 |
GDM QUER
VER A ILHA DO MARAJÓ (PA)
RECONHECIDA OFICIALMENTE COMO RESERVA DA
BIOSFERA
Panorama Ambiental
Ilha do Marajó (PA) - Brasil
Setembro de 2003
|
 |
Seja-me permitido
manifestar aos Amigos da UFPA as linhas a seguir
e em seus nomes saudar todos os amigos da gente
marajoara, de modo muito especial; para registro
deste dia que certamente entrará para a história
do povo paraense. Momento em que se congregam diversos
cidadãos no interesse comum de valorizar
e defender a magna instituição universitária
da Amazônia e do trópico úmido,
como claro sinal de reafirmação da
sociedade e de maturidade do pacto federativo brasileiro
em nossa região.
Por feliz coincidência, o nascimento desse
importante grêmio-cidadão se dá
ao mesmo tempo em que ocorre a revitalização
do Grupo em Defesa do Marajó (GDM), como
patamar e cumeeira da “Universidade Livre do Marajó”,
a ser brevemente instalada; ao nono ano de formação
do dito grupo em 19 anos de atividades de extensão
universitária, computados dez Encontros em
Defesa do Marajó a partir do campi da UFPA
na ilha do Marajó. Fato expressivo pela circunstância
do GDM – fruto da Extensão da UFPA – em parceria
com a SOPREN, decana das entidades ambientalistas
da região amazônica; ter escolhido
o dia 26 de Agosto para instalação
solene da fase que precede à inauguração
da Unilivre Marajó em cooperação
com o Museu do Marajó, a Associação
dos Municípios do Arquipélago do Marajó
e o Instituto Dalcídio Jurandir, do Rio de
Janeiro.
Como se deve recordar, no próximo dia 26
transcorre o 344º aniversário do acordo
dos povos indígenas do Marajó no rio
Mapuá (Estreitos de Breves), em adesão
ao Estado do Maranhão e Grão-Pará
(Amazônia luso-brasileira), no ano de 1659.
Com que, pela diligência humanitária
e o tirocínio político do padre Antônio
Vieira, delegado d’el-rei de Portugal junto aos
povos indígenas; encerrou-se invencível
bloqueio às embarcações paraenses
em subida ao Amazonas e 36 anos de conflito sangrento
entre as margens opostas do Grão-Pará,
iniciados na expulsão dos concorrentes estrangeiros
nos choques armados do Xingu e Gurupá de
1623.
Fato notável desta magna data da Amazônia
Brasileira é que – rasgada a árdua
paz com sacrifício celebrada no recesso da
floresta no sítio da Igreja do Santo Cristo,
humilhado Vieira com seus missionários, escravizados
os índios – predominou a injustiça
colonial e a violação dos direitos
humanos dos índios. Mas, ainda assim, é
importante lembrar que mal podendo resistir às
injustiças e violências os marajoaras
permaneceram fiéis à sua própria
história. Que, de longa data, demandava um
destino comum sob a constelação do
Cruzeiro do Sul.
A história luso-brasileira poderá
comprovar que, sem a fidelidade dos índios
das Ilhas à terra dos seus antepassados,
a monumental viagem de Pedro Teixeira (1637-1639),
hoje, seria pálida lembrança como
as colônias lusas do extremo-oriente. Significa
dizer que o ato que ora se realiza nesta cidade
não poderia ocorrer jamais, se a histórica
decisão dos Sete Caciques nheengaíbas
contemplasse potência adversa aos portugueses
do Pará, conforme seria lógico nas
circunstâncias. As Cartas do padre Antônio
Vieira a este respeito são explícitas!
E o longo “esquecimento” dessas lições
faz parte das páginas mais tristes do colonialismo
na Amazônia. Em suma, pesa uma grande dívida
sobre a história do Brasil em relação
ao seu Extremo-Norte. O qual, duas vezes em Agosto
(1659 e 1823), optou pela União. Que só
pode ser resgatada pela melhoria significativa do
IDH desta brava gente, remanescente de populações
tradicionais ribeirinhas do Mar Doce.
Por que lembrar isto agora? Para dar conseqüência
histórica à antropologia da Amazônia
em busca de um modelo de desenvolvimento sustentável
endogenamente deliberado. Com vista à continuidade
do tempo amazônico desde suas raízes
pré-colombianas até o futuro da integração
latino-americana.
Confiados ao amparo de uma grande aliança
estratégica em busca do desenvolvimento sustentável
do povo amazônico, animados pelos Amigos da
UFPA proclamamos:
S.O.S Cultura Marajoara
Lago Arari: Patrimônio Natural da Humanidade
Ilha do Marajó: reserva da biosfera 2010
Cordiais saudações,
José Varella
Pereira
pelo comitê organizador da Unilivre Marajó
UNIVERSIDADE LIVRE
DO MARAJÓ
EDUCAÇÃO – CULTURA – TURISMO – CIÊNCIA
– GESTÃO LOCAL
Por que esta invenção
em Marajó?
Uma “universidade
livre”, sob ponto de vista das populações
do Marajó, é o que devemos realizar.
Pode-se referir à Universidade Livre de Berlin
ou à sua homóloga de Bruxelas, mais
antiga. Há outras modalidades com tal designação,
sempre fazendo apelo à independência
e inovação. Acreditamos que na Amazônia
do século XXI muitos voluntários estejam
dispostos a colaborar com entidades não-governamentais
de interesse público a fim de ajudar populações
tradicionais a vencer suas dificuldades de acesso
ao desenvolvimento humano sustentável.
Somos muitos Brasis e diversas Amazônias:
Marajó é destas ecorregiões
que reclamam atenção e cooperação
em reconhecimento da sua história e aos cuidados
especiais que sua natureza deve ter. Por este caminho
podemos chegar a consenso em busca de reconhecimento
internacional com título de patrimônio
natural da humanidade e de reserva da biosfera pelo
organismo multilateral competente, concedendo à
biorregião insular da foz do maior rio do
mundo, meios para beneficiar a sua gente.
Tal deve ser, em resumo, a principal missão
duma “universidade livre” em Marajó, a maior
ilha flúvio-marítima do mundo. Localizada
em estratégico arquipélago, onde mais
de uma vez em séculos passados se jogou o
destino territorial do Brasil. E que, hoje ainda,
encontra restos arqueológicos do maior patrimônio
pré-colombiano das terras baixas da América
do Sul ao léu ao lado da pobreza de populações
tradicionais, do descaminho e da devastação
do meio ambiente. Uma instituição
não-governamental de interesse publico, servindo
de ponte entre governos, empresas e comunidades
locais. Ágil e flexível o bastante
para ultrapassar certas barreiras e antecipar ações
que, mais adiante, irão restar a universidades
e/ou organizações melhor estruturadas.
Mas, em face de tudo isto, se coloca uma questão
crucial: os habitantes das regiões periféricas
serão capazes, por si sós, de sair
do marasmo social e do círculo vicioso da
devastação da natureza? Ou, então,
copiosas doações seriam suficientes
para erradicar seqüelas deixadas pelo colonialismo
outrora? Mais depressa é necessário
formar alianças para confrontar não
apenas a pobreza, mas também o conformismo
e falta de criatividade das sociedades “dirigentes”.
Inclusive, nas mais avançadas das avançadas
sociedades ricas. As quais primam por não
se interessar pelo resto do mundo e acreditam na
lenda do “fim da História”. Diante de tal
desafio, uma escola continuada solidária,
poderia talvez ser capaz de inventar um futuro de
justiça e paz a gregos e troianos.
Para tornar realidade o sonho da Amazônia
é preciso a utopia de amazonizar o Brasil.
Que seria de nosso País sem a Amazônia?
Provavelmente, uma província cisplatina falando
portunhol com sotaque italiano, cuja música
popular seria a guarênia... Mas, quem haveria
de amazonizar o gigante da América do Sul?
Tal qual a Semana de Arte Moderna de 1922, em São
Paulo de Piratininga, que despertou o gigante adormecido.
Poderia ser uma inovadora Universidade transamazônica,
inspirada no Extremo-Norte. Capaz de estar simultaneamente
no Oiapoque e no Chuí. E ainda dar algumas
voltas ao mundo...
Talvez a Amazônia, em si mesma, venha a ser
a parte mais interessante da solução
ecológico-econômica requerida. As florestas
do mundo, tropicais ou não, com os mananciais
de água doce não têm como escapar
ao desperdício e à fome e sede de
lucro de megalópoles enfartadas. Há
extrema necessidade de inventar um modelo urbano
com tal eco planetário, como foi a invenção
de Brasília. Há que ser um invento
brasileiro, todavia com ar exterior como a influência
moderna de Le Corbusier, com ressonância na
Latinidade. Que “mundialize” o urbanismo amazônico
pós-moderno. Cidade-árvore, “natural”,
florestal. Aberta ao meio-ambiente. Porém
fiel à história natural e social da
ecorregião que lhe dá vida. Cidade
utópica como o sonho selvagem dos índios
Tupinambás em demanda da “terra sem mal”.
O conceito desta
cidade amazônica será o de um aquarium
a céu aberto. Onde não podem faltar
idéias de sustentabilidade Inspiradas em
um Eidorfe Moreira, por exemplo. Com o aproveitamento
sócio-econômico dos “igapós”.
Orquidários atraindo abelhas silvestres sem
perigo aos residentes em passeio pelos arredores,
dando aos habitantes puro mel das floradas do mangal.
A medicina popular, longe de ser corrompida pela
usura, seria ponta do desenvolvimento... A aqüicultura
faria manejo científico da fauna aquática.
Mesmo a criação de búfalos
poderia ingressar em nova fase na pecuária
familiar, em parceria com grandes empresas de exportação
a fim de criar emprego e dar mais valia ao campo
e gerar renda a pequenas cidades para atendimento
dos objetivos estratégicos do Programa Fome
Zero.
Uma idéia
na travessia da ilha para terra-firme
Na manhã do
dia 1º de Maio de 2002, uma lancha de passageiros
atravessava a baía do Marajó. A UFPA,
através do prof. Günter Karl Pressler,
do núcleo de pós-graduação
do Centro de Filosofia e Letras; em parceria com
a UNAMA, vinha-se de finalizar em Ponta de Pedras
a última etapa do “Colóquio Dalcídio
Jurandir: 60 Anos de Chove nos campos de Cachoeira”.
Três passageiros convergiram na idéia
de projeto educativo, simples e prático,
que pudesse ser sustentado por organizações
governamentais e não-covernamentais de interesse
comum.
Pensou-se que o processo iniciado poderia ir mais
adiante com núcleos de estudos amazônicos
em cidades brasileiras e países estrangeiros.
Na ocasião do Colóquio, em Cachoeira
do Arari, fora lançada idéia de estudo
sobre o padre Antônio Vieira, precursor dos
Direitos Humanos na Amazônia. Esse pensamento
contemplava amparo ao Museu do Marajó e às
comunidades assistidas pela Diocese de Ponta de
Pedras, que na extensão do GDM constituía
embrião de futura universidade livre.
Sinergia Unilivre
- Museu do Marajó
Pensou-se em começar
usando parcialmente o centro comunitário
de Praia Grande (Ponta de Pedras) em atividades
de fim de semana. Entretanto, o súbito falecimento
de Giovanni Gallo exigiu convocação
extraordinária de seus amigos e colaboradores
para traçar ação emergencial
de amparo ao MdM. Deste modo, o MPEG que vinha sendo
parceiro de primeira linha, prestou socorro na fase
mais crítica após o desaparecimento
do fundador do museu. Nessa disposição,
a futura Unilivre – projetada pelo GDM em parceria
com o círculo dalcidiano (do qual brotaria,
inclusive, o Instituto Dalcídio Jurandir
– IDJ, no Rio de Janeiro) – passou a ser vista como
extensão natural dos mesmos. Todavia, cada
estrutura deveria guardar autonomia, entretanto
conservando sintonia e harmonia de propósito.
Cooperação
Inter-Universitária
A Unilivre poderá
ser instrumento de aliança estratégica
da sociedade marajoara e instituições
de ensino e de difusão do conhecimento científico
e tecnológico. Para isto deve ser organizada
para manter corpo de voluntários capacitados
a articular e intermediar a promoção
do desenvolvimento sustentável das comunidades
tradicionais. O que se desejaria, sobretudo, é
que este espaço cooperativo venha a ser campo
de inovação e experiências multidisciplinares
para o desenvolvimento sustentável na Amazônia
Brasileira.
Ilha do Marajó:
reserva da biosfera
No horizonte do ano
2010, ao término de um processo interativo
de desenvolvimento sustentável, a aliança
estratégica em apreço poderá
alcançar declaração oficial
considerando a Ilha do Marajó reserva da
biosfera, passando antes pelo Lago Arari como patrimônio
da humanidade Hoje isto é uma utopia, tendo
ao longo do caminho além da descrença
obstáculos maiores a ser vencidos com o esclarecimento,
o diálogo e alternativas de desenvolvimento.
Porém, ela é uma utopia factível,
que está ao alcance das nossas mãos.
CRIAÇÃO
DE COOPERATIVA FINANCIADORA DE PROJETOS E DE AJUDA
MÚTUA DE ASSOCIADOS DA UNILIVRE MARAJÓ
Título: Cooperativa
de Crédito da Universidade Livre do Marajó
(EcoBANCO Marajó®).
Cooperativa de Crédito
da Universidade Livre do Marajó (EcoBANCO
Marajó), a ser implantada por associados
da Unilivre Marajó, visa a dar sustentabilidade
financeira própria a projetos sócio-ambientais
promovidos por membros da associação
mantenedora em busca do melhoramento do IDH das
comunidades locais, assim que em benefício
próprio do corpo social da mesma, de acordo
com regimento próprio e disposições
da legislação pertinente..
Objetivos:
I – Organizar fundo
cooperativo com membros da associação
mantenedora da Unilivre Marajó servindo,
inclusive, como cooperativa de crédito dos
associados. Objetivo: sensibilizar pessoas para
realização de projetos de desenvolvimento
sustentável com abordagem cooperativista,
difundir trabalhos multidisciplinares feitos em
grupo, recrutar e mobilizar voluntários para
execução desses projetos.
II – Dar personalidade
jurídica à entidade. Objetivo: estudar
e promover viabilidade econômica de projetos,
assumindo encargos de consultoria, captação
de recursos para financiamento de projetos de proteção
ambiental e combate à pobreza de comunidades
locais conveniadas com a Unilivre Marajó.
III – estimular implantação
de cooperativa central de crédito e instituir
marketing da logomarca da mesma. Objetivos: (a)
amparar entidades cooperativas e associações
comunitárias que façam parte de aliança
de entidades compromissadas com o desenvolvimento
socioambiental e o combate à pobreza: (b)
difundir a cultura regional e buscar meios para
autogestão de comunidades tradicionais portadoras
desta cultura. (c) colaborar com entidades congêneres,
no sentido da formação de uma opinião
pública favorável à participação
popular na administração local, transparência
do serviço público e voluntariado
visando à melhoria de vida das populações
tradicionais, o respeito mútuo às
diferenças, à promoção
de prática leiga ecumênica em um meio
ambiente saudável para ocorrência de
uma sociedade justa e pacífica.
1 – A realidade amazônica:
1.1 Por referência
à ecorregião de Marajó (no
Estado do Pará), com mais de 100 mil km²
de superfície, incluindo parte ribeirinha
continental e arquipélago de 65 mil km².
A ilha do Marajó com cerca de 50 mil km²
é a maior ilha fluvio-marítima do
mundo e se localizada no estuário da maior
bacia hidrográfica do planeta. Esta mesorregião
da Amazônia oriental conta com população
de 400 mil habitantes, aproximadamente. Entretanto,
pode-se estimar em até o dobro a população
originária de municípios marajoaras
que habita a periferia de Belém e Macapá,
em virtude do êxodo rural. Este êxodo
das ilhas do Estuário se soma à migração
das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste
gerando pressão social e ambiental considerável
sobre os recursos naturais da região, de
maneira desequilibrada.
1.2 A questão
ambiental na Amazônia tem, em grande parte,
raiz na espoliação histórica
da população, alienação
cultural, baixo nível de educação
popular e pobreza da maioria de sua população.
O que a torna presa fácil do extrativismo
predador, da violência e da criminalidade.
Muitos responsáveis políticos e formadores
de opinião expressam discurso moralista,
segundo o qual os bons costumes poderiam fazer o
milagre da convivência pacífica entre
pobres e ricos, dentro do respeito às leis
e da ordem pública (naturalmente estabelecidas,
por meios legais aprovados pela democracia representativa,
pelos mais dotados e aquinhoados do poder). Todavia,
o combate às causas do subdesenvolvimento
humano depende de fontes próprias de poupança
e financiamento, além de cooperação
técnica orientada pela Ética da vida
com dignidade, inclusive a de todos os seres humanos.
1.3 Deste modo, cooperativa
de natureza estratégica ao lado da Unilivre
Marajó, embora por si só não
terá jamais um grande impacto econômico,
assim mesmo produzirá efeito pedagógico
demonstrativo de interesse à educação
patrimonial em sentido amplo. Combatendo o egoísmo
social, ineficiência técnica e corrupção
endêmica dentre elementos de agressão
ao meio ambiente e fatores de pauperização
das populações tradicionais.
1.4 Nós falamos
de Marajó, certamente, como uma área-referência
da Amazônia Brasileira entre outras Amazônias
panamazônicas. Mas, poderíamos também
falar do Piauí ou do Sri Lanka (antigo Ceilão,
como a Guiana ex-colônia inglesa; ilha do
sudeste asiático que desbancou a belle époque
da Borracha amazônica, sem jamais os seringueiros
de lá serem mais felizes do que os seringueiros
de cá). Ou do Suriname (para quem tem saudade
do conde de Nassau no Recife) convidado gentilmente
pela Holanda a se tornar independente; como o agente
imperial Greenfell a convencer o governo colonial
do Pará de 15 de agosto a baixar a bandeira
do rei de Portugal e levantar no mesmo mastro a
do herdeiro português imperador do Brasil.
Ou a lembrar o drama da descolonização
do Congo, com seus muitos escravos exportados para
os engenhos de açúcar do Brasil, suas
minas controladas por estrangeiros e madeiras nobres
arrancadas até a raiz; e de outras regiões
exportadoras de matéria-prima e mão-de-obra
barata da grande periferia global...
1.5 O importante
não é fechar às portas à
globalização (o novo nome da velha
e esclerosada Colonização), mas demonstrar
a sua ilusão como caminho único e
inevitável: há outros rios e estradas.
A diversidade cultural é tão importante
quanto a biodiversidade. As duas faces da mesma
moeda vital.
1.6 A condição
do caboclo da Amazônia (como dos demais pobres
do mundo) não é exclusivamente um
problema regional ou local. Está inserida
em contexto mais amplo, fortemente dependente de
condicionamentos nacionais e mundiais. O Brasil
é apontado como campeão da desigualdade
social, mas o mau exemplo vem da péssima
distribuição da riqueza do mundo.
Para entender, basta verificar o sistema mundial
de contas da ONU: Na ponta mais rica do mundo, 20%
da população do planeta consome 80%
da renda mundial; enquanto na ponta mais pobre,
outros 20% não tem mais do que 2% dessa renda...
1.7 A disparidade
destes extremos dispensa comentários. Porém,
60% da humanidade, na faixa média de consumo
total de 18% da renda mundial é donde poderia
vir alguma esperança de inovação
e mudança. A auto-organização
de comunidades locais com sentido ecológico-econômico,
por exemplo, capacitadas a participar de redes produtivas
e alianças estratégicas de alcance
global, indica uma das possíveis alternativas
no sentido de novos paradigmas de qualidade de vida
com baixo nível de consumo de recursos naturais.
1.8 Portanto, uma
cultura da solidariedade – sem renúncia de
interesses particulares legítimos e de diferenças
necessárias ao próprio aperfeiçoamento
da democracia – é a condição
possível do sucesso global para redução
gradual da pobreza e do hiperconsumo, no sentido
da promoção social e da riqueza local,
num verdadeiro modelo de desenvolvimento sustentável,
com base na cultura popular de cada região.
1.9 Não se
trata de requentar a velha ideologia da revolução
ou substituir a Utopia pela politização
do discurso radical da ecologia (fatalmente condenados
ao impasse). Mas, sim de viabilizar uma saída
à sobrevivência de todas as espécies,
inclusive a espécie humana condenada ao paradoxo:
quanto mais poderosa e numerosa, menos humanizada
e menos rica em qualidade de vida... Quer dizer,
é preciso uma Ecologia Humana responsável
e positiva. Na qual, se deve também pensar
localmente e agir globalmente, completando os dois
lados do diálogo mundial.
Fonte: Universidade
Livre do Marajó
José Varella