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IPEN BUSCA
FONTES ALTERNATIVAS
DE GERAÇÃO DE ENERGIA
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2003
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A busca por processos
de desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente
é, hoje, o grande desafio tecnológico
no mundo. Com essa visão, pesquisadores do
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
(Ipen), em São Paulo, implantam um projeto
que visa ao estudo e o incrementamento tecnológico
de células de combustível para a produção
de eletricidade, como forma de buscar fontes alternativas
de geração de energia não poluente
e que sejam renováveis. No Ipen são
estudadas duas concepções, as de baixas
temperaturas - células de membranas poliméricas
(PEMFC) e as de alta temperatura - células
de eletrólito de óxido sólido
(SOFC).
Um dos aspectos desse projeto é a investigação
do uso da mistura etanol/vapor de água como
um combustível alternativo para as células
de combustível que operam em altas temperaturas,
as chamadas SOFC (solid oxide fuel cell) .“O grande
atrativo de se desenvolver essas células
de SOFC, está na possibilidade de geração
locais de energia elétrica sempre que houver
necessidade”, explica a engenheira de materiais
Sônia Mello.
“Em todo o mundo, as atenções dos
centros de pesquisas e de muitas indústrias,
estão voltadas a solucionar questões
que envolvem tanto os materiais como também
os processos de fabricação e projeto
das SOFC. Dentro do Ipen, um grupo de pesquisa,
do qual participo, desenvolve os materiais que compõe
tanto o núcleo (conjuntos de anodos, eletrólitos
e cátodos), como os interconectores e selantes
utilizados nas células a combustível
de SOFC. Constitui como uma das metas deste projeto,
o domínio de tecnologias e processamentos
dos materiais voltados para a fabricação
destes componentes. Também convém
destacar o uso de matérias-primas nacionais
nestas tecnologias emergentes”, comenta Sônia
Mello.
As células a combustíveis de óxidos
sólidos operam em maior temperatura (próximo
de 1000°C) e são capazes de gerar energia
elétrica da ordem de kilo-watts a mega-watts
de potência. Esta alta eficiência na
geração de energia faz com que esta
concepção apresente grande potencial,
para ser utilizada no caso de falha no abastecimento
de energia pela rede elétrica, por exemplo,
em locais onde a energia é imprescindível,
como nos hospitais.
Análoga a uma pilha, a energia elétrica
de uma célula a combustível é
gerada a partir de uma reação eletroquímica,
ou seja, a energia liberada pela reação
química é convertida diretamente em
energia elétrica. Entretanto, a principal
diferença, que constitui numa grande vantagem,
já que no caso da célula a combustível,
a produção de energia ocorre sempre
que está é alimentada com combustível
que pode ser o gás hidrogênio, monóxido
de oxigênio, metanol, etanol ou até
gás natural. “Atualmente, é considerada
uma das formas mais limpas de geração
de energia elétrica, pois os produtos destas
reações são água e calor
e, em alguns casos dióxido de carbono”, explica
a pesquisadora.
O processo de reação dessa célula
é feito por meio do combustível, que
é alimentado do lado do anodo - por exemplo
o hidrogênio (H²). Do lado do catodo
é introduzido o oxidante, no caso o oxigênio
(O²). Num eletrólito condutor iônico
(ex. zirconia), o oxigênio na forma de íon
(O=), se difunde no sentido catodo-eletrólito-anodo.
Ao entrar em contado com o hidrogênio na interface
eletrólito/anodo, eles reagem entre si formando
água e liberando dois elétrons por
cada molécula de água formada: H²+
½ O² ž H²O + 2 e-. Estes elétrons
são recolhidos por um condutor elétrico
transformando diretamente parte da energia de reação
em eletricidade.
Segunda a engenheira, da mesma forma que a célula
de combustível apresenta várias possibilidades
de aplicação, que a coloca em uma
das concepções mais atrativas ao mercado
energético, com particular destaque para
a geração de energia distribuída,
esta concepção ainda necessita de
muitos desenvolvimentos, direcionados principalmente
à garantia de longevidade das células
às condições extremas (ambiente
e temperatura) a que são submetidos os materiais
que as constituem.
“Muitas pesquisas têm sido centradas em estocagem
e transporte de combustível, principalmente
de hidrogênio, que pode ser estocado tanto
em cilindros de alta resistência ao impacto
quanto em materiais sólidos – hidretos metálicos.
Alguns hidretos têm potencial para armazenar
inclusive maior volume de gás que o próprio
cilindro de mesmo volume aparente. Por outro lado
a co-geração permite se utilizar o
combustível como o gás natural, o
etanol ou metanol diretamente na célula a
combustível, produzindo o hidrogênio
ou o monóxido de carbono necessário
para a reação com o oxigênio
e formar a água”, diz Sônia.
Como a célula de alta temperatura apresenta
possibilidade de produzir um potencial elétrico
bastante elevado, é particularmente indicada
para ser utilizada em lugares afastados dos grandes
centros, como o sertão nordestino ou pequenas
comunidades da Amazônia, aonde é difícil
o acesso a rede elétrica, já que ela
não depende de nenhum outro sistema de abastecimento
elétrico. “Mas para isso acontecer, tudo
dependerá da concepção de fornecimento.
Acredito que o mais econômico seria a produção
próxima ao local de consumo, por exemplo,
na atividade agrícola, a partir da biomassa.
Ou utilizar outros meios de transporte como conteiners
por via fluvial ou rodoviária, sem as perdas
de energia como ocorrem hoje pelos cabos de transmissão”,
acrescenta.
“Numa utilização mais ampla, os grandes
centros poderão se beneficiar desse projeto,
gerarando energia elétrica local, ou seja,
em suas casas, fábricas, escolas. Economizando
os custos de transporte e perdas de energia trazidas
de grandes distâncias e ainda disponibilizarão
em rede, o excedente de energia não utilizado”,
complementa a pesquisadora. Sônia Mello diz
que a possibilidade da instalação
desta tecnologia na geração de energia
nas cidades, ainda está um tanto longe. “Mas
se houver, acredito que a instalação
se dará no caso de energia distribuída,
em conjunto com as distribuidoras de energia elétrica”.
De acordo com ela, até o momento, todas as
previsões de comercialização
em termos mundiais desta célula não
foram cumpridas, confirmando que muitas questões
tecnológicas ainda aguardam respostas. Numa
posição mais conservadora o relatório
anual do National Laboratory (Riso), da Dinamarca,
prevê mais oito anos de pesquisa até
a total comercialização deste tipo
de célula a combustível.
As células a combustível podem ser
definidas como dispositivos eletroquímicos
em que a energia química de um combustível
é convertida diretamente em eletricidade.
O princípio de funcionamento de uma célula
de combustível é semelhante ao de
uma bateria. Estas células utilizam o hidrogênio
e oxigênio para produzir energia elétrica,
e têm como sub produto apenas calor e água.
As células de baixa temperatura são
ideais para aplicações móveis,
como os automóveis, e as de alta temperatura,
responsáveis pelo abastecimento de energia
em residência, hospitais e indústrias.
“A diferença entre baixa e alta temperatura
está, como o nome diz, na temperatura de
operação e, conseqüentemente,
no potencial de geração de energia
de cada unidade. A de baixa temperatura utiliza
como eletrólito uma membrana polimérica
(PEMFC – polymeric electrolyte membrane fuel cell)
que opera entre 80 a 100ºC, gerando, a veicular,
cerca de 50 KW. A de alta temperatura, constituída
de materiais cerâmicos, opera entre a temperatura
de 800 a 1000ºC, permitindo a geração
de energia até da ordem de KW a MW de potência.
O calor gerado permite a co-geração
de energia integrando a reforma do combustível
acoplado à célula”, explica Sônia.
O conceito de célula a combustível
existe há mais de 150 anos e sua paternidade
é atribuída William Grove. Ele teve
a idéia durante seus experimentos sobre eletrólise
da água, quando imaginou como seria o processo
inverso, ou seja, reagir hidrogênio com oxigênio
para gerar eletricidade. Mas só em 1839,
que o termo célula a combustível,
foi criado por Ludwing Mond e Charles Langer.
A primeira célula bem sucedida foi desenvolvida
pelo engenheiro Francis Bacon, em 1932. Problemas
técnicos adiaram sua concretização
até 1959, quando Hary Karl Ihrig obteve sucesso
com seu experimento. No final dos anos 50, a agência
espacial norte-americana, Nasa, precisou trabalhar
com geradores de eletricidade para missões
espaciais. O projeto Apollo e as missões
espaciais Shuttle fizeram uso das células.
Fonte: Agência Brasil (www.radiobras.gov.br)
(Camila Cotta)