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PROTESTO
DE MADEIREIROS CONTRA O GREENPEACE EM PORTO
DE MOZ COMPROVA QUE O ESTADO DO PARÁ
PERMANECE À MARGEM DA LEI
Panorama Ambiental
Porto de Moz (PA) - Brasil
Novembro de 2003
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Greenpeace
continua apoiando a luta de comunidades ribeirinhas
pela criação da reserva extrativista
Madeireiros de Porto
de Moz, no Pará, protestaram hoje contra
a presença do Greenpeace na região
e contra a criação da reserva extrativista
Verde para Sempre. Eles abordaram o navio MV Arctic
Sunrise que está na região. O protesto
durou até o final da tarde.
“Três dias depois de agentes do Ibama e da
polícia ficarem reféns de madeireiros
em Medicilândia, foi a vez do Greenpeace e
de líderes comunitários sofrerem ameaças
de uma turba de grandes madeireiros de Porto de
Moz, comprovando que o Pará realmente está
fazendo seu próprio caminho para se transformar
em um estado sem lei”, disse Paulo Adário,
coordenador da campanha da Amazônia, do Greenpeace.
“Apesar do protesto contra nossa presença
na região, vamos continuar nosso trabalho
de apoio à luta das comunidades ribeirinhas
pela criação da reserva extrativista
de Porto de Moz.”
Locutores da rádio local, de propriedade
do prefeito da cidade Gérson Campos (PSDB/PA),
convocavam a se juntar à manifestação
e anunciavam a distribuição de camisetas
e combustível. O protesto foi impulsionado
por um discurso inflamado contra a reserva extrativista
feito pelo deputado federal Nicias Ribeiro (PSDB/PA),
que estava presente na cidade por ocasião
do aniversário do município. No discurso,
ele acusou os madeireiros de Porto de Moz de serem
“frouxos” e que eles deveriam expulsar o Greenpeace
da região. O irmão do prefeito de
Porto do Moz, o madeireiro Rivaldo Campos, o engenheiro
florestal Luiz Roberto S. da Ponte Jr. e o Secretário
Municipal de Turismo Valdomiro Maia, o “Mirinho”,
estiveram diretamente envolvidos no protesto.
Enquanto isso, um grupo de líderes comunitários
que estava reunido na sede do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Porto de Moz recebeu um telefonema anônimo,
dizendo que o local seria queimado. O grupo de cerca
de 20 pessoas se refugiou no Salão Paroquial
por recomendação da juíza.
O Greenpeace contatou a juíza de Porto de
Moz e pediu proteção de vida aos líderes
comunitários.
No final da manhã, doze barcos regionais,
cinco voadeiras e duas balsas chegaram perto do
navio da organização, o MV Arctic
Sunrise, na boca do rio Jaurucu. O Greenpeace concordou
em receber uma delegação de sete pessoas
para conversar sobre a situação. Os
membros da comissão afirmaram que não
eram necessariamente contra a reserva, mas contra
o processo, alegando que não foram ouvidos
pelo governo. No entanto, o CNPT (Centro Nacional
de Populações Tradicionais), departamento
responsável pelo processo de criação
de reservas extrativstas ligado ao Ibama, afirma
que realizou as audiências públicas
necessárias.
Durante a tentativa de diálogo, o Secretário
Municipal de Turismo, o “Mirinho”, acusou os ativistas
do Greenpeace de “terroristas”. Os representantes
dos madeireiros acreditam que a reserva extrativista
vai inviabilizar o desenvolvimento econômico
da região. Eles afirmam que a presença
do Greenpeace e do Ibama já está trazendo
o caos econômico para a cidade porque a atividade
madeireira, principal atividade da região,
está totalmente paralisada. Um dos integrantes
da comissão, Naife Fuziel, que se considera
um “pequeno madeireiro” e emprega 30 pessoas, afirmou
que trabalha ilegalmente e que não têm
condições de se adequar à legislação
“porque as grandes empresas madeireiras também
operam na região de forma ilegal”. A comissão
deixou claro que a presença do Greenpeace
não é bem vinda em Porto de Moz por
parte dos madeireiros.
Enquanto a delegação de madeireiros
e o Greenpeace conversavam, o navio MV Arctic Sunrise
foi abordado pelo barco regional “Tenório
3”. Os madeireiros estavam com os ânimos bastante
exaltados e comunitários informaram que bebidas
alcóolicas haviam sido distribuídas
entre a população. O Secretário
de Turismo, Valdomiro Maia, se amarrou entre o navio
do Greenpeace e o barco regional, colocando em risco
os outros manifestantes. Um pequeno contingente
da Polícia Militar - uma sargenta e quatro
policiais - chegou ao navio. O Secretário
Municipal de Justiça, Mileo Jr., veio junto
com a PM, mas se recusou a desembarcar.
A juíza de Porto de Moz, Rejane Ferreira
de Oliveira, acompanhou todo o processo pelo telefone
e pediu que a sargenta da PM anotasse os nomes de
todos os líderes do protesto. O Greenpeace
afastou o navio de Porto de Moz para evitar que
o conflito tomasse proporções ainda
maiores e para impedir que alguém se ferisse
durante o protesto, além de permitir que
a Polícia Militar pudesse ir para a cidade
dar proteção aos líderes comunitários
na igreja.
Há três anos, as comunidades de Porto
de Moz e Prainha estão lutando pela criação
das reservas extrativistas Verde para Sempre e Renascer
para garantir seu direito à terra e assegurar
o uso responsável e o manejo sustentável
dos recursos naturais da região.
O Greenpeace exige que as empresas parem imediatamente
de comprar madeira ilegal e criminosa de Porto de
Moz e Prainha, até que as reservas sejam
acordadas e criadas. A madeira proveniente da região
é explorada de forma ilegal ou em planos
de manejo aprovados com base em documentos de terra
precários. A atividade madeireira na região
é realizada em terras griladas, sem o mínimo
respeito à legislação florestal
brasileira e aos direitos das comunidades locais,
que dependem da floresta para sua sobrevivência.
O Greenpeace também pede que o Ibama suspenda
todos os planos de manejo florestal na região
e que o governo brasileiro se comprometa com a criação
das reservas extrativistas de Porto de Moz e Prainha
para assegurar a melhoria da qualidade de vida da
população local.
“A não ser que as reservas sejam criadas
imediatamente, os maus madeireiros vão continuar
destruindo as florestas da região sem que
as comunidades locais tenham a chance de proteger
o meio ambiente de que dependem para sobreviver”,
disse Adário. “O governo brasileiro precisa
abrir os olhos para a realidade de Porto de Moz
pois cabe a ele a decisão final sobre a criação
das reservas e, inevitavelmente, sobre o destino
de mais de 15 mil brasileiros”.
O navio do Greenpeace está em expedição
pelo Pará para apoiar a criação
de áreas protegidas nas últimas regiões
de floresta do estado. O Greenpeace promove o uso
ecológico e socialmente responsável
dos recursos naturais assim como a criação
de uma rede de áreas protegidas em áreas
de floresta primária em todo o mundo.