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WWF-BRASIL
LANÇA CAMPANHA NACIONAL
PELA PROTEÇÃO DAS ÁGUAS
DO PAÍS
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2003
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Uma enorme
cachoeira no coração de Brasília
pede inclusão hídrica
Mudar a visão
da sociedade brasileira para que as pessoas deixem
de considerar a água apenas como um bem a
ser consumido e entendam que ela é suporte
para a vida. Essa é a grande mudança
que o WWF-Brasil quer promover com a Campanha "Água
Para a Vida, Água Para Todos", lançada
hoje em Brasília, no Dia Mundial do Meio
Ambiente.
Uma gigantesca faixa de mais de 30 metros de altura
foi descerrada hoje de manhã na Torre de
TV, ponto central da capital do Brasil, chamando
a população brasileira para participar
desta campanha em defesa das águas.
Uma equipe de rappel fez o descerramento, que terminou
com uma chuva de balões. A faixa traz a imagem
em tamanho real de uma cachoeira, e permanecerá
no local por uma semana. Depois, percorrerá
outras capitais brasileiras.
Em seguida, um ato em frente ao Congresso convocou
deputados e senadores a se engajar na defesa da
água. Ginastas do Centro Integrado de Educação
Física de Brasília, campeão
brasileiro de ginástica rítmica
desportiva, executaram uma coreografia especialmente
criada para o tema da campanha. Ao final, elas penduraram
suas fitas azuis e brancas no balão Panda,
que subiu sobre a Esplanada pedindo água
para vida e
para todos.
Samuel Barrêto, coordenador do Programa Água
Para a Vida, do WWF-Brasil, entregou ao deputado
João Paulo Cunha (PT) um documento contendo
propostas para reverter a degradação
das águas no Brasil e
promover a inclusão hídrica dos mais
de 40 milhões de brasileiros que não
tem acesso a esse direito fundamental à vida.
O documento também propõe que a temática
ambiental seja internalizada nos diversos setores
do Poder Público, a implementação
da Política Nacional de Recursos Hídricos
e a regulamentação e implementação
das leis que garantam a integridade das matas que
protegem e alimentam os mananciais (as fontes de
água que abastecem a população
das cidades) e rios brasileiros, como o Código
Florestal.
"A qualidade da água também depende
das florestas, e vice-versa. Nosso objetivo final
é garantir a integridade dos ecossistemas
aquáticos, a boa condição da
água na natureza, para que ela não
falte a ninguém. Com isso, fica garantido
também o abastecimento das cidades, a produção
de alimentos pela agricultura, o funcionamento das
indústrias", enumera Barrêto.
"A temática ambiental tem que ser vista
como uma vantagem adaptativa que pode promover a
geração de emprego e renda, movimentar
a economia ao mesmo tempo em que assegura um uso
sustentável dos recursos naturais. Não
pode ser mais colocada como um obstáculo
ao desenvolvimento do país", complementa
Barrêto.
A primeira etapa da Campanha, prevista para todo
o Brasil, será realizada nos próximos
cinco meses no Distrito Federal. As ações
planejadas foram norteadas por uma pesquisa realizada
pelo IBOPE a
pedido do WWF-Brasil e um estudo científico
sobre as bacias hidrográficas do Distrito
Federal, ambos divulgados na segunda-feira, 2 de
junho.
De acordo com a pesquisa, cerca de 70% da população
do Distrito Federal reconhece que haverá
problemas de abastecimento de água na região
dentro de dez anos. A maioria se dispõe a
colaborar para evitar os problemas. Porém,
segundo a pesquisa, os moradores das áreas
mais nobres da cidade, com maior renda, maior grau
de escolaridade e mais acesso à informação,
são os mais resistentes a mudar de atitude
e usar a água de forma mais racional.
"A realidade do uso desigual dos recursos hídricos,
excessivo e cheio de desperdícios em alguns
casos, enquanto várias comunidades não
têm acesso adequado à água,
não ocorre apenas em Brasília. A situação
insustentável e de apartheid hídrico
da água na Capital é um autêntico
retrato do que ocorre em todo o Brasil", completou
Barrêto.
No Distrito Federal há ainda uma grande disparidade
de consumo. Nas áreas mais nobres de Brasília,
o consumo chega a ser cinco vezes mais alto do que
os 200 litros diários por habitante que a
Organização das
Nações Unidas considera adequado.
Em outras áreas, fica abaixo da metade do
recomendado.
Ainda, estudo coordenado pelo WWF-Brasil mostrou
que todas as bacias hidrográficas do Distrito
Federal estão em estado de alerta, com sérios
riscos à sua integridade. Concebido para
uma população de 500 mil pessoas,
o Distrito Federal atualmente possui cerca de 2,3
milhões de habitantes. Além da demanda
hídrica maior do que o planejado, áreas
essenciais para a preservação das
bacias hidrográficas foram ocupadas e degradadas.
Isso causará graves problemas de abastecimento
se nada for feito nos próximos anos.
E o que pode
ser feito?
Muito, por cada um
de nós, é o que propõe a Campanha
"Água Para a Vida, Água Para
Todos". Eventos, ações e atividades
vão orientar a população sobre
o que cada um pode fazer para ajudar a conservar
rios, lagos, nascentes e corpos d’água e
usar a água de modo mais racional.
"No caso de Brasília por exemplo, se
cada morador diminuísse um minuto do seu
banho nós pouparíamos água
suficiente para abastecer quase 58 mil pessoas por
um dia", calcula Barrêto.
Não jogar lixo nas ruas - porque ele acaba
nos rios e lagos - e usar vassoura e balde para
lavar a calçada, o quintal e o carro, em
vez da mangueira, são algumas atitudes que
ajudam a conservar a água, principalmente
nos períodos de seca.
Material educativo será distribuído
durante a campanha, como por exemplo adesivos que
ensinam como economizar água, para colar
ao lado das torneiras de casa.
A mobilização da sociedade também
tem fins coletivos. Um deles é pedir acesso
à água potável em casa para
os 40 milhões de brasileiros excluídos
deste direito humano fundamental. Para isso, a campanha
quer cobrar medidas das autoridades mas também
organizar em torno desta causa os diversos setores
da sociedade que podem colaborar. No País
que está se unindo para combater a fome,
o WWF-Brasil quer também Sede Zero.
A Campanha "Água Para a Vida, Água
Para Todos" terá quatro anos de duração.
Ações nacionais vão se intercalar
a etapas temáticas regionais. A expectativa
do WWF-Brasil é que esta campanha seja de
todos
os brasileiros. Ao final, se ela for bem sucedida,
todos sairão ganhando, e gerações
atuais e futuras poderão comemorar.
Alguns dados
sobre a água no Brasil
- Brasil tem muita
água, mas sua distribuição
geográfica é irregular:
Região Norte
- 68%
Região Centro-Oeste - 16%
Região Sul - 7%
Região Sudeste - 6%
Região Nordeste -3%
- Utilização
da água no Brasil:
Setor agrícola (com irrigação)
- 60%
Indústrias - 20%
Abastecimento urbano - 20%
- Total dos domicílios
com abastecimento de água no Brasil:
Território Nacional - 86%
Por região:
Região Sudeste - 94%
Região Sul - 91%
Região Centro-Oeste - 80%
Região Nordeste - 79%
Região Norte - 67%
- Total dos domicílios
com serviços de coleta de esgotos:
Território Nacional - 49%
Por região:
Região Sudeste - 71%
Região Centro-Oeste - 33%
Região Sul - 18%
Região Nordeste - 13%
Região Norte - 2%
· No Brasil
cerca de 40 milhões de pessoas não
têm acesso a água potável.
· 70% das internações hospitalares
no Brasil são provocadas por doenças
transmitidas por água contaminada. Isto gera
um gasto adicional de 2 bilhões de dólares
por ano no sistema de saúde brasileiro.
· Os índices de desperdício
de água no Brasil chegam a 40% devido a problemas
na tubulação e ligações
clandestinas, entre outros.
· desmatamento em áreas de bacia e
as inundações que assolam alguns centros
urbanos do Brasil estão intimamente relacionados.
O desmatamento das encostas causa o "inchamento"
dos rios (devido à perda da capacidade de
retenção da água das chuvas)
que, aliado à impermeabilização
do solo com as construções nas cidades,
provocam as enchentes. Outro fator que pode potencializar
os efeitos das enchentes é o aquecimento
da Terra ocasionado pelas mudanças climáticas.
Para o WWF-Brasil,
alguns dos mais graves problemas relacionados à
água no Brasil são:
· Despejo
doméstico e industrial nos rios.
· Contaminação da água
por fertilizantes e pesticidas agrícolas.
· Erosão do solo devido ao desmatamento
e às práticas incorretas na agricultura.
· Construção de barragens e
hidrovias que não obedecem a critérios
ambientais.
· Contaminação de lençóis
freáticos por lixões e aterros.
· Mineração clandestina.
· Visão das autoridades de que a solução
para as questões hídricas estão
nas obras de engenharia e não na gestão
das bacias hidrográficas, que devem ser tratadas
como um sistema vivo.
O que tem
sido feito em nome da conservação
da água no Brasil?
Em 1997, foi criada
a Lei 9433, que institui a Política Nacional
de Recursos Hídricos prevendo processos participativos
e instrumentos econômicos que promovam uma
utilização mais eficiente deste bem.
- Em 2000, foi criada a Agência Nacional de
Águas (ANA), responsável por implementar
a nova Lei. Ao mesmo tempo estão sendo criados
os Comitês de Bacias, que contam com a participação
dos usuários, da sociedade civil organizada
e do Governo promovendo a discussão e a viabilização
de soluções. Um dos avanços
nesta área, já em fase de implementação,
é a cobrança pelo uso da água,
que obriga uma maior economia do recurso além
de gerar fundos para a sua conservação.
O Programa Água
para a Vida do WWF-Brasil pretende contribuir para
solucionar os problemas com recursos hídricos
no país priorizando as seguintes atividades:
· Fortalecimento
das políticas públicas e instituições
responsáveis pela gestão dos recursos
hídricos.
Assistência técnica aos Comitês
de Bacias.
· Educação ambiental em bacias
hidrográficas prioritárias.
· Desenvolvimento de modelos de funcionamento
de Comitês prioritários enfocando a
participação da sociedade civil, o
uso integrado do solo e a gestão da água.
· Revitalização de rios e planejamento
do uso das bacias hidrográficas.
· Estímulo às práticas
de produção agrícola, pesqueira
e pecuária de baixo impacto.
· Conscientização do grande
público, dos governos e do setor privado
para a questão.
O Programa busca
propiciar a gestão integrada dos recursos
hídricos no país de forma a satisfazer
as diversas demandas da sociedade, ao mesmo tempo
em que assegura a conservação dos
ecossistemas de água doce. Ele age por meio
de parcerias com a Agência Nacional de Águas,
Comitês de Bacias, organizações
da sociedade civil, imprensa e universidades, entre
outros.
Fonte: WWF-Brasil (www.wwf.org.br)
Assessoria de imprensa (Bruno Henrique Marsiaj)