CONHEÇA OS OBJETIVOS DA
UNIVERSIDADE LIVRE DO MARAJÓ
Panorama Ambiental
Ilha do Marajó - Brasil
Agosto de 2002
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Unilivre MARAJÓ
Encontro do savoir faire dos caboclos
com a ciência e tecnologia do Trópico Úmido
A UNIVERSIDADE LIVRE DO
MARAJÓ - Unilivre MARAJÓ, é uma aliança
estratégica de caráter interuniversitário,
de personalidade jurídica de direito privado, sem
fins lucrativos, de duração indeterminada,
com sede e foro na cidade de Belém, Estado do Pará,
área geográfica de atuação em
todo o arquipélago do Marajó, campus no distrito
de Vila do Conde (Barcarena) e escritório em Macapá-AP.
A Unilivre MARAJÓ tem como objetivos:
· Congregar universidades
e instituições de pesquisa para promoção
coordenada e harmônica de atividades educativas, culturais
e econômicas sustentáveis na área geocultural
do Marajó, no estuário amazônico; que
possam contribuir ao crescimento do índice de desenvolvimento
humano (IDH) local e à proteção do
meio ambiente;
· Estimular estudos
e a difusão da cultura neotropical marajoara, desde
seus primórdios na Pré-História amazônica
até a idade contemporânea; contribuindo ao
conhecimento das suas potencialidades e à solução
dos problemas da sociedade local;
· Empreender campanhas
de marketing destinadas a divulgar o ecoturismo e o desenvolvimento
sustentável na Amazônia, com enfoque principal
nas comunidades ribeirinhas do estuário da bacia
amazônica;
· Contribuir à
solução de problemas ambientais no ecossistema
da Amazônia oferecendo alternativas para criação
de empregos e geração de renda visando o desenvolvimento
sustentável das populações tradicionais;
· Difundir o potencial
e os produtos de turismo ecológico ou de interesse
especial na região, através de conferências,
seminários, cursos, treinamentos, participando de
feiras e exposições, mantendo promoção
permanente através de rede mundial de computadores
inclusive;
· Estimular parcerias,
a participação das comunidades locais e a
solidariedade entre diferentes segmentos sociais das áreas
onde se ofereçam produtos de turismo ecológico,
participando junto a outras entidades de atividades que
visem interesses comuns.
· Associar órgãos
governamentais e organizações não-governamentais
interessados na promoção da cultura regional,
do ecoturismo e do desenvolvimento sustentável.
A associação
mantenedora da Unilivre MARAJÓ não remunera
membros da Diretoria, Grupos técnicos e administrativos
e do Conselho Fiscal, ou outras unidades que venha a criar.
Não distribui lucros ou dividendos a qualquer título,
sob nenhum pretexto. Eventuais superávites de exercícios
financeiros serão destinados à consecução
das suas finalidades e objetivos estatutários, notadamente
a promoção social e ambiental das comunidades
tradicionais conveniadas.
A Unilivre MARAJÓ
poderá aceitar auxílios, doações
e contribuições, bem como poderá firmar
convênios de qualquer natureza, nacionais ou internacionais,
com organismos ou entidades públicas ou privadas.
Desde que não impliquem em sua subordinação
ou vinculação a compromissos e interesses
conflitantes com seus objetivos e outros que arrisquem sua
independência.
A Unilivre MARAJÓ
será composta por voluntários e representantes
de entidades associadas autorizados a desempenhar funções
de direção e assessoramento superior da mesma.
Entretanto, esses quadros não respondem pessoalmente
pelas obrigações sociais da associação
mantenedora.
PLANEJAMENTO
da Unilivre MARAJÓ
EM FASE DE APROVAÇÃO E IMPLANTAÇÃO
1 - Estrutura operacional:
1.1 - Escritório-sede da associação
mantenedora (Belém):
Objetivos:
a) Centralizar a gestão
técnico-administrativa da Unilivre;
b) Incumbir-se das relações federativas e
internacionais;
c) Estabelecer web site da Unilivre com telemarketing e
serviço de ensino à distância;
e) Participar, em cooperação com a Associação
dos Municípios, a Associação de Vereadores
e demais entidades governamentais e não-governamentais
com atuação específica na região
do Marajó, da implementação da Agenda
21 MARAJÓ.
1.2 - Campus Murtigura (Vila do Conde, Barcarena)
Histórico:
Vila do Conde, no município
de Barcarena, foi a antiga Aldeia de Murtigura, hoje importante
distrito industrial e portuário, pólo de exportação
do Estado do Pará para o mercado internacional. Entroncamento
rodo-hidroviário estratégico do Sistema de
Integração do Pará (SIP), popularizado
como Alça Viária.
A costa do município
de Barcarena é conexão fluvial da antiga Costa-Fronteira
do Pará doravante, para fins de marketing de produtos
ecoturísticos; a ser chamada Costa do Sol (comunidade
dos municípios de Barcarena, Muaná, Ponta
de Pedras, Cachoeira do Arari, Salvaterra e Soure, com extensão
até Santa Cruz do Arari, no Lago Arari; berço
da civilização marajoara), na Ilha do Marajó.
Este trecho de travessia
da Baía do Marajó é o caminho ancestral
dos destemidos Aruãs. Que, através do "rio
do Canal" (aberto no século XIX, por escavação
braçal em trabalho escravo) entre os rios Marajó-Açu
e Arari; comunica-se a Contracosta através do Lago
Arari e o canal das Tartarugas por um longo e tortuoso percurso,
que constitui atualmente potencial e desafio à pratica
de canoagem em turismo aventura de atrativo internacional.
Por aí, os índios
guerreiros realizavam as suas razzias em costumeiras incursões
ao "rio de Guaiamã" (rio Guamá).
Nome de célebre cacique do Marajó e Mexiana,
nas primeiras décadas do século XVIII; origem
do nome do rio que banha a capital do Pará, na corruptela
em português do étimo aruaque através
da Língua Geral. Pela margem oposta, neste percurso
entre o continente e a Ilha grande; também os bravos
Tupinambás tentavam conquistar território
insular em encarniçadas lutas tribais com os donos
da Ilha (chamados em tupi mbarãyu, "gente malvada",
aportuguesado em marajó / marajoara, habitante da
ilha do Marajó; devido à capacidade mortífera
das setas envenadas atiradas com zarabatanas de paxiúba,
com que os índios ilhéus defendiam-se mediante
emboscadas fatídicas aos temerários invasores).
Guaiamã foi o último
desses chefes guerreiros das Ilhas, que com o seu contemporâneo
e confrade étnico (aruaque) Ajuricaba, tuxaua dos
Manaus, enfrentou e resistiu ao domínio das "tropas
de resgate" sobre aldeias livres da escravatura, respectivamente,
na foz do rio-mar e na bacia Rio Negro-Urariquera.
Com tal passado histórico
e delicada situação ambiental, o centro industrial
exportador de Vila do Conde carece de contínuas atenções
e vigilância especializada a fim de prevenir desastres
ecológicos e crises sociais; localizado como se acha
à margem da Baía do Marajó. Apenas
a 12 quilômetros de distância da maior e mais
importante área de proteção ambiental
do Estuário Amazônico, a APA-MARAJÓ,
a qual corresponde ao maior arquipélago marítimo-fluvial
da Terra. e Pólo Ecoturístico estratégico
para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Onde, ademais, se encontra polígono das mais importantes
riquezas arqueológicas do Brasil pré-histórico
com reconhecido potencial para ser reconhecido algum dia
pela UNESCO patrimônio da humanidade.
Além da responsabilidade
política, social e ambiental que essa contigüidade
geográfica entre a Ilha do Marajó e o centro
industrial-portuário do município de Barcarena
exige; deve predominar no seio da comunidade a visão
de futuro que a mesma situação potencializa
em busca do desenvolvimento sustentável. Para o que
uma educação alternativa, solidária
e realista, com raízes profundas no genuíno
paraensismo, que não é ufano e nem ingênuo
mas corajoso como a herança dos antepassados deste
povo, corresponde plenamente aos ideais fecundos da Unilivre
Marajó e justificam a instalação de
seu campus operativo em Vila do Conde em relação
dialética continuada com a área cultural marajoara
e seu grande contexto geocultural.
Vale frisar: O litoral sudeste
da Ilha do Marajó, citado na crônica colonial
como a Costa-Fronteira do Pará desenvolveu com o
continente, através do Canal do Carnapijó,
uma relação geocultural desde tempos imemoriais
em que índios das margens opostas do "grande
mar" Pará-Uaçu (Grão-Pará)
pelejavam entre lutas renhidas entre si pela posse do espaço
que aqui se poderia chamar de "mare nostro" amazônico.
A Aldeia de Murtigura - a
ser campus da Universidade Livre do Marajó, em breve
- foi na história da Amazônia lugar de descimento.
Isto é, onde as tribos selvagens eram reduzidas pela
a catequese jesuítica em trabalhadores escravos nos
diversos ofícios que a nascente colônia requeria.
As contradições do regime agravadas pelas
injustiças sociais implicadas, conduziram (na opinião
de estudiosos considerados) ao grande conflito amazônico
de 1835-1840, conhecido como a Cabanagem.
Vila do Conde com o seu entorno
geográfico (Barcarena, Acará, Moju, Beja,
Abaeté, Muaná, Ponta de Pedras) está
no centro de um espaço em confronto com o sistema
neocolonial reinante no Pará imperial, pós-independência.
A igreja de São João Batista (atualmente em
risco de ruína e perdição, devido à
acelerada erosão da orla de Vila do Conde) é
lugar de memória que faz parte da crônica setecentista
do padre João Bettendorf.
No átrio dessa igreja
histórica, já tombada pelo IPHAN, ocorreu
célebre proclama proferido por Eduardo Angelim, em
29 de julho de 1835; ao povo revoltado reunido na praça.
Portanto, o centro histórico de Vila do Conde com
a igreja de São João são indispensáveis
para qualquer roteiro da Cabanagem para turismo de interesse
especial. Fato que justifica a escolha supracitada para
campus da Unilivre.
Objetivos específicos:
a) estabelecer escritório
técnico e administrativo de apoio às atividades
do sistema Unilivre;
b) articular ações de prevenção
ou controle de impactos sócioambientais negativos
do SIP (alça viária) e distrito industrial-portuário
de Vila do Conde com implicação social, econômica
ou ambiental na Ilha do Marajó;
c) Implantar o "Centro Amazônico de Pesquisas
Neotropicais João Daniel - CADAN", em homenagem
ao primeiro naturalista da Amazônia, o padre João
Daniel, missionário no rio Moju no século
XVIII; e destinado a desenvolver pesquisas e projetos para
o desenvolvimento regional sustentável;
d) O CADAN realizará cursos em nível de pós-graduação
e estágios supervisionados tendo como campo de observação
e estudo a região eco-cultural do Marajó e
o seu entorno geográfico (área metropolitana
de Belém, Barcarena, Acará, Moju, Abaetetuba,
inclusive a área geocultural das Guianas);
e) Projetar produtos turísticos de interesse especial
para Roteiro da Cabanagem e desenvolver atividades de treinamento
e reciclagem de guias de turismo especializados;
f) Participar de Rede interativa de informações
turísticas em sistema coordenado pelo órgão
oficial especializado do Estado do Pará, podendo
realizar ou atualizar inventários turísticos
municipais e realimentar banco de dados compartilhados mediante
credenciamento e prestação de serviços
na área geográfica de atuação
da Unilivre;
g) Criação de aquário amazônico
para fins educativos e turísticos no município
de Barcarena, como referência a outros municípios
ribeirinhos; servindo também à experimentação
comercial de peixes ornamentais nativos da região
com assistência técnica do MPEG e autorização
prévia do IBAMA.
h) Implantação de Rádio e Televisão
Educadora Marajó para apoio ao serviço de
teleducação e difusão cultural da Unilivre.
ÁREA GEOGRÁFICA
DO MARAJÓ
Ilha do Marajó - Arquipélago
- Microrregião de Portel (continente).
1 - Núcleo Antônio Vieira
(Ponta de Pedras):
Histórico:
No século XVII, terminado
o estado de guerra do Estuário Amazônico, que
durou 35 anos (1623-1658); entre índios do Marajó
rebeldes e coloniais do Grão-Pará, pelo acordo
de paz do rio dos Mapuá de 1659, proposto e concluído
pelo padre Antônio Vieira; a Coroa pôde criar
em 1665 a capitania da Ilha Grande de Joanes (Marajó),
conforme o sistema hereditário estabelecido a partir
da colonização da Ilha da Madeira, Açores,
Cabo Verde e Brasil.
Assim, em 1680 no rio Arari,
levantou-se o primeiro curral de gado na Ilha de Joanes
ou Marajó. Os Jesuítas, que foram de importância
vital para pacificação dos índios rebeldes
ditos nheengaíbas (dos quais os mais belicosos foram
Aruãs e Anajás), obtiveram do donatário
Antônio de Sousa de Macedo a primeira sesmaria da
Companhia de Jesus no Marajó (rio Marajó-Açu),
em 1686.
Nesta primeira sesmaria,
fundaram a primeira fazenda das missões do Marajó.
Em cujas terras houve, até início do Diretório
de Pombal, a aldeia das Mangabeiras (mais tarde, Lugar de
Ponta de Pedras, sob invocação de N.S. da
Conceição) e a aldeia dos Guaianás
(Lugar de Vilar, sob o padroado de São Francisco),
cerca de 1758. Deve-se lembrar, contudo que antes desta
sesmaria, já os Jesuítas tinham estabelecido
missão em Arucaru (Portel) e Joanes.
Para os trabalhos de desbravamento
da terra, os padres levaram índios catequizados da
aldeia de Murtigura (Vila do Conde), onde fundaram a Fazenda
São Francisco (hoje possivelmente a fazenda "São
Francisco do Malato", defronte de Vila do Conde; é
remanescente daquela fazenda histórica, das três
que a Companhia de Jesus teve no rio Marajó-Açu:
São Francisco, Rosário (existente ainda) e
São Brás (desdobrada provavelmente no Carmo
e Campininha).
Na ilha Sant'Anna, foz do
rio Arari, os frades das Mercês fundaram, em 1698,
o primeiro engenho de açúcar, com canavial,
olaria e criação de gado para o que usaram
escravos africanos.
Neste espaço, que
veio a ser freguesia (1757) e depois município (1878)
de Ponta de Pedras, habitaram índios nuaruaques,
seguramente em Laranjeiras (Baixo Arari) e em Mangabeira
e no Vilar. Todavia a ocorrência de sítios
arqueológicos no polígono da bacia Anabiju
- Anajás Grande - Anajás Mirim (entre Ponta
de Pedras, Muaná, Anajás e Chaves) prova ocupação
humana pré-colombiana.
A sub-região marajoara
formada por Cachoeira do Arari - Ponta de Pedras - Santa
Cruz do Arari, configura uma unidade histórica e
cultural que precisa continuamente ser compreendida e trabalhada
em conjunto.
Aí nasceu e passou
sua infância o escritor Dalcídio Jurandir (1904-1976),
marajoara que ganhou o prêmio Machado de Assis, da
Academia Brasileira de Letras. Também se formou o
Museu do Marajó, criado por Giovanni Gallo; e a Diocese
de Ponta de Pedras, inaugurada e consolidada pelo bispo
emérito Ângelo Rivato, cuja jurisdição
acrescenta Muaná, São Sebastião da
Boa Vista e Curralinho.
Fato notável, a geografia
de Dalcídio tem nesta área biogeográfica
o ponto focal da obra do grande escritor do Marajó,
que, por curiosa circunstância, se projeta também
no trabalho de Rivato e Gallo na Ilha do Marajó.
Indicativo para projetos:
a) criação
do Centro Cultural Dalcídio Jurandir, mediante reconstrução
e adaptação do Palácio Municipal para
sede do núcleo local da Unilivre, com biblioteca
pública e serviço audiovisual, mini-centro
de convenções e museu da cidade;
b) Contextualização
histórica da escola-sede da rede estadual em Ponta
de Pedras, com sinalização e fixação
de placa alusiva ao local de nascimento do escritor Dalcídio
Jurandir Ramos Pereira, com troca oficial do nome da escola
para a do ilustre filho do município;
c) Construção
de Sítio Eco-Cultural Marajoara, constituído
de: réplica de um "teso" de camutins; anfiteatro
para espetáculos ao ar livre; e centro polivalente
de eventos, a ser denominado Aldeia dos Guaianás,
no antigo Lugar de Vilar frente à Baía do
Marajó.
d) Tombamento do sítio
Araquiçaua como lugar de memória da mítica
Terra sem males, e criação de parque ecoturístico
nesse local;
e) Albergue Científico
da Ilha Sant'Ana do Arari, destinado a servir de pousada
ecoturística para pesquisadores e turistas de interesse
especial, assim que à formação e treinamento
de recursos humanos ao desenvolvimento sustentável.
2 - Núcleo Ananatuba (Cachoeira do Arari):
Histórico:
A foz rio Arari (devido ao
aparente pouso do sol no Araquiçaua, o "lugar
onde o sol ata a rede" segundo a utopia tupi-guarani)
foi o principal atrativo da grande ilha em face da Ilha
dos Tupinambás ou Ilha do Sol (Colares), e largo
trecho da margem direita da Baía do Marajó
e rio Pará.
Apesar da historiografia
brasileira deixar uma lacuna enorme a respeito do mito da
Yvy Maraey na região amazônica; a etnologia
americana com referência ao messianismo e diáspora
dos povos tupinambás autoriza a creditar-se à
utopia destes índios o fato da sua expansão
do litoral do Nordeste para o Norte, e conseqüente
aliança - inicialmente com os franceses da France
Equinoxiale (Maranhão) e depois com os portugueses
da Feliz Lusitânia (Grão-Pará) - que
possibilitou a vitória das armas lusíadas
na conquista do "rio das amazonas" e depois a
criação e consolidação do Estado
do Maranhão e Grão-Pará (Amazônia).
A proposta da Unilivre convida
os interessados a conhecer, debater e tirar as próprias
conclusões sobre isto, aproveitando para visitar
a etno-história e a arqueologia da Ilha do Marajó.
Um passado pré-histórico que ainda resta encoberto
por nuvens e chuvas dos campos de Cachoeira.
No capitulo da arqueologia,
o estrato mais antigo estudado, em torno de 1.200 anos antes
de Jesus Cristo; recebeu o nome do sítio do achado:
Ananatuba. Não muito longe do cobiçado sítio
onde o sol ata a sua rede para dormir ao fim da jornada
de cada dia, o Araquiçaua. O lugar dos lugares, cobiçado
pelos profetas tupis.
Por acaso, o Ananatuba ("ananazal",
plantação de ananás) também
foi lugar do primeiro curral de gado, no rio Mauá;
levantado pelo colono Francisco Rodrigues Pereira, em 1680.
De modo que, ao longo dos séculos, a ignorância
de manadas de ruminantes e o obtuso utilitarismo dos colonizadores
predominou sobre a cultura dos povos nativos e a sabedoria
dos velhos pajés confrontados com rivalidades internas
e a diferença de crenças a partir de cosmogonias
diversas. E, por falta de inteligência e acordo, os
índios foram condenados à fatalidade da guerra
tribal e o despojamento das suas riquezas e glórias,
a padecer as misérias das epidemias e da escravidão.
Para poupar o braço
indígena aviltado e enfraquecido pela colônia
de exploração das drogas do sertão,
abriram-se os portos do Maranhão e do Pará
a navios negreiros. A escravatura africana, que tinha feito
a sua estréia com uns poucos negros que acompanharam
Orellana em 1542 e alguns mais trazidos pelos holandeses
para as suas feitorias no Xingu (1599) e no Amazonas (1600),
aumentou rapidamente. O passivo histórico é
considerável e anula grande parte dos ativos da Colonização.
Com a construção
do romance Chove nos campos de Cachoeira, e a premiação
nacional do seu autor, teve inicio uma conscientização
pública sobre o panorama social e a ecologia humana
do Marajó como jamais se tinha empreendido com tamanha
ousadia , clareza e arte literária. Cachoeira do
Arari é pioneira mais uma vez.
O rio Arari em cujas nascentes
o emblemático Lago Arari recebe anualmente o dom
de todas as chuvas dos campos do Marajó inteiro;
parece ser um predestinado curso de tempo-espaço.
Lá em cima, surgiu a original civilização
marajoara. Aí também, na valentia e modéstia
da Vila Jenipapo, nasceu entre "cacos de índio",
remos, tarrafas, pescadores e pescados o Museu do Marajó,
fruto do casamento de um padre teimoso com a sua vocação
inesperada.
Como estuário de formidáveis
esperanças e agonias, a corajosa cidade de Cachoeira
do Arari, nascida do desafio daquele pioneiro de 1680 advertido
do perigo dos "índios bravios, desertores e
negros refugiados" nos centros da Ilha, é a
venerável vencedora de muitas lutas.
Indicativo para projetos:
a) Tombamento pelo Departamento
Estadual do Patrimônio Histórico e Cultura
- DPHAC / SECULT e projeto de restauração
da Casa de Dalcídio Jurandir como exposição
e espaço cultural da cidade, anexo ao Museu do Marajó;
b) Reestruturação
do setor de publicações do Museu do Marajó
para funcionamento da Livraria Editora Casa de Dalcídio
- CasaDAL;
c) Localização,
mapeamento, identificação da propriedade fundiária
de ocorrência de sítios arqueológicos
do Marajó, destinado a programa de preservação
e educação patrimonial em convênio com
o IPHAN e MPEG em parceria com os proprietários rurais
e a comunidade local;
d) Reforma do Museu do Marajó
para construção de mini-centro de eventos,
sala de conferência e cursos de pós-graduação
e extensão;
e) Projeto de revitalização
do centro tradicional de Retiro Grande para atividades de
ecoturismo e turismo rural;
f) Projeto comunitário
demonstrativo de execução descentralizada
de Caracará;
3 - Núcleo Severino
dos Santos Sacaca (Salvaterra):
Histórico:
Em 1783, o naturalista luso-brasileiro
Alexandre Rodrigues Ferreira chegou ao Pará para
dar inicio à sua monumental obra Viagem Filosófica.
Acompanhado do inspetor-geral da Ilha do Marajó,
Florentino da Silveira Frade, ele passou imediatamente à
Vila de Monforte (aldeia de Joanes), onde conheceu e teve
como informante da sua obra Notícia Histórica
da Ilha Grande de Joanes ou Marajó, o sargento-mor
Severino dos Santos, índio Sacaca. O qual prestou
valiosas informações para a etno-história
do Marajó.
Por esta preciosa informação
fica-se sabendo, por exemplo, como foram aconselhados os
Joanes [Iona] pelos Caripunas, compadres destes e dos Aruãs
inquietos que de tempo em tempo molestavam a aldeia dos
Joanes, a procurar apoio dos portugueses do Grão-Pará.
Que deste acordo resultou o apelido de Sacacas aos ditos
Iona ou Joanes, e o massacre dos Aruãs no lugar Água
Boa, surpreendidos pelas armas de fogo dos portugueses aliados
à gente de Joanes.
Referência para a etno-história
da Ilha do Marajó o relato de Severino dos Santos
na Notícia Histórica informa como os Aruãs,
vindos da costa norte, foram empurrando para a costa sudeste
as mais velhas tribos, até então habitantes
de lugares como Laranjeiras, Flecheiras, Curuxis, etc.
Salvaterra deve ser considerado
como lugar de memória da Viagem Filosófica
na Ilha do Marajó. Primeiro passo na aventura científica
do sábio luso-brasileiro da Universidade de Coimbra,
em fins do século XVIII.
Indicativo para projetos:
a) Tombamento e criação
da Reserva Municipal do Patrimônio Natural de Água
Boa, para fins de educação ambiental e patrimonial
e uso seletivo em ecoturismo;
b) Construção de Aquário de Salvaterra,
com finalidade educativa e turística em integração
aos demais aquários públicos gerenciados pelo
centro de pesquisas CADAN, da Unilivre;
c) Memorial Alexandre Rodrigues
Ferreira, servindo de museu da cidade e exposição
de produtos naturais da Ilha do Marajó.
4 - Núcleo Vicente Chermont de Miranda (Soure):
Histórico:
Embora pertença historicamente
a Cachoeira do Arari a introdução da pecuária
na ilha do Marajó, em 1680, com a formação
das grandes fazendas particulares coube a Soure concentrar
a elite pecuarista do Marajó. Aclimatação
do búfalo como animal de corte e leite, ou mesmo
de trabalho; acabou sendo símbolo deste importante
município que mais caracteriza a própria Ilha
do Marajó no seu todo.
No entanto, tradicionalmente
a antiga aldeia dos Maruanás; que, na política
do Diretório dos Índios, foi elevada à
categoria de vila com o nome da cidade portuguesa de Soure;
sempre teve por vocação a pesca do estuário
do Pará. Notável pelo Pesqueiro Real que houve
(e hoje é recordado pela praia do Pesqueiro) tem
seus descendentes na comunidade de pescadores sourenses.
O rio Paracauari ou Igarapé
Grande tornou-se rio urbano, compartilhado entre as duas
cidades gêmeas do Marajó: Salvaterra e Soure.
Ambas nasceram de um espaço-tempo comum e devem,
portanto, se desenvolver harmonicamente para servir de referência
à integração que deve haver entre todas
as comunidades marajoaras, em busca do desenvolvimento sustentável
do arquipélago do Marajó integralmente.
Foi através da aldeia
dos Joanes, transformada, em 1758, na Vila de Monforte;
em suas dificuldades de convivência com os Aruãs
vizinhos; que os brancos botaram os pés na Ilha Grande
dos Nheengaíbas ou Aruãs pela primeira vez.
A primeira missão dos Jesuítas nesta ilha
entrou naquela aldeia, ajudados por índios inimigos
destes. Vindos da Ilha dos Tupinambás ou a Ilha do
Sol (Colares).
Joanes foi onde supostamente
o padre Luís Figueira havia sido "devorado"
junto com seus companheiros de naufrágio pelos "canibais"
Aruãs... Dois equívocos históricos,
plantados provavelmente por informantes tupinambás.
Para malquistar seus inimigos com os portugueses: primeiro,
Aruãs não usavam antropofagia (porém
foram vítimas dela em mãos de seus inimigos
Galibi, e talvez um pouco em confronto com os tupinambás,
célebres comedores de carne humana em seus ritos
heróicos, somente abandonados pelo esforço
da cristianização); segundo, que na praia
de Joanes onde teriam chegado os náufragos levados
pelo vento e as ondas, talvez já mortos; não
habitavam os Aruãs, mas os Joanes [Iona} ou Sacacas.
Daquela vila de Monforte
(que foi um dia aldeia dos Joanes) foi criado o município
de Soure, também com terras do Lugar de Mondim, e
teve sede na velha aldeia do "Maruanases" (em
português arcaico, que modernamente deve-se dizer
Maruaná). Soure veio a ser a primeira e única
cidade do marajó até agora a ter planejamento
urbano.
Indicativo para projetos:
a) Criação
e/ou expansão do Museu do Gado em associação
com a estação de conservação
genética de bubalinos da EMBRAPA, para preservação
da memória da pecuária no Marajó desde
os seus primórdios;
b) Integração
da "Resex Maruanases" ao aquário de Salvaterra
no que se refere à memória do Pesqueiro Real;
c) Criação
do Lugar do Imaginário como centro de pesquisa, registro
e difusão do folclore marajoara com o seu lendário.
5 - Núcleo Arariuara (Santa Cruz do Arari):
Histórico:
A mais importante cultura
marajoara pré-colombiana teve seu esplendor às
margens do lago Arari. A arqueologia americana, não
sabendo exatamente quem foram esses artistas da cerâmica
mais elaborada que se acha na Ilha do Marajó, denominou
arbitrariamente a essa desconhecida civilização
de "Marajoara", pelo simples fato de ser localizada
no Marajó (do mesmo modo, foram chamadas as "fases"
Ananatuba, Mangueiras e Formiga, como exceção
da Aruã, correspondente à nação
indígena que os europeus conheceram entre outras
na mesma Ilha).
O sítio arqueológico
mais famoso (já quase totalmente devastado e saqueado)
é o Pacoval (outrora dito Pacoval de Santa Cruz).
Pacova é espécie de banana nativa, cultivada
pelos índios: o registro é curioso, pois é
notável a dificuldade em se cultivar plantas nas
terras ácidas em volta do Lago, pela composição
do solo. Ao que parece além de construírem
aterros sobre campos inundáveis os "marajoara"
aprenderam a modificar o solo.
Por que os antropólogos,
à falta de melhor informação, não
chamaram a esse perdido povo lacustre de os "Araris",
em vez de reforçar sobre a memória arruinada
a ótica de seus inimigos ancestrais? Pelo menos,
esta palavra parecer ser perfeitamente aruaque. Na acepção
de "rio das araras" (de ara (pronúncia
onomatopéica, árra), arara; e ári,
rio) em lugar daquele xenofóbico e pleonástico
nome de origem tupi: "habitante da (terra) de gente
malvada" (sic), enfim o vocábulo marajoara,
ao longo do tempo, ganhou conotação diferente
da sua etimologia original. Um mero detalhe do labirinto
da nossa colonização e suas seqüelas
culturais e mentais.
Foram uns poucos Jesuítas
com o avanço das suas criações de gado
sobre infinitas pastagens naturais, em direção
aos centros antes indevassáveis, os primeiros brancos
a penetrar o antigo santuário dos primitivos "marajoaras"
ou "araris". Na verdade, a vanguarda da ocupação
teria sido formada por índios mansos, conforme a
Doutrina. A condição de insularidade e isolamento
dos "centros" da Ilha, havia permitido aos índios
do Lago permanecer afastados da guerra e da peste, por aproximadamente
100 anos, pelo menos; desde a fundação de
Belém"...
Assim, os padres fundaram
com os próprios índios, catequizados pouco
a pouco, a Fazenda da Santa Cruz, depois vila na reforma
Pombalina. Um longo período manteve os moradores
do Lago Arari subordinados à distância à
Vila de Cachoeira, até 1878; e depois à nova
Vila de Ponta de Pedras (passando pelas alterações
da revolução de 1930, para jurisdição
do Município de Arary e Itaguari). Até, finalmente,
em 1960, alcançar uma precária e vacilante
autonomia municipal. Que começa entretanto a criar
raízes e adquirir feição peculiar conforme
a singularidade do lugar.
Indicativo para parceria:
a) Projeto para tombamento
e restauração do teso do "Pacoval de
Santa Cruz";
b) Atividade de educação
ambiental a partir do Igarapé do Severino;
c) Instalação
de Rádio Educadora Comunitária Arari;
d) Curso de formação
de pilotos-guias locais de ecoturismo;
e) Aquário da Vila
Jenipapo, de educação profissional e informação
ictiológica e de limnologia aplicada;
f) Pesquisa em urbanismo
em áreas lacustres da região amazônica.
6 - Núcleo Aruãs (Chaves):
Histórico:
Indicativo para parceria:
a) Marajó Park Resort
/ Grupo REICON, instalação de albergue científico
e estação de pesquisa em ecoturismo (aquário
educativo e turístico);
b) Projeto-piloto de RPPN
sócio-educativa em parceria com a comunidade local
para o desenvolvimento sustentável das populações
tradicionais;
7 - Núcleo Foz do Amazonas (Afuá):
Indicativo para projetos:
a) Ação para
treinamento de agentes comunitários de saúde
com enfoque etno-psicológico (integração
de valores de medicina popular ao sistema médico
oficial);
b) Pesquisa em arquitetura e paisagismo
amazônico para revitalização de cidades
na região equatorial;
a detalhar:
8 - Núcleo Mocoões (Anajás):
9 - Núcleo Cacique Piié Nheengaíba
(Breves):
10 - Núcleo Mariocai (Gurupá);
11 - Núcleo Caxiuanã (Melgaço);
12 - Núcleo Arucaru (Portel);
13 - Núcleo Piriá (Curralinho);
14 - Núcleo Pacajás (Bagre);
15 - Núcleo Samanajás (São Sebastião
da Boa Vista);
16 - Núcleo Anabiju (Muaná);
17 - Núcleo Araticum (Oeiras do Pará).
NOTA - Este informe é destinado
a debater o projeto. AGRADECEMOS CRÍTICAS E SUGESTÔES.
- contatar José
Varella, Coordenador Geral -
e-mail: assessoria@paratur.pa.gov.br
Uma Iniciativa Marajoara
A Associação
UNIVERSIDADE LIVRE DO MARAJÓ - Unilivre MARAJÓ,
tem por objetivo o encontro entre o savoir faire popular
da Amazônia, no arquipélago do Marajó
especificamente; e o conhecimento acadêmico. Para
isto, oferecerá infra-estrutura básica de
campi para realização de atividades de pós-graduação,
extensão universitária, pesquisa e educação
continuada em cooperação com universidades
brasileiras e estrangeiras, mediante cursos de especialização,
estágios, seminários, oficinas, jornadas de
trabalho e outras modalidades de difusão do conhecimento
para desenvolvimento regional sustentável.
Dentre diversas áreas culturais da Amazônia,
pretende situar Marajó no espaço nacional
e mundial contribuindo assim na formação de
uma imagem externa positiva do Estado do Pará e do
Brasil, na perspectiva de um turismo de interesse especial
- no caso, o segmento interuniversitário e acadêmico
-, de modo a participar ativamente no processo de desenvolvimento
sustentável da e no combate às causas da pobreza
para melhoria das condições de vida das populações
locais.
História de um resgate
Na década de 1960,
foi criada a Prelazia de Ponta de Pedras (atual Diocese),
na Ilha de Marajó, sob direção de seu
primeiro bispo, dom Angelo Maria Rivatto. O qual iniciou
intenso trabalho de conscientização e mobilização
popular para captação de recursos de assistência
social e desenvolvimento econômico familiar.
Este viria se tornar fonte de um resgate que, presentemente,
parece encerrar uma primeira fase, convergindo ocasionalmente
com a ocorrência de ciclo de estudos sobre a obra
do escritor marajoara Dalcídio Jurandir, coordenado
pela Universidade Federal do Pará - UFPA e a Universidade
da Amazônia - UNAMA, através dos professores
Gunter Pressler e Paulo Nunes com colaboração
de círculo de especialistas dalcidianos, no Brasil
e exterior.
Dalcídio Jurandir nasceu na vila de Ponta de Pedras
(Marajó), passou a infância em Cachoeira do
Arari; viveu e trabalhou em Gurupá e Salvaterra,
localidades marajoaras; além de Belém, Rio
de Janeiro e Porto Alegre. Viajou ao Chile e a Rússia.
A geografia de Dalcídio é o espaço
insular que transborda das ilhas para a cidade grande de
Belém do Pará. Donde lhe veio a fonte de criação
dos personagens e da narrativa romanesca, que retrata a
paisagem social entrecortada de amarguras e esperanças,
numa relação dialética especialíssima.
Trata da condição humana na Amazônia,
na perspectiva de uma dimensão universal.
Escritor marajoara por excelência, Dalcídio
Jurandir obteve o reconhecimento da Academia Brasileira
de Letras através do Prêmio Machado de Assis
(a maior comenda da literatura nacional), pelo conjunto
da obra, parcialmente traduzida no estrangeiro. Pode assim
ser ele, merecidamente, apontado como iniciador e inspirador
do resgate de Marajó, que está se concretizando
no momento. Ainda que, no princípio, de maneira não
intencional na origem por seus diversos participantes. Concluindo
ser este movimento estuário de várias ações
que caminham como diferentes igarapés até
confluir no grande rio regional, em marcha crescente para
o mar aberto da consciência universal.
A fase histórica atual foi precedida por pronunciamento
dos Bispos de Marajó, dom Angelo Rivatto, da Diocese
de Ponta de Pedras, e dom frei Luiz Ascona, da Prelazia
do Marajó, sobre o baixo índice de desenvolvimento
humano (IDH) do arquipélago de Marajó. Um
alerta vigoroso, que convida a todos a empreender uma reflexão
solidária efetiva, observando não apenas a
responsabilidade social do fenômeno da pobreza na
Ilha grande do Marajó (área de proteção
ambiental e pólo de turismo maior em extensão
territorial do que países como a Bélgica e
Holanda, por exemplo), mas também suas conseqüências
políticas no Estuário amazônico, incluindo
a área metropolitana de Belém, a capital do
Amapá e as relações transfronteiriças
com as Guianas.
A iniciativa de criação da Unilivre MARAJÓ,
portanto, é oportunidade para compreender melhor
este impressionante espaço geocultural, naturalmente
inserido na área cultural guianense desde a Ilha
de Trinidad (nas Antilhas) até a foz do rio Amazonas;
que articula as regiões culturais brasileiras do
Extremo-Norte com as Guianas e o Caribe.
Em Ponta de Pedras - PA, sede da Diocese, ao longo de 30
anos de parceria da Igreja Católica com a comunidade
local, nasceram duas cooperativas comunitárias: a
COMIFRHUT" e a COOPIUPE. Enquanto a COMIFRHUT investiu
em formação profissional, a COOPIUPE realizou
uma mini "reforma agrária" silenciosa e
pacífica - , organizando e/ou implantando agrovilas
caboclas de feição kibutiziana. Até
hoje, a sociedade e o poder público não parecem
suficientemente informados e interessados em amparar e consolidar
esta obra excepcional, que o projeto da Unilivre MARAJÓ
tem dentre os seus objetivos.
No curso do processo, a Diocese recebeu importante participação
do padre Giovanni Gallo, designado que foi ocasionalmente
para a paróquia de Santa Cruz do Arari, mais exatamente
em Jenipapo, no Lago Arari. Uma vila de pescadores descendentes
de antigos índios marajoaras, vivendo no limite da
realidade. Esta experiência vivida pelo padre ficou
registrada no livro-documento "Marajó, a ditadura
das águas", de sua autoria.
Nesta incrível vila, sobre vestígios da antiga
arquitetura de aldeias sobre palafitas indígenas,
afastada do mundo moderno; teve nascimento o Museu do Marajó
(mais tarde, transferido para a cidade de Cachoeira do Arari),
instituição emblemática do importantíssimo
resgate de um povo e sua singular cultura, desde os primórdios,
há mais de 1000 anos a.C., até os nossos dias
através dos descendentes dos antigos marajoaras.
De modo que, na marca do Colóquio Dalcídio
Jurandir, realizado a 30 de abril em Ponta de Pedras, no
124º aniversário da autonomia municipal - com
apresentação de três dissertações
por conclusão de curso baseadas nos romances Chove
nos campos de Cachoeira, Marajó e Três casa
e um rio, foi feliz coincidência a iniciativa para
criação de campi interuniversitário
dedicado ao amparo e desenvolvimento do resgate histórico
de Marajó.
Da implementação do projeto
Unilivre MARAJÓ
A Unilivre MARAJÓ
será uma entidade não-governamental, sem fins
lucrativos, destinada a prestar apoio a professores e alunos
universitários nacionais e estrangeiros, contribuindo
assim a difundir conhecimentos para o desenvolvimento regional
sustentável que possam melhorar as condições
de vida das populações tradicionais na Amazônia.
Além de se dedicar à difusão do saber
popular em meio acadêmico e a contribuir à
preservação da cultura marajoara e do meio
ambiente na Amazônia, a entidade exercerá também
função de consultoria para projetos especiais
de desenvolvimento sustentável com participação
popular, podendo captar recursos para execução
descentralizada desses projetos isoladamente ou em parceria
com terceiros.
O Brasil não pode
mais desperdiçar e perder o "mais importante
material arqueológico brasileiro". Conforme
Heloísa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional
do Rio de Janeiro (ver revista do antigo SPHAN, Rio de Janeiro,
1937). Nem deve continuar esquecido da paz do rio Mapuá
de 26 de agosto de 1659, negociada com êxito pelo
padre Antônio Vieira e os Sete Caciques do Marajó.
Qualquer país com amor à independência
de sua gente, já teria localizado e recuperado o
sítio da igreja do Santo Cristo para levantar monumento
na aldeia dos extintos Mapuás. Ainda que modesto,
porém tão significativo quanto o sítio
do Descobrimento.
Em boa hora foi posta a candidatura do Ver-o-Peso à
lista mundial da UNESCO. Mas, sem Marajó à
sua ilharga, sempre há de faltar o principal na amazônica
proeza. Se não tivermos coragem de lançar
agora um alerta - quando o Pará velho de guerra começa
a decolar e a escrever, finalmente, sua história
pós-colonial -, a memória dos Nheengaíbas
ficará vegetando para sempre entre devastação
e pobreza, por ironia no estuário da maior bacia
fluvial da Terra.
Por outra parte, há uma séria dívida
do Brasil no que se refere à falta de estudos para
tombamento do sítio Araquiçaua. Que se encontra
em área de proteção ambiental e pólo
de turismo. Este estupendo Araquiçaua (literalmente,
"o lugar onde o sol ata rede de dormir"), que
os brasileiros não sabem onde fica, mas os caraíbas
tupinambás procuravam por todos os meios e, portanto,
terminaram sua odisséia no "rio das amazonas",
entre males sem fim; não deveria jamais faltar em
nenhum plano nacional de ecoturismo.
Só por isto, se não houvesse mais nada, já
seria bastante para Brasília propor inclusão
da Ilha do Marajó na lista do Patrimônio da
Humanidade. Por menos do que há no Marajó,
o Pantanal mereceu atenção federal e mundial.
Por que a antiga Ilha Grande dos Nheengaíbas há
de ficar eternamente no limbo da história, se foi
a sua gente que, por negociação e inteligência,
abriu - definitivamente, em 1659; reiterado em 1823 - as
portas da Amazônia aos lusitanos abandonando a tentativa
estrangeira, para dar origem ao direito de soberania do
Brasil na região equatorial? Esta gente ainda não
foi devidamente recompensada, muito pelo contrário!
Por fim, a grande mágoa
da gente marajoara: o assalto sem fim e ruína inapelável
dos sítios arqueológicos. Nossa pretérita
certidão de nascimento e singularidade neotropical.
Por isto mesmo, o compromisso com a revitalização
do nosso Museu do Marajó. Esta obra comunitária
imprevista e sofrida, nascida na humildade e valentia da
vila de pescadores do Jenipapo, na margem mais pobre do
Lago Arari - berço da Civilização Marajoara
- iniciativa de um obstinado italiano de nascimento, marajoara
de coração e corpo inteiro: Giovanni Gallo.
A pedra colonial será salva: mas, a idade do barro
ao barro há de retornar... Fala-se em Ecoturismo
como estratégia ao desenvolvimento sustentável.
Mas, falta salvar o acervo arqueológico da Amazônia.
Ecologia humana é o que se deve tratar, não
só micos, jacarés e plantas exóticas
interessando exclusivamente à indústria farmacêutica.
Quantos museus, no país e exterior, têm afortunada
posse de cerâmica marajoara e estão dispostos
a participar de plano como o supracitado ou a valorizar
o Museu do Marajó? Com exceção do Museu
Paraense Emílio Goeldi e do Estado do Pará,
que têm ajudado alguma vez a Giovanni Gallo, ou da
Fundação Cultural do Município de Belém
que firmou convênio para recuperar a Casa de Dalcídio
Jurandir, não se sabe doutros. Em suma, é
pouco ou nada o que se têm feito neste sentido.
O tempo arqueológico vive em nosso inconsciente coletivo
e revitaliza a civilização neotropical. É
a telúrica Cobra grande. A pele de Tuluperê
dos índios do Tumucumaque na arte da cestaria. O
plano cosmo-equatorial suspenso por um círculo de
asas de borboletas, no grande disco na cumeeira da casa
guianense. Patrimônio artístico pré-histórico.
Suas grandes datas e acontecimento são vértebras
de espaço-tempo em construção infinita.
Surdem-se como ilhas de aluvião descendo lentamente
o rio-mar...
Passados 60 anos de "Chove
nos campos de Cachoeira", a obra de Dalcídio
Jurandir ainda está no purgatório. E o sol
da plenitude democrática é um sonho abaixo
do equador. Apesar de tudo, nosso Pará velho de guerra
achou rumo. Mesmo assim, só um cego não vê
o quanto está longe o estirão do "Araquiçaua".
Ou a "Terra sem Mal", antigamente procurada na
guerra e na paz pelos índios. O sonhado desenvolvimento
sustentável valerá a Utopia neotropical?
Neste século, Brasília das Águas Emendadas
tem que olhar a Amazônia para ver o norte do Povo
Brasileiro. Descobrir onde a nação Tupinambá
veio findar sua odisséia em busca do futuro, segundo
os Caraíbas. Os índios cantando, dançando
e subindo ao céu em transe... Premonição
talvez de satélites artificiais, Internet e biotecnologia
traçados antigamente pela régua e o compasso
do tempo arqueológico.
Já falei demais, agora devo calar-me
para não abusar da vossa paciência.
Ficarei imensamente grato
e bem pago de muitas noites e madrugadas insones, longos
dias de sofrimento e canseira ao longo de rios, varjas e
sítios há mais de sessenta outubros; se Vossas
Excelências responderem ao povo marajoara com mais
consideração e apreço.
Sinceramente,
José Varella
Venha descobrir o sítio
onde o Sol ata rede para dormir
encontrar o savoir faire dos caboclos
com a ciência e tecnologia do Trópico Úmido
visitar a história, a antropologia, o ecodesenvolvimento
neotropical
· Universidade virtual e campi
cooperativo avançado
· Turismo científico e eco-cultural na maior
ilha flúvio-marítima do planeta
· Ecoturismo de compromisso com a comunidade local
· Extensão universitária e visitas
guiadas a sítios históricos
Fonte: Unilivre |