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PROJETOS
DE ALTERNATIVAS ECONÔMICAS INDÍGENAS
SÃO DISCUTIDOS EM LIVRO POR PETER
SCHRÖDER
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2003
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Consultor do Projeto
Integrado de Proteção às Populações
e Terras Indígenas da Amazônia Legal
(PPTAL), o antropólogo analisa as principais
dificuldades envolvendo os projetos de comercialização
na Amazônia Legal e tece sugestões
para superá-los.
Projetos que pretendem viabilizar alternativas de
sustentação econômica entre
os povos indígenas (www.socioambiental.org/website/pib/portugues/indenos/projparc.shtm)
representam uma realidade cada vez mais comum, principalmente
a partir de meados dos anos 1980. De lá pra
cá, o número de iniciativas que envolvem
a participação direta dos índios
tem crescido a passos largos, promovendo até
mesmo uma significativa reorientação
no perfil do movimento indígena organizado,
cujas associações e organizações
se preocupam, cada vez mais, em acessar os recursos
disponibilizados pela rede de cooperação
bilateral, multilateral e de fundos públicos.
O trabalho do antropólogo Peter Schröder,
professor visitante do Programa de Pós-Graduação
em Antropologia da UFPE, traz nova luz acerca do
tema. Economia indígena - situação
atual e problemas relacionados a projetos indígenas
de comercialização na Amazônia
Legal tem como objetivo principal auxiliar àqueles
envolvidos na formulação e implementação
de projetos econômicos junto aos povos indígenas,
apontando as diversas dificuldades e as principais
armadilhas inerentes ao trabalho que envolve a diversidade
sócio-cultural. As reflexões de Schröder
são fundamentadas não apenas na bibliografia
atualmente existente sobre a relação
entre os índios e a atividade econômica,
mas também em sua experiência como
consultor para o PPTAL (Projeto Integrado de Proteção
às Populações e Terras Indígenas
da Amazônia Legal), que opera no âmbito
do PPG7 (Programa Piloto para a Proteção
das Florestas Tropicais).
Schröder faz uma sinopse daquilo que ele denomina
“formas tradicionais contemporâneas” da economia
indígena na Amazônia Legal, em uma
tentativa de trazer para o campo de trabalho as
reflexões que a antropologia tem feito acerca
do tema. Sua argumentação procura
alertar para o fato de que muitos projetos de alternativa
econômica com os índios - mesmo que
bem formulados e conduzidos por profissionais bem
intencionados - têm naufragado, ou atingido
resultados muito aquém daqueles esperados,
em decorrência da ignorância dos agentes
envolvidos acerca da dinâmica cultural dos
grupos indígenas, sua organização
social, sua relação com o trabalho
e com os ciclos sazonais, e assim por diante.
Economia
de mercado
A integração
das economias indígenas na economia de mercado
é um outro foco da atenção
do autor. O avanço das frentes de expansão
da sociedade nacional produz - além das muitas
violências e agressões aos índios,
conforme já nos apresentou a antropologia
brasileira preocupada com o contato interétnico
- novos marcos na maneira pela qual os povos indígenas
articulam suas atividades econômicas. O autor
faz uma breve descrição do impacto
desempenhado pelas várias frentes de extrativismo
vegetal (borracha, castanha-do-pará, madeira
e outros recursos), mineral, e agropecuária
sobre as economias indígenas, e as respostas
que estas sociedades dão a tais atividades.
A atenção principal deste livro, contudo,
é o de analisar as experiências de
projetos com as populações indígenas,
principalmente aquelas voltadas à comercialização.
Esta análise, por sua vez, almeja fundamentar
as recomendações e sugestões
de Schröder acerca da estrutura dos projetos,
a fim de melhorar a sua qualidade e dissipar os
problemas mais freqüentes. As recomendações
são muitas. A título de exemplo, o
autor não recomenda a criação
de projetos indígenas de comercialização
baseados em cooperativas (a não ser aquelas
localizadas em centros urbanos), como não
estimula também a criação de
projetos de pecuária (com exceção
daqueles realizados em zonas de campos nativos).
Nos projetos de comercialização baseados
em arboricultura ou extração vegetal,
o autor sugere mais iniciativas com apicultura e
a fruticultura.
Economia Indígena, publicado pela Editora
Universitária da UFPE, foi lançado
na última reunião anual da SBPC, em
julho deste ano, e constitui uma referência
importante para quem atua junto aos povos indígenas
no esforço de construir alternativas econômicas
viáveis. Ele permite também entender
os critérios e perspectivas que norteiam
ao menos parte dos consultores contratados pelos
organismos de cooperação econômica,
que são responsáveis pelo financiamento
aos vários projetos indígenas.
Fonte: ISA – Instituto Sócio
Ambiental (www.socioambiental.org.br)
Marcos Rufino