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PIRATAS
NA AMAZÔNIA
Panorama Ambiental
Belém (PA) - Brasil
Novembro de 2003
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A bio-pirataria,
a fito-pirataria, a hidro-pirataria,
a geo-pirataria, a eco-pirataria
e a paleo-pirataria (vide definições
neste texto) são práticas contínuas,
altamente lesivas, em uso permanente, na Amazônia,
por estrangeiros, há mais de um século,
através do furto (subtração
sutil e dissimulada de bem valioso), do roubo (subtração
ostensiva e desavergonhada de bem) e do assalto
(roubo de bens valiosos, de forma violenta), de
piratas travestidos de missionários religiosos
ou de simples turistas que permanecem ilegalmente
no País, assentados em diversos rios, igarapés,
montanhas e vales do território amazônico,
em geral próximos a uma aldeia indígena,
furtando, roubando e assaltando bens genéticos,
florestais e minerais preciosos e estratégicos)
em toda a calha amazônica e seus tributários
e sub-tributários.
Vale enfatizar, em sua exuberante e latente contextura
depositária de recursos naturais, entendida
como macro-jazida imensurável de essências
do solo e do subsolo, objetos da ostensiva cobiça
internacional em que, historicamente, se concentra
o “ôlho-grande” e a ambição
desenfreada das super-potências plutocráticas
industriais do norte planetário, carentes
e ávidas de ressuprimento de matéria-prima
para suas indústrias, a Amazônia Brasileira,
como detentora de enorme estoque de essências
bio-hidro-fito-zoo-geo-ecológicas, é
precioso alvo estratégico de tais e quais
países hegemônicos.
“Ôlho-grande” traduzido de ostensivas manifestações
orais pela Mídia, ao longo do Século
XX, por parte dos principais líderes políticos
da Europa e dos Estados Unidos – De Gaulle,
F. Mitterrand, M. Tatcher, N. Gorbashov, John Kennedy,
Bush I, Bush II, R. Reagan... – e das perpetrações
do “Plano Colômbia” e dos assédios
impositivos à base aeroespacial de Alcântara.
A exemplo do Afeganistão, corredor perimetral
terrestre, propício ao escoamento para os
gigantescos, latentes e ambicionados mananciais
de petróleo dos Balcães, a Amazônia
corre o risco de ser invadida, como ocorreu com
o Afeganistão e com o Iraque, este em face
não só do seu patrimônio petrolífero
mas também por causa do grande estoque de
água potável das bacias do Tigre e
do Eufrates, a segunda maior fonte econômica
de exportação iraquiana, no abastecimento
dos seus sedentos vizinhos árabes que trocam
um barril de água pelo equivalente em petróleo.
As diversas modalidades de pirataria na Amazônia
têm as seguintes definições
e características:
BIO-PIRATARIA
– é o furto, roubo ou assalto que têm
como alvo fatores genéticos da floresta,
entendidos como testemunhos vivos, efluentes líquidos,
amostras biológicas e fragmentos botânicos,
inclusive fito-terápicos ou elementos faunísticos
para uso medicinal ou ensaios científicos
ou biogenéticos ilegais, assim, lesando-se
os direitos virtuais de patente e prerrogativas
de domínio soberano próprios da cidadania
genuinamente brasileira e do Estado Nacional.
FITO-PIRATARIA
– furto, roubo ou assalto de produtos silvestres,
dentre madeiras em tora e biomassas em geral (raízes,
folhas, gravetos, seivas, frutos, sementes...),
incluindo plantas fito-terápicas, para manejo
farmacológico ou uso industrial.
HIDRO-PIRATARIA
– apropriação indébita de águas
potável (dos rios cristalinos) ou de lavagem
(dos rios de águas turvas), para o tráfico
ilegal, de contrabando, aos países petroleiros
das Arábias – modalidade criminosa altamente
lesiva aos interesses nacionais e aos recursos hídricos
amazônicos. Navios-tanque de grande tonelagem
sugam as águas cristalinas dos Rios Xingu,
Paru, Tapajós, Trombetas... para vender aos
países petroleiros árabes.
GEO-PIRATARIA
– da simples pedra-cristal e outras semi-preciosas,
ao preciosíssimo diamante, do manganês
e da cassiterita ao ouro ou à prata, ao estratégico
nióbio, à tantalita, ao urânio...
são essências que vêm sendo surrupiadas
permanentemente por piratas alienígenas travestidos
de missionários religiosos e "tutistas"
clandestinos, sem nenhum controle por parte dos
órgãos competentes e das autoridades
constituídas.
ECO-PIRATARIA
– o objeto supremo desta modalidade de roubo das
riquezas amazônicas são os milhares
de sítios paisagísticos e nichos ecológicos
paradisíacos que permeiam toda a bacia amazônica,
incluindo os labirintos hidroviários do Arquipélago
do Marajó, penetrados a partir da Foz do
Amazonas por gigantescos transatlânticos turísticos
da Itália, do Japão, da Austrália,
do Reino Unido, dos Estados Unidos, do Canadá...
Verdadeiros hotéis flutuantes de cinco estrelas
que ficam ancorados no meio do Marajó, servindo
de base ecoturística, de alta qualidade,
para milhares de estrangeiros ludicistas que permanecem
até semanas, a percorrer as adjacências
de tal base clandestina sofisticada, usufruindo
das paisagens e praticando toda sorte de exploração
dos fatores ecoturísticos marajoaras, sem
nenhum contröle dos órgãos governamentais
competentes.
PALEO-PIRATARIA
– é o roubo sutil (furto) de material etno-cultural
e mitológico, usando estratégias injustas
de coleta pela compra “a preços de banana”
ou trocas desiguais (lesivas aos nativos), das tribos
indígenas amazônicas, em geral, de
etnias em cujas aldeias permanecem “Missões”
religiosas estrangeiras (às centenas), as
quais se locupletam inescrupulosamente dos produtos
artesanais dos índios, estocam os artesanatos
em entrepostos de embalagem e despacho ilegal, e
exportam clandestinamente para seus lugares de origem,
nos Estados Unidos, Europa e outras Nações.
Fonte: ONG Campa
Paulo Lucena, é especialista em sociedade
civil, etnólogo, ativista sócio-ambiental
e executivo da OnG CAMPA (Corporação
Associativo-Ambiental Panamazônica) – entidade
ambientalista internacional fundada em 26/06/1972,
na cidade de Quito-EQU. A OnG Campa está
presente na Ilha de Caratateua (Outeiro-Belem) há
10 anos, e é co-autora da proposta de transformação
da Amazônia Brasileira em Reserva da Biosfera,
tendo o Arquipélago do Marajó como
Plano Piloto, proposta que foi aprovada pela Plenária
da I Conferência de Meio Ambiente do Polo
Marajó, dia 08/10/2003, com vistas à
I Conferência Nacional do Meio Ambiente em
fins de novembro/03.