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DECLARAÇÃO CONJUNTA DA
FAMÍLIA DE
EMILY CRADDOCK E DO GREENPEACE
Panorama
Ambiental
Belém (PA) - Brasil
Dezembro de 2003
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A Polícia
Federal em Belém, no estado do Pará,
concluiu hoje o inquérito sobre a morte
da ativista do Greenpeace, Emily Craddock,
na Amazônia. Os arquivos serão
entregues para um juiz, que vai comandar a
investigação do caso no ano
que vem. No entanto, a Polícia Federal
já declarou que a morte de Emily não
tem nenhuma causa suspeita.
Providências estão sendo tomadas
para que seu corpo volte para a Inglaterra.
A tripulação do navio do Greenpeace,
o MV Arctic Sunrise, que estava em expedição
contra a exploração ilegal de
madeira na Amazônia, também está
indo para casa hoje. O navio e a nova tripulação
permanecerão no Brasil para reabastecimento
de combustível e comida e, depois,
também partirão.
A família de Emily e o Greenpeace divulgaram
o seguinte tributo a sua querida filha e amiga,
e dedicaram a recente expedição
da Amazônia à sua memória.
A família pede que sua privacidade
seja respeitada e que eles não sejam
perturbados em seu luto neste momento difícil.
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Malcolm Craddock,
pai
Gerd Leipold, Greenpeace Internacional
TRIBUTO
Emily Claire Craddock
19.01.1976 - 12.12.2003
Emily nasceu durante
uma tempestade, no dia 19 de janeiro de 1976. Ela
não gostava muito de brincar com bonecas
ou participar de brincadeiras “bobas”. Ela era um
desafio para suas professoras no Hampstead Hill
School, no St Mary’s Convent e no St Christopher
em Letchworth.
Com quatro anos de idade, quando ela pegou sua mãe
jogando água fervente em uma coluna de formigas
(já que sua mãe preferia as formigas
no jardim, e não na cozinha), ela protestou
furiosamente - seus olhos azuis faiscavam sob os
cabelos loiros.
Com nove anos, ela se tornou sócia do Greenpeace
e, com 10 anos, já participava ativamente
das campanhas, quando produziu um trabalho escolar
mostrando como o corte de árvores na Amazônia
influenciava na seca da África e nas enchentes
da Índia.
Nunca faltou coragem para a nossa guerreira do arco-íris.
Com 15 anos, ela foi - sozinha - trabalhar no Projeto
de Proteção às Tartarugas na
Ilha de Zakynthos, Grecia. Enquanto os moradores
locais davam preferência para a construção
de hotéis em vez da preservação
dos locais de desova de tartarugas, Emily ajudou
a mudar suas opiniões. As tartarugas e seus
habitats na ilha estão agora protegidos.
Emily amava esportes de todos os tipos: esquiar
em montanhas e mergulhar. Ela era apaixonada por
futebol, mostrando mais habilidade que seus irmãos
e terminando por jogar no time dos Tottenham Ladies.
Era uma paixão que ela compartilhava com
seu pai e os dois eram vistos freqüentemente
no lado oeste de White Hart Lane.
Suas habilidades esportivas eram iguais ao seu intelecto.
Consciente do poder dos políticos e indignada
com a guerra, sua dissertação para
a conclusão do curso de Ciências Políticas,
na Universidade Loughborough, foi sobre os principais
atores do conflito entre árabes e israelenses.
O Rei Hussein, da Jordânia, a ajudou na sua
pesquisa. Ele lembrou com carinho quando aquela
menina loira se apresentou a ele na Indonésia
para dizer que as calças de seus guarda-costas
eram muito compridas, fazendo com que eles parecessem
deselegantes e, depois, convidou-o para dançar.
Depois da formatura, Emily trabalhou para a Lottery’s
Charity Fund, ajudando organizações
beneficentes a conseguir os recursos necessários
para realizar seu trabalho. Em seguida, ela trabalhou
como professora até mesmo quando estava de
férias, compartilhando seu amor pelo nosso
belo mundo com muitas crianças.
Emily possuía uma habilidade extraordinária
de se comunicar com pessoas de diferentes idades
e estilos de vida. Ela continuava em contato com
seu carteiro Harry, mesmo dez anos depois de sua
aposentadoria. Ems conseguia estabelecer uma ligação
quase instantânea mas duradoura com todos
aqueles que ela conhecia. Ela amava animais, podia
acalmar os cavalos mais arredios, mas considerava
errado “adestrar” seu cachorro Georgie.
Em 1999, quando Emily estava na Austrália
visitando seu irmão, ela viu o navio do Greenpeace,
o “Arctic Sunrise”, atracado para reparos depois
de ser abalroado por um navio baleeiro japonês.
Para ser levada a sério, ela cortou seus
longos cabelos loiros (com os quais fez perucas
para crianças em tratamento de quimioterapia),
caminhou até o navio e pediu um emprego -
qualquer um. Ela estava EUFÓRICA em finalmente
trabalhar para o Greenpeace - como garbologista,
separando o lixo! Em qualquer lugar que o navio
do Greenpeace atracasse, ela saia da embarcação
com uma bola de futebol e logo estava jogando com
os moradores locais - sua forma de se comunicar
com pessoas de qualquer língua. Nos últimos
dois meses, ela foi vista freqüentemente jogando
bola com as crianças ribeirinhas na Amazônia.
Nos anos que se seguiram, sua família e muitos
amigos a acompanharam - via internet - aliviados
em saber que, quando as ações do Greenpeace
eram divulgadas, o maior perigo já havia
passado. Ela estudou muito para aprender tudo sobre
os equipamentos essenciais a bordo e, mais tarde,
se tornou RO1 - Rádio Operadora. Ela era
a voz suave do outro lado da linha chamando seus
companheiros para voltar ao navio depois de um longo
dia acorrentados em uma âncora ou realizando
investigações de campo.
Ela nunca perdia a chance de iluminar outras pessoas.
Quando perguntavam a ela: “Como vai você?”,
ela respondia: “Melhor, depois de ouvir sua voz”.
Há lindas fotos de Emily com crianças
russas depois de plantar árvores em uma grande
construção de concreto, ou vestindo
aquele macacão branco de proteção
contra produtos químicos, ou com pessoas
de Papua-Nova Guiné, e de muitos outros momentos.
Todos ficavam apreensivos durante as viagens pela
campanha contra a caça de baleias, ou quando
ela estava em um pequeno inflável para protestar
contra os testes nucleares americanos e durante
todas as ações audaciosas e corajosas
que ela participou em seus quatro anos com o Greenpeace.
Ela era apaixonada pelo Greenpeace, tão feliz
de ser parte dessa organização com
a qual ela compartilhava suas crenças, era
audaciosa o suficiente para ir lá e protestar;
lutar pelo nosso mundo e por aqueles que não
podem lutar por si mesmos.
“Emily era uma pessoa iluminada, que trouxe amor
e felicidade para todas as pessoas que a conheceram.
Apaixonada, forte e determinada, com um senso natural
de justiça e um desejo de lutar por aqueles
que não tinham voz ou que não podiam
se defender”.
Emily morreu no lugar mais bonito da Terra que ela
já havia visto. E durante todos os seus anos
navegando com o Greenpeace, ela viu muito.
Ela escreveu sobre a Amazônia no diário
de bordo da campanha na internet, em novembro deste
ano:
“Quando você está absorvido por toda
a beleza deste lugar, não há como
não rezar para Gaia ou Deus pedindo proteção
para esta área. Para mim, a Amazônia
deveria ser assim: muitas árvores nas margens
dos rios e transbordando de vida; não as
áreas desmatadas e nuas que temos visto tão
freqüentemente durante esta viagem. Nós
precisamos garantir que este modo de vida seja passado
adiante para as futuras gerações.”
Para todos nós que ficamos e que fomos tocados
pela vida de Emily, suas palavras ilustram o amor
e a esperança que ela inspirou.
Fonte: Greenpeace (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa