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CIRO GOMES
NÃO COMPARECE À AUDIÊNCIA
SOBRE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
PARA A AMAZÔNIA
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Outubro de 2003
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Responsável
pela coordenação do programa, o ministro
da Integração Nacional não
se apresentou na Subcomissão da Amazônia
do Senado Federal ontem pela manhã alegando
que a elaboração do plano ainda não
foi concluída. Parlamentares interessados
em discuti-lo ainda durante a sua construção
convocaram uma nova audiência pública
para a próxima semana. Também aproveitaram
para expor preocupações com o avanço
da soja na região.
O ministro de Integração
Nacional, Ciro Gomes, participaria ontem (14/10),
a partir das 11 horas, de uma audiência pública
sobre o Programa de Desenvolvimento Sustentável
para a Amazônia, na Subcomissão da
Amazônia da Comissão de Relações
Exteriores, informava com destaque o site do Senado
Federal. Já a homepage do Ministério
da Integração Nacional (MIN) anunciava
que na terça-feira de manhã Ciro Gomes
estaria envolvido com despachos administrativos
em seu gabinete.
O documento enviado pelo MIN justificando o não
comparecimento do ministro à audiência,
sob a alegação de que o Programa de
Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia
(PAS) ainda não foi concluído, foi
lido pelo presidente da subcomissão da Amazônia
do Senado Federal, Jefferson Péres (PDT/AM),
aparentemente descontente.
A justificativa também não foi bem
acolhida pelo senador João Capiberibe, autor
do requerimento para a realização
da audiência pública juntamente com
Mozarildo Cavalcanti (PPS/RR). Capiberibe defendeu
a abertura de um maior espaço político
no governo para a discussão e recolhimento
de sugestões para o programa com os parlamentares,
especialmente entre os que acumulam conhecimento
sobre a região, como é o seu caso,
que governou o Amapá por dois mandatos consecutivos
tendo como bússola um programa de desenvolvimento
sustentável específico para o Estado.
“Queremos saber o que Plano de Desenvolvimento Sustentável
prevê para a Amazônia, qual o modelo
de desenvolvimento indica, o que prevê em
termos de Terras Indígenas (TIs), quais fontes
de recursos deverão ser usadas, e o será
feito em termos de infra-estrutura”, afirmou Péres.
Para o senador Capiberibe, é necessário
que o PAS considere o uso correto da biodiversidade,
a melhoria da qualidade de vida das população
locais e defina com clareza um grande programa de
manejo florestal sustentável, com adensamento
da cadeia produtiva de produtos madeireiros e não-madeireiros.
“Não é uma visão da preservação
que define o nosso debate, é a da racionalidade
do uso dos recursos, de desenvolver a cadeia produtiva
a partir de conhecimento técnico-científico.
A tecnologia do manejo florestal sustentável
é recente na Amazônia, e os investimentos
públicos para essa área foram pouquíssimos.”
O senador fez questão de relembrar que durante
visita a Rio Branco para anunciar o PAS, o ministro
do Planejamento, Guido Mantega, se atrapalhou na
hora de citar os nomes de municípios amazônicos.
“Era a primeira vez que um ministro do Planejamento
ia à região, pois esse Brasil sempre
foi governado pela metade. E não é
no nosso governo que isso vai continuar. Nós
queremos participar do governo e participar com
idéias concretas.”
Apesar da opinião divergente de Mozarildo
Cavalcanti, que pertence ao mesmo partido de Ciro
Gomes e defendeu uma audiência conjunta sobre
o tema, em meados de novembro, com a presença
do ministro da Integração Nacional
e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ficou
decidido que o ministro de Integração
Nacional será convidado novamente a comparecer
no Senado para falar sobre o PAS na próxima
terça-feira (21/10), sem que seja desconsiderada
a realização de um debate com Marina
Silva no próximo mês.
O termo de cooperação para elaboração
e implementação do PAS foi firmado
entre o governo federal e os governos estaduais
no dia 9/5, em Rio Branco (AC), e sua versão
final seria enviada ao presidente Lula no dia 9/8.
Houve atraso no cronograma inicialmente previsto,
a versão final não foi concluída,
e ainda é aguardado o momento em que será
debatido com a sociedade civil, como havia sido
anunciado.
Avanço da
soja na Amazônia
A preocupação
com o avanço da soja na Amazônia também
foi abordada pelos parlamentares. “Não é
racional sob o ponto de vista ambiental, e nem mesmo
econômico, substituir um hectare de mata primária
por um hectare de soja”, afirmou Péres, que
relatou o aumento de desmatamento no Sul do Amazonas
em decorrência da expansão do grão
na região, já alertado no relatório
O PPA 2004-2007 na Amazônia: Novas Tendências
de Investimentos em Infra-Estrutura, produzido pelo
Grupo de Assessoria Internacional (IAG) do Programa
Piloto de Proteção das Florestas Tropicais
do Brasil (PPG-7) e entregue à secretária
de Coordenação da Amazônia do
Ministério do Meio Ambiente, Mary Allegretti,
no início de agosto.
Para Capiberibe, o avanço da monocultura
da soja na Amazônia representa a repetição
de um modelo colonial agricultura. Além dos
fatores ambientais, outros questionamentos relacionados
à soja na Amazônia são socioeconômicos,
como provocar a concentração de terras,
gerar poucos empregos e expulsar agricultores familiares
de suas áreas. “Não é que nós
sejamos contra a soja. O problema é que só
tem programa, só tem crédito, só
tem pesquisa para a soja. Nós queremos para
o açaí, para o cupuaçu, para
a castanha, enfim, para a floresta.”
A subcomissão também aprovou um requerimento
para a realização de uma audiência
pública com o ex-presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai) Eduardo Almeida,
para que esclareça as denúncias sobre
a existência de máfias no órgão
indigenista, apresentadas por ele recentemente na
Câmara dos Deputados.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)