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PE CARLOS
BOTELHO: ALIADOS DA FLORESTA
Panorama
Ambiental
São Miguel Arcanjo (SP) - Brasil
Dezembro de 2003
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Historicamente, a
extração clandestina de palmito está
na origem dos principais conflitos socioambientais
no extremo sul da Região Administrativa de
Sorocaba e Vale do Ribeira.
Apreciado e valorizado, o palmito é produzido
por uma palmeira típica da Mata Atlântica
chamada juçara (Euterpe edulis).
Sua extração exige a derrubada da
palmeira. Isso gera dois problemas. O ciclo de reprodução
da Euterpe edulis é longo. Ela leva tempo
até alcançar o porte em que pode fornecer
um palmito de boas dimensões.
Ao contrário de outras palmeiras, não
é possível obter-se uma árvore
nova a partir do replantio de partes de uma árvore
formada. É preciso sempre partir da semente
e lutar contra o alto índice de mortalidade
das mudas.
O palmito, em nossa região, foi explorado
de maneira predatória durante décadas,
fato que levou à drástica redução
dos estoques naturais da espécie, concentrados
atualmente em unidades de conservação,
como o Parque Estadual "Carlos Botelho".
Em conseqüência, o Parque tornou-se alvo
dos extratores: a maior parte do palmito obtido
clandestinamente na região e apreendido pela
Polícia Ambiental vem de lá.
Dois fatores impulsionaram a prática: falta
de alternativas de geração de renda,
especialmente na zona rural, e a contínua
demanda por palmito de juçara no mercado
consumidor, mesmo com o surgimento de substitutos
como pupunha, açaí, palmeira real,
etc.
O esquema de repressão à ação
dos palmiteiros não surte o efeito esperado,
em decorrência da desproporção
entre o número deles e o de guardas do Parque
e a extensão daquela unidade.
Uma das soluções alternativas, que
ali vem sendo testada, é a reposição
do estoque a médio e longo prazos, pelas
vias do repovoamento ou o enriquecimento da espécie,
nas áreas de vegetação secundária
em fase inicial de sucessão, com a utilização
da mão-de-obra hoje dedicada ao corte de
palmito.
Resultado interessante desse encaminhamento é
que o bairro rural do Rio Preto, no município
de Sete Barras, conhecido como um foco de coleta
clandestina de palmito no interior do Parque Estadual
"Carlos Botelho", sedia, há quase
cinco anos, a Associação do Desenvolvimento
Comunitário do Rio Preto. Ela é formada
por moradores interessados no repovoamento de palmiteiro
juçara em áreas de bananal abandonado,
com o apoio da Fundação Florestal
e do Instituto Florestal.
O trabalho todo, da montagem do viveiro à
formação das mudas, foi executado
em regime de mutirão, com a participação
predominante de senhoras, idosos e jovens da comunidade.
Ao Instituto Florestal coube a coordenação
técnica e administrativa, o fornecimento
de alimentação e transporte, além
de cuidar do
viveiro quando não havia mutirões.
A Fundação Florestal ficou responsável
pela orientação técnica e mobilização
dos moradores. A Prefeitura de Sete Barras também
colaborou com melhorias nas estradas do bairro e
transporte de terra e esterco para o viveiro.
Iniciativas como essa estão promovendo a
aproximação dos moradores com os funcionários
do parque, que se viam até então como
adversários irreconciliáveis.
E, aos poucos, os dois lados vão se dando
conta de que, pela via da cooperação,
é possível conjugar o plantio, a reprodução
e a extração legal do palmito com
a preservação do Parque, sem o qual
a obtenção das sementes seria praticamente
impossível.
Na complexa luta pela preservação
da Mata Atlântica, um capítulo interessante
e original está sendo escrito no Parque Estadual
"Carlos Botelho" e em seu entorno.
Fonte: PE Carlos Botelho
Assessoria de imprensa