· Universidade virtual e campi cooperativo avançado
· Turismo científico e eco-cultural na maior ilha flúvio-marítima do planeta
· Ecoturismo de compromisso com a comunidade local
· Extensão universitária e visitas guiadas a sítios históricos

 

Fonte: Unilivre

 
 
 
 

 

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