LANÇADA PEDRA FUNDAMENTAL
DO NÚCLEO DE PLANTAS
MEDICINAIS E AROMÁTICAS DO IBAMA
Panorama Ambiental
São Paulo - Brasil
Dezembro de 2002
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Prioridades: ordenar o mercado
bilionário das espécies, incentivar a pesquisa
e o manejo sustentável para conter a extinção
das espécies, o tráfico, e a biopirataria.
As 300 espécies de plantas medicinais de diferentes
famílias botânicas identificadas até
o momento pelo Ibama não representam nem seis por
cento do potencial brasileiro - mercado que gira em torno
de meio trilhão de dólares/ano a nível
mundial, e no Brasil corresponde a cerca de US$ 260 milhões/ano.
Um quinto delas (60), estão na lista oficial de espécies
da flora ameaçadas de extinção. Segundo
a Organização Mundial da Saúde mais
de 85 por cento da população mundial tratam-se
com remédios fitoterápicos extraídos
de 250 mil espécies conhecidas, que custam em média
três vezes menos que os medicamentos alopáticos.
Este mercado bilionário, entretanto, corre sério
perigo. "A coleta indiscriminada das espécies
com a destruição de muitos habitats comprometem
o futuro das espécies, levando muitas ao completo
desaparecimento", alerta a bióloga Suelma Ribeiro,
da diretoria de Florestas do Ibama, gerente no Núcleo
de Plantas Medicinais e Aromáticas, cuja pedra fundamental
da sede própria foi lançada na última
terça (03/12), às 10h30, pelo presidente do
Ibama, Rômulo Mello, no Centro Nacional para Conservação,
Proteção, e Manejo Sustentável de Orquídeas,
Plantas Medicinais, Aromáticas e Ornamentais.
Entre as sessenta espécies da flora medicinal ameaçadas
de extinção, destacam-se: Pau-rosa (perfume
e cosmético), Aroeira (inflamações),
Arnica (cicatrizante), Ipê roxo (câncer), Piqui,
Faveiro, Pau-d'óleo, Jatobá, Catuaba (impotência
sexual), Sucupira (garganta), Unha-de-gato (hepatite C-virótica).
Suelma Ribeiro ressalta que só um trabalho permanente
de fiscalização e de conservação,
como o desenvolvido pelo Núcleo, conseguirá
salvar muitas espécies da extinção.
A Arnica, por exemplo, é muito vulnerável,
enquanto a Espinheira-santa é cada vez mais rara.
Ordenar o setor, incentivar o manejo sustentável
no cultivo e na exploração das plantas medicinais,
e implantar um inédito banco de dados para centralizar
todas as informações e pesquisas na área
são algumas prioridades do Núcleo para reduzir
a biopirataria, a coleta, o comércio, e o uso indiscriminados
das espécies. Para realizar este trabalho o Núcleo
conta com parcerias de universidades, institutos de pesquisas,
organizações não-governamentais, e
laboratórios credenciados, Embrapa, Incra, Funai
e pesquisadores autônomos.
Na ocasião, será lançado o livro "Estratégias
para Conservação e Manejo de Recursos Genéticos
de Plantas Medicinais e Aromáticas" - primeiro
diagnóstico nacional da flora com fins terapêuticos
- uma parceria Ibama/Embrapa, universidades, centros de
pesquisas, Ongs. O relatório relaciona 92 espécies
prioritárias para pesquisa, entre 221 selecionadas
(com nomes populares e científicos) como "importantes"
para a conservação e o manejo sustentável.
A seleção das espécies prioritárias
considerou o nível de exploração, o
risco de extinção, e a urgente necessidade
de conservação e manejo.
Os pesquisadores, inclusive os estrangeiros, serão
incentivados a desenvolver suas experiências no laboratório
próprio do Núcleo de Plantas Medicinas e Aromáticas
do Ibama, que também contribuirá para fortalecer
os trabalhos desenvolvidos pelas populações
tradicionais e as tribos indígenas.
São atribuições do Núcleo: mapear,
identificar, pesquisar, controlar a exploração
de plantas medicinais com planos de manejo sustentável,
monitorar o comércio interno e externo e os principais
pontos de saída clandestina das espécies.
Os planos de manejo sustentável serão implantados,
inicialmente, em duas categorias de unidades de conservação:
florestas nacionais e reservas extrativistas, com o apoio
das populações tradicionais e das tribos indígenas.
As pesquisas pretendem identificar as partes da planta utilizadas
como remédio, a biologia, a genética, a morfologia,
a classificação, a ocorrência, e o comércio,
em um trabalho progressivo que abrangerá todos os
biomas brasileiros.
As 300 espécies selvagens foram identificadas a partir
de levantamento bibliográfico e de campo nos biomas
Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado,
e Pantanal dos estados do Paraná, Amazonas, São
Paulo, Pará, e Distrito Federal.
Entre as 92 espécies prioritárias para pesquisa
do Núcleo, vinte e cinto estão nos biomas
Cerrado e Pantanal, riquíssimos em flora medicinal:
Landim, Copaíba, Sucupira-preta, Sangra d'água,
Faveiro, Jatobá-do-cerrado, Pacari, Barú,
Barbatimão, Negramina, Ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa)
e Ipê-roxo (Tabebuia avellanedae), Batata de tiú,
Infalível, Bolsa-de-pastor, Calunga, Pé-de-anta,
Arnica do cerrado, Mulungu, Arnica da serra, Chapéu-de-couro,
Catuaba, Jequitibá-vermelho, Algodãozinho-do-campo
e, Mamacadela. As doze primeiras têm farmacologia
comprovada ou estudos avançados, princípio
ativo identificado ou sendo pesquisado.
Vinte e três espécies estão no bioma
Mata Atlântica: Espinheira santa, Carqueja, Chapéu-de-couro,
Ginseng brasileiro, Ipê-roxo, Guaco, Ipeca, Pata-de-vaca,
Canela, Guaçatonga, Catuaba, Piper, Macela, Araucária,
Cavalinha, Cana-de-macaco, Embaúba, Maracujá,
Copaíba, Carapiá, Pau-andrade, Centella e,
Caapeba.
Doze espécies estão no bioma Amazônia:
Andiroba, Copaíba, Cumaru, Ipê, Ipecacuanha,
Jaborandi, Jatobá, Muirapuama, Pau-rosa, Quassia,
Sucuuba e, Unha-de-gato.
Sete espécies estão no bioma Caatinga: Aroeira-do-sertão,
Cumaru, Barbatimão, Juá, Angico, Mulungu e,
Alecrim-pimenta.
Sete espécies prioritárias são ruderais,
invasoras e cultivadas, utilizadas há milhares de
anos pelos índios brasileiros em rituais e na cura
de enfermidades, com amplo uso popular: Ginseng brasileiro,
Centella asiática, Carqueja, Cavalinha, Macela, Mentrasto
e, Hipérico.
Outras vinte e seis espécies são exóticas
com propriedades terapêuticas distribuídas
pelos vários biomas.
Incluído entre os países com maior biodiversidade
do mundo, o Brasil abriga cerca de 50 mil espécies
de plantas distribuídas pelos diversos biomas - mais
da metade só na Amazônia, potencial ameaçado
pela destruição florestal acelerada para diversas
finalidades, extrativismo predatório, queimadas,
bioprospecção de genes e de novas moléculas
- alvo predileto das indústrias farmacêutica,
de cosméticos, de higiene, e da agroindústria
devido aos grandes avanços da biotecnologia, alerta
o relatório, resultado da 1ª reunião
técnica sobre recursos genéticos de plantas
medicinais e aromáticas, realizada em Brasília
em setembro/01.
Deste total, 16 mil espécies estão na Mata
Atlântica, 7 mil no Cerrado, e as outras distribuídas
nos biomas Caatinga e Pantanal. Apesar do imenso potencial
brasileiro, apenas uma pequena parcela tem sido pesquisada
cientificamente para a produção de fármacos,
ressalta o relatório, ao advertir que "estes
recursos biológicos - foco de interesse mundial face
à riqueza genética, vêm sendo alvo de
biopirataria e de ações governamentais descoordenadas,
dificultando o uso sustentável do valioso manancial
biológico".
Em apenas um ano, de 1999 para 2000, as vendas de fitoterápicos
no Brasil aumentaram 15 por cento, contra 4 por cento dos
medicamentos sintéticos. Na Europa, o mercado destes
remédios é de US$ 6 bilhões anuais,
dos quais US$ 2 bilhões só na Alemanha. Nos
Estados Unidos, os fitoterápicos representam US$
5,1 bilhões anuais, com previsão de duplicação
nos próximos anos.
Entre as plantas medicinais brasileiras mais procuradas
pelo mercado mundial, o guaraná (Paullinia cupana),
utilizada como estimulante, é a mais exportada. As
outras, são: Urucum (bixa orelana L.), Cravo-da-Índia
(Syzigium aromaticum), Capim-Limão (Cymbopogon citratus),
Camomila (Chamomilla recutita), Alecrim (Rosmarinus officinalis
L.), Carqueja (Baccharis trimera), Alcachofra (Cynara scolimum
L.), Cavalinha (Equisetum giganteum L.), Espinheira Santa
(Maytenus ilicifolia), contra úlcera, Guaco (Mikania
glomerata), Ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa), contra
câncer, Faveiro e Carqueja (gastrite e prisão
de ventre), Absinto selvagem (expectorante), Babosa (cicatrizante
e xampu), Ipecacuanha (estômago) e, Barbatimão
(cicatrizante).
Oito espécies têm destaque no mercado farmacêutico
mundial: Castanha da índia, Alho, Equinácea,
Ginkgo, Hipérico, Óleo-de-prímula,
Ginseng-coreano e, Valeriana. E, cinco espécies,
estão em ascendência: Cimicífuga, Soja,
Tomate, Saw palmetto e, Vitex. Pelo levantamento do departamento
de Comércio Exterior, de 1998, foram exportadas oficialmente
2.842 toneladas de plantas medicinais, sendo 1.531 toneladas
para os EUA e, 1.466 toneladas para a Alemanha.
Paraná, São Paulo, Bahia, Maranhão,
Amazonas, Para, e Mato Grosso são os maiores exportadores
das espécies, principalmente para treze países:
EUA, Alemanha, Países Baixos, França, Japão,
Portugal, Itália, Coréia do Sul, Reino Unido,
Espanha, Suíça, Austrália, entre outros
com mercados menos expressivos.
A proposta do Núcleo é reunir em um banco
de dados todos os estudos e pesquisas desenvolvidos isoladamente
com plantas medicinais. Para isso, as parcerias são
fundamentais, reconhece Suelma. Desde 1998 o Ibama vem trabalhando
com o Traffic - programa da União Mundial pra a Conservação
da Natureza (UICN), ligado à CITES que monitora o
comércio internacional das espécies da fauna
e da flora em risco de extinção, financiado
pelo governo alemão.
Para identificar as exportações e o tráfico
das plantas medicinais, o Núcleo do Ibama vem trabalhando
com o departamento de Comércio Exterior e com o Siscomex,
além de utilizar o Sistema de Registro (Sisreg) para
obter nome, endereço, e número de registro
dos extratores, produtores e comerciantes cadastrados de
plantas medicinais.
O relatório aponta como principais problemas com
a matéria-prima de plantas medicinais no Brasil:
condições inadequadas de armazenamento, transporte,
de embalagens, e de práticas agrícolas, descumprimento
de prazos de entrega, extrativismo predatório, falta
de padronização, além de contaminações
microbiológicas por fungos e bactérias, e
secagem descontínua.
A criação de uma legislação
ambiental específica para a extração
e a produção de plantas medicinais é
uma das recomendações dos autores do relatório
que sugerem, ainda, a regulamentação da biotecnologia
como forma de ampliar o processo do uso sustentável
do patrimônio genético brasileiro, e a implantação
de uma rede de coleções e bancos de germoplasma
de espécies medicinais.
Fonte: Ibama (www.ibama.gov.br)
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