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LESTER BROWN
PARTICIPA DE MESA REDONDA SOBRE
A ECO-ECONOMIA PARA UM MUNDO SUSTENTÁVEL
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Julho de 2003
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Em um evento promovido
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), o
fundador das organizações norte-americanas
World Watch Institute (WWI) e Earth Policy Institute
(EPI), considerado um dos mais influentes pensadores
sobre a questão ambiental, falou sobre o
tema abordado em seu 27º livro, que acaba de
ganhar versão digital em português.
A
publicação lançada em
novembro de 2001 nos Estados Unidos encontra-se
agora disponível para download gratuito
no site da Universidade Livre da Mata Atlântica.
Após palestra realizada em São
Paulo no início desta semana, Brown
compartilhou no dia 17/07 o conteúdo
do livro em uma mesa-redonda composta também
pelo secretário executivo do MMA, Cláudio
Langone, pelo secretário da Biodiversidade
e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco,
pelo ministro da Educação, Cristovam
Buarque, pelo presidente do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE),
Eduardo Pereira Nunes, e pelo coordenador
de estudos de Regulação Econômica
e Ambiental do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), Ronaldo Serôa da Mota.
A Eco-Economia para um Mundo Sustentável
vislumbrada pelo pesquisador envolve a substituição
dos combustíveis fósseis por
energias renováveis, especialmente
a eólica e a solar, a criação
de novos sistemas de transporte e a reciclagem
dos produtos. |
Victor
Soares/Agência Brasil

Lester Brown (à direita) ao lado do
secretário executivo do Ministério
do Meio Ambiente, Cláudio Langone,
e do ministro da Educação, Cristovam
Buarque |
Mas
o que levará a humanidade a se voltar
à eco-economia?
Segundo Brown, o aumento do preço dos
alimentos.
Isso porque a produção agrícola
mundial enfrentará desafios cada vez
maiores, causados por problemas já
existentes, como a escassez da água
disponível para irrigar lavouras, e
as alterações climáticas.
Abordando especificamente o caso da produção
de grãos, o ambientalista lembra que
são necessários cerca de 1 mil
litros de água para a produção
de uma tonelada e que já existem conflitos
que transpõem fronteiras causados pela
disputa por recursos hídricos. Em relação
às mudanças climáticas,
o pesquisador disse que a elevação
de um grau da temperatura representa para
algumas regiões do planeta a redução
de 10% da produtividade das lavouras. Em consequência
disso, Brown definiu o Protocolo de Kyoto
como obsoleto e afirmou ser necessário
reduzir as emissões de dióxido
de carbono pela metade até 2015. |
Instrumentos da Eco-Economia
Divulgação/ISA
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Entre
as ferramentas para a reestruturação
da economia, as energias renováveis
foram apresentadas com muito entusiasmo pelo
ambientalista. Utilizou alguns dados do prefácio
de sua publicação para falar
sobre a energia eólica que, segundo
ele, além de ser limpa, inexaurível,
barata, gera mais empregos do que a indústria
de petróleo. Citou o Inventário
Nacional de Recursos Eólicos do Departamento
de Energia dos Estados Unidos que aponta que
nos Estados de Kansas, Dakota do Norte e Texas
há energia eólica suficiente
para satisfazer as necessidades de eletricidade.
Discorreu sobre o crescimento do uso da energia
eólica na Europa, onde a energia gerada
pelo vento já responde por cerca de
20% do total consumido na Dinamarca e 28%
na Alemanha. Também apontou as vantagens
da energia solar, que define como apropriada
particularmente às comunidades rurais
devido ao seu baixo custo de instalação
e manutenção. Usou como exemplo
vilarejos da Índia onde a energia solar
já se mostrou economicamente mais vantajosa
que uma fonte poluente tradicionalmente utilizada
para a iluminação dessas áreas,
o querosene. |
A
reestruturação do sistema tributário,
com aumento de impostos de atividades que
degradam o meio ambiente, como os produtos
derivados de combustíveis fósseis,
e subsídios para ações
ambientalmente construtivas, é outra
ferramenta considerada fundamental para a
construção da Eco-Economia.
Segundo ele, experiências já
vem sendo adotadas em pequena escala por alguns
países europeus.
Neste sentido, os custos ambientais indiretos
também devem ser incorporados aos preços
à cadeia de produção.
Brown utilizou como exemplo o custo de um
maço de cigarro à sociedade
norte-americana, calculado em US$ 7,18, resultado,
entre outros, de gastos com tratamento médico
e problemas de produtividade no trabalho entre
os fumantes.
A estabilização da população
por meio de programas educacionais para as
mulheres é mais um item importante
para a sustentabilidade do planeta, assim
como ponto-chave para quebrar o ciclo da pobreza.
"Quanto mais educação elas
têm, mais opções têm
do que podem fazer com suas vidas", disse.
Falando logo após o pesquisador norte-americano,
o ministro da Educação, Cristovam
Buarque, denunciou que, embora tenha ocorrido
mudança de paradigma no último
século na física, na química
e na biologia, por exemplo, a economia se
negou a sofrer alterações. Para
o ministro, os Departamentos de Economia estão
entre os mais reacionários das universidades.
"Nós precisamos incluir a ecologia
dentro do arcabouço da economia."
Ele aproveitou para perguntar para a platéia
quem pertencia do Ministério do Planejamento,
para avaliar quantos funcionários estavam
dispostos ou disponíveis para acompanhar
a discussão desse gênero. Três
participantes levantaram a mão, dois
deles do IPEA e um do IBGE, órgãos
vinculados ao ministério. Buarque explicou
que seu questionamento não se dirigia
a funcionários de institutos de pesquisa,
mas estava voltado a integrantes da equipe
responsável pelo orçamento da
União.
O ministro sugeriu que o Ministério
do Meio Ambiente transforme o evento em uma
atividade permanente. "Nós estamos
sem debates ideológicos na Esplanada
dos Ministérios. Precisamos sair dos
nossos prédios para discutir idéias
e construir um projeto alternativo para o
Brasil."
"Se não fizermos algo diferente,
não teremos justificado todo o esforço
em nos eleger", disse Buarque, que tem
esperança de que o Brasil construa
um novo paradigma civilizatório. |
Dialógos
para a Sustentabilidade
Em resposta à
sugestão do ministro da educação,
o secretário-executivo do Ministério
do Meio Ambiente, Cláudio Langone, afirmou
que em agosto será iniciado Diálogos
para a Sustentabilidade, uma série de debates
com especialistas internacionais, entre os quais
a ecofeminista indiana Vandana Shiva - coordenadora
da Fundação de Pesquisa para Políticas
de Ciência, Tecnologia e Recursos Naturais
da Índia e autora de Biopirataria - A Pilhagem
da Natureza e do Conhecimento e Monoculturas da
Mente - e o físico Fritoj Capra - autor de
O Tao da Física, O Ponto de Mutação
e responsável pelo Centro para Eco-Alfabetização,
localizado em Berkeley (EUA). Langone anunciou ainda
a consolidação de duas agendas transversais:
a instalação do órgão
gestor da Política Nacional de Educação
Ambiental, em parceria com o Ministério da
Educação, e a implantação
de uma agenda ambiental do setor elétrico,
com o Ministério de Minas e Energia.
A produção agrícola de grãos
voltou a ser um tema abordado com preocupação
pela mesa-redonda. O presidente do IBGE, Eduardo
Pereira Nunes, afirmou que o hoje o Brasil já
produz mais de 100 milhões de toneladas de
grãos, tendo para isso incorporado para o
plantio áreas do Cerrado e da Floresta Amazônica.
Para ele, o país precisa se questionar a
respeito da sustentabilidade deste modelo e por
quanto pode atender à demanda do mercado
internacional, uma vez que também está
envolvido com o projeto de erradicação
da fome. "Esta é uma contradição
para a qual devemos estar atentos."
Fonte: Instituto Sócio
Ambiental – ISA (www.socioambiental.org.br)
Cristiane Fontes
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