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DEPUTADO
ESTADUAL PEDRO SATÉLITE (PPS) CRIA
CLIMA HOSTIL A AÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL NO NORTE DO MT
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Outubro de 2003
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Raimunda Nonata,
diretora do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA),
foi mantida em cárcere privado em Guarantã
do Norte, na última terça-feira, até
a assinatura pelo prefeito Lutero Siqueira (PMDB)
de um documento se comprometendo a cancelar o processo
de criação de duas Unidades de Conservação
municipais. Acusado de estar envolvido no caso,
o parlamentar lançou em seguida proposta
de criação de uma CPI contra as ONGs
que atuam no Estado.
Gustavo Trindade,
consultor jurídico do Ministério do
Meio Ambiente, estará em Cuiabá nesta
semana, para entregar ao Ministério Público
estadual as informações recolhidas
e solicitar que sejam tomadas as medidas necessárias
para imputar criminalmente as pessoas envolvidas
no incidente ocorrido em Guarantã do Norte
- 725 quilômetros ao Norte de Cuiabá
-, na última terça-feira (7/10), envolvendo
a diretora do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA)
do Ministério do Meio Ambiente.
Interessado em estimular a diversificação
das atividades agropecuárias do município,
hoje concentradas na pecuária e na rizicultura,
o prefeito de Guarantã do Norte, Lutero Siqueira
(PMDB), pretende reproduzir na região o Projeto
Vida Rural, desenvolvido em Santa Catarina pelo
Sebrae, abrangendo não só a produção
agroecológica, mas atividades de capacitação,
turismo, agroindustrialização, suporte
financeiro e organização fundiária.
Para ampliar a discussão sobre o tema, convidou
Raimunda Nonato - diretora do fundo responsável
desde 1989 pelo financiamento de mais de 900 projetos,
entre os quais os de manejo sustentável da
flora e da fauna e de uso sustentável dos
recursos pesqueiros -, para proferir uma palestra
sobre as experiências de produção
agrícola que adotam critérios de sustentabilidade
existentes no país na Câmara Municipal.
Assim que chegou à cidade, a diretora do
FNMA percebeu que o clima era de hostilidade à
sua presença, equivocadamente vinculada à
criação de duas Unidades de Conservação
(UCs) municipais - um parque e uma Área de
Proteção Ambiental (APA), localizadas
a 28 quilômetros da sede de Guarantã
do Norte.
A proposta de Lutero Siqueira, que começou
a ser discutida com a população no
fim de setembro, como previsto pelo Sistema Nacional
de Unidades de Conservação (SNUC),
tem sido manipulada por opositores políticos
do prefeito, que a definem como uma ameaça
à sobrevivência dos moradores dessas
áreas, cerca de 340 famílias, 20 delas
vivem no parque e 320 na APA - categoria de UC que
não restringe a ocupação humana,
sendo voltada apenas a discipliná-la para
assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos
naturais - mais informações sobre
as UCs abaixo.
De acordo com o secretário de Agricultura
e Meio Ambiente de Guarantã do Norte, Norival
Augusto dos Santos, no dia seguinte à realização
da primeira consulta pública sobre a criação
das UCs, em 24/9, foi constituída uma comissão
com moradores da área do parque municipal
e da APA, que se encarregariam de discutir o tema
com os demais membros das comunidades; esses, entretanto,
estariam manipulando as informações
repassadas.
Truculência
e desinformação
Segundo relato de
Josana Salles, jornalista do Instituto Centro de
Vida (ICV) que presenciou o incidente, cerca de
300 pessoas, lideradas pelo assessor do deputado
estadual Pedro Satélite (PPS), Agnaldo Miranda,
diziam palavras de ordem em um carro de som contra
o prefeito e a diretora do FNMA, alegando que sua
presença representava uma ameaça ao
direito de terra dos colonos onde seriam criadas
as Unidades de Conservação.
“O deputado Pedro Satélite me ligou agora
e me mandou um recado. A Associação
do Vale do 15 - localizada na área do parque
- não pode aceitar a proposta da reserva.
Esse prefeito quer tirar todo mundo de suas terras.
Vamos ver se eles vão ter coragem de nos
enfrentar e falar de parque”, teria afirmado Miranda.
Apesar da tensão
criada, Raimunda havia decidido cumprir sua agenda,
mas a caminho da Câmara Municipal foi aconselhada
a recuar, pois haviam oito pessoas armadas no local.
Pior do que o cancelamento do evento, foi a cilada
criada pelos manifestantes para a diretora do FNMA,
que acabou sendo mantida em cárcere privado
em Guarantã do Norte por 16 pessoas, entre
as quais, Paulo Fernando Torezan, da diretoria da
Associação dos Madeireiros e Pecuaristas
de Guarantã do Norte; a vereadora Maria de
Lourdes Lopes Silva (PSD); e o vereador Marcelo
Medeiros de Lima (PPS), por mais de cinco horas,
até que o prefeito assinasse um documento,
reconhecido em cartório, suspendendo a criação
das Unidades de Conservação. O documento
não tem validade jurídica, uma vez
que Lutero foi coagido a assiná-lo.
“Não esperava que minha cidade pudesse dar
essa demonstração de truculência
e de um Mato Grosso que já foi capa de revistas
e jornais, retratado como um local onde não
há direitos e leis”, afirmou Lutero ao ICV.
Parque visto como
ameaça e CPI contra ONGs
Na quinta-feira (9/10),
o deputado estadual Pedro Satélite rebateu
as acusações ao seu assessor no site
da Assembléia Legislativa do Mato Grosso,
afirmando não ter havido seqüestro,
mas uma manifestação pacífica.
Para Satélite, “um novo parque na região
ameaçaria o desenvolvimento de vários
assentamentos de produtores rurais autorizados pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) e pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra)”.
De acordo com a Secretaria de Imprensa da Assembléia
Legislativa do Mato Grosso, o deputado teria dito
que “não é contra a criação
de parques de preservação ambiental,
desde que eles sejam construídos em lugares
que ainda não existem”. A afirmação,
ininteligível, revela a total falta de compreensão
em relação ao assunto.
No mesmo dia, Satélite propôs a criação
de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) para apurar a origem dos recursos financeiros
destinados a ONGs que atuam no Mato Grosso e estão
tentando impedir a conclusão da pavimentação
da BR-163.
Embora generalizando as ONGs, sem nomeá-las,
o deputado refere-se a uma articulação
que está sendo construída por diversas
instituições, entre as quais o Instituto
Socioambiental (ISA) e o Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia (Ipam), em parceria com organizações
locais, não para barrar a conclusão
do asfaltamento da Rodovia Cuiabá-Santarém,
mas para discutir e propor medidas para o ordenamento
territorial e políticas públicas para
a proteção ambiental e o apoio às
demandas das populações menos favorecidas
que vivem ao longo da estrada, como índios,
extrativistas e agricultores familiares.
As (polêmicas)
novas UCs de Guarantã do Norte
O parque municipal
seria estabelecido no último fragmento florestal
significativo do município, em uma área
de transição entre o Cerrado e a Floresta
Amazônica, no sul da Serra do Cachimbo, na
divisa entre o Mato Grosso e o Pará. Estaria
localizado na margem direita da BR-163, em uma área
34 mil hectares, dos quais apenas três mil
ocupados com benfeitorias, que seriam devidamente
desapropriadas, e protegeria as nascentes dos rios
Braço Norte e Braço Sul, que abastecem
a região. A APA, que totalizaria 44 mil hectares,
funcionaria como uma zona de amortecimento para
o parque municipal, reforçando a proteção
das nascentes. A maior parte dos habitantes da APA
faz parte de um dos muitos projetos de colonização
criado pelo Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) na região
no fim da década de 70. “Nossa proposta é
de apenas proteger as águas da região.
Nossos rios estão secando, e o gado bebe
lama. O interesse é proteger essas áreas,
que são a sobrevivência da agricultura
familiar, baseada em atividades sustentáveis”,
afirmou Lutero.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)