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ONGS PEDEM
AMPLIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL
GRANDE SERTÃO VEREDAS (MG)
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Novembro de 2003
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Mais de 100 instituições,
entre elas a Funatura, o ISA e a Rede de ONGs do
Cerrado, encaminharam na quarta-feira (29/10) uma
carta à Casa Civil, onde a proposta de aprovação
da ampliação da Unidade de Conservação
de 84 mil para 234 mil hectares - 120 mil deles
na Bahia - está paralisada desde agosto.
A medida, voltada a proteger importante fragmento
do Cerrado ameaçado pela expansão
da soja, é contestada pelo governo baiano.
Além de preservar a biodiversidade do Cerrado
e de proteger mananciais da região que alimentam
o Rio São Francisco, a ampliação
da área norte do Parque Nacional Grande Sertão
Veredas tem por objetivo formar um corredor ecológico
até a Serra Geral, no Sul da Bahia, uma região
de Cerrado bastante importante, que está
na rota da expansão da soja naquele estado.
Dessa maneira, o parque, que hoje ocupa 84 mil hectares
e está localizado inteiramente em Minas Gerais,
passaria a ter 234 mil hectares, sendo 120 mil na
Bahia. A proposta faz parte do plano de manejo do
parque, elaborado pela Fundação Pró-Natureza
(Funatura) entre 1998 e 2003, que prevê áreas
prioritárias para conservação
e áreas de amortecimento, conforme determina
o Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
A autorização para um estudo específico
sobre a ampliação foi concedida pelo
Ministério do Meio Ambiente no ano passado.
O governo Lula deu continuidade ao processo, que
incluiu a realização de duas audiências
públicas, uma na cidade de Cocos (BA), e
outra em Formoso (MG). Segundo César Victor
do Espírito Santo, superintendente executivo
da Funatura, os eventos foram marcados por manifestações
favoráveis, até por parte de alguns
fazendeiros, que detêm parte de suas propriedades
sob a categoria de Reserva Particular do Patrimônio
Natural ou estão trabalhando o Cerrado segundo
modelos de manejo sustentável. "Mas
um fazendeiro em Formoso se mostrou bastante contrário
à ampliação do parque e, ignorando
a necessidade de licenças ambientais, vem
abrindo estradas e áreas para plantio contíguas
ao parque", revela César Victor.
Essa ameaça ganhou espaço com a paralisação
do processo de ampliação, em agosto.
Ao receber a proposta de decreto para aprovação,
a Casa Civil fez uma consulta ao governador da Bahia,
Paulo Souto, que encaminhou um documento manifestando-se
contrário à iniciativa. Apesar de
ter sido previamente informado sobre o processo
de discussão e a realização
de audiências públicas, nenhum representante
do Estado contestou a medida neste período.
De acordo com informações da Secretaria
de Biodiversidade e Florestas (SBF) do Ministério
do Meio Ambiente (MMA) e da Funatura, o governo
da Bahia alega, entre outras questões, que
dentro da área onde ocorreria a ampliação
existem projetos voltados à agroindústria
já aprovados, que irão gerar emprego
e renda; e que a região está bastante
antropizada. "Isso não corresponde à
realidade, uma vez que a região apresenta
bom estado de conservação, as comunidades
locais também poderão ter uma fonte
de renda em trabalhos ligados à conservação
e ao ecoturismo e os empreendimentos agroindustriais
em questão se encontram fora dos novos limites
para o parque", defende César Victor.
Para pedir a autorização da ampliação,
um grupo de mais de 100 ONGs - entre elas a Funatura,
o ISA, a WWF-Brasil, a Rede Pró-Unidades
de Conservação e a Rede de ONGs do
Cerrado - enviaram uma carta (veja abaixo) à
Casa Civil, expondo a importância da iniciativa.
"Estamos abertos parar esclarecimentos para
mostrar a relevância da ampliação
do Parque", afirma César Victor do Espírito
Santo.
Maurício Mercadante, diretor do Programa
Nacional de Áreas Protegidas da SBF do MMA,
também entende que os argumentos do governo
da Bahia estão equivocados. "Temos condições
de contestar veementemente esses argumentos.”
Grande Sertão
Veredas
Homenagem ao escritor
Guimarães Rosa, o Parque Nacional Grande
Sertão Veredas foi criado em 12/04/1989,
no município de Formoso (MG), com base em
estudos feitos pela Funatura. Essa Unidade de Conservação
preserva parte do planalto denominado Chapadão
Central, que divide as bacias dos Rios São
Francisco e Tocantins. Com altitude variando entre
600 e 1.200 metros, a região tem vales sujeitos
a inundações. A vegetação
é dominada pelo Cerrado, com mata de galeria
nas margens dos Rios Preto e Carinhanha, e o local
conta com a presença de espécies como
a ema, o lobo-guará, o tatu-canastra, o tamanduá-bandeira
e o veado-campeiro.
Desde que foi criado em 1989, o Parque Nacional
Grande Sertão Veredas é cenário
de um trabalho conjunto entre as comunidades locais,
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) e a Funatura.
O agroextrativismo, a agroecologia e o ecoturismo
são algumas das atividades que aliam conservação
e desenvolvimento da região.
Saiba mais <http://www.funatura.org.br/CONTEUDO/PROJETOS.HTM>.
Brasília,
29 de outubro de 2003
Excelentíssimo
Senhor
Ministro-Chefe da Casa Civil da Presidência
da República
Deputado Federal José Dirceu de Oliveira
e Silva
c.c. Excelentíssimo
Senhor Governador do Estado da Bahia Paulo Souto
Excelentíssima Senhora Ministra de Estado
do Meio Ambiente Marina Silva
Senhor Ministro,
Preocupadas com o
futuro do cerrado brasileiro, um dos biomas mais
ameaçados do planeta, inclusive sendo apontado
como um dos “hot spots” mundiais, ou seja, bioma
extremamente rico em biodiversidade e seriamente
ameaçado por atividades antrópicas,
as entidades abaixo-assinadas vêm apresentar
a seguinte manifestação:
Em 1989, foi criado no noroeste do estado de Minas
Gerais, divisa com a Bahia, o Parque Nacional Grande
Sertão Veredas (84.000 ha) com o objetivo
de preservar importantes amostras do cerrado, de
espécies ameaçadas de extinção
e dos recursos hídricos de uma importante
sub-bacia do rio São Francisco. Além
disso, tem o propósito de promover o desenvolvimento
da região em bases sustentáveis, por
meio de trabalhos no entorno, com as comunidades
locais, considerando as suas tradições
culturais;
Desde a sua criação, por meio de trabalhos
de parceria entre o Ibama e Fundação
Pró-Natureza (Funatura), vem sendo desenvolvidas
diversas atividades visando atingir os objetivos
propostos. Projetos importantes estão em
andamento, tais como proteção do parque,
pesquisas, educação ambiental e apoio
a atividades produtivas no entorno com ênfase
em agroecologia, agroextrativismo, ecoturismo, saúde,
implementação de RPPNs, entre outros;
De acordo com o plano de manejo do Parque, foram
definidos corredores ecológicos importantes
e fundamentais para a proteção dos
ecossistemas locais, em um longo prazo e que ligam
o Parque a outras áreas conservadas do entorno;
Nos últimos anos, a expansão da fronteira
agrícola (soja, café irrigado com
pivô central, etc), em direção
ao sudoeste baiano está pondo em risco uma
das últimas grandes manchas de cerrado, ainda
em bom estado de conservação e que
funciona como uma caixa d' água, pois engloba
áreas de recargas de aqüíferos
e as nascentes de importantes cursos d'água,
que deságuam nos rios Carinhanha e Corrente,
tributários do rio São Francisco.
A conservação dessas águas
é vital para as populações
que vivem a jusante, em especial no município
de Cocos (BA). Essa área está englobada
dentro do corredor ecológico da Trijunção
(área localizada entre os estados da Bahia,
de Minas Gerais e Goiás) definido no Plano
de Manejo do Parque;
No final de 2002, o Governo Federal iniciou consulta
pública, por meio do site do IBAMA, sobre
a proposta de ampliação do Parque,
a qual engloba cerca de 120 mil hectares na Bahia
e 30 mil em Minas Gerais. O Parque passará
a ter 230 mil hectares, constituindo-se em um dos
maiores parques nacionais do cerrado. São
áreas praticamente sem a presença
humana. Tratam-se de grandes latifúndios
improdutivos cujos solos são arenosos. A
região é berço de um sistema
hídrico importante para ajudar a garantir
a revitalização do rio São
Francisco e o cerrado ainda está praticamente
intacto, conforme citado anteriormente. As terras
são relativamente baratas, fato que reduzirá
os custos de desapropriação, que serão
cobertos com recursos de compensação
ambiental, conforme informado pelo IBAMA;
Este ano, já no novo governo, o IBAMA deu
seqüência, conforme prevê a lei
do SNUC, ao processo de consulta pública
objetivando ouvir a população local
e demais interessados, sobre a proposta de ampliação
do Parque. Foram realizadas no dia 31 de maio e
1o de junho duas audiências públicas,
uma no município de Cocos-BA e a outra no
município de Formoso-MG, com participação
de diversas instituições governamentais
e não governamentais e cidadãos em
geral. Em Cocos não houve uma única
objeção. Em Formoso, apenas dois fazendeiros
manifestaram-se contrários. Houve várias
manifestações favoráveis, inclusive
de fazendeiros atingidos;
Após essas audiências, o IBAMA concluiu
o processo e encaminhou-o ao Ministério do
Meio Ambiente, que por sua vez encaminhou-o à
V.Exa para que o decreto de ampliação
do Parque fosse assinado pelo Presidente da República.
Em 11 de setembro de 2003, dia do cerrado, na abertura
do III Encontro dos Povos do Cerrado, em Goiânia,
que contou com a presença da Ministra do
Meio Ambiente, Marina Silva, além de mais
de 600 representantes de várias entidades
que atuam no Cerrado, o Secretário de Biodiversidade
e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco,
anunciou que o Ministério havia encaminhado
à Casa Civil da Presidência da República
a minuta do decreto com a proposta de ampliação
do Parque Nacional Grande Sertão Veredas,
notícia essa que foi recebida com grande
entusiasmo;
Preocupados com a demora na assinatura do Decreto,
tendo em vista que parte da área começa
a sofrer impactos provenientes de atividades não
licenciadas, como a abertura de estradas, fomos
buscar informações sobre o andamento
do processo, quando nos informaram que V. Exa. havia
realizado consulta ao Governador da Bahia, Sr. Paulo
Souto, sobre o processo de ampliação
do Parque e que ele teria se manifestado contrário,
tendo em vista a existência de diversas áreas
antropizadas e de um grande número de empreendimentos
agroindustriais;
Senhor Ministro, de acordo com o conhecimento da
área pelo IBAMA e pela entidade parceira,
a FUNATURA, e corroborado por imagens de satélite,
as áreas propostas para a ampliação
estão praticamente intactas, fato crucial
para que tal proposta fosse levada adiante. Os empreendimentos
agroindustriais que existem em andamento estão
fora dos limites propostos. Entendemos que, mesmo
que houver algum empreendimento aprovado, isso não
seria motivo para impedir a ampliação
do Parque, pois poderá ser renegociado, uma
vez que ainda não começou. Além
disso, conforme colocado anteriormente, o benefício
da ampliação do Parque para a sociedade
será muito superior ao benefício de
qualquer outro empreendimento, considerando, em
especial, a questão da revitalização
do rio São Francisco, que muito depende do
que se faz nas bacias que o abastece.
Diante dos fatos, solicitamos que o Senhor Ministro
considere as justificativas apresentadas e que o
Parque Nacional Grande Sertão Veredas seja
ampliado, conforme proposto, em benefício
da sociedade brasileira, em contribuição
à conservação do cerrado brasileiro
e para melhoria da qualidade de vida das atuais
e futuras gerações.
Atenciosamente,
Fundação
Pró-Natureza – FUNATURA
Instituto Socioambiental – ISA
Fundação O Boticário de Proteção
à Natureza – FBPN
Associação Mineira de Defesa do Ambiente
– AMDA
Grupo Ambientalista da Bahia – GAMBÁ
Fundação Biodiversitas
Fundação Pró-Tamar
WWF-Brasi
Instituto Conservation International do Brasil –
CI-Brasil
Ecoa - Ecologia e Ação
Fundação Centro Brasileiro de Referência
e Apoio Cultural – CEBRAC
Instituto Brasil Central – IBRACE
Instituto Sociedade População e Natureza
– ISPN
Instituto de Formação e Assessoria
Sindical Rural – IFAS
Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais Fundação
de Apoio à Vida nos Trópicos – Ecotrópica
Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste – CEPAN
Pequi – Pesquisa e Conservação do
Cerrado Instituto para o Desenvolvimento Ambiental
– IDA
Associação de Voluntários Patrulha
Ecológica Ambiental Cafuringa
Rede Pró-Unidades de Conservação
Rede Cerrado de ONGs
Fonte: ISA – Instituto Sócio
Ambiental (www.socioambiental.org.br)
Ricardo Barreto