Uma balsa com 117 toras de madeira
ilegal foi detida ontem à tarde pelo bloqueio
de comunitários no Rio Jaraucu, em Porto
de Moz, no estado do Pará. Cerca de 400 comunitários,
incluindo muitas mulheres e crianças, estão
fechando o rio com mais de 40 barcos desde a manhã
de quinta-feira (19/09) para protestar contra a
destruição da floresta e pedir a criação
de uma reserva extrativista a fim de promover o
uso sustentável dos recursos naturais da
região. O Greenpeace solicitou a presença
imediata do Ibama para investigar a origem da madeira.
No início da noite, os comunitários
foram conversar com o comandante do barco-empurrador,
André Campos, irmão do prefeito de
Porto de Moz, para que ele recuasse a balsa que
parou muito próximo ao bloqueio ou reforçasse
os cabos que a prendem à margem do rio para
garantir a segurança dos pequenos barcos
que participam do protesto (1). Depois de tensa
negociação, André Campos concordou
com o reforço dos cabos.
Durante a noite, um barco de madeireiro tentou furar
o bloqueio usando a família de duas pessoas
com malária como pretexto para passar a barreira
de comunitários. As duas pessoas doentes
e seus familiares foram transportados para o hospital
de Porto de Moz por uma voadeira dos comunitários
e do Greenpeace. O barco do madeireiro ficou retido
no bloqueio, mas insuflou a balsa e as embarcações
que estavam retidas pelo protesto.
No início da madrugada, a tripulação
da balsa soltou as amarras que a prendiam à
margem do rio e começou a avançar
rapidamente em direção a cinco dos
pequenos barcos, com mulheres, crianças e
idosos que dormiam. O inflável do Greenpeace
empurrou a balsa até a margem do rio para
que os barcos dos comunitários tivessem tempo
de desviar da balsa e impedir uma tragédia.
O comandante do barco-empurrador, André Campos,
reagiu com violência e três pessoas
ficaram feridas.
Preocupado com a possibilidade
de conflito devido aos ânimos exaltados, o
Greenpeace já havia alertado, há uma
semana, durante reunião em Brasília
(DF), o Ministro do Meio Ambiente, José Carlos
Carvalho, sobre a situação em Porto
de Moz e solicitado a presença da Polícia
Federal para garantir a segurança no local.
"O Greenpeace lamenta que um protesto pacífico
de comunidades pela defesa de suas florestas resulte
em violência e a ausência das autoridades
na região, que não impedem a devastação
das áreas dos comunitários e tampouco
agem para impedir o conflito. Enquanto a força
for usada por grupos em disputa, estaremos longe
das soluções justas e sustentáveis",
disse Paulo Adário, coordenador da campanha
da Amazônia do Greenpeace.
(1) O protesto dos comunitários
é apoiado pelo Greenpeace, Comissão
Pastoral da Terra (CPT) e outros movimentos de base.