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A BILLINGS
E A FLOTAÇÃO
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Setembro de 2003
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Há cerca
de 80 anos atrás um engenheiro canadense
concebeu a idéia de formar um lago artificial
no planalto paulista cuja água poderia ser
lançada serra abaixo onde poderia gerar eletricidade
a baixo custo. Lançando 70 metros cúbicos
por segundo poder-se-ia gerar 800 Megawatts no pico
e 400 MW na média. Surgiu assim o reservatório
Billings e a Usina Hidroelétrica Henry Borden,
uma das mais simples e eficientes do mundo. Os riachos
que alimentam este reservatório tem uma vazão
de aproximadamente 10 metros cúbicos/segundo
(10 m3/s) sendo necessário bombear água
do rio Tietê através do canal do Pinheiros
para acumular toda a água necessária
para que a Usina Borden funcionasse a plena carga.
Isto não era um problema, no passado, quando
a água destes cursos d’água era limpa.
Sem esta água o Reservatório Billings
geraria uma quantidade pequena de energia e, aos
poucos, devido à evaporação
de água e perdas, acabaria por secar. Mesmo
sem gerar regularmente, como ocorre hoje, são
bombeados para ele cerca de outros 10 metros cúbicos
por segundo, em média, durante o ano, do
canal do Pinheiros, para ajudar no combate às
enchentes, na época das enchentes; nesta
época das enchentes este número é
mais de dez vezes maior . A única razão
pela qual durante muitos anos - até 1992
- a Henry Borden foi capaz de gerar energia foi
captando o esgoto que era lançado no Tietê
e Pinheiros, o que agora não é mais
permitido. Cerca de 50 m3/s de esgotos são
lançados nos rios da RMSP. A solução
para o problema é tratar os esgotos antes
de lançá-los “in natura” nos córregos
que acabam no Tietê e Pinheiros. Mas estamos
muito longe disso. Na RMSP, com exceção
da capital, todos os municípios lançam
praticamente todo seu esgoto “in natura” nos reservatórios
Billings e Guarapiranga ou nos riachos que os alimentam,
apesar de terem rede urbana e coletarem boa parte
deles. Dos 50 metros cúbicos por segundo
de esgotos da RMSP, apenas 12 são tratados,
apesar da capacidade de tratamento da SABESP ser
de cerca de 18 metros cúbicos por segundo.
Vários dos Municípios se recusam a
usar a capacidade ociosa de tratamento da SABESP
por considerar caro o serviço prestado por
ela, apesar de coletar de seus habitantes taxas
para este fim. De qualquer forma, mesmo após
grandes investimentos em infra-estrutura, necessários
para a coleta e tratamento da maior parte do esgoto
gerado na região, provavelmente não
atingirão a qualidade exigida para o retorno
do bombeamento ao Reservatório Billings.
Um tratamento complementar, aplicado às águas
superficiais, será necessário. O sistema
de flotação é uma antecipação
da etapa que objetiva a recuperação
da qualidade das águas do Rio Pinheiros de
forma a permitir seu bombeamento para o Reservatório
Billings. Do ponto de vista de engenharia o processo
de flotação é simples e espera-se
que funcione sem maiores problemas. Este sistema
de tratamento de águas abrange a combinação
dos processos físico e químico, por
meio dos quais promove-se a aglutinação
dos sólidos, em suspensão, totais
presentes nas águas poluídas (floculação),
a sua ascensão pela insuflação
de ar na forma de micro-bolhas (flotação)
e a remoção do lodo pela superfície
da água. Esse tipo de sistema é utilizado
em tratamento de águas residuais industriais,
em alguns tipos de tratamento de água para
abastecimento público e, ultimamente, de
forma diferenciada, em tratamento de águas
de rios, utilizando seus leitos como local de tratamento.
Exemplo disso são sistemas já implantados
e em funcionamento nos canais de drenagem na Avenida
Guadalajara e Rua Acre, na praia de Enseada no Guarujá,
no córrego Pedra Azul, afluente do Lago do
Jardim da Aclimação, no córrego
do Sapateiro, afluente do Lago do Ibirapuera e no
próprio canal do Rio Pinheiros (testes em
1998/1999) e, mais recentemente, tratando pequenas
quantidades das águas deste rio para utilização
na rega de plantas do Projeto Pomar. Também,
encontra-se em operação o sistema
de flotação implantado pela SABESP
no córrego Guavirutuba, afluente do Reservatório
Guarapiranga e córrego Pedra Branca no Horto
Florestal. Esse sistema também está
sendo utilizado no tratamento das águas da
Baía de Guanabara para alimentação
do “Piscinão de Ramos”, das águas
do córrego do Carioca no Aterro do Flamengo
e dos rios Ressaca e Sarandi, principais contribuintes
da Lagoa da Pampulha em Belo Horizonte. No tratamento
de esgotos, está sendo utilizado como pós-tratamento
e tratamento terciário na ETE do bairro da
Aclimação em Uberlândia - MG
e em duas ETEs de Brasília, visando a remoção
de fósforo para lançamento no lago
Paranoá. Para que a água tratada seja
lançada na Billings é indispensável
que ela atenda um determinado grau de pureza que
resulta de resoluções do CONAMA e
caberá à CETESB a última palavra
sobre a viabilidade desta utilização
da água. Em qualquer hipótese, contudo,
o canal do Pinheiros será despoluído
e este é o problema imediato que enfrentamos.
A etapa inicial do processo de flotação
processará 10 metros cúbicos por segundo
o que permitirá limpar 10 quilômetros
do Canal do Pinheiros e esta é a etapa que
se pretende testar. Não interessa à
EMAE que opera a usina Henry Borden fazê-lo
com 10 metros cúbicos por segundo. Isto só
seria feito se o sistema funcionasse a contento
e se fosse possível bombear 50 metros cúbicos
por segundo que é o regime em que a usina
funcionava até 1992. O que se trata de fazer,
agora, é verificar se o processo funciona
bem numa escala maior do que a dos sistemas em que
operou até agora. As objeções
técnicas levantadas à realização
desta etapa de testes pelo Ministério Público
dizem respeito aos eventuais riscos ambientais que
resultariam deste teste; a concessão de liminar
pelo Juiz da 13ª Vara da Fazenda pública
foi baseada no “princípio da precaução”.
Ora, este argumento não tem sentido porque
atualmente todos os anos são bombeadas para
a Billings grandes quantidades da água dos
rios “in natura” sem tratamento algum. Estamos,
pois, diante de uma tempestade em copo d’água
que possivelmente tem por objetivo embaraçar
a administração do Estado. O que o
bom senso indica é que a Justiça deveria
permitir o teste do sistema que já foi instalado,
passando-se então a uma escala maior do projeto
como já deseja a EMAE (50 metros cúbicos
por segundo) ou abandonando o projeto, se ele não
se desempenhar satisfatoriamente.
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente
do Estado de São Paulo (www.ambiente.sp.gov.br)
José Goldemberg