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ARMAS QUÍMICAS
E BIOLÓGICAS “NÃO LETAIS”?
Panorama Ambiental
Belém (PA) - Brasil
Novembro de 2003
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Exército
dos Estados Unidos patenteia granada para lançar
armas biológicas que viola a respectiva Convenção
internacional
O exército
norte-americano desenvolveu e patenteou uma nova
granada de disparo que pode ser usada para travar
guerra biológica, violando a Convenção
de Armas Biológicas que explicitamente proíbe
o desenvolvimento de equipamentos de lançamento
de armas biológicas.
A patente norte-americana #6,523,478, concedida
em 25 de Fevereiro de 2003, cobre um "distribuidor
de carga não letal lançado por disparo"
que está concebido para lançar aerosóis,
entre os quais, segundo a patente, "agentes
de controlo de motins, agentes biológicos,
(e) agentes químicos".
O desenvolvimentos de dispositivos de entrega de
agentes biológicos está absolutamente
proibido — sob qualquer circunstância — pelo
artigo I da Convenção de Armas Biológicas
e Tóxicas de 1972 Biological and Toxin Weapons
Convention , da qual os EUA fazem parte. Esta proibição
não tem excepção, nem para
fins de defesa, nem para os chamados agentes não
letais.
"O desenvolvimento de armas para cargas biológicas
gera incerteza sobre o compromisso dos EUA no que
respeita à Convenção de Armas
Biológicas", afirma Edward Hammond do
Projecto Sunshine, EUA. "Trinta e quatro anos
após a renúncia dos EUA às
armas biológicas, o Pentágono está
novamente ao negócio".
"Hans Blix teria menos dificuldades para encontrar
armas biológicas se inspecionasse Baltimore
em vez de Bagdad", disse o biólogo Jan
van Aken, do Projecto Sunshine da Alemanha, referindo-se
ao facto de dois dos inventores trabalharem no Arsenal
Edgewood do Exército, a norte de Baltimore,
Maryland. Outros inventores trabalham numa empresa
de engenharia em Orlando, Florida, onde operam as
Forças Especiais dos EUA operam, da Base
da Força Aérea MacDill.
Esta granada constitui por sua vez outro indício
de projectos proibidos de desenvolvimento de armas
biológicas e químicas nos EUA. Vem
na sequência de um programa ilícito
de armas químicas que se concentra nos denominados
agentes não letais — trazido à luz
do dia em Setembro passado pelo Projecto Sunshine;
com as actividades de investigação
em microorganismos degradantes de materiais por
parte das Forças Armadas dos EUA, e com um
conjunto de actividades de defesa biológica
questionáveis que seriam muito adequadas
para fins ofensivos (ver New York Times, 4 de Setembro
de 2001).
Desgaste da Proibição: As chamadas
armas não letais estão a tornar difusos
os limites entre a investigação permitida
e a ilegal. O exército defende que a nova
granada é para difusão de agentes
"não letais". As reivindicações
constituem a parte mais cuidadosamente elaborada
e legalmente crucial de uma patente. O exército
está totalmente consciente das suas obrigações
face à Convenção de Armas Biológicas
e, mesmo assim, um novo dispositivo de armas biológicas
foi patenteado. Isto põe em evidência
a razão pela qual as armas "não
letais" representam uma ameaça tão
séria. O Pentágono considera que o
trabalho em armas biológicas, que esteve
totalmente proibido durante três décadas,
é agora permitido se a expressão "não
letal" for acrescentada. Mas não se
trata só de muitos agentes não letais
violarem os próprios tratados, é pior:
a investigação norte-americana "não
letal" está a criar e a testar hardware
capaz de entregar todo o espectro de armas biológicas
e químicas.
Diplomacia Preventiva: A coordenação
da política diplomática e militar
dos EUA quanto às armas "não
letais" pode ser observada pela sua firme oposição
aos esforços para incluir o tema na agenda
do controlo internacional de armas. Em Setembro
de 2002, os diplomatas norte-americanos vetaram
a acreditação do Projecto Sunshine
à reunião da Convenção
de Armas Químicas porque o Sunshine pretendia
debater as armas "não letais" químicas
(e biológicas). Na semana passada, os diplomatas
norte-americanos impediram a discussão de
armas "não letais" quando bloquearam
o discurso do Comité Internacional da Cruz
Vermelha a sua apresentação na Chemical
Weapons Convention Review Conference .
"Esta granada é outro exemplo de como
os programas denominados "não letais"
do Pentágono estão a reduzir paulatinamente
as restrições sobre duas das mais
mortais classes de armas: as biológicas e
químicas. Os programas que desenvolvem as
armas biológicas e químicas "não
letais" deveriam simplesmente ser abolidos"
disse Hammond.
Fonte: ONG Campa / ONG Ipeam
Marco Aurélio
Weissheimer é correspondente da
Agência Carta Maior em Porto Alegre (gamarra@hotmail.com)