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ESPECIALISTAS DISCUTEM SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS PESQUISAS PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O USO EFICAZ DE UCs

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Dezembro de 2002

O Brasil é reconhecido como o país que detém a maior biodiversidade do planeta, estimando-se que abriga entre 15 e 20% do número total de espécies. No entanto, é muito provável que todo esse patrimônio jamais venha a ser melhor conhecido pela ciência, se forem consideradas as dimensões do país, a extensão de sua plataforma marinha, a complexidade dos ecossistemas, a exploração dos recursos naturais, a contaminação do solo, das águas e da atmosfera.

A observação foi feita pela diretora do Instituto de Botânica, Lilian Zaidan, ao abordar o tema "A Pesquisa em Biodiversidade e suas Aplicações", na 5ª Reunião Anual de Pesquisa, realizada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente nos dias 4 e 5 de dezembro último. Em dois dias da realização do encontro, pesquisadores e representantes da área acadêmica discutiram os rumos da produção técnico-científica desenvolvida pelos Institutos de Botânica, Florestal e Geológico, pertencentes ao sistema ambiental do Estado, e de como essas pesquisas

estão sendo ou poderão ser úteis na solução dos problemas sócio-ambientais que afetam a sociedade.
Segundo a diretora do IBT, o estudo da biodiversidade requer uma abrangência horizontal, no sentido de se coletar, descrever, classificar e registrar o maior número possível de membros dos diferentes grupos. "No entanto, requer também um enfoque vertical, pois a pesquisa em biodiversidade é obrigatoriamente multidisciplinar", afirmou, ressaltando que o Instituto de Botânica é a única instituição do país que possui em seus quadros especialistas dos vários grupos de vegetais e de fungos e líquens.

Auxílio para as políticas públicas

Esse conhecimento acumulado e abrangente, aponta Lilian Zaidan, auxilia diretamente no estabelecimento de políticas públicas para a revegetação e recuperação de solos em áreas degradadas, na elaboração de diagnósticos relativos à vegetação nativa ou sobre a qualidades de corpos d'água, o licenciamento ambiental no que se refere à preservação de ecossistemas e de seu equilíbrio, e de espécies endêmicas ou de interesse.

De acordo com a pesquisadora, são inúmeras as aplicações dos estudos sobre a biodiversidade que auxiliam em ações diretas de preservação e conservação. Iniciativas como o Projeto BIOTA/FAPESP, que agrega pesquisadores e estudantes de vários níveis do Estado, representa um passo importante para assegurar que todo o conhecimento adquirido virá trazer benefícios para a sociedade. A revisão e a atualização da listagem das espécies da flora paulista ameaçada de extinção está sendo processada pela comunidade de cientistas, encabeçada por técnicos do Instituto de Botânica e irá constituir ferramenta de trabalho da maior importância para os processos de licenciamento ambiental", argumenta Lilian Zaidan.

Os projetos atualmente em andamento no Instituto de Botânica estão concentrados na região de Mata Atlântica, especialmente em Paranapiacaba, Ilha do Cardoso, Juréia, Parque Estadual das Fontes do Ipiranga; regiões de cerrado, como Mogi Guaçu e Itirapina, assim como matas ciliares de regiões do Estado e o Litoral.

Demandas diversas

Respondendo pela gerência de 871.281,09 hectares de florestas, um pouco mais de 3% da área total do Estado (26 parques, 22 estações ecológicas, 2 reservas, 20 estações experimentais, 13 florestas, 5 hortos e mais 2 viveiros), o Instituto Florestal (IF), pertencente à Secretaria do Meio Ambiente, desenvolve importantes pesquisas em conservação da biodiversidade e na gestão de unidades de conservação (UCs).

Na palestra que abordou sobre o tema, Valdir de Cicco, diretor geral do IF, colocou que a instituição desenvolve hoje 115 projetos de pesquisa, 49 integrados e 66, por universidades e outros órgãos, estudos relacionados a políticas de conservação e gestão de recursos florestais e hídricos, política fundiária e de educação ambiental.

As pesquisas nas unidades de conservação administradas pelo IF também atendem outras demandas, de instituições federais, estaduais e municipais; das universidades; pequenos e médios proprietários rurais; indústrias ligadas ao setor florestal; exploradores de goma-resina; compradores de sementes e mudas e freqüentadores e usuários das UCs.

Atendem, também, demandas da própria Secretaria do Meio Ambiente, dando respostas aos questionamentos de rotina como empreendimentos de significativos impactos ambientais, tais como rodovias, oleodutos, gasodutos, linhas de transmissão e hidroelétricas.

Interação entre pesquisa, programas e planejamento participativo

Com a recente regulamentação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o Instituto Florestal, segundo informou Valdir de Cicco, vem reavaliando categorias de manejo, como por exemplo o Horto Florestal de Rio Claro, transformado em Floresta Estadual Navarro de Andrade; e as Estações Experimentais de Assis e Pederneiras, em Florestas Estaduais.

Segundo o diretor do IF, a pesquisa subsidia a elaboração dos programas de manejo, que, por sua vez, norteiam todas as atividades das unidades de conservação. "O programa de manejo ´pesquisa científica` reordena e aprofunda as abordagens científicas dentro de cada programa de pesquisa da instituição", afirma Valdir de Cicco, que cita o plano de manejo do Parque Estadual Campina do Encantado, no Vale do Ribeira, como um exemplo da interação desejável entre pesquisa, elaboração dos programas de manejo e planejamento participativo.

Em síntese, 47.224,45 hectares de unidades de conservação no Estado possuem planos de manejo, 260.076,42 ha contam com planos de gestão ambiental com programas de manejo, 73.093,74 ha estão em fase de elaboração e revisão, 682.633,97 ha encontram-se em tratativas para sua elaboração e 25.382,35 ha não possuem previsão.

Importância da caracterização do meio físico

A pesquisa científica no Instituo Geológico gera conhecimentos para a gestão ambiental do território paulista, buscando o bem-estar social e o desenvolvimento sustentado, além de oferecer subsídios para a definição de políticas públicas da Secretaria do Meio Ambiente. A afirmação é de Cláudio José Ferreira, diretor do IG, ao falar sobre a "Caracterização do Meio Físico para a Gestão Ambiental".

Segundo ele a caracterização do solo, da dinâmica dos processos geomorfológicos e climáticos, a avaliação de impactos ambientais, os estudos geotécnicos e geoambientais relacionados aos recursos minerais e hídricos subterrâneos são alguns exemplos. Os programas de pesquisa do IG priorizam temas como desastres naturais, poluição ambiental, ordenamento territorial e gestão das unidades de conservação.

Entre os projetos destacados, estão o plano diretor de exploração minerária no Vale do Ribeira e Litoral Sul do Estado, e da bacia do Rio Mogi Guaçu"; a seleção de áreas para tratamento e disposição final de resíduos industriais e domésticos na Região Metropolitana de Campinas e o sistema de informação para o gerenciamento ambiental dos recursos hídricos do aqüifero Guarani.

Programas comuns

Estudos para a conservação da biodiversidade reúnem pesquisadores do Instituto de Botânica, Instituto Geológico, Instituto Florestal e a própria Coordenadoria de Informações da Pesquisa Ambiental (CINP) - à qual os três institutos são subordinados - , como é o caso de Renata Mendonça, Maria Cândida Henrique Mamede, Fernando Fittipaldi e Luiz Camargo Numa de Oliveira. O grupo procura instrumentos para a implementação das ações previstas na Convenção da Diversidade Biológica, que garantam a conservação e a utilização da biodiversidade brasileira.

No trabalho de caracterização da área temática que realizaram destacam o intenso processo de supressão da cobertura vegetal original do Estado, como resultado do modelo econômico adotado para o seu desenvolvimento. Dos 81% do território coberto por Mata Atlântica restam somente 7%, e da área original de 12% coberta pelo cerrado hoje existe apenas 1%. O Estado perdeu 89% de sua cobertura florestal em pouco mais de um século, com a difusão da cultura do café e, atualmente, o pouco que resta se encontra espalhado em pequenos fragmentos nas propriedades particulares ou protegidos pelas unidades de conservação.

Outro dado preocupante foi apresentado pela equipe que vem atuando em pesquisas sobre recursos hídricos. Na exposição que realizou, a pesquisadora Denise Campos Bicudo destacou que o Brasil detém o maior índice de água doce do planeta, com 12% do total. Esta distribuição, no entanto, não é homogênea e os mananciais têm seu grau de comprometimento proporcional à ocupação da região onde estão localizados. Na Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, a bacia do Tietê tem capacidade para fornecer apenas 171 m3/ano por habitante, o que já se traduz como escassez do recurso.

"O nível considerado aceitável deve ser superior a 1.000 m3/ano por habitante. Abaixo desse índice e até 500 m3 a situação já se configura como de estresse hídrico, limite do qual estamos muito além", explica a pesquisadora.

Falta de seriedade na criação de unidades de conservação

A criação de uma entidade própria para executar os planos de manejo das Unidades de Conservação foi defendida pela assessora da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e diretora executiva da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação, Maria Teresa Jorge Pádua, Ao discorrer sobre o tema "Unidades de Conservação: muito mais do que atos de criação e planos de manejo", a pesquisadora, que já respondeu pela presidência do IBAMA e ocupou outros cargos importantes no Brasil e no exterior ligados ao setor florestal e de conservação, afirmou que uma porcentagem considerável das unidades de conservação (parques, reservas, estações ecológicas, APAs e outras), criadas especialmente na última década, não respondem às necessidades ambientais cientificamente estabelecidas e que, sua criação, pode se converter em sério obstáculo para a implantação das áreas realmente necessárias. "Falta seriedade na criação de unidades de conservação", enfatizou a assessora da SMA.

A especialista observa que algumas unidades de conservação são inauguradas sem planejamento, sem consulta prévia, sem recursos para estudos e, menos ainda, para implantação ou manejo. O Estado de São Paulo, por exemplo, possui nada menos que 19 APAs ( Áreas de Proteção Ambiental) decretadas desde 1984, que somam 2.341.442,80 hectares, e que representa mais que o dobro de todas as outras categorias que o estado possui, que, no seu total somam 900.000 hectares. " O próprio pessoal, que trabalha no assunto, quer propor a extinção de sete delas, por considerar que não cumprem seus objetivos de manejo e se tornaram inúteis", disse.

Recursos para o manejo efetivo das UCs também é outra prioridade apontada pela pesquisadora. Os recursos de projetos do BID com o Brasil para as unidades de conservação, nos anos 11000, foram de U$ 69,4 milhões para 83 unidades de conservação. O aporte do Brasil, através do Governo Federal e dos estaduais foi de 41,6%, mas se considerar que a maioria dos recursos é de empréstimo, ou seja, dinheiro que vai ter que ser pago pelo governo, o país aportou 86% dos recursos. A maior parte dos recursos (64,9%) foram para unidades de conservação de uso indireto, embora as APAs tenham recebido U$ 10 milhões.

Visitação nos parques: muito limitada

Considerando outros investimentos, tanto no nível federal, como no estadual, como, por exemplo, o PPMA - Projeto de Preservação da Mata Atlântica, no Estado de São Paulo com recursos totais da ordem de R$ 72,6 milhões, bem como todos os recursos de compensações ambientais, o que leva a pesquisadora a concluir que o país foi privilegiado com recursos para as UCs.

Maria Teresa observa que as pesquisas científicas vêm crescendo nas UCs, não obstante toda a dificuldade de se conseguir as necessárias autorizações. No entanto, não passam de poucas dezenas. "Desafortunadamente, as universidades têm usado pouco as unidades de conservação".

O uso público para o lazer e a educação ambiental também não alcançam resultados expressivos. Segundo Maria Tereza, a visitação nos parques nacionais e estaduais é muito limitada, não atingindo mais de 5 milhões de visitantes nos melhores anos. Em São Paulo, com 23 parques e mais de 800.000 hectares, se recebe apenas 1.200.000 visitantes, mas somente 280.000 são pagantes. "É impressionante o baixo uso de nosso sistema de unidades de conservação, ainda mais quando comparamos com o Jardim Zoológico de São Paulo, por exemplo, que recebe cerca de 1,5 milhão de visitantes a cada ano". No entanto, considerou que houve, no passado, falta de decisão política e falta de autonomia administrativa e pessoal competente para bem manejar as unidades de conservação. Os recursos, gastos com infra-estrutura, acabaram ficando abandonados pela falta de uso e manutenção.

 
 
Fonte: SMA – Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo (www.ambiente.sp.gov.br)
Assessoria de imprensa (Renato Alonso e Eli Serenza)
 
 
 
 
 
 

 

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