EXPEDIÇÃO PARTE EM
BUSCA DO PEIXE-BOI AMAZÔNICO
Panorama Ambiental
São Paulo - Brasil
Agosto de 2002
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Os pesquisadores do Centro
Mamíferos Aquáticos - CMA/Ibama, em cooperação
do Conselho Nacional dos Seringueiros, voltam à Amazônia
a partir deste sábado(24/8) para mais uma etapa da
pesquisa sobre o peixe-boi amazônico (Trichechus inungis.
Durante trinta dias, os pesquisadores do Projeto Peixe-Boi
percorrerão rios e igarapés da Reserva Extrativista
Tapajós-Arapiuns e da Floresta Nacional do Tapajós,
no Pará, para uma série de estudos que ajudarão
a esclarecer os cientistas sobre a situação
em que se encontra o peixe-boi amazônico em seu habitat
natural. A intenção é replicar na região
a metodologia usada na conservação do peixe-boi
marinho (Trichechus manatus) na região Nordeste que,
nos últimos 22 anos, conseguiu conter o extermínio
e atualmente representa uma chance de sobrevivência
para a espécie.
Em 2000, a equipe coordenada pelo oceanógrafo Régis
Lima, chefe do CMA, passou 71 dias na Amazônia e realizou
o mais profundo levantamento sobre o peixe-boi na região.
O trabalho foi financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente.
Depois de percorrer os rios Solimões, Amazonas, Madeira,
Purus, Jutaí e principais afluentes, os pesquisadores
constataram que na maioria das comunidades visitadas ainda
se pratica a caça ao peixe-boi para o consumo e o
comércio clandestino. Estima-se que 500 animais sejam
mortos anualmente na região.
É justamente essa a maior preocupação
dos estudiosos. A caça feita de forma indiscriminada
foi o que praticamente acabou com o peixe-boi marinho na
costa brasileira. Teme-se que o seu primo da Amazônia
siga a mesma trajetória. Por isso, um dos focos da
expedição será a educação
ambiental. Além de mostrar que a caça ao peixe-boi
é proibida por lei, os pesquisadores tentarão
explicar para os ribeirinhos que o animal é importante
para o equilíbrio do ecossistema. Vegetariano, o
peixe-boi ajuda a manter os rios e os igarapés livres
do excesso de vegetação. Sua dieta pode chegar
a até 20 quilos de plantas em um só dia. Se
o peixe-boi desaparecer, a reação será
sentida em cadeia. As fezes do peixe-boi adubam os rios
e estimulam o surgimento do fictoplâncton que alimenta
os peixes que alimentam os ribeirinhos.
"Sabemos que é difícil reverter hábitos
culturais, mas é possível inserir os ribeirinhos
no trabalho de conservação do peixe-boi",
diz Régis Lima. Segundo ele, meta é visitar
110 comunidades nas duas etapas da expedição
e levar informações de modo a criar uma nova
mentalidade na região. Além de tentar conquistar
a população para a causa, os pesquisadores
também farão entrevistas e coletarão
dados para tentar definir a população desses
mamíferos aquáticos. Os dados indicarão
as melhores estratégias de conservação
da espécie na região.
Fortes aliados
Desde o ano passado, o CMA conta com o apoio do Conselho
Nacional de Seringueiros-CNS. Formado em 1985 pelos seringueiros
da região, o conselho possui capilaridade em toda
a Amazônia. "Com o apoio das populações
tradicionais, as campanhas adquirem um caráter de
maior aceitação, pois é o próprio
ribeirinho quem se incumbe de propagar a informação",
avalia Carla Aguilar, técnica do CNS. A cooperação
entre CNS e o CMA está permitindo a reabilitação
de dois peixes-bois resgatados há duas semanas por
técnicos do conselho. Os animais eram mantidos em
locais inadequados em Nossa Senhora de Nazaré, próximo
ao município de Ouriximiná, no Pará.
Um outro filhote, com18 quilos, foi encontrado amarrado
no lago Sapucuá. Na mesma semana, uma fêmea
com aproximadamente quatro anos também foi resgatada
de cativeiro inadequado numa represa no mesmo lago. Os dois
animais estão sendo recuperados na unidade do CNS
em Alter do Chão, em Santarém.
Homem é o principal predador
Perseguido e caçado há séculos, o peixe-boi
da Amazônia é um forte candidato a desaparecer
para sempre da floresta. E não é por falta
de proibição. Desde 1967, a Lei de Proteção
à Fauna proíbe a caça do mamífero.
A infração também está na Lei
de Crimes Ambientais. Mesmo assim, o maior mamífero
aquático da Amazônia morre às centenas
todos os anos. O método de abate é dos mais
cruéis: pauladas, asfixia e perfurações
feitas com arpões. As técnicas são
herdadas de pai para filho em uma sucessão que acabará
levando ao fim mais uma espécie brasileira. O trabalho
de conservação do peixe-boi na Amazônia
é a alternativa para se evitar essa tragédia.
Fonte: Ibama (www.ibama.gov.br)
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