Panorama
 
 
 

GOVERNO DO AMAZONAS PROMOVE
ENCONTRO DE PAJÉS E COIAB PROTESTA

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Setembro de 2002

A I Conferência de Pajés do Amazonas, organizada pela Fundação Estadual de Política Indigenista (Fepi), teve sua metodologia e condução questionada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Além disso, abordou temas complicados e de difícil compreensão para o público presente.

Denominado "Biodiversidade e Direitos de Propriedade Intelectual: proteção e a garantia do saber indígena", o encontro realizado em Manaus, de 22 a 25 de agosto, tinha como objetivo discutir formas de proteção do conhecimento tradicional indígena, mas acabou surpreendendo alguns dos presentes.

No primeiro dia do evento, promovido pela Fundação Estadual de Política Indigenista, criada pelo governo do Amazonas em agosto do ano passado, foi apresentada aos participantes a "Carta de Manaus". Tratava-se da proposta pronta e acabada de um documento final do encontro, que, entre outros itens, apoiava a implementação de uma legislação estadual de etnobioprospecção em terras indígenas e a criação de um banco de dados sobre conhecimentos tradicionais nas instituições científicas do Amazonas, sem qualquer restrição de sigilo ou confidencialidade.
A proposta inicial da "Carta de Manaus" tampouco se referia à necessidade de consentimento prévio e informado por parte das comunidades indígenas, e em nome das lideranças, ressaltava a necessidade de proteger a "bioindústria nacional" contra as investidas das empresas estrangeiras.

Embora a Fepi alegasse que a proposta estava sujeita a emendas, o fato provocou reação por parte da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - Coiab -, que de imediato divulgou uma carta de repúdio ao evento, condenando a prática de imposição do documento pronto e a metodologia do evento.

A Conferência contou com a participação de pajés das etnias Tukano, Tikuna, Baniwa, Hixcariano, Yanomami, de lideranças indígenas amazônicas e não-amazônicas e das seguintes instituições: Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas), Ufam (Universidade Federal do Amazonas), Fepi, Associação Brasileira de Inteligência (Abin), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação Nacional do Índio (Funai), Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), o governo do Amazonas, a Organização Indígena do Baixo Içana (Oibi), o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), além da presença da advogada indígena Fernanda Kaingang.

Traduzir o intraduzível

Como a maioria dos índios presentes não falava ou entendia o português, havia tradução nas cinco línguas das etnias ali representadas. Os palestrantes não-indígenas falavam sobre questões legais, científicas e éticas relativas à proteção dos conhecimentos tradicionais e os tradutores traduziam da forma como podiam. Muita embora houvesse sessões de discussão exclusivas entre os índios, houve pouca interação, pouco espaço para perguntas e pouco entendimento por parte dos indígenas presentes.

Variabilidade genética, bancos de germoplasmas, etnobioprospecção, bioindústria nacional, cadeia produtiva foram algumas das expressões que dificultaram o entendimento da maioria dos participantes ainda que houvesse tentativas de tradução.

Nessa toada, a conferência se estendeu tratando de temas complexos e pesados. As lideranças mantiveram-se dispersas e desinteressadas, refletindo a dificuldade em entender o que estava acontecendo.

Por fim, depois de uma breve e limitada sessão de emendas à proposta da "Carta de Manaus", destinada somente aos indígenas, sem possibilidade de colaboração de não-índios, e conduzida de forma centralizadora pelo representante indígena da Fepi, Jorge Terena, a carta foi aprovada e assinada com poucas - porém importantes - alterações. As principais foram a inclusão da exigência de consentimento prévio e informado, que se deu depois de muita discussão, e a exclusão do item que apoiava a criação de um banco de dados sobre etnobiodiversidade. (Leia a íntegra da "Carta de Manaus" no final deste texto).

A imprensa do Amazonas cobriu intensamente todo o encontro e os jornais A Crítica e Diário da Amazônia publicaram declarações de Ademir Ramos, diretor presidente da Fepi, nas quais ele desqualificava a Coiab - instituição que articula 75 organizações indígenas e 165 povos indígenas da Amazônia Legal e que se colocou contra a forma como o evento foi organizado, recusando-se a participar.

O fato gerou uma carta-resposta da Coiab contra as declarações de Ramos. Para entender a polêmica que a Conferência de Pajés causou, reproduzimos abaixo a "Carta de Manaus" e a resposta da Coiab às declarações de Ademir Ramos.

Fernando Mathias Baptista

A Carta de Manaus

Nós, pajés e lideranças tradicionais indígenas das 12 (doze) etnias reunidas na I Conferência de Pajés do Amazonas, realizada no período de 22 a 25 de agosto de 2002, na Fundação Oswaldo Cruz do Amazonas (FIOCRUZ/AM) e no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), com o apoio do Governo do Estado do Amazonas, por meio da Fundação Estadual de Política Indigenista/FEPI-AM, com os objetivos de valorizar o conhecimento tradicional para o fortalecimento das culturas indígenas; discutir com especialistas critérios de participação das comunidades quanto à repartição justa e eqiiitativa dos beneficios derivados da exploração do conhecimento tradicional associado à biodiversidade e, articular ações com os Governos Federal, Estadual e Municipal visando o controle e a proteção do direito de propriedade intelectual dos povos indígenas.

Considerando que:
1- a Amazônia Brasileira possui um complexo sistema biológico e cultural, sua área total é estimada em 5.033.072 km2, destacando-se o Amazonas, com uma superficie de 1.558.987 km2, cuja cobertura de florestas naturais encontra-se preservada em mais de 95% da área original;
2- a população indígena do Amazonas, atualmente estimada em 120.000 pessoas, dotada de um valioso capital simbólico, possui uma sociodiversidade caracterizada pela variedade de culturas, com 62 povos indígenas, falantes de 27 línguas e representados por mais de 72 organizações;
3- a Constituição Brasileira de 1988, no seu Artigo 231 garantiu:
"São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens."
4- existem no Brasil 584 Terras Indígenas, das quais 30% localizam-se no Amazonas, constituindo, comprovadamente, as áreas mais densamente florestadas;
Afirmamos que:
1- Os povos indígenas, numa relação com a natureza e seu meio ambiente, acumularam durante séculos, conhecimentos sobre a biodiversidade amazônica, estabelecendo métodos de investigação no qual observam, comparam, diferenciam,
experimentam e domesticam espécies de plantas, desenvolvendo processos de classificação que lhes permite ordenar, conhecer e explicar a Biodiversidade existente na região, por meio de sua tradição, mitologia e outras formas de circulação de saber;
2- O conhecimento indígena tem contribuído, direta ou indiretamente, para garantir grande parte dos avanços na área da saúde, na produção de alimentos, cosméticos, dentre outros. Calcula-se que 75% das drogas usadas em tratamentos médicos têm origem nestas formas de saber que são atuais, fazendo parte da vida cotidiana dos povos indígenas, sendo continuamente repensadas e renovadas a partir de novas experiências;
3- O conhecimento tradicional indígena tem valor estratégico não só quanto aos demais conhecimentos que se encontram sob a proteção do Estado, mas também pelos projetos de ponta desenvolvidos pela bioindústria nacional e estrangeira;
4- A Biopirataria, caracterizada pela expropriação da etnobiodiversidade, proporciona o enriquecimento das empresas estrangeiras, inviabiliza a bioindústria nacional e, por se tratar da apropriação de um valor estratégico por um outro país, fere a soberania nacional;
5- A nova concepção de desenvolvimento da Amazônia, fundamentada na sustentabilidade, requer a formulação e a adoção de estratégias de preservação e desenvolvimento, valorizando a floresta enquanto natureza viva, sendo resultado de uma relação cultural e histórica vivenciada pelos povos indígenas;
6- O Brasil não possui políticas e leis de proteção do conhecimento tradicional dos Povos Indígenas. É necessário sensibilizar a sociedade, os Institutos de Pesquisas, as Universidades, o Estado e as próprias Organizações Indígenas, para a elaboração de políticas públicas que visem a proteção do conhecimento tradicional associado à Biodiversidade.
Portanto, exigimos que o Governo do Estado do Amazonas discuta e defina estratégias de proteção da etnobiodiversidade, contemplando:
1- A participação de representantes e organizações indígenas nas discussões relativas à propriedade intelectual, no Brasil e no mundo, tanto na elaboração de leis quanto na criação e implementaçao das políticas publicas ligadas aos conhecimentos tradicionais;
2- Uma política pública de proteção do conhecimento tradicional associado à Biodiversidade, consonante a uma política de desenvolvimento sustentável, respeitando as especificidades dos povos indígenas;
3- A criação de uma instância de discussão para elaboração de uma Legislação Estadual, com a participação de lideranças e organizações indígenas, que regulamente a Etnobioprospecção, estabelecendo diretrizes para o desenvolvimento sustentável e a proteção do conhecimento tradicional, compreendendo:
a) Critérios de participação das comunidades, quanto à repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da exploração de componente do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado;
b) Instituição de uma política para criação de Núcleos, em cooperação com as comunidades e organizações indígenas, mobilizando-as para a proteção do conhecimento tradicional;
c) A exigência de consentimento prévio e informado das comunidades indígenas sobre a realização e uso de pesquisas dos conhecimentos tradicionais, facultada a negação do acesso destes conhecimentos e dos recursos genéticos existentes
em seus territórios;
d) Mecanismos de controle, fiscalização das pesquisas e exploração da Etnobiodiversidade, visando a proteção dos direitos dos povos indígenas em defesa da soberania nacional;
4- Capacitar lideranças das comunidades indígenas para o acompanhamento permanente dos mecanismos e da legislação que tratam dos direitos de propriedade intelectual;
5- Articular, com as Universidades e Instituições de Pesquisas, a criação de Centros de Estudos do Saber Tradicional Indígena;
6- Estabelecer e consolidar parcerias entre Universidades, Institutos de Pesquisas, Agências Governamentais em âmbito Federal, Estadual e Municipal, no sentido de efetivar uma política de proteção da Etnobiodiversidade;
7- Criar na Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas uma Câmara específica para a proteção do conhecimento tradicional, com a participação de lideranças e organizações indígenas, de acordo com o item n° 1 das exigências;
8- Incluir, no âmbito dos cursos das Universidades Públicas e Institutos de Pesquisas, temas que visem conscientizar os futuros pesquisadores da importância do conhecimento tradicional como elemento indissociáve1 do estudo da biodiversidade amazõnica;
9- Implantar, como programa de especialização ou pós-graduação das Universidades Públicas e Institutos de Pesquisas, cursos de formação para pesquisadores,
que objetivem repassar conceitos e técnicas necessárias para as pesquisas da biodiversidade amazônica sem a sua dissociação dos conhecimentos tradicionais indígenas.
10- Celebrar Projetos de Cooperação entre os países signatários do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), visando a proteção do Conhecimento Tradicional Indígena associado à etnobiologia como valor estratégico.
Concluímos que nossas exigências contribuirão para o reconhecimento do valor Cultural, Social e Estratégico do conhecimento tradicional, bem como para a melhoria da qualidade de vida das populações indígenas do Estado do Amazonas, podendo a sua implantação ser um modelo para o Governo Federal e outros Estados, na proteção legal dos Direitos de Propriedade Intelectual dos Povos Indígenas.
Encerrando, apoiamos a criação do Instituto Indígena Brasileiro de Propriedade Intelectual(INBRAPI) e reafirmamos que somos favoráveis às diretrizes contidas na "Carta de Princípios da Sabedoria Indígena",

Brasília, Cidade da Paz, 17 de abril de 1998, na "Carta de São Luís do Maranhão", de 6 de dezembro de 2001.

A resposta da Coiab

A COIAB RESPONDE A DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO ESTADUAL DE POLÍTICA INDIGENISTA/FEPI DIVULGADAS EM MANAUS
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), instância máxima de articulação de 75 organizações indígenas e 165 povos indígenas da Amazônia Legal, vem publicamente rechaçar as acusações feitas pelo senhor Ademir Ramos, presidente da Fundação Estadual de Política Indigenista do Amazonas (FEPI), divulgadas nos jornais Diário da Amazônia (edição do dia 24) e A CRÍTICA (edição do dia 27), por meio das quais tenta desqualificar esta organização.
A postura do antropólogo Ademir Ramos causa estranheza para a COIAB, pois, nela, o referido senhor revela desconhecer o papel histórico desta organização e a sua legítima constituição. A COIAB possui uma trajetória de luta de mais de 13 anos, é reconhecida nacional e internacionalmente, enquanto organização de índios, criada por índios e para índios, com instâncias democráticas - Assembléia Geral, Conselho Deliberativo e departamentos -, nas quais são discutidos, amplamente, o seu plano de trabalho, áreas, políticas e estratégias de atuação. É por respeito aos povos indígenas e responsabilidade que esta organização recorre à opinião pública para dizer que o Senhor Ademir Ramos, ao tentar atribuir a esta organização um papel de subserviência a atores estrangeiros, pretende mesmo é desviar a atenção do foco dos questionamentos levantados pela COIAB quanto à forma de condução da 1ª. Conferência de Pajés, promovida pelo Governo Estadual, por meio da FEPI, no período de 22 a 25 deste mês.
Para entender a origem desta polêmica, reproduzimos os principais trechos da carta enviada pela COIAB ao presidente da FEPI:
"A COIAB sempre entendeu, e assim foi na prática, como de suma importância contar com o apoio dos mais diversos parceiros, identificados direta ou indiretamente com a perspectiva, os interesses e aspirações dos povos e organizações indígenas.
"Para a COIAB toda parceria implica em trabalho conjunto, o que não tem acontecido, como no caso da Primeira Conferência dos Pajés. A FEPI toma iniciativas e elabora documentos sem antes ouvir os índios. Este tipo de atitude é contrária aos nossos anseios, não atende as nossas expectativas, sabendo que o movimento indígena tem hoje condições para formular suas próprias reivindicações, na busca de maior autonomia para os nossos povos.
"A COIAB reitera que estará sempre somando forças com entidades governamentais e não governamentais, empenhadas em garantir os nossos direitos, tendo como base o diálogo franco, de igual para igual, a transparência e o respeito aos nossos processos internos de organização e articulação, direcionados a garantir a nossa autonomia e demais direitos reconhecidos pela Constituição Federal."
A posição firme da COIAB e do Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI) em retirar o apoio à Conferência dos Pajés, planejada a partir da ótica da direção da FEPI, levou o antropólogo Ademir Ramos ao jornal Diário do Amazonas, à página 03, declarar que a COIAB e o PDPI não estariam participando do evento por "questões econômicas", ou seja, "porque essas entidades são financiadas por uma agência alemã que tem interesses econômicos no conhecimento dos povos indígenas", a qual "não tem interesse que os pajés discutam a proteção de seu conhecimento milenar".
A carta, resultado de análises internas na COIAB, respondia, por um lado, ao fato de não termos sido considerados, enquanto atores sociais, como co-gestores de um processo que implica na discussão de questões altamente relevantes para os nossos povos e comunidades, e por outro lado, a decisão da FEPI em redigir, antes da Conferência de Pajés, o documento final do evento, chamado de "A Carta de Manaus". A COIAB jamais poderia admitir uma decisão como esta que configurava falta de respeito e consideração para com as lideranças indígenas convidadas à 1ª. Conferência de Pajés. O documento, na prática da nossa organização, deveria ser o resultado das discussões e da compreensão que os líderes indígenas alcançassem durante o debate de questões tão relevantes como os da Biodiversidade e Direitos de Propriedade Intelectual, e não um produto de laboratório que sutilmente seria imposto aos participantes.
Essas são as razões pelas que a COIAB esteve ausente na Conferência dos Pajés, e não outras, como tampouco foi por falta de interesse. Se isso for, nossa organização não teria participado ativamente no processo de elaboração da Política Nacional da Biodiversidade, instituída pelo Decreto Presidencial Nº 4.339, do dia 22 deste mês.
A COIAB lamenta profundamente o ocorrido, visto que são declarações feitas por um professor universitário, que se dizia, até antes deste acontecimento, parceiro da COIAB e um ardoroso defensor da causa indígena, mas que hoje tenta negar a própria finalidade da entidade que dirige, que seria "promover a política indigenista do Estado, em parceria com as Comunidades Indígenas e com Entidades Governamentais e Não Governamentais...".
Quando o Senhor Ademir Ramos declara (A CRÍTICA, edição de 27), que a "ONG alemã GTZ coordenou a intervenção na COIAB", patrocina mais inverdades e ofende a história de construção da COIAB. A citada agência é de cooperação técnica ao PDPI e as parcerias feitas são legalmente constituídas, transparentes, dentro de critérios que respeitam a legislação brasileira.
As declarações do senhor Ademir Ramos prestam serviço aos inimigos históricos dos povos indígenas, pseudo-nacionalistas, descontentes com o avanço organizacional e político do movimento indígena, e que há mais de uma década vêm tentando obstruir no Congresso Nacional a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas, a lei infra-constitucional que deve regulamentar o reconhecimento dos direitos originários destes povos. São atitudes desse nível que contribuem para alimentar a discriminação e o preconceito contra os índios no Brasil e, em particular, no Amazonas.
Sobre o fato de a COIAB e o PDPI receberem recursos internacionais, ambos o fazem nas mesmas condições que a FEPI, que em seu Perfil Institucional informa: "para cumprimento de sua finalidade" promove: "A captação de recursos financeiros junto ao Governo brasileiro e órgãos internacionais, em benefício das comunidades e em respeito ao meio ambiente." E mais, quem capta os recursos gerenciados pelo PDPI e a COIAB é o governo Brasileiro, que tem o apoio do governo do Estado do Amazonas, ao qual a FEPI pertence.
O PDPI é um componente do Sub-programa Projetos Demonstrativos (PDA), do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais (PPG-7), desenvolvido pela Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA), do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O projeto, que apoia atividades econômicas sustentáveis nas comunidades, é uma reivindicação antiga do movimento indígena articulado na e a partir da COIAB, e tem a particularidade de ter um gerente indígena, indicado pela organização, além de uma comissão executiva paritária na qual participam oito lideranças indígenas que têm a incumbência de defender os interesses dos povos indígenas, papel histórico da COIAB. Como esse projeto, a nossa organização tem hoje outras áreas de atuação que demonstram avanços no nosso processo organizacional tais como o Conselho dos Professores Indígenas da Amazônia (COPIAM) e a Associação de Produção e Cultura dos Povos Indígenas Yakinõ.
Dizer que o movimento indígena obedece a outros interesses, é descaracterizar mais de uma década de lutas e conquistas e querer que os índios continuem, sob práticas coercitivas ou sutis, submissos e calados, como na época da invasão européia ou nos tempos em que a antropologia, que o Sr. Ademir professa, surgiu ao serviço de interesses colonialistas. É, por outra parte, querer que os índios aceitem passivamente quaisquer propostas e ir a reboque de quem quer que seja, esquecendo que hoje as lideranças e organizações indígenas reúnem condições para discutir e formular suas reivindicações e propostas, e definir o rumo de suas lutas.
A COIAB esclarece que não entrará no jogo de determinadas pessoas e instituições que, às vezes, parecem mais interessadas em dividir o movimento indígena. Nada temos contra os parentes que participaram na 1ª Conferência de Pajés, nem contra os parentes que trabalham na FEPI. Todos eles sabem que a COIAB é um instrumento dos índios, criado pelos índios, para os índios, em cujos espaços podemos discutir, sem ressentimentos e ódios, os problemas, as necessidades e aspirações dos nossos povos, e inclusive as nossas divergências, sabendo que acima de todos e de cada um de nós está o projeto de vida dos nossos povos e comunidades.
A COIAB quer, com esta carta pública, encerrar a discussão que, no seu entendimento, não ajuda na construção de um movimento indígena fortalecido, a serviço dos povos indígenas, pelo contrário, tenta enfraquecê-lo. Reitera que estará sempre somando forças com entidades governamentais e não governamentais, empenhadas em garantir os nossos direitos, tendo como base o diálogo franco, de igual para igual, a transparência e o respeito aos nossos processos internos de organização e articulação, direcionados a garantir a nossa autonomia e demais direitos reconhecidos pela Constituição Federal

Manaus, 28 de agosto de 2002
João Neves/Galibi Marworno
Samuel Yriwana/Karajá
Crisanto Rudzö Tseremey'wa/Xavante
Coordenadores em exercício/Coiab

 
 
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa
 
 
 
 
 
 

 

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