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SENADORES
ENVIAM CARTA A LULA, PREOCUPADOS
COM AMEAÇAS AOS POVOS INDÍGENAS
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2003
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No texto, datado
de 28 de maio, os parlamentares que formam a base
de apoio do governo manifestam seus temores diante
do desrespeito sistemático aos direitos indígenas
e da previsão de votação da
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 38/99 <http://www.socioambiental.org/website/campanha/pec/index.html>,
que limita em 50% as áreas de cada estado
brasileiro passíveis de serem transformadas
em terras indígenas e unidades de conservação.
Os 23 senadores que
assinam o ofício estão preocupados
com diversas iniciativas que visam fragilizar a
legislação referente aos direitos
territoriais indígenas em especial com a
PEC, de autoria do senador Mozarildo Cavalcanti
( PPS/RR), que estava prevista para entrar na pauta
do Senado
<http://www.socioambiental.org/website/noticias/noticia.asp?File=Indios\2003-06-13-11-31.html>
em 11/06.
O ofício dos senadores ao presidente Lula
representa uma sinalização positiva
pela manutenção dos direitos constitucionais
indígenas, que, espera-se, venham a ser definitivamente
respeitados.
Confira.
Ofício
n.º 048/2003 - GLDBAG Brasília, 28 de
maio de 2003
A Sua Excelência
o Senhor Luís Inácio da Silva Presidente
da República Brasília – DF NESTA Senhor
Presidente, Vimos por meio deste solicitar a especial
atenção de Vossa Excelência
para com a questão indígena. Preocupa-nos,
sobremaneira, a situação das populações
indígenas brasileiras, cujos direitos, reconhecidos
pela Constituição Federal, vêm
sendo sistematicamente desrespeitados, desde a sua
promulgação. Em razão desta
realidade, é bastante duro o conteúdo
da Carta em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas,
firmada na data de 18 de março de 2003, por
ocasião do Seminário Respeito aos
Povos Indígenas, realizado no Auditório
da Procuradoria Geral da República, e do
Documento Final do Encontro Nacional dos Povos e
Organizações Indígenas do Brasil,
firmado em 30 de abril de 2003. Da mesma forma,
a Carta do Conselho Indigenista da FUNAI ao Presidente
Lula, de 24 de abril de 2003, alerta para os graves
problemas decorrentes da não homologação
de áreas indígenas. Some-se a este
quadro a previsão de votação,
para o próximo dia 11 de junho, da Proposta
de Emenda Constitucional nº 38, de 1999, de
autoria do Senador Mozarildo Cavancanti (PPS-RR);
a divulgação de Anteprojeto procedente
do Gabinete de Segurança Institucional, que
propõe alterar o Decreto 1775, de 08 de janeiro
de 1996, incorporando ao Conselho de Defesa Nacional
– CDN a consulta no processo administrativo de demarcação
das terras indígenas; e a não publicação
do Decreto de criação da Comissão
de Política Indigenista. Como sabemos, a
Constituição de 1988 estabelece, em
seu Art. 231, o reconhecimento aos direitos originários
sobre as terras tradicionalmente ocupadas pelos
índios, fixando a responsabilidade da União
em demarcá-las, ato administrativo de explicitação
de seus limites. A Constituição de
1988 reconheceu, ainda, o direito à diferença
cultural, fundamento de um Estado pluriétnico,
e o caráter multicultural da Nação
brasileira, bases para uma sociedade mais justa
e para o efetivo Estado democrático de direito.
Tais direitos, essenciais para a construção
da cidadania dos povos indígenas do Brasil,
estão intrinsecamente relacionados com a
demarcação e a garantia de suas terras.
A não demarcação administrativa
das terras indígenas contribui sobremaneira
para o agravamento da violência crescente
que, lamentavelmente, se verifica nas terras indígenas,
vitimando lideranças e membros de suas comunidades.
A situação é alarmante, uma
vez que o número de homicídios e de
desaparecidos entre os indígenas nos cinco
primeiros meses deste ano supera o número
de casos ocorridos em todo o ano de 2002. Destaque-se
ainda a repercussão negativa, para a política
externa que o novo Governo pretende estabelecer,
dos questionamentos, em nível internacional,
decorrentes de episódios como o que envolveu
a leitura do Documento apresentado pela senhora
Azelene Kaingang, do Instituto Warã, como
subsídio para a representação
indígena brasileira presente na 2ª Sessão
do Fórum Permanente sobre Questões
Indígenas da ONU, realizada em Nova York,
no último dia 15 de maio. A existência
de fazendas produtivas no interior de áreas
indígenas, o surgimento de tensões
sociais decorrentes das medidas demarcatórias
ou a imposição de dificuldades ao
desenvolvimento econômico dos estados pela
insuficiência de seus territórios não
representam fundamento para se imporem obstáculos
à demarcação das terras das
populações indígenas. Ao contrário,
verificadas as condições para a caracterização
da natureza de terra tradicionalmente ocupada pelos
índios, conforme disciplina o § 1°
do art. 231, evidencia-se a posse indígena
assegurada pelo § 2°, que prevalece contra
qualquer outra. Tal posse prepondera, inclusive,
à de portadores de alegados títulos
de propriedade, por força das disposições
do § 6°, que declara nulos, extintos e
incapazes de produzir efeitos jurídicos os
atos que tenham por objeto a ocupação,
o domínio e a posse das terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios. Não devemos,
Senhor Presidente, admitir a subversão da
ordem jurídica e da natureza das coisas,
fazendo prevalecer questão de caráter
patrimonial sobre o próprio direito à
vida. Cabe lembrar que, para os índios, a
terra transcende seu aspecto meramente patrimonial.
Representa condição imanente à
vida desses povos, por ser indispensável
à existência física e cultural
de suas gerações presentes e futuras.
Trata-se de vida não apenas biológica,
mas em suas múltiplas referências,
pois, além da sobrevivência física
de cada membro da comunidade, busca-se garantir
a sobrevivência de grupos étnicos diferenciados
e de seus respectivos sistemas culturais. É,
pois, no intuito de buscarmos juntos uma posição
transparente, que contribua decisivamente para a
eliminação das ameaças que
cercam os direitos dos Povos Indígenas, que
encarecemos a Vossa Excelência que todos os
esforços sejam empreendidos no sentido de
garantir e agilizar a criação da Comissão
de Política Indigenista, e a imediata homologação
da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, bem
como de todas as demais que aguardam o Decreto homologatório
do Presidente da República. Os compromissos
historicamente firmados pelo Partido dos Trabalhadores
ao longo de sua história com os índios
brasileiros tornam-nos hoje depositários
de sua única, senão última
esperança de verem protegidos e assegurados
seus direitos fundamentais, sua cidadania e sua
dignidade. Ao tomar para si essa responsabilidade
o atual Governo estará dando um passo decisivo
para mudar o quadro histórico de abandono
e descaso em que vivem nossas populações
indígenas e estabelecer, de fato, a tão
ansiada política indigenista brasileira.
Certos de contar com seu efetivo apoio e reconhecida
sensibilidade, aproveitamos a oportunidade para
renovar-lhe nossos protestos de elevada estima e
consideração.
Atenciosamente,
Senador Tião
Viana Líder do Pt e do Bloco de Apoio ao
Governo Senador Aloizio Mercadante Líder
do Governo Senador Sibá Machado Senadora
Serys Slhessarenko Senadora Ana Júlia Carepa
Senador Aelton Freitas Senador Delcídio Amaral
Senador Magno Malta Senador Eduardo Suplicy Senador
Marcelo Crivella Senador Eurípedes Camargo
Senador Duciomar Costa Senadora Fátima Cleide
Senador Fernando Bezerra Senador Flávio Arns
Senador Sérgio Zambiasi Senadora Heloísa
Helena Senador Antônio Carlos Valadares Senadora
Ideli Salvatti Senador Geraldo Mesquita Júnior
Senador Paulo Paim Senador João Capiberibe
Senador Roberto Saturnino
Fonte: ISA- Instituto Sócio
Ambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa