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DERMATOLOGISTA
ESTUDA ACIDENTES
PROVOCADOS POR PEIXES
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Maio de 2003
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Símbolo da
expansão de São Paulo, o rio Tietê
(do tupi-guarani: "rio verdadeiro"), nasce
em Salesópolis e deságua no rio Paraná,
ao oeste do estado e corre em direção
contrária à Serra do Mar, atravessando,
ao longo de seus 390 km, todo o estado. É
neste cenário que se dá o estudo do
médico dermatologista Vidal Haddad, professor
da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade Estadual
de São Paulo (Unesp), campus de Botucatu,
que pesquisou os acidentes provocados por peixes
em colônias de pescadores situadas às
margens do rio. "Essas comunidades podem despertar
o interesse de pesquisadores de diferentes áreas
do conhecimento, não só pela sua localização,
mas principalmente por preservarem seus valores
e tradições durante anos", diz
Haddad, do Departamento de Dermatologia e Radioterapia.
O projeto, que inicialmente visava complementar
o Atlas de Animais Aquáticos Perigosos do
Brasil, escrito por ele e lançado em 2000,
chamou a atenção do professor para
outros aspectos interessantes sobre as comunidades
ribeirinhas visitadas. Auxiliado pelo médico
Euclides Denardi Jr., formado pela FM, ele encontrou
colônias, praticamente esquecidas pelas autoridades,
que mantêm um estilo de vida primitivo e de
baixa qualidade.
As populações ribeirinhas vivem em
função do rio: os homens pescam, as
mulheres limpam os peixes e os idosos exercem atividades
que exigem menos esforço físico, como
tecer redes. "Algumas dessas colônias
conservam características únicas,
preservando hábitos e costumes de cerca de
100 anos atrás. A estabilidade dessas comunidades,
nas quais o ofício é passado de pai
para filho, facilitou a análise das mudanças
da fauna e dos acidentes causados por animais ao
longo do rio", diz Haddad.
O trabalho, realizado em sete colônias com
52 pescadores, mostrou que os principais peixes
causadores de ferimentos variam de acordo com a
região estudada. Nas quatro colônias
iniciais estudadas (localizadas em Anhembi, Botucatu
e Ibitinga), os acidentes são causados principalmente
por mandis. Estes peixes têm ferrão
venenoso e o ferimento causado por eles pode incapacitar
o pescador por cerca de 24 horas.
Vivendo de maneira primitiva, essas colônias
desconhecem algumas medidas simples de prevenção
e tratamento de acidentes ocorridos durante a pesca
e acabam usando alternativas populares. Esfregar
o olho ou o limo da pele do mandi no local, friccionar
pinga ou álcool nos cortes e até urinar
no ferimento são alguns dos métodos
empregados. O tratamento ideal da maioria dos acidentes,
no entanto, é feito apenas com a imersão
do membro afetado em água quente. "Por
meio de prevenção e da informação,
conseguimos reduzir a zero os acidentes com mandis.
Aconselhamos os pescadores a recolher os ferrões
desses peixes, que normalmente são jogados
no chão do barco e dos ancoradouros. Também
explicamos os cuidados necessários para retirar
os animais dos anzóis ou redes", conta
Haddad.
No baixo rio Tietê (a partir de Piraju e Nova
Horizonte), os casos mais freqüentes são
de ferimentos por piranhas. Os pescadores normalmente
são mordidos ao retirar o peixe do anzol
ou das redes, que é o tipo de pesca mais
comum nessas colônias. A instalação
das hidrelétricas causou o represamento das
águas nesse trecho do rio, fazendo com que
a correnteza diminuísse e as águas
ficassem mais calmas. "Isso possibilita a proliferação
de piranhas, corvinas de água doce e acarás",
explica Haddad.
As arraias de água doce, responsáveis
por ferimentos graves causados por ferrões
venenosos, também estão chegando ao
Tietê, vindas do rio Paraná, exatamente
onde se formam regiões alagadas, que atraem
turistas para se banhar. Enquanto isso, escasseiam
os peixes considerados nobres, como os pintados,
dourados e pacus, e os pescadores têm que
se adaptar à falta deles. "Vender 60
filés de acará, que é um peixe
menos nobre, por apenas R$ 1,00, foi uma das alternativas
encontradas por esses pescadores para suprir suas
necessidades", diz o professor.
Fonte: Agência Brasil (www.radiobras.gov.br)
Assessoria de imprensa