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AMAZÔNIA:
A BUSCA DO DESENVOLVIMENTO SEM DESTRUIÇÃO
Panorama Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Novembro de 2003
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Todo ano
são desmatados 1 milhão e 600 mil
hectares de florestas. Para mudar esta situação,
o governo lança o Programa Amazônia
Sustentável até o fim do ano
São cinco
milhões de quilômetros quadrados para
vinte milhões de habitantes, que dispõem
de um quinto do volume de água doce de todo
o planeta. Sabe-se que pelo menos um terço
das espécies animais e plantas conhecidas
- cerca de 10 milhões de espécies
- vivem lá. Não se sabe quantas plantas
e animais ainda não catalogados serão
descobertas na região. Estamos falando da
floresta amazônica, uma enormidade que age
como guardiã dos ciclos hidrológicos
e das trocas de carbono, promovendo o equilíbrio
do clima no planeta.
Tudo na Amazônia é gigantesco: as riquezas,
mas também os problemas e desafios. Existem
na região 380 mil pequenas propriedades rurais
e seus proprietários, no preparo da terra
para o plantio, acabam derrubando a floresta, deixando
no chão uma fonte de renda que eles mesmos,
muitas vezes, desconhecem e dilapidando o patrimônio
florestal. O índice anual de desmatamento
está estimado em um milhão e seiscentos
mil hectares - o equivalente a um milhão
e seiscentos mil campos de futebol desmatados todos
os anos. A derrubada da mata e as queimadas têm
sido os principais vilões contra a preservação
da floresta amazônica.
Desenvolvimento
sustentável
Gilney Viana, Secretário
de Desenvolvimento Sustentável O grande desafio
da região hoje é como modernizá-la
garantindo que permaneça ambientalmente protegida.
A palavra mágica que tornará possível
a conjugação de crescimento com preservação
é: desenvolvimento sustentável. O
secretário de Desenvolvimento Sustentável
do ministério do Meio Ambiente, Gilney Viana,
diz que a Amazônia não pode se limitar
a exportar produtos primários. “Uma das alternativas
é diversificar a produção com
a incorporação de inovações
tecnológicas e agregação de
valor para abrir caminho para a inserção
no mercado nacional e internacional”, sugere o Secretário.
Alternativa que, segundo ele, deve estar associada
à geração de emprego, melhor
distribuição de renda e redução
dos impactos ambientais, complementa.
Desenvolvimento sustentável significa que
o desenvolvimento da Amazônia e o seu crescimento
econômico devem estar aliados a medidas ecologicamente
viáveis. O essencial é garantir o
uso correto dos recursos naturais para que eles
não se esgotem e possam sempre estar ao lado
do homem na busca pela qualidade de vida.
Amazônia
ocupa 61% do Brasil
A floresta amazônica
brasileira corresponde a um terço das florestas
tropicais do mundo. A Amazônia Legal engloba
os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão,
Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima
e Tocantins numa área de cinco milhões
de quilômetros quadrados, representando 61%
do território brasileiro.
A economia da região é baseada nos
setores terciário e industrial (mineração
de ferro e bauxita e a Zona Franca), pecuária,
extração de madeira e o agronegócios
de exportação, principalmente de soja
e algodão. Em 2000, o PIB era de R$ 73 bilhões,
6,5% do PIB do Brasil.
Amazônia representa 30% das florestas tropicais
do mundo Há décadas, ambientalistas
vêm se unindo a favor do desenvolvimento sustentável
da região amazônica. Eles consideram
que nos últimos anos, o governo adotou políticas
de incentivo que permitiram o avanço principalmente
da atividade agropecuária, causando prejuízos
ao meio ambiente por causa da derrubada de árvores,
sem critério. Eles não poupam críticas
também às atividades de extração
de madeira, à mineração, ao
garimpo e à construção de estradas
e hidrelétricas, o que acabou resultando
em impactos ambientais e prejuízo econômico.
Para Roberto Smeraldi, da organização
não governamental Amigos da Terra, se o País
adota uma estrutura favorável, certamente
há o avanço de atividades que não
consideram a sustentabilidade, como a plantação
de grãos em larga escala. “O aumento do índice
de desmatamento é resultado de políticas,
desenvolvidas nos últimos anos, caracterizadas
pelo incentivo à plantação,
principalmente de soja, como a expansão da
reforma agrária em áreas de fronteira
dando terra e não dando instrumentos e tecnologias”,
critica o ambientalista.
Programa
Amazônia Sustentável
O governo, preocupado
com a preservação da Amazônia,
tem engajado vários ministérios e
órgãos do executivo na discussão
de medidas para o desenvolvimento sustentável
da região. O Programa Amazônia Sustentável
foi lançado em maio pelo presidente Lula
durante o Encontro de Rio Branco. O Programa significa
um grande esforço por parte de cada setor
no sentido de unificar todas as políticas
voltadas para o desenvolvimento da região.
Mary Alegretti, secretária de Coordenação
da Amazônia do Meio Ambiente É uma
medida que está sendo estudada para otimizar
os recursos e as ações. De acordo
com a secretária de Coordenação
da Amazônia do ministério do Meio Ambiente,
Mary Alegretti, praticamente todos os ministérios
e empresas do governo desenvolvem algum tipo de
ação na região, “muitas vezes
de forma conflitivas, desconexas, contraditórias
e redundantes”, afirmou.
Representantes de vários ministérios,
empresas e outros órgãos já
se reuniram para apresentar as ações
e programas previstos no Plano Plurianual (PPA)
para a região. Agora, com a radiografia de
iniciativas e ações na região,
o ministério do Meio Ambiente está
finalizando o Programa Amazônia Sustentável,
que terá uma plataforma onde as ações
de todos os órgãos estarão
combinadas, todas voltadas para o desenvolvimento
da Amazônia. O Plano busca a reorientação
harmônica das ações de governo
a partir da definição de uma estratégia
de governo, e não de setores do governo.
O documento preliminar aponta algumas propostas
de desenvolvimento sem impacto ambiental perseguindo
cinco eixos principais: produção sustentável
com tecnologias avançadas, novo padrão
de financiamento, gestão ambiental e ordenamento
territorial, inclusão social e cidadania,
e infra-estrutura para o desenvolvimento.
De acordo com Vanessa Fleischeresser, uma das técnicas
envolvidas na elaboração do Programa,
o Amazônia Sustentável está
fundamentando sua estratégia na extensão
do território, na identidade cultural, no
potencial e oportunidade para o mundo em termos
de utilização sustentável de
seus recursos naturais e no amplo espaço
potencial de comunicação, de circulação
de informação, de recursos financeiros
e oportunidades de negócio.
Por outro lado, explicou Vanessa, o governo já
sabe que encontrará algumas limitações
como o deficiente sistema de gestão do território,
principalmente no que se refere ao controle das
fronteiras e dos recursos naturais. O documento
preliminar sobre o Programa afirma que apesar do
potencial, a Amazônia apresenta reduzida capacidade
científica e tecnológica instalada,
escassez de infra-estrutura econômica, o que
compromete a integração regional,
além de contar com baixos níveis educacionais,
um grave quadro de desorganização
fundiária, e um crescente e desordenado processo
de urbanização.
Preservar
gerando renda e emprego
O Programa Amazônia
Sustentável está sendo pensado a partir
dessas limitações considerando também
as potencialidades, e nesse sentido o governo encara
o projeto como um caso especial de desenvolvimento.
No documento, o ministério do Meio Ambiente
aponta algumas alternativas para a mudança
no padrão de desenvolvimento na Amazônia.
Considerando o viés do desenvolvimento sustentável,
a extração de madeira, por exemplo,
poderia ser realizada adotando o manejo florestal
certificado. Essa prática permitiria a extração
da madeira para fins econômicos, garantindo,
ao mesmo tempo, a reposição do bem
natural ao meio ambiente.
Da mesma forma com a agropecuária. O modelo
ambientalmente sustentável descarta a ação
dos produtores que utilizam queimadas ou derrubam
árvores para o cultivo e a formação
de pastagem. O documento defende as formas de manejo
e tecnologias desenvolvidas que garantem o uso do
solo preservando a natureza. Uma medida voltada
para a sustentabilidade seria o incentivo a produção
de grãos em áreas já desflorestadas
e aumentar a produtividade.
Na produção familiar, uma alternativa
seria a mudança de padrão tecnológico.
Na questão da infra-estrutura, o padrão
de desenvolvimento considerando a preservação
ambiental poderia ser o investimento em mudanças
na matriz energética e a prioridade para
a navegação, ao invés da abertura
de novas rodovias.
Outros segmentos que podem viabilizar a geração
de renda sem impacto ambiental são o turismo
sustentável, a biotecnologia e a remuneração
dos serviços ambientais, como os Certificados
de Redução de Emissões de Gás
Carbônico.
O uso sustentável dos recursos naturais de
forma planejada poderá resultar na abertura
de oportunidades para o Brasil. Quem sabe, o desenvolvimento
sustentável dará ao País a
visibilidade de grandeza que hoje é real
apenas quando se fala em Amazônia. O governo
deve lançar o Programa Amazônia Sustentável
até outubro.
O governo vai planejar o desenvolvimento sustentável
de outras regiões, além da Amazônia,
como os cerrados, pantanal e caatinga
Da mesma forma que está sendo pensado e planejado
o desenvolvimento sustentável da Amazônia
existem outras regiões e biomas que deverão
receber o mesmo tratamento. De acordo com o diretor
de Programas da Secretaria de Coordenação
da Amazônia do Meio Ambiente, Alberto Lourenço,
a Amazônia foi priorizada a partir da iniciativa
dos governadores dos estados da Amazônia Legal.
“A idéia é implantar novamente o planejamento
regional no Brasil, ouvindo os estados, os setores
e contando sempre com a participação
da sociedade civil”.
Nesse sentido, não faltam desafios como o
de planejar uma ação conjunta de governo
para o desenvolvimento da região centro-sul,
do norte-nordeste ou mesmo partindo de regiões
que têm a mesma característica geográfica,
como a região do Cerrado, do Pantanal ou
da Caatinga.
A caatinga, por exemplo, é o único
bioma exclusivamente brasileiro. Grande parte de
seu patrimônio natural só é
encontrada no nordeste brasileiro. A caatinga engloba
uma área de cerca de 730 mil quilômetros
quadrados, sendo que 31% ainda estão preservadas.
A região abriga as maiores áreas brasileiras
afetadas pela desertificação. Apesar
de se apresentar como um ambiente frágil,
a região apresenta áreas potencialmente
produtivas. A publicação editada pelo
ministério do Meio Ambiente, “Biodiversidade
Brasileira”, aponta alternativas que já foram
ou vem sendo implementadas pelos governos, como
a implantação de políticas
de irrigação, criação
de pólos minerais, a transposição
do São Francisco, a expansão da caprinocultura,
entre outros.
Um grupo de trabalho criado no âmbito do ministério
estudou o bioma, identificou atividades que alteram
a biodiversidade e propôs medidas para o uso
sustentável da região.
As regiões da Caatinga que sofrem mais pressão
estão localizadas no Agreste, ao longo do
Rio São Francisco e em torno da Chapada de
Araripe. Essas regiões enfrentam o dilema:
desenvolvimento versus conservação.
Para especialistas, esse conflito poderá
ser solucionado com a adoção do uso
sustentável dos recursos naturais. A alteração
na caatinga é atribuída à criação
extensiva, não sustentável, de gado
e ao corte de lenha para combustível.
Em relação ao desmatamento e à
retirada de lenha da caatinga, o documento aponta
a adoção de incentivos para o uso
de outras formas de energia como a eólica,
e a energia solar. Para recuperar as áreas
degradadas, uma das alternativas seria a ampliação
da área protegida por Unidades de Conservação
na Caatinga para 10% em 10 anos. O estudo do governo
identificou 82 áreas prioritárias
para a conservação da biodiversidade
da Caatinga, o correspondente a 54% da região.
Entre as áreas de extrema importância
estão o Parque Nacional da Serra da Capivara
e o médio rio são Francisco.
O Parque Nacional possui uma riqueza de espécies
de aves, algumas ameaçadas de extinção,
além de variedade de mamíferos e lagartos.
O desenvolvimento sustentável da caatinga
significa a melhora de qualidade de vida de uma
população sertaneja que tem visto
de perto a perda contínua de seus recursos
naturais.
O Brasil já despertou para a necessidade
de conservar o meio ambiente. Já existe também
a consciência e um entendimento de que não
se pode prescindir do desenvolvimento que gera renda
e divisas. O desafio que começa a ser encarado
pelo governo, iniciando pela Amazônia, constitui-se
também no desafio de cada cidadão
que pode ajudar com gestos que promovam o bem estar
e a proteção de uma riqueza legada
a tão poucos no Planeta.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Cristina Guimarães