|
BANCO DA
AMAZÔNIA NÃO VAI FINANCIAR
PROJETOS
QUE ENVOLVAM DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA
Panorama Ambiental
Belém (PA) – Brasil
Junho de 2003
|
|
Seminário
em Belém consagra FSC como padrão
de certificação florestal
O Banco da Amazônia
(Basa) não vai financiar projetos que envolvam
desmatamento na Amazônia, como a conversão
de floresta para monoculturas de soja ou pastagem.
O anúncio foi feito durante o seminário
"Certificação Florestal na Amazônia:
Avanços e Oportunidades", realizado
terça-feira em Belém (1), que contou
com a participação da ministra do
Meio Ambiente, Marina Silva, e do ministro de Integração
Regional, Ciro Gomes. O ministro anunciou também
a aprovação da primeira linha de crédito
de um banco público para projetos de manejo
florestal na Amazônia. O financiamento, parte
do Profloresta (Projeto de Apoio ao Desenvolvimento
Florestal) do Banco da Amazônia, foi concedido
à Juruá Madeiras, do Pará,
certificada pelo FSC (Conselho de Manejo Florestal)
(2). De acordo com Ciro Gomes, o Basa vai oferecer
um total de R$ 1,1 bilhão do Fundo Constitucional
do Norte para o desenvolvimento da região.
O seminário, promovido por Imaflora, Imazon
e Amigos da Terra, também marcou o lançamento
do grupo de Produtores Florestais Certificados da
Amazônia (PFCA), formado por cinco empresas
e duas comunidades extrativistas da região
que são certificadas pelo FSC. Para o Greenpeace,
a iniciativa é bem-vinda e extremamente necessária,
mas o seminário ficou incompleto devido à
ausência de discussão sobre o zoneamento
participativo de áreas de uso e não-uso
na região.
"O evento de hoje faz uma análise profunda
das iniciativas de manejo responsável dos
recursos da floresta, mas além de discutir
`como`, é necessário também
saber `onde`, ou seja, quais áreas devem
ser destinadas a projetos de desenvolvimento sustentável
e quais áreas devem ter proteção
integral", explica Paulo Adário, coordenador
da campanha da Amazônia do Greenpeace. A organização
ambientalista promove ativamente o uso ecologicamente
sustentável e socialmente responsável
das florestas, assim como a implementação
de áreas de proteção (3).
O evento foi marcado pela ausência do governador
do estado do Pará, Simão Jatene (PMDB/PA),
que não enviou nenhum representante, deixando
o campo livre para que, além das ONGs e das
empresas e comunidades comprometidas com o FSC,
o governo federal, o governo do Amazonas e do Acre
levantassem a bandeira da sustentabilidade e da
certificação florestal.
A grande demanda por produtos de madeira certificados
foi ressaltada pelo inglês John Frost, da
B&Q, grande compradora européia de madeira
certificada. Ele explicou que a certificação
FSC representa uma grande oportunidade de negócios
e alertou que quem não aderir ao manejo responsável
na exploração dos recursos florestais
estará fora do mercado nos próximos
10 ou 15 anos. "FSC é o padrão
do futuro", disse ele. Em 2002, a B&Q faturou
1,1 bilhão de libras (cerca de US$ 2 bilhões)
com a venda de produtos de madeira em 320 lojas
espalhadas ao redor do mundo. No mesmo ano, o grupo
comprou 1,26 milhão de metros cúbicos
de produtos de madeira - o correspondente, segundo
ele, a 2 milhões de toras - a grande maioria
certificada pelo FSC. Anos atrás, pressionada
por entidades ambientalistas que a acusavam de contribuir
para a destruição das florestas, a
B&Q assumiu um compromisso de que, a partir
de 2000, só venderia madeira certificada
pelo FSC, mas não conseguiu cumprir a meta
por falta do produto no mercado. No final do discurso,
ele se dirigiu aos madeireiros dizendo que comprará
TODA a madeira FSC disponível no mercado
brasileiro, mostrando que há boas oportunidades
para aqueles que trabalham corretamente.
"A Carta de Belém, divulgada no final
do evento, propõe o desenvolvimento regional
com base em um setor florestal dinâmico e
sustentável. O documento ressalta o esgotamento
do modelo de desenvolvimento baseado na conversão
da floresta e extração predatória
dos recursos naturais, cujos custos ambientais e
perda de biodiversidade são extremamente
altos, e consagra o FSC como o padrão para
a certificação florestal. Para a ministra
Marina Silva, a certificação significa
assumir um compromisso não apenas com a atividade
produtiva, mas com o futuro dos povos da floresta.
Todo mundo quer deixar uma boa herança para
as pessoas que ama. Deixar uma floresta inteira
como herança para os filhos é muito
bom", concluiu.
Notas:
(1) O evento teve
a participação de 650 pessoas - entre
ambientalistas, pesquisadores, empresários
do setor florestal, líderes comunitários,
sindicalistas, representantes de instituições
financeiras e lideranças políticas.
(2) O FSC, sigla
em inglês do Conselho de Manejo Florestal
(Forest Stewardship Council), é o único
sistema de certificação independente
integrado por representantes de empresas madeireiras,
organizações ambientalistas e do setor
social. Mundialmente reconhecido, o FSC é
o único sistema internacionalmente aceito
que atende a rígidos padrões ecológicos,
incorporando de forma equilibrada os interesses
de grupos sociais, econômicos e ambientais.
A certificação é, atualmente,
a melhor forma de atestar que o manejo de florestas
nativas ou de plantações é
realizado de maneira eficaz, ambientalmente adequada,
transparente e economicamente viável. O selo
FSC - também conhecido como selo verde -
assegura transparência em todo o processo
desde a extração da madeira na floresta,
passando pelo processamento na indústria
até chegar ao consumidor final.
(3) Áreas
de florestas protegidas são dedicadas à
conservação da biodiversidade e dos
recursos naturais e culturais a ela associados,
e são estabelecidas e manejadas respeitando
os direitos de povos tradicionais - particularmente
as populações indígenas. Tais
áreas são protegidas contra a construção
de estradas e atividades industriais.
Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa