Panorama
 
 
 

ÍNDIOS EM CONFLITO COM MADEIREIROS NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2002

Durante expedição rotineira de fiscalização das fronteiras do parque realizada pelas comunidades Kaiabi, madeireiros que trabalhavam ilegalmente foram detidos pelos agentes de fiscalização indígena. Preocupada com o agravamento da tensão entre invasores e índios, a Associação Terra Indígena do Xingu (Atix) divulga um relato de alerta, que reproduzimos a seguir.

Informe da Associação Terra Indígena Xingu (Atix)

A Atix vem a público informar sobre os recentes acontecimentos no Parque Indígena do Xingu relacionados ao conflito dos índios com a atividade de exploração madeireira no entorno do limite oeste do Parque.
Neste último fim de semana, durante uma expedição rotineira de verificação das fronteiras do Parque, realizada pelas comunidades Kaiabi, o chefe de posto de fiscalização do rio Arraias, Tsiravé Kaibi, que também é fiscal colaborador do Ibama, identificou a ação agressiva de madeireiros que atuam na região situada entre os rios Steine e Arraias, ao longo do paralelo 54, no limite do Parque com a propriedade denominada Fazenda Uirapuru, de propriedade do Sr. João Vicentini.
Os integrantes da expedição retiveram os trabalhadores da madeireira e seus equipamentos, até que o problema seja verificado in loco pela Funai e pelo Ibama, que já foram notificados formalmente e que estão se deslocando para o local. O Coordenador de fiscalização do Parque, Sr. Mairawê Kaiabi, já se dirigiu para a área e informou que estão todos bem e aguardam a chegada das autoridades, prevista para hoje (22/08).

Histórico

Desde 1998 os índios do Xingu alertam o poder público sobre situações que comprometem a sustentabilidade socioambiental do Parque e que estão gerando forte potencial de conflito, decorrentes do processo de ocupação desordenado e agressivo da área do entorno e que não se limitam somente à questão madeireira. As lideranças indígenas e a própria Atix vêm buscando o apoio da Funai, do Ibama e da Fema na adoção de medidas mitigadoras dos impactos sobre o Parque, conforme prevê o protocolo de cooperação assinado pelos órgãos governamentais ainda em 1998. O acordo ocorreu após um grave conflito com pescadores oriundos do município de União do Sul, mas apenas algumas das medidas previstas foram efetivamente implementadas.
O avanço do processo de ocupação sobre o Parque cresceu e inúmeros novos problemas e conflitos ocorreram nesses últimos anos, relacionados sobretudo à caça e à pesca predatória, ao estabelecimento de pousadas no entorno, à exploração madeireira no limite oeste, ao desmatamento, a queimadas e aos assentamentos do Incra próximos aos limites do Parque.
Em setembro de 2001, a ocorrência de um novo e grave conflito com a madeireira Snoop, no município de Feliz Natal, fez com que novamente se realizasse uma discussão mais ampla sobre a natureza dos problemas e se retomasse a idéia de atualizar um protocolo que propusesse um conjunto de ações e articulasse diferentes instituições em torno de uma estratégia comum para solucioná-los. Sua elaboração contou com a participação das lideranças indígenas - que foram a Brasília - do Ibama, da Atix, do ISA e da Funai. No entanto, o mesmo sequer chegou a ser assinado, por total desinteresse dos órgãos. Quase um ano depois, fatos graves se repetem, e conflitos menores se multiplicam, tensionando a relação dos índios com a sociedade do entorno. Inúmeras ameaças já foram feitas aos agentes indígenas de fiscalização, aumentando a possibilidade da ocorrência de um conflito com vítimas.

Alerta

A Atix está preocupada com o rumo dos acontecimentos e com a incapacidade dos órgão públicos de agirem de forma articulada. Estamos convencidos de que em função da natureza, da extensão e da complexidade dos problemas que estão ocorrendo no entorno e nos limites do Parque, os mesmos não serão solucionados de forma pontual ou unilateral pelos órgãos afins. Somente um conjunto articulado de ações de governo pode equacionar a curto e médio prazo as situações que estão gerando conflito, assegurar a convivência pacífica de sociedades que têm interesses diferentes e garantir a sustentabilidade futura do Parque. Neste sentido, estamos sugerindo às autoridades do governo federal e do estado do Mato Grosso retomar as negociações e sugestões propostas no protocolo de cooperação que foi abandonado no ano passado e que segue em anexo.

Associação Terra Indígena Xingu
Canarana, 21 de agosto de 2002.

Anexo
PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO

Pelo presente Instrumento de cooperação, a Fundação Nacional do Índio - FUNAI, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, a Fundação Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso - FEMA, a Associação Terra Indígena Xingu - ATIX , associação civil sem fins lucrativos, inscrito no CNPJ/MF sob n° 00.081.906.0001-88, com sede na Av. Mato, 688, em Canarana, MT e o Instituto Socioambiental - ISA; associação civil sem fins lucrativos, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) inscrito no CNPJ/MF sob n° 00.81.906-0001-88, com sede na Av. Higienópolis, 901, em São Paulo, SP;
CONSIDERANDO que a bacia do rio Xingu é a segunda maior sub-bacia do rio Amazonas, que abriga uma diversidade de ecossistemas típicos do bioma Amazônico e do Cerrado e rios de grande importância ambiental regional e nacional, dentre os quais o Xingu, o principal rio da região, reconhecido pelos seus recursos pesqueiros e por sua importância crucial à sobrevivência das populações indígenas que vivem ao longo de seu curso;
CONSIDERANDO que as cabeceiras e nascentes dos principais afluentes do rio Xingu estão situadas no norte do estado do Mato Grosso, na denominada região dos formadores do rio Xingu, caracterizada como uma das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade em âmbito nacional por diversos documentos oficiais, por abrigar vasta área de transição entre a Floresta Amazônica e o Cerrado do planalto brasileiro;
CONSIDERANDO que as nascentes dos rios formadores do Xingu estão, em sua maioria, localizadas fora dos limites de terras indígenas ou unidades de conservação, o que as torna vulneráveis ao uso inadequado dos recursos naturais nas propriedades;
CONSIDERANDO a extrema vulnerabilidade em que se encontra a região dos formadores do rio Xingu que, em função do seu histórico de ocupação, já apresenta sinais de degradação de suas nascentes, poluição dos solos e dos recursos hídricos, queimadas descontroladas, taxas crescentes de desmatamento, exploração ilegal madeireira, pesca predatória, quadro esse que tende a piorar se não houver a implementação de políticas específicas para proteção das unidades de conservação, das terras indígenas e de seu entorno;
CONSIDERANDO que o Parque Indígena do Xingu está inserido nessa região e se constitui com seus 2.8 milhões de hectares na maior terra indígena do estado do Mato Grosso, desempenhando papel fundamental na conservação dos recursos florestais do estado e da Amazônia Legal, e que as 14 etnias que lá residem vêm lutando pela sua preservação e sustentabilidade ambiental;
CONSIDERANDO que o processo de ocupação da região do entorno do Parque Indígena do Xingu vem trazendo prejuízos ecológicos e ameaçando a sustentabilidade atual e futura das etnias que lá residem e dos recursos naturais imprescindíveis para sua reprodução física e cultural;
CONSIDERANDO a ocorrência de inúmeros conflitos nos últimos anos envolvendo as populações indígenas do Parque do Xingu e atores regionais vinculados a situações que estão relacionadas ao modelo desordenado de ocupação e ao quadro de degradação ambiental da região acima descrito;
CONSIDERANDO que o Decreto n º 1.141, de 19 de maio de 1994 estabelece o dever da União de coordenar e implementar ações integradas visando a proteção ambiental das terras indígenas e de seu entorno, aplicando diversos instrumentos de prevenção e controle das atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente sobre as Terras Indígenas;
CONSIDERANDO que o Conselho Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso, através da Resolução Consema n º 017/91, de 05 de agosto de 1991, estabeleceu a obrigatoriedade do órgão ambiental estadual colaborar com a União na fiscalização ambiental e preservação das terras indígenas, além de exigir elaboração de Estudo Prévio e Relatório de Impacto Ambiental para os projetos públicos e privados que incidam sobre terras indígenas e num raio de 10 km (dez quilômetros) de seu entorno;
RESOLVEM compor um Grupo de Trabalho para implementar um conjunto de ações que visam ampliar a proteção do Parque Indígena do Xingu e de seu entorno, face ao processo de ocupação regional, estabelecendo para tanto as seguintes linhas de ação:
Ações de curto prazo: (outubro de 2001 a abril de 2002)
.Levantar e avaliar os planos de manejo autorizados pelo IBAMA na área do entorno correspondente a uma faixa de 20 Km do PIX.(IBAMA)
.Avaliar a possibilidade de proibição da exploração madeireira numa faixa de 5Km no entorno dos limites do Parque.
.Levantar e avaliar as licenças de desmatamento autorizadas pelo IBAMA e FEMA na região do entorno do PIX.(IBAMA,FEMA)
.Avaliar a situação das pousadas situadas na região do entorno do PIX no tocante ao impacto das mesmas sobre a manutenção do estoque pesqueiro nos rios da região, respeito ao território e as sociedades indígenas, obediência a legislação de pesca, cuidados com o processamento do lixo. (FEMA,IBAMA e ATIX).
.Avaliar a possibilidade de proibição da pesca no trecho do rio Arraias que faz limite com o Parque. ( FEMA,IBAMA)
Efetuar a notificação das propriedades e empreendimentos limítrofes ao PIX, inicialmente na faixa de 10 Km do seu entorno, visando avaliação ambiental das mesmas para licenciamento e providências administrativas (ajustamento de conduta, suspensão, embargo e apreensão) quando couber. (IFEMA,MMA/IBAMA)
.Apoiar o funcionamento dos postos de fiscalização do PIX, através da renovação do convênio da FUNAI com ATIX. (FUNAI)
.Realizar, ainda em 2001, uma segunda expedição para verificação da situação ambiental das propriedades e empreendimentos e legalidade da ação de empresas madeireira que atuam na região situada entre a BR 80 e Rio Arraias, no lado oeste do PIX. ( ATIX, IBAMA e FUNAI).
.Definir programa de capacitação para 2002 dos chefes dos PIVs e seus assistentes. (ISA,IBAMA e FUNAI)
.Definir programação e orçamento para 2002 de expedições de reaviventação de trechos das picadas demarcatórias do PIX. (ATIX, ISA e FUNAI)
Ações de médio prazo: (abril de 2002 a abril de 2003)
.Realizar neste período dois cursos de capacitação, destinado aos chefes de postos do PIX e seus auxiliares. (ISA, IBAMA e FUNAI)
.Realizar neste período, juntamente com a ATIX e lideranças, dois sobrevôos por semestre na região do entorno imediato do PIX. (FUNAI)
.Realizar anualmente expedições de reaviventação de três ou quatro trechos de picada demarcatória de 15Km cada. (ATIX,ISA e FUNAI)
.Realizar duas expedições anuais para verificar situação ambiental de propriedades, empreendimentos e a legalidade da ação de madeireiras na região do entorno do PIX (IBAMA, ATIX, FUNAI e FEMA).
.Estudar a possibilidade de vincular a concessão de plano de manejo florestal na região do Xingu à certificação dos mesmos nos padrões FSC.
.Efetuar o cadastramento e licenciamento das propriedades e empreendimentos situados na região da bacia do rio Xingu no Mato Grosso, de forma verificar a situação de conservação das cabeceiras dos córregos e rios, das reservas legais e áreas de preservação permanente das propriedades.
.Promover uma maior conectividade entre as reservas legais e áreas de preservação permanente das propriedades da região, e destas com as terras indígenas e unidades de conservação, de forma ampliar as áreas contíguas de floresta dentro da bacia do rio Xngu.. ( FEMA,MMA/IBAMA)
.Iniciar articulação política regional visando a criação do comitê de gestão da bacia do rio Xingu no Mato Grosso. (FEMA, ANA e ISA).
.Avaliar a situação dos assentamentos do INCRA na região do entorno do PIX e seus impactos sobre o Parque. (INCRA,IBAMA, FUNAI, ATIX e ISA)
.Promover articulação e discussão com os Municípios da região sobre os quais há incidência do PIX, sobre um plano de aplicação do ICMS ecológico (a vigorar a partir de 2002) que contemple ações mitigadoras do impacto regional e de proteção do Parque.
.Definir e introduzir novos parâmetros para restrição da pesca nos afluentes do rio Xingu fora do PIX, considerando a conflituosa concorrência do uso desse recurso entre as sociedades indígenas, que o utilizam para sua subsistência ( principal fonte de proteína de todas as etnias que residem no PIX), e a crescente atividade de pesca esportiva da região. (FEMA e IBAMA)
.Desenvolver estudos de viabilidade para criação de área de proteção ambiental ao longo do entorno imediato do PIX e outras unidades de conservação na região da bacia do rio Xingu no Mato Grosso. (FEMA, ISA e IBAMA)
.Reforçar a presença do IBAMA e da FEMA na região do Xingu através da criação de unidades regionais. (IBAMA, FEMA)
.Desenvolver um plano de médio e longo prazo de gestão ambiental do Parque Indígena do Xingu. (ATIX,ISA e FUNAI)
.Renovação do apoio para manutenção e funcionamento dos Postos Indígenas de Vigilância do PIX, através de convênio com ATIX. (FUNAI)
.Retificar o traçado sinuosos do limite sudoeste do PIX por uma sequencia de linha/s reta/s, de forma tornar possível uma fiscalização permanente por parte dos índios sobre o mesmo. (FUNAI)
.Elaborar em 2002 um plano de proteção integral do Parque indígena do Xingu para os próximos 05 anos. ( FUNAI, ATIX, IBAMA e ISA)
.Estudar as possibilidades de regularização administrativa dos PIVs que não estão reconhecidos pela FUNAI. (FUNAI)
Levantamento de áreas de ocorrência de tracajá no PIX. (IBAMA)
Elaborar proposta de manejo do tracajá em áreas piloto. (IBAMA)
.Identificação de duas comunidades indígenas com interesse em abrigar um projeto piloto de manejo de tracajá. (ATIX e AER-Xingu)
.Realizar estudo preliminar sobre manejo de lagos dentro do PIX. (IBAMA)
.Viabilizar uma rotina de soltura de animais silvestres apreendidos na região, dentro do Parque Indígena do Xingu, desde que os mesmos sejam condizentes com a fauna local. (IBAMA e FEMA)
.Desenvolver um programa de educação ambiental voltado as comunidades indígenas do Xingu que contemple a questão do lixo inorgânico nas aldeias e o uso e controle do fogo pelas comunidades do Xingu. (ATIX,FUNAI, FEMA e IBAMA)
Ações de longo prazo: ( outubro de 2001 a abril de 2004)
.Criação do comitê de gestão da bacia do rio Xingu. ( ANA, FEMA e IBAMA)
.Criação de área de proteção ambiental ao longo do entorno imediato do PIX e outras unidades de conservação de uso indireto. (MMA/IBAMA e FEMA)
.Ordenar o processo de ocupação da região do entorno a partir do zoneamento ecológico-econômico do Estado, do plano de gestão de bacia e do licenciamento ambiental, visando ampliar a proteção das terras indígenas, da biodiversidade da região e a proteção dos seus recursos hídricos. (FEMA, IBAMA e INCRA)
.Acompanhar o processo de ocupação, com base no plano de ordenamento territorial, através de permanente monitoramento. (FEMA, IBAMA e ISA).
.Implementar um Plano de Gestão Ambiental do Parque Indígena do Xingu. (ATIX,ISA, FUNAI e IBAMA)

 
 
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa
 
 
 
 
 
 

 

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