"Plantar árvores pode
ser uma atividade lucrativa, o problema é
o fluxo do dinheiro, pois trata-se de um investimento
cujo retorno não é imediato, motivo
pelo qual durante muitos anos este tipo de negócio
foi descartado no País". Quem diz isto
é o secretário estadual do Meio Ambiente,
professor José Goldemberg, em palestra, na
quarta-feira (14/8), no encerramento do Simpósio
Internacional Reflorestamento e Desenvolvimento,
que se realizou na Escola Politécnica, da
Universidade de São Paulo.
É por este motivo que, segundo Goldemberg,
a Secretaria do Meio Ambiente investe em florestas
de produção, como comprovam os diversos
projetos em desenvolvimento por intermédio
do Instituto Florestal e Fundação
Florestal. O secretário ressalta, porém,
que "é importante contar com a sensibilidade
dos governos e investidores na recuperação
da cobertura vegetal do Estado de São Paulo".
As palavras de Goldemberg se justificam, pois vários
palestrantes alertaram que os investimentos existentes,
atualmente, não são suficientes para
garantir a produção e suprir a demanda
das indústrias de papel e celulose, produção
de resinas e outras finalidades. Mesmo para o simples
uso de madeira bruta na instalação
de cercas em fazendas, conforme se constata em algumas
regiões, já é necessário
comprar os produtos em outros Estados.
O simpósio foi promovido pela Secretaria
Estadual do Meio Ambiente, por intermédio
do Instituto Florestal e da Coordenadoria de Informações
Técnicas Documentação e Pesquisa
Ambiental - CINP, e pelo Consulado Geral do Japão
em São Paulo, por intermédio da Japan
International Cooperation Agency - JICA. O grande
número de interessados confirmou o interesse
e a relevância dos temas abordados no evento
por especialistas brasileiros e japoneses, que atuam
em projetos de recuperação ambiental,
tanto no Brasil como em outros países, enfocando
com destaque as ações desenvolvidas
no Estado de São Paulo.
Fomento
Há a necessidade de plantar
cerca de 4 milhões de hectares nos próximos
25 anos, segundo dados apresentados pelo pesquisador
científico do Instituto de Economia Agrícola,
da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento,
Eduardo Pires Castanho Filho. "Essa meta representa
o plantio efetivo de 160 mil ha/ano, correspondentes
a cinco vezes os plantios anuais realizados pelas
empresas do setor florestal paulista."
Mesmo assim, Castanho mostrou que a avaliação
mais recente do programa de fomento florestal no
Estado apresenta vários aspectos positivos,
divulgando tanto a atividade de plantio de florestas
como a concepção de produção
sustentada e propagando o melhor aproveitamento
do uso do solo com a utilização de
áreas impróprias à agricultura
e pecuária. Estas ações, demonstrou
Castanho, contribuíram para a diminuição
da pressão sobre as florestas nativas e proporcionaram
maior oferta de matéria-prima florestal.
Classificado como base de planejamento de qualquer
empresa que atue no setor, o "Mapeamento e
Quantificação do Reflorestamento no
Estado de São Paulo", apresentado pelo
pesquisador científico do Instituto Florestal,
Francisco José do Nascimento Kronka, constitui
um instrumento fundamental para se alcançar
os níveis propostos pelo técnico da
Secretaria da Agricultura.
O trabalho, em formato digital utilizando o Sistema
de Informações Geográficas,
reúne informações sobre reflorestamento,
a partir de imagens de satélites registradas
entre 1999 e 2000, e identifica o reflorestamento
por gênero das espécies cultivadas.
Foram usadas também informações
dos proprietários das áreas de reflorestamento,
destacando as espécies, tempo de plantio
e condições de manejo.
O mapeamento inclui uma análise evolutiva
do reflorestamento no Estado de São Paulo
e é parte integrante do Programa BIOTA-FAPESP,
desenvolvido em cooperação com a Sociedade
Brasileira de Silvicultura e SEBRAE. Os levantamentos
apresentados durante o simpósio indicam que
existem cerca de 85 milhões de árvores
plantadas no Estado e que, desse total, 80% são
compostos por pinus e o restante é formado
por diferentes espécies.
Projetos
Entre os trabalhos apresentados
no simpósio, o projeto desenvolvido pelo
Instituto Florestal na Estação Ecológica
de Mogi-Guaçu mereceu grande destaque e interesse,
sendo considerado um exemplo viável de integração
de floresta plantada com a preservação
e recuperação de espécies nativas.
Nesse caso, como mostrou o pesquisador científico
José Luiz Timoni, que já dirigiu o
Instituto Florestal e atuou como diretor-adjunto
na Fundação Florestal, a formação
da floresta teve início há 25 anos
e só agora começa a produzir.
A Estação Ecológica de Mogi-Guaçu
localiza-se na Fazenda Campininha, pertencendo ao
Estado desde 1910, quando foi desapropriada para
fins de reforma agrária. Só no final
da década de 40, no entanto, decidiu-se pela
sua destinação a projetos de reflorestamento
nos seus 4.510,16 hectares, que se apresentavam
bastante degradados. Atualmente a área está
dividida em três unidades: a Reserva Biológica,
com 479,04 ha de cerrado; a Estação
Ecológica, com 980,72 ha formados basicamente
pela mata ciliar que margeia o Rio Mogi-Guaçu,
com vários tipos de vegetação
em regeneração; e a Estação
Experimental, que ocupa 3050,41 ha, cultivados com
pinus e eucaliptos, além de matas ciliares
altamente alteradas acompanhando alguns corpos d'água
tributários do Rio Mogi-Guaçu. Esta
unidade é utilizada também para inúmeras
pesquisas de fauna e flora, além de compor
um importante corredor ecológico.
O Projeto Jacarandá foi outro exemplo de
atuação que vem obtendo resultados
positivos, conforme demonstrou o pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia,
João Ferraz. Realizado por meio de um programa
de cooperação técnica entre
a JICA e a Agência Brasileira de Cooperação
- ABC, com a participação do Ministério
da Ciência e Tecnologia, o Projeto Jacarandá
se propõe a gerar conhecimentos científicos
necessários para promover atividades de reflorestamento
em áreas degradadas nos trópicos úmidos,
como é o caso da Amazônia.
A proposta do projeto é de recuperar as áreas
degradadas na Amazônia Central, tranformando-as
em áreas para o plantio de florestas, além
de recuperar ecossistemas degradados e reduzir a
pressão de desmatamento sobre as florestas
primárias.
Reflorestamento na Ásia
Entre os projetos internacionais
apresentados, merecem ressalva os casos de reflorestamento
desenvolvidos na Ásia, iniciados em meados
da década de 60. Segundo o representante
da OISCA - Organization for Industrial, Spiritual
and Cultural Advancement, Tadashi Watanabe, "a
experiência adquirida com a capacitação
de recursos humanos nos ensinaram que a preservação
do meio ambiente é vital para sustentar um
desenvolvimento equilibrado no futuro. Também
aprendemos que o reflorestamento é uma atividade
do qual todos, sem distinção, podem
participar".
Tadashi apresentou exemplos do trabalho realizado
pela OISCA. Um deles é o projeto iniciado
na Tailândia, em 1980, com o reflorestamento
da província de Surin, que é limítrofe
com Laos e Cambojia, região duramente castigada
por guerras em passado recente. As fotos exibidas
mostram uma área totalmente devastada em
1980 e sua transformação em floresta,
que abriga diferentes espécies vegetais,
aves e insetos, em imagem registrada em 1999.
Outro exemplo é o projeto em uma área
de mangue na Ilha de Palawam, nas Filipinas, iniciado
em 1989, com financiamento do governo japonês,
do Banco de Desenvolvimento da Ásia e a participação
da comunidade. Em contrapartida, o governo das Filipinas
concedeu às famílias que participaram
o reflorestamento um certificado que permite a utilização
da área durante 50 anos, transferíveis
para seus herdeiros.
Mudanças climáticas
O simpósio não deixou
de lado o tema que vem preocupando pesquisadores,
ambientalistas e autoridades em todo mundo: as mudanças
climáticas, que foram abordadas pela secretária-adjunta
de Políticas e Programas de Ciência
e Tecnologia do Ministério de Ciência
e Tecnologia, Thelma Krug. Ao falar da Situação
do Desflorestamento da Amazônia e da Mata
Atlântica, a técnica, que é
uma das representantes brasileiras nas Conferências
das Partes da Convenção das Nações
Unidas sobre Mudança Climática, abordou
alguns aspectos científicos sobre o tema,
principalmente os relacionados ao uso e mudanças
do uso da terra e florestas.
Thelma apresentou dados relacionados ao desflorestamento
da Amazônia, a partir de uma série
histórica de 13 anos, e informações
sobre a situação recente dos remanescentes
da Mata Atlântica. A pesquisadora abordou
também as oportunidades do setor florestal
dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.