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ONGS APRESENTAM
PROPOSTAS NA CONFERÊNCIA REGIONAL
PARA AMÉRICA LATINA E CARIBE SOBRE
ENERGIAS RENOVÁVEIS
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Novembro de 2003
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Assinada por redes
ambientalistas do Brasil, Uruguai e Argentina, a
declaração contém uma série
de recomendações aos governos da região,
como a implementação de medidas para
reduzir as perdas na geração, transmissão
e distribuição de energia; a repotencialização
das hidrelétricas; a não-autorização
de empreendimentos com impactos socioambientais
e a adoção de incentivos para a substituição
de combustíveis fósseis por biocombustíveis.
O documento foi lido por Temístocles Marcelos,
da coordenação do Fórum Brasileiro
de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável (FBOMS), na
quarta-feira (29/10) à tarde, durante o painel
realizado para discutir O Papel do Setor Produtivo
e a Contribuição da Sociedade Civil
na Inserção das Energias Renováveis
– leia na íntegra abaixo.
O evento, que ocorre até amanhã no
Palácio do Itamaraty, em Brasília,
conta com a participação de ministros
da América Latina e Caribe responsáveis
pelos temas de energias renováveis e meio
ambiente. Eles estão reunidos para elaborar
e aprovar a Plataforma da América Latina
e do Caribe sobre Energias Renováveis, a
ser apresentada na Conferência Internacional
sobre Energias Renováveis, que será
realizada em Bonn, na Alemanha, em junho de 2004.
No Brasil, estão envolvidos na conferência
representantes dos Ministérios de Minas e
Energia, Meio Ambiente, Relações Exteriores,
Ciência e Tecnologia, Agricultura e Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior.
Criticada pelo Grupo de Trabalho (GT) Energia do
FBOMS por não estar dialogando com as ONGS
sobre decisões relacionadas à política
energética, a ministra de Minas e Energia,
Dilma Rousseff, participa, nesta quinta-feira, de
uma sessão plenária na conferência.
Declaração
da sociedade civil
As organizações
da sociedade civil da América Latina reunidas
em Brasília, em outubro de 2003, por ocasião
da Pré-Conferência Regional Sobre Energias
Renováveis, dirigem-se aos ministros da região,
reunidos neste evento, para manifestar apoio à
iniciativa dos governos de incorporar em seus planejamentos
do setor energético a introdução
e aumento da participação das energias
renováveis e a eficiência energética.
Nesta oportunidade também apresentamos algumas
propostas, como parte de uma estrutura mais ampla
para a criação de um futuro baseado
em energia sustentável que alcance, além
das metas mencionadas acima, políticas que
criem novos produtos e mercados sustentáveis,
gerando mais empregos, distribuindo benefícios
substanciais na área de saúde e reduzindo
as tarifas de energia. A atual conjuntura energética
não é sustentável para o século
XXI. O cenário tendencial (“business as usual”)
significa o desastre sócio - ambiental que
aprofundará e perpetuará o abismo
existente entre pobres e ricos, dentro e entre os
países. As energias renováveis também
têm um destacado papel, pois fazem frente
à ameaça de mudança climática
no âmbito global e contribuem para a redução
local e regional da poluição da água
e do ar, além de substituírem os combustíveis
fósseis e outras tecnologias ‘sujas’. Nossa
meta é um mundo onde não haja mais
pobreza, onde a igualdade entre os sexos seja lei,
onde todas as pessoas tenham acesso a serviços
de energia, com custo acessível e sem danos
ambientais. Reconhecemos como fundamental a sustentabilidade
energética, a participação
cidadã e a apropriação dos
conhecimentos e do poder de decisão pelas
comunidades afetadas ou beneficiadas nas decisões
políticas, quanto ao uso dos recursos energéticos
em nível regional e local. Os Governos da
Região devem: A médio e longo prazo:
Fortalecer a cooperação entre os países
da região para a promoção de
uma integração energética que
- ao invés de basear-se em grandes obras
de infra-estrutura, que atentam contra a sustentabilidade,
a preservação dos modos de vida das
comunidades tradicionais, o uso irracional dos recursos
naturais e do transporte de energia a longas distâncias
para fora da região – se destine ao aproveitamento
racional e sustentável dos recursos energéticos,
apropriados às diversas bio-regiões
e culturas em benefício dos povos Latino-Americanos.
Transformar o sistema global de energia, atualmente
dependente de combustíveis fósseis,
grandes hidroelétricas e usinas nucleares,
para um sistema que seja calcado em energias renováveis
e uso eficiente de energia. Apoiar estratégias
de microfinanciamento para as energias renováveis
e o uso eficiente de energia, tais como recursos
rotativos, onde quer que eles já existam
e sua criação, onde eles ainda não
existirem, com o propósito de desenvolver
empreendimentos locais e melhorar as condições
de vida das presentes e futuras gerações.
Incentivar e desenvolver pesquisas com transferência
de tecnologia entre os países apropriada
à descentralização. Interromper
os recursos para fontes de energia fóssil,
nuclear e grandes hidroelétricas, substituindo
e investindo em energias renováveis e em
uso racional. Incluir no novo planejamento da matriz
energética dos países, tanto na oferta
como na demanda, o incremento das fontes renováveis:
solar, eólica e biomassa. A inclusão
das PCHs nas metas para as novas fontes renováveis
deve rever seu critério de definição
e deve ser precedido de licenciamento integrado
por bacia hidrográfica, analisando as restrições
e particularidades e seus efeitos cumulativos, caso
a caso, considerando as condições
e vocações ecológicas e sociais
das áreas afetadas. Substituir os combustíveis
fósseis por bio-combustíveis produzidos
de maneiras sustentáveis, planejando o setor
de transporte, visando diminuir sua contribuição
à mudança climática e a contaminação
local. Incorporar os custos socioambientais em todas
as fases dos empreendimentos, dos estudos de viabilidade
até a implantação. Assegurar
que os futuros investimentos em energias renováveis
e seu uso eficiente devem ser considerados pelas
IFIs (Instituições Financeiras Internacionais)
como forma de amortização da dívida
externa. A curto prazo: Promover campanhas públicas,
elaboradas em conjunto com a sociedade civil, para
a eficiência energética e a mudança
de padrões e parâmetros de consumo.
Implementar medidas para diminuir as perdas na geração,
na transmissão e na distribuição
de energia. Adotar medidas para repotenciação
das hidrelétricas sem aumentar as áreas
inundadas. Não autorizar empreendimentos
que representem impactos econômicos, ambientais
e sociais negativos, tais como barragens, usinas
nucleares e termelétricas a carvão
mineral e aqueles que causam grandes movimentações
de combustíveis fósseis em áreas
sensíveis. Garantir a participação
da sociedade civil organizada nos panoramas e cenários,
nos fóruns de decisões e debates a
serem desenvolvidos dentro das energias renováveis,
decidindo sobre a aplicação trazendo
segurança e benefício para o ambiente
local, em especial no que tange a proteção
e gerenciamento desse ambiente. Incentivar a substituição
dos combustíveis fósseis para o transporte.
As novas fontes de renováveis estão
disponíveis por todo planeta e não
causarão guerras por recursos nem exigirão
equipamentos bélicos e de defesa para protegê-las.
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais
para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Coalizão Rios Vivos Assembléia Permanente
de Entidades em Defesa do Meio Ambiente no Estado
do Rio de Janeiro - APEDEMA-RJ Fórum de Debate
de Energia de Rondônia – FOREN Rede Pantanal
Rede Mata Atlântica Grupo de Trabalho Amazônico-
GTA Comissão Nacional de Meio Ambiente –
CUT Fórum da Amazônia Oriental- FAOR
Foro de Ecologia Política Argentina Fórum
Cearense de Meio Ambiente Red Uruguaya de ONG Ambientalistas
Fórum Carajás Red de Organizaciones
Socioambientales de Entre Rios Argentina.
Fonte: ISA – Instituto Sócio
Ambiental (www.socioambiental.org.br)
Cristiane Fontes