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ENTENDA
MELHOR A SITUAÇÃO
DO GREENPEACE NA AMAZÔNIA
Panorama
Ambiental
Belém (PA) - Brasil
Dezembro de 2003
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Há algum tempo,
enviei uma carta a você pedindo que contribuísse
com a Campanha da Amazônia. Desta vez, escrevo
a bordo do navio MV Arctic Sunrise que, como você
deve estar acompanhando, realiza expedição
pelo Pará desde o final de outubro.
Nosso trabalho aqui é difícil. Depois
que lançamos o relatório "Pará:
Estado de conflito" (disponível em nosso
web site colocar link), navegamos até a Bacia
do Rio Xingu, onde nos encontramos com as comunidades
que querem a criação da Reserva Extrativista
Verde Para Sempre. Também nos encontramos
com o time do Ibama e da Polícia Federal
que está investigando o setor madeireiro
do Pará e revelando gigantescas fraudes,
que incluem sonegação fiscal, exploração
em terras públicas griladas e emprego de
violência e ameaças contra as populações
ribeirinhas e contra nós mesmos.
A expedição do Arctic Sunrise e nossas
ações por aqui estão sendo
divulgadas pela mídia. Em grande parte, a
cobertura tem sido correta, mostrando todos os lados
da questão, contribuindo para mostrar ao
público de várias partes do Brasil
a realidade de uma região que a maioria do
brasileiros desconhece e que parece pavimentar seu
rumo para o futuro à margem da lei. Porém,
alguns veículos têm abordado a questão
de maneira equivocada, desviando o verdadeiro foco
de nosso trabalho. O Pará é o campeão
brasileiro de assassinatos no campo, respondendo
por 40% dos 1.237 trabalhadores rurais assassinados
no Brasil entre 1985 e 2001, segundo a Comissão
Pastoral da Terra, da Igreja Católica.
O Pará também é o campeão
brasileiro de trabalho escravo, com 54,4% dos casos
reportados entre 1995 e 2001 pelo Grupo Móvel
do Trabalho Escravo, do governo federal. Além
disso, o Pará responde, sozinho, por mais
de um quinto do total das terras públicas
griladas no Brasil, segundo a CPI da Grilagem. De
acordo com um relatório publicado pelo Imazon
em 2002, cerca de 95% da extração
madeireira na Amazônia, liderada pelo Pará,
ocorrem de forma predatória. A grande maioria,
além de predatória, também
é ilegal. E para completar o quadro lamentável
e absurdo, o Pará também é
o Estado campeão do desmatamento ilegal,
tendo posto abaixo e queimado 523.700 hectares em
2001, dos quais apenas 5.342 (1%!) ha estavam autorizados
pelo Ibama. Por trás de todos estes crimes
estão a disputa pela terra e pelos recursos
naturais do Pará, uma injustiça social
histórica e também uma histórica
ausência de governo nos rincões do
Brasil.
Nossa expedição, e nosso esforço
para divulgar o trabalho, também visa a tirar
do anonimato a luta das comunidades de Porto de
Moz pela criação da reserva extrativista
“Verde para Sempre”, em fase final de análise
pelo governo federal. Os ribeirinhos de Porto de
Moz estão convencidos de que a reserva é
a única forma que eles têm de assegurar
a posse de suas terras tradicionais e de suas florestas,
invadidas nos últimos anos por mais de 50
empresas madeireiras, capitaneadas pelo próprio
prefeito da cidade. A invasão das terras
das comunidades, segundo relatório da ONU
e depoimentos dos ribeirinhos, é feita muitas
vezes com o uso de violência. Armas pesadas
em mãos de madeireiros e capatazes já
foram apreendidas, vários líderes
comunitários estão ameaçados
de morte. Todas as áreas de extração
pelos madeireiros são terras griladas, todos
os projetos até agora fiscalizados pelo Ibama
- que faz um competente trabalho na região
-mostram ilegalidades enormes e devem ser suspensos.
De quebra, alguns veículos de mídia
se propõem a mostrar de forma maliciosa como
age o Greenpeace - uma entidade ambientalista que
está onde os problemas acontecem, que é
realmente ativista e que é financiada por
você e mais três milhões de pessoas
em todo o mundo para fazer exatamente isso: enfrentar
de peito aberto os inimigos do meio ambiente e da
paz, apoiar comunidades locais, sensibilizar a opinião
pública e levar governos, empresas e consumidores
a agir.
Temos orgulho, apesar de atacados por madeireiros
ilegais e outros inimigos da vida na Terra, de continuar
a acreditar que o planeta é nossa casa e
que pessoas de diferentes nacionalidades compõem
uma única espécie, a dos seres humanos,
todas com um destino comum: o de garantir um futuro
pacífico e um meio ambiente suficientemente
equilibrado para que a vida neste mundo possa continuar
a ser viável e a valer a pena. Temos orgulho
de poder contar, graças a sua doação
e à de milhões de sócios, com
equipamentos como o navio Arctic Sunrise, que ajudam
a mostrar aos brasileiros e ao mundo o que realmente
está acontecendo na Amazônia.
Aproveitamos para lembrá-lo de participar
de nossa ciberação: escreva ao presidente
Lula pedindo que ele faça justiça
na Amazônia e crie a Reserva Extrativista
Verde para Sempre.
Obrigado pelo apoio,
Paulo Adário
Coordenador da Campanha Amazônia Greenpeace
Fonte: Greenpeace (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa