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QUESTÃO
INDÍGENA: “A DECISÃO EM RELAÇÃO
À HOMOLOGAÇÃO DA RAPOSA
SERRA DO SOL SERÁ RÁPIDA”,
DIZ MINISTRO
Panorama Ambiental
Boa Vista (RR) – Brasil
Junho de 2003
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"A decisão
em relação à homologação
da Raposa Serra do Sol será rápida”.
A afirmação foi repetida diversas
vezes pelo ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, durante sua visita a áreas
da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e a
Boa Vista, em Roraima, na última semana.
A homologação da área contínua
de 1,67 milhão de hectares no Noroeste do
Estado, onde vivem cerca de 15 mil índios,
ainda é contestada pelo poder público
e pela elite local, que defendem a exclusão
de vilas, estradas e áreas produtivas.
Chegada do ministro
da Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
à comunidade Maturuca, na TI Raposa Serra
do Sol
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, acompanhado de uma comitiva de 18 pessoas,
esteve em Roraima entre 10 e 12/06, ouvindo políticos,
índios, representantes da sociedade civil,
entre outros, sobre a homologação
da Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol,
cujo processo de demarcação aguarda
um desfecho há mais de 25 anos [veja quadro
sobre a homologação abaixo].
Localizada no Noroeste de Roraima, na fronteira
com a Guiana e a Venezuela, a Terra Indígena
Raposa Serra do Sol possui 1,67 milhão de
hectares de extensão e é habitada
por cerca de 15 mil índios das etnias Makuxi,
Wapixana, Taurepang, Patamona e Ingarikó,
que representam aproximadamente 35% da população
indígena do Estado.
Há mais de 20 anos, a maior parte da população
indígena luta pela homologação
da Raposa Serra do Sol em área contínua,
como já está garantido pela Portaria
820, de 1998, o que inclui a retirada de todos os
invasores. Entretanto os políticos e a elite
econômica roraimense, detentores ainda dos
veículos locais de comunicação,
que só há pouco tempo passaram a concordar
com a homologação da TI, exigem a
exclusão das áreas produtivas, terras
com "títulos definitivos", estradas,
vilas, sedes municipais e suas áreas de expansão,
algo em torno de 600 mil hectares [leia no final
o documento produzido pelo Conselho Indígena
de Roraima (CIR) endereçado ao ministro da
Justiça comentando cada uma dessas invasões].
Última grande TI da Amazônia aguardando
reconhecimento, integra a lista das 23 áreas
prontas para serem homologadas por FHC <http://www.socioambiental.org/website/noticias/noticia.asp?File=Indios%5C2003-01-17-17-21.html>,
mas repassadas ao governo Lula que, já homologou
19 delas, ficando pendentes apenas quatro TIs, entre
as quais a Raposa Serra do Sol.
A recente filiação do governador de
Roraima, Flamarion Portela, ao PT foi cercada de
suspeitas de que havia sido resultado uma negociação
pela não homologação da TI
Raposa Serra do Sol. No dia 20/05, o ministro da
Justiça participou de uma audiência
pública na Comissão da Amazônia
e Desenvolvimento Regional da Câmara dos Deputados
<http://www.socioambiental.org/website/noticias/noticia.asp?File=Indios%5C2003-05-22-11-44.html>
para discutir o tema, ocasião em que afirmou
que a homologação sai ainda neste
semestre e anunciou sua viagem à região.
In loco
Márcio Thomaz
Bastos deixou Roraima sem deixar pistas da decisão
que encaminhará ao presidente Lula nas próximas
semanas. Ele afirmou apenas, em diferentes ocasiões,
que solucionará o caso rapidamente e da melhor
maneira possível.
Em seu primeiro dia da viagem, o ministro da Justiça
dedicou-se a ouvir toda a classe política
local, durante audiência realizada na Assembléia
Legislativa de Roraima. Senadores, deputados federais,
deputados estaduais, governador, vice-governador,
prefeitos e vereadores disparam discursos bastante
similares em prol do "desenvolvimento harmônico"
do Estado e da soberania nacional e contra o engessamento
da economia e a influência de ONGs, principalmente
as estrangeiras, voltadas à internacionalização
da Amazônia.
O senador Mozarildo Cavalcanti (PPS/RR) declarou
que, embora o presidente Lula tenha condições
de tomar uma decisão justa, o passo indispensável
contra a "ampliação descabida
das reservas indígenas" é aprovar
a PEC de sua autoria que limita em 50% a área
de cada Estado de ser reconhecida como TI e Unidade
de Conservação (UC), assim como inclui
entre as competências do Senado a aprovação
de homologação de TIs <http://www.socioambiental.org/website/campanha/pec/index.html>.
Apesar da defesa de uma homologação
que beneficiará e expandirá a presença
dos não-índios na Raposa Serra do
Sol, diversos políticos, talvez com a intenção
de sensibilizar o ministro, destacaram em suas falas
o parentesco com os povos indígenas. "Somos
todos iguais, somos todos irmãos", afirmou
a prefeita de Uiramutã (município
totalmente incidente na TI), Florany Mota (PFL),
neta de uma índia Macuxi.
Embora considere todos iguais, todos irmãos,
Florany não deixou de criticar o modelo de
saúde indígena executado pelo CIR
que, por meio de convênios renovados anualmente
com a Fundação Nacional de Saúde
(Funasa), responde desde 1999 pela assistência
à saúde de 235 aldeias. "Se hoje
não atendemos melhor a saúde indígena
é porque tem organização recebendo
R$ 8 milhões, e a prefeitura, R$ 3 mil, para
cuidar da atenção básica. Isso
é uma disparidade, uma vergonha."
Uiramutã,
um município entre aldeias
No dia seguinte,
após sobrevoar vilarejos e lavouras de arroz,
Bastos dirigiu-se para Uiramutã, onde pôde
verificar que o município, uma das antigas
bases de apoio do garimpo na região, está
encravado entre aldeias. Em Uiramutã, o ministro
da Justiça esteve com lideranças indígenas
favoráveis à homologação
da TI em ilhas porque não acreditam no desenvolvimento
das comunidades sem a presença ou assistencialismo
do Estado.
Para a procuradora da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Ana Paulo Souto Maior,
Uiramutã é uma das questões
mais sérias da Raposa Serra do Sol. "É
Terra da União, que está sendo grilada
pelo Estado de Roraima, com apoio de recursos federais."
Implementado em 1995 por meio de um plebiscito boicotado
por boa parte da população indígena
da região, Uiramutã está sub
júdice, com processo tramitando na 1ª
Vara Federal. Apesar disso, o município está
estruturado em quatro secretarias, possui nove vereadores,
desenvolve o chamado "planejamento participativo"
e recebe recursos de diversos programas de ação
continuada, como o Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE), o Programa de Atenção
Básica (PAB) e o Programa de Alfabetização
Solidária.
No ano passado, convênios federais foram responsáveis
pelo aumento do orçamento de R$ 1,8 milhão
para R$ 3,2 milhões, o que resultou na construção
de cinco escolas, duas pontes, um posto médico,
uma quadra poliesportiva e obras de infra-estrutura
para a Vila Mutum, outro antigo enclave de garimpeiros
no interior da Raposa Serra do Sol. Em fevereiro
deste ano, a Advocacia Geral da União (AGU)
suspendeu convênio da Caixa Econômica
Federal com a prefeitura para a construção
de 200 casas populares.
Homologação
já!
Uma das muitas faixas
espalhadas em Maturuca pedindo a homologação
da Terra IndígenaDepois de visitar Uiramutã,
o ministro e sua comitiva dirigiram-se à
aldeia do Maturuca, onde era aguardado por cerca
de 2,5 mil índios que defendem a homologação
em área contínua. Foi recebido por
Jacir José de Souza, coordenador do CIR,
e pelos cânticos de centenas de crianças.
Inicialmente, tuxauas, professores, conselheiros,
enfim, diferentes integrantes das comunidades se
apresentaram e, em seguida, foram exibidos dados
sobre a população e avanços
conquistados nas áreas de saúde, educação
e auto-sustentação. Após o
almoço, diversas lideranças indígenas,
como Joênia Wapixana <http://www.socioambiental.org/website/noticias/indios/carta.html>
e Davi Kopenawa Yanomami, representantes de organizações
indígenas, como a Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), e de organizações
da sociedade civil, entre as quais a Comissão
Pastoral da Terra (CPT) e a Central Única
dos Trabalhadores (CUT), fizeram pronunciamentos
e leram e entregaram documentos e abaixo-assinados
em defesa da homologação da área
contínua.
Bastos recebeu um mapa em madeira da TI Raposa Serra
do Sol e outro exemplar para ser enviado ao presidente
Lula, que ganhou ainda uma caneta para assinar o
decreto de homologação da Terra Indígena.
Também foram apresentadas ao ministro 10
vítimas da violência provocada por
invasores à Raposa Serra do Sol, que envolvem
casos de torturas e espancamentos praticados por
policiais militares e tentativas de assassinato
por posseiros, assim como a filha de Aldo Macuxi,
assassinado em janeiro deste ano na fazenda do vereador
de Uiramutã, Francisco das Chagas de Oliveira
da Silva. De acordo com o dossiê Crime e Impunidade
em Roraima <http://www.cir.org.br/noticias_030221_dossie.asp>,
elaborado pelo CIR, nos últimos 20 anos foram
registrados 271 casos de violência contra
indígenas, sendo 20 homicídios e 201
tentativas de homicídio.
Antes do encerramento, o coordenador do CIR pediu
para que seja agendada uma audiência de lideranças
indígenas com o presidente Lula para tratar
da questão.
De volta a Boa Vista
Na quinta-feira (12/06),
Márcio Thomaz Bastos retornou a Boa Vista,
onde almoçou com índios Yanomami,
integrou uma reunião na Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) de Roraima e, por fim, participou
de uma audiência pública no Palácio
da Cultura, ocasião em que ouviu cerca de
20 representantes da sociedade civil a favor e contra
a homologação da área contínua.
Márcio Thomaz Bastos deixa Raposa Serra do
Sol acompanhado de índios de Maturuca e comunidades
vizinhasConsiderada bastante pacífica para
os padrões roraimenses, a audiência
pública contou com poucos discursos agressivos,
entre os quais o de Jonas Marcolino, representante
da Sociedade de Defesa dos Índios do Norte
de Roraima (Sodiur). Marcolino, defensor da homologação
em ilhas, afirmou que os índios não
querem viver no primitivismo e que gostaria de ter
um jamanxim cheio de mandioca para botar nas costas
da subprocuradora geral da República, Ella
Castilho. "Ela pode achar isso bom por um ou
outro dia. Mas ter que carregar palha na cabeça,
jamanxim nas costas e caminhar a pé por necessidade
de sobrevivência, isso é sofrimento,
para índio, para qualquer pessoa no mundo
atual." A subprocuradora, que integrou a comitiva
do ministro, declarou à imprensa local que,
caso não saia a homologação
em área contínua, o Ministério
Público recorrerá de decisão.
Daniel Gianlupp, da Associação dos
Rizicultores de Roraima, foi um dos responsáveis
por um dos discursos mais antiindígenas do
evento. Após apresentar dados sobre o potencial
agropecuário do Estado, discorreu sobre seus
principais entraves: as "questões indígenas
indefinidas" e as ambientais, citando o Código
Florestal. Sobre as "questões indígenas
indefinidas", exibiu dados relacionados ao
crescimento das terras indígenas e da população
indígena no Estado desde o início
do século passado, sugerindo que os índios
foram e estão ocupando indiscriminadamente
Roraima, que hoje está "sitiada".
"Restam, portanto, aproximadamente 7% do Estado
de Roraima. Isto é muito sério, inviabiliza
o Estado, porque um Estado sem território,
não é Estado, é virtual, é
uma figura qualquer, mas não é Estado",
protestou Gianlupp, que também anunciou a
doação de 20 toneladas de arroz para
o Programa Fome Zero.
De acordo com o Relatório Preliminar sobre
a Situação das Terras em Roraima:
Enfoque ao Uso Agrícola, elaborado pela Embrapa-RR
a partir dos relatórios do Zoneamento Econômico-Ecológico
da Região Central do Estado de Roraima, as
áreas efetivamente livres e aptas para a
agricultura correspondem a 2,8 milhões de
hectares, ou 12,6% da superfície do Estado.
O plantio de arroz é atualmente outro grande
entrave à homologação da área
contínua. Na região, a atividade em
grande escala teve início em meados da década
de 90 e hoje representa 40% da produção
do Estado (84,3 mil toneladas), percentual correspondente
ao consumo interno do produto, segundo dados da
pesquisa municipal agrícola do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Embora a agricultura ainda não seja uma atividade
significativa para a economia do Estado, devido
à falta de investimentos e linhas de crédito,
o arroz é um dos poucos produtos com excedente,
destinado aos mercados vizinhos, como Manaus, Belém
e Santarém.
Os índios denunciam que os agrotóxicos
usados na lavoura poluem os igarapés e os
rios, causando sérios problemas de saúde
para quem mora na área e até mortandade
de pássaros, peixes e outros animais.
Os sete rizicultores da Raposa Serra do Sol ocupam
uma área correspondente a 18 mil hectares
e não se mostram dispostos a negociar sua
saída caso a TI seja homologada em área
contínua. Isto inviabiliza a elaboração
de um levantamento dos custos para indenizar os
ocupantes da região. Segundo dados da Funai,
eles somam 67 nas áreas rurais e 700 nas
quatro vilas, ou antigas bases dos garimpos. No
início deste ano, a Funai gastou R$ 1,2 milhão
para indenizar 37 ocupantes da região.
As reações dos políticos e
da elite econômica durante a viagem do ministro
da Justiça refletem o tratamento dado às
questões indígenas em Roraima. Com
32 TIs indígenas <http://www.socioambiental.org/website/noticias/indios/tabela.html>
correspondente a 46% do território, e uma
das maiores populações indígenas
do país, cerca de 40 mil pessoas, Roraima
deveria planejar seu desenvolvimento a partir desta
realidade, mas prefere investir contra ela permanentemente.
Processo
de reconhecimento oficial da TI Raposa/Serra do
Sol
1917 - Governo do
Amazonas edita a Lei Estadual nº 941, destinando
as terras compreendidas entre os rios Surumu e Cotingo
para a ocupação e usufrutos dos índios
Macuxi e Jaricuna. 1919 - Serviço de Proteção
ao Índio (SPI) inicia a demarcação
física da área, que estava sendo invadida
por fazendeiros. O trabalho, entretanto, não
é finalizado. 1977 - Presidência da
Fundação Nacional do Índio
(Funai) institui um Grupo de Trabalho (GT) Interministerial
para identificar os limites da Terra Indígena,
que não apresenta relatório conclusivo
de seus trabalhos. 1979 - Novo GT é formado.
Sem estudos antropológicos e historiográficos
propõe uma demarcação provisória
de 1,34 milhão de hectares. 1984 - Mais um
Grupo de Trabalho é instituído para
identificação e levantamento fundiário
da área. Cinco áreas contíguas,
Xununuetamu, Surumu, Raposa, Maturuca e Serra do
Sol, são identificadas, totalizando 1,57
milhão de hectares. 1988 - Outro GT Interministerial
realiza levantamento fundiário e cartorial
sem chegar a qualquer conclusão sobre o conjunto
da área. 1992/1993 - Funai decide reestudar
a área, formando pela última vez novos
Grupos de Trabalho. 1993 - Parecer dos GTs, em caráter
conclusivo, é publicado no Diário
Oficial da União no dia 12 de abril, propondo
ao Ministério da Justiça o reconhecimento
da extensão contínua de 1,67 milhão
de hectares. 1996 - O ministro da Justiça,
Nelson Jobim, assina em janeiro o Decreto 1.775,
que introduz o princípio do contraditório
no processo de homologação de TIs
1996 - São apresentadas 46 contestações
administrativas contra a TI Raposa Serra do Sol
por ocupantes não-índios e pelo governo
de Roraima. 1996 - Jobim assina o Despacho 80, rejeitando
os pedidos de constestação apresentados
à Funai, mas propondo uma redução
de cerca de 300 mil hectares da área, com
a exclusão de vilarejos que serviram como
antigas bases de apoio à garimpagem, estradas
e fazendas tituladas pelo Incra, que representa
a divisão da área em cinco partes.
1998 - O ministro da Justiça, Renan Calheiros,
assina o Despacho 050/98 revogando o Despacho 080/96
e a Portaria 820/98, que declara a TI Raposa Serra
do Sol posse tradicional dos povos indígenas.
1999 - Governo de Roraima impetra mandado de segurança
no Superior Tribunal de Justiça (STJ), com
pedido de anulação da portaria declaratória.
1999 - Concedida liminar parcial ao mandado de segurança
do governo de Roraima. 2002- STJ nega pedido do
Mandado de Segurança 6210/99, impetrado pelo
governador de Roraima, solicitando a anulação
da Portaria 820/98 <http://www.socioambiental.org/website/noticias/noticia.asp?File=Direitos%5C2002-11-28-00-56.html>
Desmistificando
"o problema social" da homologação
(documento entregue pelo Conselho Indígena
de Roraima ao ministro Márcio Thomaz Bastos)
O reconhecimento definitivo da Terra Indígena
Raposa/Serra do Sol, habitada há tempos imemoriais
pelos povos Macuxi, Ingarikó, Wapixana, Taurepang
e Patamona é retardado pela pressão
dos invasores da área, especialmente a classe
política, latifundiária e empresarial
no estado de Roraima, que usa toda sorte de mentiras,
chegando esta ao absurdo de negar até a presença
das comunidades indígenas ou minimizá-la
alterando os dados da realidade. A mentira sempre
foi a arma do opressor. A estratégia de implantar
falsas informações para impedir a
homologação da referida terra continua
em auge. Fala-se, por exemplo, de um "gravíssimo
problema social" que surgiria decorrente da
homologação de Raposa/Serra do Sol,
pois nada menos que 40 mil moradores deveriam deixar
a região. Outros boatos dão conta
que "duas cidades" vão ser atingidas
pelo decreto.
Desmistificando
as mentiras
A terra indígena Raposa/Serra do
Sol situa-se no nordeste do estado de Roraima na
fronteira com a Guiana e a Venezuela. Tem uma superfície
de 1.678.800 hectares (Portaria de demarcação
Nº 820/98, do Ministério da Justiça),
dos quais aproximadamente a metade é constituída
por savanas, denominadas em Roraima de "lavrados",
ou campos naturais. A outra metade é montanhosa
e culmina com o Monte Roraima, em cujo topo se encontra
a fronteira internacional dos três paises:
Brasil, Guiana e Venezuela.
Situação
administrativa da Raposa/Serra do Sol
A área abrange três municípios:
Normandia, Pacaraima e Uiramutã. = O Município
de Normandia foi instalado em 1982 e tem sua sede
no lado sudeste, fora da área indígena.
No processo de reconhecimento da terra, as comunidades
indígenas cederam uma parte do território
para a instalação da sede municipal,
com o objetivo de abreviar a legalização
almejada. Além do mais, naquela época,
existia no vilarejo de Normandia uma pequena base
militar responsável pela segurança
do país na fronteira com a Guiana. =O Município
de Uiramutã, criado após realização
de dois plebiscitos duvidosos em 1996, sendo que
o primeiro não atingiu o quorum exigido pela
legislação estadual, incide completamente
sobre toda área ao norte da Raposa Serra
do Sol (correspondente mais ou menos à Região
das Serras). Instalado em primeiro de janeiro de
1997, com a posse de prefeito e vereadores, o Município
tem sua sede dentro da maloca homônima. Existem
na área outras três pequenas aglomerações
de invasores chamadas Mutum, Água Fria e
Socó. =O Município de Pacaraima, cuja
sede está localizada no Marco BV-8 da fronteira
internacional com a Venezuela, atinge a Raposa Serra
do Sol na região de Surumu, lado sudoeste
da área. Aqui encontra-se, na entrada da
região de Surumu e o vilarejo "homônimo".
Povos Indígenas
da Raposa/Serra do Sol
Os povos Makuxi, Wapixana, Taurepang,
Patamona e Ingarikó, que habitam a Raposa
Serra do Sol somam mais de 15 mil índios,
espalhados em 152 aldeias nas quatro regiões
que formam administrativamente o território
contínuo: Raposa, Baixo Cotingo, Surumu e
Serras. Cada região é coordenada por
um Conselho Indígena Regional formado por
membros eleitos pelas comunidades. No Conselho são
tomadas decisões participativas e se desenvolvem
diversas atividades e projetos cujo objetivo é
fortalecer a identidade indígena, organizar
uma sempre maior capacidade de articulação
interna e externa e alcançar uma real autonomia
econômica dos índios. Trata-se de uma
caminhada de 30 anos que vem se desenvolvendo com
uma progressão constante e formas inovadoras,
incorporando na cultura tradicional atividades novas
da sociedade envolvente, haja vista o projeto do
gado que conta hoje com mais de 27 mil cabeças.
Comunidades indígenas que não querem
ficar às margens, isoladas ou como no "museu",
mas viver com dignidade como povos indígenas
na própria terra, que já haviam perdido:
Uma única terra para todos. A caminhada está
alicerçada na decisão histórica
"Não à bebida alcoólica,
Sim à Comunidade Indígena", tomada
na aldeia de Maturuca em 26 de abril de 1977 e assumida
por todos os povos indígenas do Estado representados
pelo Conselho Indígena de Roraima - CIR,
com todos os aliados e simpatizantes no Brasil e
no mundo. "Cidades" da Raposa/Serra do
Sol No canto oeste da área situa-se o vilarejo
Surumu, na margem esquerda do Rio homônimo,
no lugar arrancado da ainda existente maloca do
Barro, relegada a ocupar a parte de trás
daquela localidade. Tem cerca de 150 habitantes
não-índios. Na região das Serras
existem quatro pequenas "aglomerações"
de moradores: vilarejos Mutum com cerca de 250 habitantes
não-índios (a maioria sem morada fixa,
pois são garimpeiros que exercem suas atividades
ilegalmente dos dois lados da fronteira), Uiramutã,
cerca de 115, Água Fria, em torno de 100,
Socó, aproximadamente 50. Eis os "pais"
de família não indígenas que
vivem nas "corruptelas", citados pelos
nomes com os quais são conhecidos no lugar:
-Uiramutã, 30 pais de família: Vaner,
Raúl, Iran, Tiago, Chaulin, Roraima, Mondola,
Adolfo, Berme, Olavo, Manuel Bigode, Zélio
Mota, Jesus, Josué, Querido, Pastor, Perneta,
Castro, Chico Talo, Santilho, Jacó, Francisco,
Cialdenar, Cícero, Junior, Barrudada, Manuel
Barbicha, Canarinho, Manuel da CER, Nalva. -Socó,
13 pais de família: Vagner, Sidoca, Totonho,
Jesus, Ronaldo, Catia, Carlos, Maria, Carleandra,
Artur, Paolo, Maranhão, Sabá Souza.
-Mutum, 28 pais de família: Herculano, Edimar,
Adalberto, José Cambota, Williams, Pastor,
Monte Alegre, Moreno, Chica, João Calango,
José Calango, Jurandizinho, João Dero,
Romana, Samuel, Pedro Gaúcho, Ceará,
Piauí, Cerara, Vagner, Adacir, Sabino, Jurandí,
Piauí, Dizão, Raimundo, Mineiro e
Espedito. -Água Fria, 9 pais de família:
Brasil, João Tropeiro, Neguinho, Clorisvan,
Pastor, Damião, Manelão, Bernardo
e Camilo. Os quatro vilarejos, antigos lugares de
apoio aos garimpeiros, regionalmente denominados
"corrutelas" (deturpação
de "corruptelas"), surgiram no local de
antigas aldeias. Agora são chamadas "vilas"
pelos invasores, mas continuam inconsistentes quanto
ao número de habitantes e à sua real
importância político-econômica,
pois são apenas sustentadas pelo governo
no âmbito da estratégia de impedir
o reconhecimento da terra indígena. Note-se
que a quase a totalidade dos moradores das assim
chamadas "vilas" têm lotes ou outras
propriedades em outros lugares como na capital Boa
Vista, nas áreas de colonização
etc., de forma que inexiste o problema social decorrente
da homologação da terra indígena
nas proporções divulgadas pelos inimigos
dos índios. Na época da assinatura
da portaria da demarcação (1998),
muitos invasores estavam dispostos a saírem,
quando o governo de Roraima os incentivou a ficarem.
Posseiros da Raposa/Serra do Sol Na faixa sul de
Raposa/ Serra do Sol, abrangendo as três regiões
da Raposa Baixo Cotingo e Surumu, tem sete rizicultores
localizados ao longo dos rios Cotingo, Surumu e
Tacutu. São invasores recém-chegados
que contam com o apoio do Governo do Estado a permanecerem
na terra indígena, pois possuem poder de
lobby junto à classe política regional,
conseguindo chegar à alguns setores do Governo
Federal. Os agrotóxicos usados na lavoura
poluem os igarapés e os rios, causando sérios
problemas de saúde para os índios
que moram na área e até mortandade
de pássaros, peixes e outros animais. Na
região das Serras, exceção
feita pelos vilarejos insignificantes sustentados
pelo Governo de Roraima, não existe mais
que meia dúzia de posseiros, com poucas cabeças
de gado, quando, há duas décadas esta
região era o reino dos maiores fazendeiros
de Roraima. Nas regiões de Raposa e Surumu,
as posses são um pouco mais numerosas, enquanto
o Baixo Cotingo está em condição
melhor, controlando quase todo o território.
Vale a pena lembrar que todos os espaços
reivindicados pelos índios são ocupados
fisicamente pelas aldeias e pelo gado das comunidades,
criado nas muitas dezenas de "retiros"
que pontilham as quatro regiões. A região
das Serras, que aproximadamente constitui a metade
da Raposa/Serra do Sol, controla já de fato
mais de 95% da superfície reivindicada. Segundo
um levantamento recente, as posses existentes dentro
da Raposa/Serra do Sol são pouco mais de
50. Os posseiros, incluindo todos os invasores,
não alcançam o teto de 1000 pessoas.
O problema social, portanto, tem uma dimensão
completamente diferente, de fácil solução,
a exemplo o fato de 37 posseiros terem sido indenizados
pela Funai e saírem pacificamente entre janeiro
e abril de 2003.
Fonte: ISA- Instituto Sócio
Ambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa