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OS EUA E
AS ARMAS DE DESTRUIÇÃO EM
MASSA
Panorama Ambiental
Belém (PA) - Brasil
Novembro de 2003
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Título
original: Prá lá de Bagdá.
EUA seguem produzindo
armas químicas e biológicas Hans Blix
teria menos dificuldade para encontrar armas biológicas
se inspecionasse Baltimore ao invés de Bagdá.
A Sunshine Project, organização que
investiga a produção de armas químicas
e biológicas, dá endereço do
arsenal dos EUA.
O presidente George W. Bush atacou o Iraque alegando
que Saddam Hussein tinha armas químicas e
biológicas com potencial de destruição
em massa. Outros países, enquadrados no "eixo
do mal", são ameaçados pelo mesmo
motivo. Enquanto isso, o Pentágono segue
desenvolvendo programas de armas químicas
e biológicas, violando tratados internacionais
assinados por Washington. A organização
não-governamental "Sunshine Project",
que investiga e denuncia o desenvolvimento de armas
químicas e biológicas no mundo, divulgou
em seu site (http://www.sunshine-project.org) o
número da patente de uma dessas armas, uma
granada lançada por fuzil desenhada para
lançar agentes químicos e biológicos.
A patente n° #6,523,478, outorgada no dia 25
de fevereiro de 2003, registra um "distribuidor
de carga não letal lançado por fuzil,
destinado para lançar aerossóis, entre
eles agentes de controle de motins, agentes biológicos
e químicos.
O "Sunshine Project" tem escritórios
em Hamburgo, na Alemanha, e em Austin, nos Estados
Unidos. Um de seus técnicos, o biólogo
Jan van Aken, garante que "Hans Blix teria
menos dificuldades para encontrar armas biológicas
se inspecionasse Baltimore ao invés de Bagdá".
O biólogo da delegação alemã
do "Sunshine Project" refere-se ao Arsenal
Edgewood do Exército norte-americano, localizado
ao norte da cidade de Baltimore (Maryland). Segundo
relatório da organização, outros
cientistas pesquisam e desenvolvem tais armas em
uma empresa de engenharia localizada em Orlando
(Flórida), onde as Forças Especiais
dos EUA operam desde a base aérea de MacDill.
A nova granada patenteada pelo Exército dos
EUA viola a Convenção de Armas Biológicas
e Tóxicas de 1972 que proíbe explicitamente
o desenvolvimento de equipamentos de lançamento
dos agentes mencionados no registro da patente.
Os Estados Unidos são signatários
dessa convenção cuja proibição
do uso de agentes tóxicos não prevê
exceções nem para fins de defesa,
nem para os chamados "agentes não-letais".
Segundo Edward Hammond, da delegação
norte-americana do "Sunshine Project",
"o desenvolvimento de armas para cargas biológicas
provoca uma grande incerteza sobre o compromisso
dos EUA com a Convenção de Armas Biológicas".
Trinta e quatro anos após os EUA renunciarem
ao emprego de armas biológicas, o Pentágono
está novamente pesquisando e desenvolvendo
tais armas, garante Hammond.
Trazer as armas biológicas à luz do
sol
Vale a pena visitar o site do "Sunshine Project".
A razão do nome da organização
é simples. Muitas armas biológicas
são destruídas rapidamente quando
expostas à luz do sol. O projeto trabalha
para trazer à luz pública a realidade
sobre o desenvolvimento dessas armas no mundo, investigando
e publicando relatórios para fortalecer o
consenso internacional contra a guerra biológica
e para assegurar que os tratados internacionais
que proíbem o uso de tais armas sejam cumpridos
por todos os países. A granada desenvolvida
em Baltimore constitui, segundo a organização,
outro indício de projetos proibidos de desenvolvimento
de armas químicas e biológicas nos
Estados Unidos. Entre eles, um programa de armas
químicas que se concentra nos chamados "agentes
não-letais", denunciado em setembro
de 2002 pelo "Sunshine Project", e pesquisas
com microorganismos degradantes de materiais sólidos.
O "New York Times" publicou, em 4 de setembro
de 2001, uma matéria que falava de um conjunto
de atividades de "defesa biológica"
que poderiam gerar armas destinadas também
a fins ofensivos.
O desenvolvimento das chamadas "armas não
letais" está corroendo as fronteiras
entre a pesquisa permitida e a ilegal. O Exército
dos EUA alega que a nova granada será utilizada
apenas para a dispersão de "agentes
não letais". O Exército é
totalmente consciente de suas obrigações
com a Convenção de Armas Biológicas
e, não obstante, vem patenteando um novo
aparato de armas biológicas. Isso põe
em evidência a razão pela qual as armas
não-letais constituem uma ameaça tão
grave. O Pentágono considera que o trabalho
com armas biológicas, que esteve totalmente
proibido durante três décadas, é
permitido agora com o acréscimo do termo
"não-letal". Mas não se
trata somente de que determinados agentes não
letais violam os tratados; é pior: as pesquisas
norte-americanas com produtos não-letais
incluem a criação e experimentação
de armamentos capazes de abranger o espectro completo
de armas químicas e biológicas, denunciam
os cientistas do "Sunshine Project".
Diplomacia
preventiva
As pesquisas com
armas químicas e biológicas têm
desdobramentos também no terreno diplomático.
A Casa Branca vem apresentando uma firme oposição
à inclusão dos chamados "agentes
não-letais" no debate da agenda internacional
de controle de armas. Em setembro de 2002, diplomatas
norte-americanos vetaram a participação
de representantes do "Sunshine Project"
na reunião da Convenção de
Armas Químicas, porque a organização
pretendia discutir a pesquisa e o desenvolvimento
de armas não letais químicas e biológicas.
Agora, no início de maio, Washington voltou
a vetar esse debate e impediu que o Comitê
Internacional da Cruz Vermelha fizesse uma apresentação
sobre o tema em uma reunião da Convenção
de Armas Químicas.
O diplomata brasileiro José Maurício
Bustani foi vítima dessa diplomacia preventiva.
No ano passado, por pressão direta dos Estados
Unidos, Bustani perdeu o cargo que ocupou durante
cinco anos como diretor-geral da Organização
para a Proibição de Armas Químicas
(Opaq), órgão da ONU. Entre outras
coisas, ele queria que fábricas químicas
dos EUA também fossem alvo de inspeção
pela ONU. Bustani, recentemente nomeado embaixador
do Brasil na Grã-Bretanha e Irlanda do Norte,
foi incluído na lista do prêmio Nobel
da Paz em função de seu trabalho pelo
desarmamento na Opaq. Estará disputando o
prêmio com, entre outros, George W.Bush e
Tony Blair.
Fonte: ONG Campa / ONG Ipeam
Marco Aurélio Weissheimer é correspondente
da
Agência Carta Maior em Porto Alegre (gamarra@hotmail.com)