O secretário estadual
do Meio Ambiente, Professor José Goldemberg,
anunciou na abertura do Seminário "100
Anos da Festa das Árvores no Brasil: Balanço
e Perspectivas da Atividade Florestal - Ecos da
Rio+10", hoje (18/9), na Floresta Estadual
Edmundo Navarro de Andrade, em Rio Claro, a criação
e ampliação de novas unidades de conservação
em São Paulo, por meio de decretos assinados
ontem pelo governador Geraldo Alckmin.
Uma área de 7.720 hectares, no Pontal do
Paranapanema, constituiu o Parque Estadual do Rio
do Peixe, como compensação ambiental
pela construção da Usina Hidrelétrica
Engenheiro Sergio Motta, pela CESP. As estações
experimentais de Assis, com 2.816 hectares, e de
Pederneiras, com 1.941 hectares, foram transformadas
em Florestas Estaduais, adequando-se à lei
que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, o que lhes permitirá
obter reconhecimento nacional e internacional e
facilitar a obtenção de recursos para
projetos de pesquisa, além de possibilitar
a criação de seus respectivos conselhos
consultivos, viabilizando uma gestão sustentável
dos recursos naturais do Estado.
Outros dois decretos ampliam as Estações
Ecológicas de Jataí, que ganha 4.000
hectares perfazendo um total de mais de 9.000 hectares,
e de Assis, que incorpora mais 500 hectares e passa
a ter 1.1000 hectares. Esta última medida
aumenta a proteção de áreas
de mananciais da cidade de Assis, protegendo as
nascentes existentes no local.
Esta unidade de conservação
constitui-se em um dos últimos fragmentos
representativos de vegetação de Cerrado
no Sul do país, abrigando espécies
importantes da fauna como o veado catingueiro e
a jaguatirica, além espécies botânicas
como o capitão-do-campo e o ipê.
Centenário da Festa das
Árvores
Para o secretário do Meio
Ambiente, o primeiro centenário da Festa
das Árvores no Brasil constitui o resgate
de uma história que começou em 1865,
nos Estados Unidos, quando surgiram os primeiros
alertas sobre as conseqüências do abate
de 50 milhões de búfalos e da derrubada
de 200 milhões de hectares de vegetação
nas grandes planícies americanas, para expansão
da fronteira agrícola.
Em 1882, Sterling Norton, vendo a entrega de florestas
inteiras a grupos madeireiros, propôs e realizou
o primeiro "Arbor Day" ou Dia da Árvore
na América do Norte, já prevendo a
erosão que tomaria conta dessas áreas
desmatadas e a grande seca que acabaria ocorrendo
naquele país nos anos 30 do século
passado.
Vinte anos depois, em 1902, quando o Instituto Florestal
paulista estava prestes a comemorar sua maioridade,
o pesquisador sueco Albert Loefgren convenceu o
presidente do Estado em exercício, Domingos
de Moraes, a participar de um evento em Araras e
plantar a primeira muda na Festa da Árvore.
O ato seria considerado como o início da
restituição da mata que as fornalhas
das locomotivas da São Paulo Railway e a
expansão cafeeira estavam consumindo.
Segundo Goldemberg, São Paulo, com 770 mil
hectares de áreas reflorestadas, foi o estado
pioneiro em reflorestamento, prática introduzida
pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, para
substituir a madeira nativa utilizada para aquecer
as caldeiras de vapor dos trens. "Por este
motivo, o Governo do Estado considera a retomada
do plantio extensivo de florestas um imperativo
econômico e ambiental para São Paulo",
disse.
"Podemos dizer que a muda simbólica
de 1902 floresceu e resultou nas 184 unidades de
conservação federais existentes em
1998, abrangendo 39 milhões de hectares ou
4,6% do território nacional; resultou nas
451 unidades de conservação estaduais
que somam outros 30,5 milhões de hectares
e que, adicionando-se a esta conta a área
de mais de 350 reservas particulares de proteção,
temos hoje mais de 8% do país sob proteção
integral."
Setor fatura US$ 21 bilhões
O setor florestal representa hoje
importante segmento da economia nacional, faturando
US$ 21 bilhões por ano, arrecadando cerca
de US$ 2 bilhões em impostos anualmente e
gerando dois milhões de empregos. Mas, apesar
desses resultados, o país não explora
todo o potencial do setor que movimenta, em escala
mundial, US$ 300 bilhões por ano, segundo
a Societé de Coopération pour le Dévélopment
International (SOCODEVI).
Para efeito de comparação, basta lembrar
que o café, que sempre teve muita importância
para a economia brasileira, movimenta em todo o
mundo cerca de US$ 20 bilhões anuais, menos
de 10% do que representa a indústria florestal.
Para o diretor do Programa Nacional de Florestas,
Raimundo Deusdará, que falou na abertura
do encontro, o Brasil corre o risco de sofrer um
"apagão florestal", pois o país
planta, anualmente, cerca de 250 mil hectares de
florestas, quando seriam necessários 630
mil hectares para reverter o déficit acumulado
da produção de madeira. Sem matéria-prima,
setores altamente competitivos como o siderúrgico
e o de papel e celulose estão deixando de
exportar. A maior dificuldade do setor florestal
é a escassez de financiamentos compatíveis
com suas necessidades.
Apesar desse quadro, o presidente da Sociedade Brasileira
de Silvicultura - SBS, Nelson Barboza Leite, que
participou do painel "Estratégia mundial
e local de recursos florestais", declarou em
Rio Claro que o balanço de um século
da produção florestal brasileira ainda
pode ser considerado positivo. "Saímos
do extrativismo para o modelo auto-sustentável",
avalia.
Segundo Barboza Leite, o maior desafio nos próximos
dez anos é tornar as florestas nativas totalmente
auto-sustentáveis, com exploração
controlada, para termos "uma silvicultura que
permita produzir madeira, preservar e enriquecer
o meio ambiente, os valores culturais e econômicos
das regiões".
Há vinte ou trinta anos
atrás, houve um boom que provocou um desmatamento
irracional, ocasionando graves problemas ambientais.
Mas estas áreas então devastadas -
devidamente somadas - caberiam hoje em cerca de
15 a 20% do total de 4,8 milhões de hectares
de florestas cultivadas existentes atualmente no
Brasil. Dos 300 milhões de metros cúbicos
de madeira consumidos por ano no país, cerca
de 40% provêm de matas nativas, "o que
seria uma proporção razoável,
se não houvesse exploração
clandestina", segundo o presidente da SBS.
Barboza Leite acredita que a exploração
sustentável deve se consolidar nos próximos
anos, já que a legislação tornou-se
mais rigorosa. Além disso, o governo tem
criado áreas específicas para o manejo
florestal e as exportações do setor
estão melhor controladas.
Dos US$ 21 bilhões anuais corrrespondentes
ao faturamento total desse setor florestal no Brasil,
US$ 16,1 bilhões provêm da silvicultura,
o que representa aproximadamente 3% do Produto Interno
Bruto - PIB de 2001. Desse total, o segmento de
papel e celulose contribui com 57,1%; a indústria
moveleira, 15,5%; siderurgia, 14,3%; e o setor de
madeira sólida, 13,1%.
Recursos para o setor
Apesar da falta de mais recursos
para o setor, os especialistas já vislumbram
uma luz no fim do túnel. O governo federal
promete destinar R$ 150 milhões em doze meses
para pequenos produtores efetuarem o plantio de
florestas, por meio do Pronaf Florestas, do Ministério
da Agricultura, e do Propflor, do Ministério
do Meio Ambiente, lançados em agosto último.
No Estado de São Paulo, o Governo estadual,
por intermédio da Secretaria do Meio Ambiente,
tem incentivado o plantio de florestas para atender
à demanda. Recentemente, o Instituto Florestal
publicou edital para o plantio de aproximadamente
180 mil mudas de árvores de madeira de lei,
que serão cultivadas em 212 hectares distribuídos
em cinco estações experimentais localizadas
em Assis, Pederneiras, Itapetininga, Luís
Antônio e Mogi-Guaçu e no Horto Florestal
de Palmital. O plantio faz parte do Programa Estadual
de Incentivo à Produção de
Madeira de lei, para fomentar a formação
de bosques-padrão de madeiras nobres.
Até o final do ano, este
programa deverá plantar 1,2 milhão
de mudas de pau-marfim, cabreúva, peroba,
pinheiro-do-paraná, aroeira, ipê roxo
e canela, sobretudo em áreas do Estado, com
a intenção de criar, a médio
prazo, mecanismos de comercialização
antecipada de madeiras nobres.
Desta maneira, empresas dos setores de papel e celulose,
móveis e aglomerados, ou mesmo proprietários
rurais que precisarem recompor os 20% de reserva
florestal em suas propriedades, como exige a lei,
terão incentivos para investir na produção
de madeiras de lei. Os mecanismos em estudo prevêem
a criação de certificado para ser
comercializado, na forma de "commoditties",
na Bolsa de Mercadorias e de Futuro - BMF. Estuda-se
ainda a adoção de um certificado de
seqüestro de carbono que, futuramente, poderá
ser objeto de comercialização.