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MDL OU MERCADO
DE CARBONO PARA
ATINGIR AS METAS DO PROTOCOLO DE KYOTO
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Outubro de 2003
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Pedro Calado/SMA

Exemplo de Mata Ciliar |
O
aumento dos gases que provocam o efeito
estufa na atmosfera terrestre constitui
uma das grandes preocupações
em todo o mundo. São gases como o
dióxido de carbono (CO2), metano
(CH4) e óxido nitroso (N2O), resultantes
de atividades como: a queima de combustíveis
fósseis em indústrias, usinas
termoelétricas e veículos;
atividades agropecuárias, como a
criação de gado; as emissões
de gás de lixões, aterros
sanitários e estações
de tratamento de esgotos e as evaporações
de substâncias voláteis, como
solventes.
Na Rio 92, com base em um relato sobre os
possíveis impactos do efeito estufa
no sistema global, estabeleceu-se um regime
jurídico internacional para estabilizar
a concentração dos gases,
em todos os países. Conhecida como
Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima - CQNUMC,
depois de ratificada e aprovada recebeu
a adesão de 185 países e até
dos Estados Unidos, embora este tenha declarado,
recentemente, ser contra o Protocolo de
Kyoto. |
Seguindo
os princípios dessa Convenção,
em 1997, foram adotadas metas para reduzir
em 5%, em média, as emissões
de carbono referentes aos níveis
verificados em 11000, as quais estão
definidas no Protocolo de Kyoto (PK).
Esse Protocolo (PK) foi proposto em uma
das Conferências das Partes da Convenção
do Clima. Para entrar em vigor, depende
da ratificação de 55% dos
países do Anexo 1, ou seja, dos países
desenvolvidos que têm metas de redução.
Para perfazer os 55%, a entrada em vigor
do PK ainda está dependendo da adesão
da Rússia, independentemente da ratificação
pelos Estados Unidos. |
O
Protocolo de Kyoto estabelece três
mecanismos que os países signatários
podem utilizar para cumprir seus compromissos:
a Implementação Conjunta,
o Comércio de Emissões e o
MDL -Mecanismos de Desenvolvimento Limpo.
Apenas os dois primeiros podem ser utilizados
pelos países do Anexo 1.
O MDL pode ser utilizado pelos países
do Anexo 1 para compensar suas emissões
por meio de financiamento de projetos nos
países em desenvolvimento - caso
do Brasil - , que resultem na redução
de emissões ou no seqüestro
de carbono.Com relação aos
projetos de fixação de carbono,
conhecidos pela sigla em inglês LULUCF
(Land Use, Land Use Change and Foresty -
Uso do Solo, Mudança no Uso do Solo
e Florestas), já está definido
que para o primeiro período do compromisso
do PK, de 2008 a 2012, somente serão
aceitos os projetos de florestamento e reflorestamento.
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Pedro
Calado/SMA

Helena Carrascosa
"Implementar Projetos MDL para recuperar
Matas Ciliares" |
As
regras para esses projetos que tratam de
questões relacionadas à permanência
do carbono nas florestas, deverão
ser definidas na próxima Conferência
das Partes, a COP 9, que será realizada
em dezembro de 2003, em Milão. O
MDL só existirá de fato quando
o PK estiver em vigor. Contudo, já
existe um mercado de carbono, chamado de
“Kyoto Compliance”, representado pelas transações
entre os interessados em antecipar a compra
de créditos de carbono para cumprir
suas metas de redução. Os
interessados são as empresas e os
países do Anexo 1, e os vendedores
de créditos resultantes de projetos
com perfil para o MDL, implementados em
países em desenvolvimento.
“O que já está ocorrendo é
que mesmo sem que o PK esteja em vigor e
que as regras para os projetos de florestamento
e reflorestamento já estejam definidas,
estão ocorrendo transações
no mercado de carbono, chamado de `No Kyoto
Compliance´”, que existe e vai continuar
existindo, independente do PK entrar em
vigor”, explica Helena Carrascosa, da Secretaria
do Meio Ambiente (SMA).
O principal fundo que já possui recursos
para a compra/venda de créditos de
carbono é o Fundo Protótipo
de Carbono (PCF ou Prototype Carbon Fund),
do Banco Mundial. Esse comércio também
pode ser financiado pelo GEF (Global Environment
Facility), deste mesmo Banco, que trabalha
em parceria com governos nacionais, ONGs
e organizações científicas,
para fornecer concessões a projetos
sobre biodiversidade, mudanças climáticas,
águas internacionais e proteção
à camada de ozônio.
Outros fundos estão em fase de lançamento.
Dentre estes, pode-se citar o Bio Carbon
Fund, para projetos florestais, e o Community
Development Carbon Fund, especializado em
projetos comunitários, ambos do Banco
Mundial. Pode-se citar também o fundo
administrado pela Cooperação
Financeira Internacional (IFC - Netherlands
Carbon Facility), o Future Forests, do Reino
Unido, e a empresa alemã PRIMAKLIMA,
que financia projetos florestais. |
O uso do MDL para financiar programas
da Secretaria do Meio Ambiente
Uma
das tarefas prioritárias da Secretaria
de Estado do Meio Ambiente é formular
um Programa Estadual de Recuperação
de Matas Ciliares. Estudos estimam a existência
de mais de um milhão de hectares de
áreas marginais a cursos d`água
sem vegetação ciliar, e para
recuperar essa área é necessário
produzir, plantar e manter mais de dois bilhões
de mudas.
A histórica falta de recursos para
o plantio de florestas nativas e, em especial,
para a recuperação de matas
ciliares pode agora ser provida, ainda que
parcialmente, pela remuneração
advinda da absorção de carbono
pelas |
Pedro Calado/SMA

Oswaldo Lucon - Coordenador do GT "Potencial
de Seqüestro de Carbono por Matas Ciliares
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florestas
em crescimento. "Precisamos explorar
nosso potencial de formulação
e implementação de projetos
MDL, para recuperar áreas degradadas",
salienta Helena Carrascosa, que também
é coordenadora do Projeto Pomar e do
Grupo de Trabalho encarregado de preparar
o projeto de recuperação de
matas ciliares da SMA.
Alguns requisitos para a aprovação
de projetos e contabilização
de créditos de carbono já estão
definidos, tais como: somente as áreas
que não são consideradas florestais
poderão ser enquadradas em projetos
de florestamento e reflorestamento; os projetos
têm que resultar em redução
ou absorção de emissões
reais e mensuráveis; essas reduções
devem ser adicionais, ou seja, não
ocorreriam sem o projeto; os projetos devem
estar de acordo com os objetivos do desenvolvimento
sustentável do país e devem
contribuir para a conservação
da biodiversidade e para o uso sustentável
dos recursos naturais. |
O
projeto da recuperação e reflorestamento
de zonas ciliares, que se encontram sem vegetação
desde 1989, preenche os requisitos para ser
aprovado para o uso da MDL. As matas ciliares
são importantes para conter a erosão,
garantir a estabilidade da temperatura da
água, barrar pragas e doenças
agrícolas, além de fornecer
abrigo, alimento e água para as diversas
espécies. Têm um papel fundamental
para a conservação da biodiversidade,
pois formam corredores naturais que proporcionam
a conexão de remanescentes de vegetação
nativa, o que facilita o trânsito de
animais e a troca de material genético,
sem os quais não se garante a renovação
natural e a diversidade genética da
flora e fauna.
Esses aspectos promovem o uso adequado dos
recursos naturais e o desenvolvimento sustentável.
Quanto ao aspecto social, a recuperação
das matas ciliares poderá gerar alternativas
de trabalho e renda para pequenos agricultores
em atividades de coleta de sementes, produção
de mudas, e implantação e manutenção
das florestas. A conservação
dessas matas manterá o solo e as águas
protegidos, o que poderá contribuir
para o aumento da produtividade, principalmente
de alimentos, que são requisitos suficientes
para eleger projetos. Quanto ao aspecto econômico,
podemos citar, como exemplo, que nas matas
ciliares podem se cultivar espécies
compatíveis (como essências vegetais)
e outras culturas, como a de abelhas.
"Apesar de não existir um banco
de dados que indique, com precisão,
a quantidade de carbono que as florestas ciliares,
em suas diferentes fisionomias e composições
florísticas, são capazes de
absorver, é certo que seu crescimento
promove a absorção real e mensurável
de gases de efeito estufa, o que torna os
projetos compatíveis com a integridade
da Convenção do Clima e do Protocolo
de Kyoto", explica Carrascosa.
Um projeto piloto da SMA já está
sendo implantado em Sumaré, tendo sido
iniciado com o plantio de 30 mil mudas, de
89 espécies arbóreas diferentes,
com previsão de continuidade do plantio
nesta estação chuvosa. O monitoramento
desse projeto e outros estudos que a SMA pretende
desenvolver devem resultar em dados e conclusões
que reduzam a incerteza de projetos de recuperação
de matas ciliares e favoreçam sua elegibilidade
ao MDL e à comercialização
dos créditos de carbono, instrumentos
importantes para viabilizar o Programa de
Recuperação de Matas Ciliares
no Estado de São Paulo.
Este projeto visa também a aumentar
a escala de produção e a logística
de transporte das mudas, barateando os custos
não compensados com os créditos
de carbono. |
O Projeto
MDL Brasil-Alemanha
Se 4 milhões
de carros na União Européia substituíssem
o uso do MTBE, com a adição de 5%
de álcool na gasolina, haveria um redução
de 3.500.000 toneladas por ano das emissões
de carbono para a atmosfera.
Essa estimativa é feita pela consultora de
meio ambiente, Laura Tetti.
O álcool é um combustível renovável
e na cultura de cana o carbono é absorvido
por fotossíntese. É assim, um excelente
substituto para combustíveis fósseis
e fortíssimo candidato a projetos MDL.
Além disso, o álcool polui menos que
a gasolina e o diesel, o que é um importante
fator para sua penetração em outros
mercados. O Brasil já tem um mercado bastante
desenvolvido e está tentando abrir as portas
dos países desenvolvidos para este combustível.
A Alemanha propôs ao Brasil um projeto para
aumentar em 100 mil o número de carros que
usam álcool puro como combustível.
Esses 100 mil carros evitariam lançar na
atmosfera cerca de 2 milhões de toneladas
de carbono, ao rodarem 10 anos, que é o tempo
da vida útil dos automóveis no Brasil,
sendo que a Alemanha teria créditos de carbono
para cumprir seus compromissos com o Protocolo de
Kyoto ou com a União Européia.
O Brasil produz 13 bilhões de litros de etanol
por ano, atualmente.
Com a introdução desses 100 mil carros
movidos a álcool, essa produção
aumentaria cerca de 500 milhões de litros/ano.
Esse aumento na produção de álcool
acarretaria em 20 mil empregos diretos, com uma
remuneração média de US$ 200
e 60 mil empregos indiretos.
Está previsto no projeto também que
os consumidores terão R$ 1.000,00 de desconto
na compra do carro e as montadoras serão
compensadas pelo desconto dado com a redução
do IPI. Esse programa já foi aprovado pelo
Congresso Nacional, no ano passado.
Segundo José Goldemberg, secretário
estadual do Meio Ambiente, "vender mais automóveis
nos dias de hoje, sobretudo automóveis `verdes´,
ajudaria a ativar a economia e expandir o uso do
álcool através de um exemplo concreto,
que caracteriza o Brasil como um grande parceiro
para a redução das emissões
de carbono
“Além disso, a frota adicional de veículos
a álcool estimularia os donos de postos a
não desativarem suas bombas até que
os veículos bi-combustível (flex-fuel)
estejam consolidados em nossa frota. Com o declínio
na venda dos carros a álcool (mesmo com o
crescimento na venda de etanol adicionado à
gasolina), há um risco de perda da infra-estrutura
nos postos de combustível. Levaram muitos
anos para o Brasil possuir bombas de álcool
nos postos e não podemos perder essa infra-estrutura”,
diz Oswaldo Lucon, coordenador do Grupo de Trabalho
para estudar o potencial de “Seqüestro de Carbono
por Matas Ciliares”, da SMA.
Fonte: Secretaria Estadual de Meio
Ambiente de São Paulo (www.ambiente.sp.gov.br)
Assessoria de imprensa (Renata Egydio)
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