 |
FOIRN E
ISA ORGANIZAM OFICINA PARA DEBATER PROGRAMA
REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO INDÍGENA
SUSTENTÁVEL DO RIO NEGRO
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Setembro de 2003
|
 |
Lideranças
indígenas da região do Rio Negro (AM)
e representantes de órgãos governamentais
municipais, estaduais e federais discutem caminhos
para a institucionalização do Programa
Regional de Desenvolvimento Indígena Sustentável
do Rio Negro no plano federal.
Demarcações
pendentes de Terras Indígenas, proteção
e fiscalização das já existentes,
atenção à saúde, educação
escolar, convivência entre índios e
militares, projetos de alternativas econômicas,
de segurança alimentar e de comercialização
de produtos com valor cultural e ambiental agregado.
Estes foram alguns dos assuntos abordados na Primeira
Oficina do Programa Regional de Desenvolvimento
Indígena Sustentável do Rio Negro
(PRDIS-RN), denominada Construindo as Políticas
Públicas através do Programa Regional
de Desenvolvimento Indígena Sustentável
do Rio Negro.
A oficina, realizada entre 26 e 29/08, na maloca
anexa à sede da Federação das
Organizações Indígenas do Rio
Negro (FOIRN), em São Gabriel da Cachoeira
(AM), o contou com cerca de 100 participantes entre
representantes de órgãos do governo
federal, estadual, municipal e de comunidades indígenas
das várias bacias e sub-regiões como:
Alto Rio Negro/ Xié, Médio Uaupés/
Papuri, Baixo Uaupés/ Tiquié, Içana/
Ayari, Baixo Rio Negro e Iauaretê.
O objetivo foi obter respostas dos governos municipal,
estadual e federal integradas e em escala regional
para as demandas indígenas. Organizada pela
Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (Foirn) e pelo Instituto
Socioambiental (ISA) com o apoio do Programa Demonstrativo
dos Povos Indígenas (PDPI), com recursos
do DFID, a oficina foi coordenada por Edilson Melgueiro
e Orlando de Oliveira da Foirn, e por Beto Ricardo,
do Programa Rio Negro do ISA.
Parceiros estratégicos na construção
do PRDIS-RN, Foirn e ISA realizam trabalhos conjuntos
desde a conclusão, em 1997-1998, da demarcação
de cinco terras indígenas na região
do Médio e Alto Rio Negro, levando adiante
vários projetos. Técnicos do ISA,
que trabalham no Programa Rio Negro e no Programa
Política e Direito Socioambiental, em Brasília,
também deram suporte ao evento, fazendo exposições
demonstrativas de seus trabalhos e ajudando a coordenar
a reunião. Entre eles: Aloisio Cabalzar,
antropólogo e assessor; Mauro Lopes, engenheiro
de pesca e Pieter Van der Veld, agrônomo,
que trabalham nos projetos de piscicultura e de
manejo agroflorestal; Marta Azevedo, antropóloga
que coordena o projeto de educação
escolar indígena; Geraldo Andrello, antropólogo
que atua em Iauaretê; Cristiane Lasmar, antropóloga,
que coordena projeto de pesquisa domiciliar na cidade
de São Gabriel da Cachoeira; o advogado Fernando
Baptista, o antropólogo Fernando Fedola Vianna
e a assessora Marília Silva Oliveira, estes
trabalhando no ISA, em Brasília.
Rico material de
apoio
Os participantes
receberam como material de apoio um caderno com
documentos referentes ao PRDIS-RN e ainda exemplares
do mapa-livro Povos Indígenas do Alto e Médio
Rio Negro; do mapa-folder Terras Indígenas
do Alto e Médio Rio Negro; do livro Arte
Baniwa; do número 7 do boletim de Piscicultura
Alto Tiquié; do livro de alfabetização
Baniwa Iemakaa e do livro de histórias Tuyuka
Kiti Wederira Tüohoarira.
A idéia de desenvolver o Programa Regional
de Desenvolvimento Indígena Sustentável
do Rio Negro, inicialmente consolidada num documento
encaminhado pela Foirn à equipe de transição
do governo Lula em novembro de 2002, voltou a ser
debatida em maio deste ano com representantes do
governo do Amazonas.
A oficina, que vinha sendo montada pela Foirn e
pelo ISA desde abril, foi uma oportunidade de receber
em São Gabriel da Cachoeira representantes
de órgãos do governo federal, que
têm responsabilidades em relação
as questões indígenas.
Poder Público
municipal, estadual e federal
Nem todos os convidados
puderam comparecer. O poder público municipal
marcou presença por meio da vice-prefeita
Sulamita Barroso, do secretário de educação
Tadeu Coimbra e dos vereadores Domingos Sávio
Camico Agudelos e Esaú Ambrósio. O
governo estadual enviou uma comitiva composta pelo
secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, Virgílio Viana, seu assessor
Amilton Gadelha, ex-prefeito de São Gabriel
da Cachoeira, pelo secretário da Produção,
Agropecuária, Pesca e Desenvolvimento Rural
Integrado, Luiz Castro e o presidente da Fundação
Estadual de Política Indigenista (Fepi)do
Amazonas, Bonifácio Baniwa.
Do governo federal, vieram representantes de sete
ministérios (Desenvolvimento Agrário,
Educação, Extraordinário de
Segurança Alimentar e Combate à Fome,
Integração Nacional, Justiça,
Meio Ambiente e Saúde), do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República,
da Fundação Nacional do Índio
(Funai), da Fundação Nacional de Saúde
(Funasa), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
da Polícia Federal e do Ministério
Público Federal no Amazonas.
O chefe de gabinete do Ministro da Justiça
(MJ), Sérgio Sérvulo da Cunha, esteve
na abertura dos trabalhos e o Ministro do Desenvolvimento
Agrário, Miguel Rossetto no encerramento.
Sérgio Sérvulo considerou importantes
e inovadoras as discussões propostas pela
oficina. Manifestou-se preocupado, porém,
com a ausência de outros integrantes convidados
dos altos escalões do governo que não
compareceram. Negou a idéia de que o Estado
tenha poderes absolutos e falou sobre a tarefa de
localizar e “apertar os botões certos” na
estrutura estatal para que dela sejam extraídos
os melhores resultados.
Sérvulo colocou-se à disposição
para providenciar os contatos necessários
com outros Ministérios para levar adiante
as propostas da oficina. Como caminho possível
para a institucionalização do PRDIS-RN,
citou o Conselho Nacional de Apoio aos Povos Indígenas,
novo órgão a ser criado, formado por
representantes de vários ministérios.
Miguel Rossetto reafirmou o compromisso de sua equipe
com o plano de oficinas que vem sem elaborado e
conduzido desde o final do governo anterior, objetivando
a construção da chamada “Política
Nacional de Etnodesenvolvimento e Segurança
Alimentar dos Povos Indígenas” (PNESAPI).
As oficinas são realizadas por técnicos
de diferentes órgãos governamentais,
entre eles, da Embrapa, da Funai, da Funasa e dos
ministérios do Desenvolvimento Agrário,
da Educação, do Meio Ambiente e da
Saúde. Até outubro, estão previstas,
ao todo, 19 oficinas regionais.
A oficina do PRDIS-RN originou-se desse plano do
MDA, mas utilizou uma metodologia diferente em relação
às que foram realizadas anteriormente. A
razão é que na região do Rio
Negro, a discussão já estava mais
adiantada e amadurecida. Quando a etapa das oficinas
se encerrar, um seminário nacional deverá
ser realizado em Brasília, em novembro, para
consolidar as informações coletadas
e dar início à institucionalização
da referida “Política Nacional de Etnodesenvolvimento
e Segurança Alimentar dos Povos Indígenas”.
Embora tenha sido rápida a passagem do ministro
Rossetto por São Gabriel, ele ouviu bastante
e fez uma revelação: “Tinha um amigo
que gostava muito de vocês”. Rossetto referia-se
ao antropólogo Jorge Pozzobon, que morreu
em agosto de 2001, ativo colaborador do ISA como
integrante da equipe do Programa Rio Negro. O ministro
foi presenteado com um banco Tukano, esculpido em
madeira, e no caminho para o aeroporto pediu que
a comitiva parasse para que ele pudesse colocar
as mãos nas águas do Rio Negro.
Os representantes do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República
sugeriram um outro caminho de institucionalização,
ou seja, levar as propostas do PRDIS-RN à
recém-criada Câmara de Relações
Exteriores e Defesa Nacional (Creden), do Conselho
de Governo (Decreto nº 4.801, de 06/08/2003).
Eventos paralelos
reforçam os debates
Durante a realização
da Oficina, outros encontros também movimentaram
a agenda indígena em São Gabriel da
Cachoeira. Para o dia 28 estava prevista uma Audiência
Pública destinada a avaliar a situação
da educação escolar indígena
no município, que acabou sendo incorporada
às atividades da Oficina. No dia 29, outra
Audiência Pública, relativa à
sobreposição física entre o
Parque Nacional do Pico da Neblina e a Terra Indígena
Yanomami, ocorreu em paralelo às discussões
na maloca da Foirn. Ainda nesses dois dias, a Escola
Agrotécnica Federal, vinculada à Secretaria
de Educação Média e Tecnológica
do Ministério da Educação,
promoveu um seminário voltado à discussão
da formação profissional na região
do Rio Negro, que também se desenvolveu paralelamente
aos trabalhos da Oficina do PRDIS-RN.
Levando em conta a simultaneidade desses acontecimentos,
assim como a rotatividade dos presentes, que chegaram
e partiram de S. Gabriel em dias diferentes, a organização
da Oficina optou por um formato que se apoiou em
constantes retomadas da idéia central do
evento e permitiu aproveitar as passagens, ainda
que rápidas, de todos os convidados. Essa
decisão foi acertada na reunião de
abertura, na tarde do dia 26, que ainda contou com
uma solenidade composta por danças e cantos
indígenas.
A apresentação geral das propostas
do PRDIS-RN e sessões de trabalho sobre quatro
blocos de temas específicos — Produção
econômica: segurança alimentar, comercialização
e sustentabilidade socioambiental; Gestão
territorial: proteção, fiscalização,
modos de ocupação e meio ambiente;
Educação escolar; e Atenção
à saúde — ocuparam os dias 27 a 29.
Em cada sessão, representantes da Foirn,
das comunidades, do ISA e de outras instituições
atuantes na região fizeram exposições
históricas e sobre projetos em curso. Em
seguida, a palavra era aberta aos presentes que
estivessem dispostos a tecer comentários.
Na tarde do dia 28, uma sessão paralela foi
especialmente organizada para que técnicos
da Embrapa, Funai, Funasa e dos Ministérios
do Desenvolvimento Agrário, do Meio Ambiente,
da Saúde e da Segurança Alimentar
e Combate à Fome ouvissem o que representantes
indígenas tinham a dizer sobre segurança
alimentar na região, de acordo com a metodologia
praticada nas oficinas que visam à elaboração
da PNESAPI. Uma apresentação especial
de projetos desenvolvidos na região foi dedicada
ao Ministro Rossetto, na manhã do dia 29.
Um conjunto de encaminhamentos foi aprovado ao final
do evento, para dar prosseguimento às articulações
com vistas à implementação
do Programa Regional de Desenvolvimento Indígena
Sustentável do Rio Negro.
Os primeiros desdobramentos
Mal terminou a oficina,
o documento que dali se originou, começou
a repercutir nas esferas federais e estaduais. O
Gabinete de Segurança Institucional, interessado
em aprofundar o debate, deu seguimento às
conversas em Brasília. Já o governo
do Amazonas acenou com a perspectiva concreta de
destinar recursos orçamentários do
estado, neste ano e nos seguintes, em favor de iniciativas
do PRDIS-RN. Para tanto, chamou dirigentes da Foirn
e do ISA à Manaus para discutir o assunto.
Fonte: ISA – Instituto Sócio
Ambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de Imprensa