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DEBATE REALÇA
NECESSIDADE DE
MAIS INFORMAÇÕES SOBRE TRANSGÊNICOS
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Novembro de 2003
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José Jorge
Neto/SMA  |
“O
consumidor não quer ser cobaia, quer
saber o que está consumindo e o que
está comprando nas prateleiras dos
supermercados.” A afirmação
é de Marilena Lazzarini, coordenadora
executiva do Instituto de Defesa do Consumidor
- IDEC, em sua palestra durante curso sobre
transgênicos, realizado na quarta-feira
(1911), no Auditório Augusto Ruschi,
na sede da Secretaria do Meio Ambiente do
Estado - SMA.
O evento, que foi organizado pelo Programa
Estadual de Apoio às ONGs – PROAONG,
contou ainda com a participação
de Washington Novaes, jornalista, Rubens Nodari,
especialista em transgenia, da Secretaria
de Biodiversidade e Florestas, do Ministérios
do Meio Ambiente, e professor da Universidade
Federal de Santa Catarina, Patrícia
Fukuma, advogada, especialista em biotecnologia
e em relações de consumo, e
Antônio Monteiro, advogado da Monsanto
do Brasil Ltda., empresa que detém
patentes sobre organismos geneticamente modificados
- OGMs.
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Ação
judicial
Marilena Lazzarini
lembra que o IDEC promoveu uma ação
judicial, em 1998, para impedir a autorização
do plantio da soja transgênica pela Monsanto,
exigindo a realização prévia
de Estudo de Impacto Ambiental. Na sua opinião,
faltou uma fiscalização mais efetiva
do governo federal sobre a introdução
desse produto no mercado e suas conseqüências
na alimentação humana e no meio ambiente,
pois não há, ainda, estudos conclusivos
sobre os efeitos dos OGMs.
O jornalista Washington Novaes considerou que a
imprensa vem distorcendo as informações
sobre a questão, discutindo apenas “quem
é contra ou a favor dos alimentos transgênicos
provocando apenas divergências”, sem esgotar
o assunto. A imprensa, segundo Novaes, deixa de
esclarecer que é necessária a realização
de mais estudos científicos.
De acordo com o jornalista, a Lei 8.974, conhecida
como a Lei de Biossegurança, pretende regulamentar,
entre outras coisas, a questão do plantio
e consumo de OGMs, além de prever, segundo
o artigo 22, parágrafo 1º, que o regulamento,
a ser aprovado, poderá estabelecer a quantidade
mínima de OGMs que dispense a rotulagem.
Por esse motivo, salientou que somente a informação
plena e adequada permitirá rastrear eventuais
danos à saúde e ao meio ambiente ao
longo do tempo.
Lembrou ainda que o Ministério do Meio Ambiente
conseguiu incluir no projeto um dispositivo para
que não atendesse apenas aos interesses dos
plantadores e produtores de sementes e agrotóxicos,
“mas é provável que o Congresso o
aprove com muitos prejuízos, por causa da
má condução do processo por
parte do governo anterior e atual”.
A Lei 8.974 foi aprovada pelo Congresso Nacional
em 1995, estabelecendo as normas de segurança
e mecanismos de fiscalização do uso
das técnicas de engenharia genética
na construção, cultivo, manipulação,
transporte, comercialização, consumo,
liberação e descarte dos OGMs e seus
derivados. A partir dela foi criada a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança
- CTNBio, órgão ligado ao Ministério
da Ciência e Tecnologia, com a função
de proceder a análises e avaliar os riscos
dos OGMs e seus derivados e prestar apoio técnico-consultivo
e assessoramento ao Governo Federal.
A advogada Patrícia Fukuma ressaltou que
a Lei 8.974 disciplina o desenvolvimento e uso das
técnicas de engenharia genética e
não a proíbe, como querem fazer parecer
algumas correntes contrárias à biotecnologia,
que têm impedido que o Brasil avance com as
pesquisas nessa área, onde poderia se assumir
posição de vanguarda. “Não
existe ainda dados acerca de seus efeitos na saúde
e no meio ambiente”, acrescentou.
Antônio Monteiro, assessor jurídico
da Monsanto, disse que o grande entrave é
a discussão da competência da Lei de
Biossegurança para definir sobre o que deve
ser objeto de Estudo de Impacto Ambiental-Relatório
de Impacto Ambiental – EIA-RIMA.
Pesquisas
“O Brasil dispõe
de vários centros de excelência em
pesquisa em biotecnologia, com cientistas e pessoal
altamente qualificados, destacando-se a Empresa
Brasileira de Pesquisas Agropecuárias - EMBRAPA,
a Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ,
diversas universidades e empresas públicas
e privadas”, esclareceu o professor Rubens Nodari,
da Universidade de Santa Catarina e do Ministério
do Meio Ambiente.
Para o professor, para o desenvolvimento econômico
e social do País é preciso aplicar
e manter investimentos em biotecnologia, de forma
a incrementar a produção e a comercialização
de produtos e serviços e, principalmente,
gerar conhecimentos derivados de nossa rica biodiversidade.
Os transgênicos
Os transgênicos
ou organismos geneticamente modificados - OGMs são
produtos desenvolvidos em laboratório, a
partir da introdução de genes de determinados
seres vivos (vegetais ou animais) em outros seres
vivos. A tecnologia, aplicada na criação
de produtos transgênicos, é a engenharia
genética e quem mais investe no seu desenvolvimento
são as empresas fabricantes de agrotóxicos.
As sementes transgênicas são patenteadas,
o que significa que os agricultores têm que
pagar o preço imposto pelas empresas de biotecnologia,
que alegam que há maior resistência
a pragas e aumento significativo da produtividade.
Os argumentos contrários aos transgênicos
se apoiam nos possíveis riscos à saúde
humana e ao meio ambiente. Com a introdução
dos genes que conferem resistência a herbicidas,
pragas e ervas daninhas podem também desenvolver
maior resistência, o que tornará necessária
a aplicação de defensivos mais fortes
ou em doses maiores, podendo provocar o desequilíbrio
do ecossistema. Com a possibilidade de intensificação
do uso de agrotóxicos, aumenta também
o risco de maior poluição dos rios
e solos, comprometendo inclusive o lençol
freático. Além disso, há o
temor de que os OGMs podem se propagar no meio ambiente,
sem controle.
Rejeição
Segundo pesquisas
encomendada pelas organizações não-governamentais
que integram a Campanha Por Um Brasil Livre de Transgênicos,
37% dos brasileiros já ouviram falar de organismos
geneticamente modificados - OGMs. Dos entrevistados,
71% rejeitam os produtos transgênicos, preferindo
consumir alimentos naturais. E, para 92% , os alimentos
que eventualmente contenham transgênicos deveriam
publicar a informação no rótulo.
Na pesquisa realizada pelo IBOPE, entre 7 e 10 de
dezembro de 2002, com 200 pessoas, maiores de 16
anos de idade, em todas as regiões do Brasil,
65% dos entrevistados, que disseram conhecer transgênicos,
acham que o plantio dessas espécies deveria
ser proibido porque há divergências
na comunidade científica quanto aos riscos
que os OGMs representam à saúde dos
consumidores e para o meio ambiente.
Segundo Marilena Lazzarini, “a pesquisa IBOPE reforça
o pedido do IDEC junto ao presidente Lula de revogação
imediata do decreto de rotulagem. “Negar a informação
significa impedir a sociedade se manifeste se quer
ou não os transgênicos no Brasil”.
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente
de São Paulo (www.ambiente.sp.gov.br)
Rosely Martin