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GREENPEACE
E IBAMA MONITORAM TRANSPORTE DE
MADEIRA EM ÁREA DE CONFLITO NO PARÁ
Panorama Ambiental
Porto de Moz (PA) – Brasil
Novembro de 2003
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O
Ibama liberou hoje duas balsas com 500 metros
cúbicos de madeira (350-360 toras),
das espécies massaranduba e timborana,
teoricamente provenientes da Fazenda Caroçal,
reivindicada pela empresa Madenorte na área
da futura reserva extrativista Verde para
Sempre, em Porto de Moz (PA). De acordo com
o Ibama, a Madenorte apresentou toda a documentação
necessária para o transporte, mas recomendou
que a empresa não carregue ou transporte
mais nenhuma balsa até que os agentes
do Instituto cheguem para inspecionar o Plano
de Manejo Florestal (PMF) da empresa, o que
deve acontecer em dois dias.
Agentes do Ibama, do Exército e da
Polícia Federal chegaram a Porto de
Moz na |
semana
passada (13/11) para inspecionar todos os
PMFs na região proposta para a criação
das reservas extrativistas Verde para Sempre,
em Porto de Moz, e Renascer, no vizinho município
de Prainha (1). Na mesma época, um
time do Greenpeace a bordo do navio MV Arctic
Sunrise, um barco regional, avião e
helicóptero, além de lanchas
rápidas, está na região,
para apoiar a luta das comunidades locais
pela criação das reservas e
para expor a inaceitável situação
de ilegalidade, crimes ambientais, grilagem
de terras públicas e violência
vigente nestas regiões remotas do Pará.
Além de identificar as áreas
de exploração predatória
e ilegal, o Greenpeace tem participado de
bem-sucedidas reuniões nas comunidades,
organizadas pela liderança local para
discutir a criação das reservas.
A organização ambientalista
e as lideranças comunitárias
enfrentam uma forte contra-propaganda dos
grandes madeireiros e do prefeito de Porto
de Moz, Gerson Campos, baseada em falsos argumentos.
O Greenpeace avistou pela primeira vez na
manhã de ontem (16/11) o barco-empurrador
Madernorte XX com duas grandes balsas metálicas
subindo o rio, totalmente vazias. Durante
a noite, o rebocador foi visto descendo o
rio Jaurucu com duas balsas cheias de madeira
em tora, quando ativistas da organização
subiam o rio em direção à
comunidade Apeí. Imediatamente, o Greenpeace
avisou o Ibama e acompanhou a balsa no inflável
“Anaconda”. Cerca de 40 minutos depois, por
volta de 23h, quatro policiais federais e
quatro oficiais do Exército pararam
a balsa no meio da noite para fiscalização.
A balsa foi liberada no final desta manhã
e foi seguida de perto pelo Greenpeace. Neste
momento, a embarcação está
no Rio Amazonas, indo para o Porto de Breves,
onde a Madernorte tem uma serraria. Após
o processamento industrial, a madeira será
exportada.
O grupo Madenorte (2), controlado por José
Severino Filho, produz madeira serrada e madeira
compensada, das quais 90% são destinadas
à exportação, principalmente
para os EUA (55%), Europa (30%) e Ásia
(10%). O relatório “Pará: Estado
de Conflito”, recém publicado pelo
Greenpeace, mostra que a empresa está
fortemente envolvida com grilagem de terras
públicas. A Madenorte também
é acusada de violência contra
as populações locais no Relatório
Brasileiro para o Alto Comissariado a ONU
para os Direitos Humanos.
A empresa alega que, desde julho de 2002,
o Ibama havia autorizado seu plano de manejo
na Fazenda Caroçal, cuja área
reivindicada pela empresa é de 56 mil
hectares. No entanto, durante audiência
pública em Porto de Moz em setembro
de 2002, representantes da comunidade Itapéua,
vizinha à Fazenda Caroçal, declararam
que a área possui menos de 500 hectares,
pertencentes ao Sr. Edson Tenório.
Eles também afirmaram que as terras
atrás dessa fazenda são de uso
tradicional da comunidade. O Greenpeace, que
esteve presente no encontro, observou que
a empresa foi acusada pelas comunidades locais
de grilagem de terra e outras irregularidades
em seu plano de manejo (3).
“Ainda que a Madenorte tenha apresentado toda
a documentação da madeira aos
agentes, a investigação do Greenpeace
sobre a situação fundiária
dos planos de manejo na região de Porto
de Moz revela que nenhum deles apresenta documentação
sobre a pose da terra com sustentabilidade
legal para aprovação dos projetos”,
disse Paulo Adário, coordenador da
campanha da Amazônia do Greenpeace.
“Em regiões remotas da Amazônia,
como em Porto de Moz, a simples apresentação
de todos os documentos não é
suficiente para provar a legalidade da madeira.
O plano de manejo da Madenorte, por exemplo,
é feito em área grilada. Embora
a nova administração do Ibama
esteja passando um eficiente pente fino na
área, a legislação florestal
e os regulamentos do próprio Ibama
precisam mudar radicalmente. É uma
vergonha que o patrimônio ambiental
da Amazônia, a última grande
floresta tropical do planeta, seja destruído
por que um pedaço de papel inconsistente
o permite.”
O Greenpeace espera que o Ibama suspenda todos
os planos de manejo na região de Porto
de Moz e Pranha e exige que empresas como
a Madenorte e seus clientes internacionais
e brasileiros deixem de consumir e explorar
madeira da região até a criação
das reservas extrativistas Verde para Sempre
e Renascer. O Greenpeace e uma rede de entidades
locais, nacionais e internacionais espera
que o governo Lula crie imediatamente as reservas
extrativistas na região a fim de garantir
que a floresta seja explorada de forma realmente
sustentável do ponto de vista ecológico
e social, através de planos de manejo
comunitários, inclusive de produtos
madeireiros, de baixo impacto.
O futuro da Amazônia está em
um novo modelo social e econômico do
uso responsável da floresta aliada
ao estabelecimento de uma rede de áreas
protegidas. As empresas madeireiras verdadeiramente
comprometidas com atividades legais, sustentáveis
e certificadas têm um lugar neste futuro,
mas o principal esforço deve se concentrar
em trazer o poder do Estado e a justiça
social e ambiental para a Amazônia.
O único caminho para alcançar
este objetivo é através do compromisso
dos governos federal e estadual para com a
região, com o apoio da cooperação
internacional e o trabalho conjunto com as
comunidades tradicionais. |
Notas:
(1) O Greenpeace
vem investigando a região desde 1997 e colocou
à disposição do Ibama o seu
banco de dados e mapas, resultados de monitoramento
aéreo, informações repassadas
pelas comunidades e documentos oficiais. Durante
os primeiros dias de operação, o Ibama
já apreendeu um razoável volume de
madeira ilegal e suspendeu os dois planos de manejo
inspecionados por seus agentes, inclusive o plano
de manejo de propriedade de Benedito Lobato Marques,
inspecionado nos últimos três dias.
Moradores da região levaram o Ibama a áreas
de exploração ilegal fora dos limites
do plano de manejo. A madeira aí encontrada,
após decisão judicial, deverá
ser doada para as comunidades locais. Veja o mapa
do Greenpeace sobre a situação fundiária
dos PMFs na região de Porto de Moz, que foi
entregue ao Ibama em outubro de 2003.
(2) O grupo inclui a Madenorte S/A Laminados e Compensados,
Norte Madeiras Importação e Exportação
Ltda. e a Marajó Island Business Ltda. As
várias multas recebidas provam que as empresas
do Grupo Madenorte têm estado envolvidas na
exploração ilegal de madeira de forma
sistemática. Entre outubro de 1999 e novembro
de 2002, o Ibama multou a Madenorte em pelo menos
R$ 1,1 milhão. A Madenorte reivindica a posse
de 200 mil hectares de florestas nos municípios
de Breves, Portel, Prainha e Porto de Moz. Porém,
em seu PMF, a empresa afirma que o grupo possui
uma área total menor, de 144.700 hectares
em três propriedades. A Madenorte admite que
teria de ter uma área total de 360 mil hectares
sob manejo (em um ciclo de exploração
de 30 anos) a fim de suprir sua demanda atual de
240 mil metros cúbicos de madeira. O grupo
consome 175 mil metros cúbicos de toras por
ano, das quais 60% são provenientes de terceiros.
(3) A Madernorte foi pilhada em outro caso de grilagem
investigado pelo Greenpeace e exposto no recém-lançado
relatório “Para: Estado de Conflito”. Documentos
de terra expedidos pelo Iterpa e pelo Incra foram
apresentados pela Madenorte ao Ibama solicitando
autorização para explorar a Fazenda
Uruará, localizada em Prainha, município
vizinho a Porto de Moz. No entanto, a documentação
revela que a empresa não possui título
definitivo da terra. A área é arrendada
por 31 indivíduos que também não
são donos da terra. Entre 2001 e 2002, eles
pediram declarações de posse de várias
áreas para o Iterpa, todas elas um pouco
menores do que 2,5 mil hectares – já que
acima desse limite, as concessões de uso
e doações de terra pública
precisam ser aprovadas pelo Congresso. Curiosamente,
nenhuma destas pessoas vive em Porto de Moz – todos
declararam morar em Breves, a cidade onde fica a
serraria da Madenorte. Todos têm a mesma profissão:
“industriários”. As coincidências ficam
ainda maiores: entre quatro deles, dois dividem
números idênticos de RGs e CPFs, e
o mesmo endereço. O Greenpeace chegou os
31 nomes para saber se eles constavam na lista de
mais de 2,5 mil membros do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Porto de Moz. Porém, nenhum deles
foi encontrado morando na área proposta da
reserva extrativista. Apesar dessa situação
bizarra, de acordo com documentos do Iterpa, todas
estas pessoas têm posse exclusiva e legítima
da terra. O Ibama, porém, não aprovou
o PMF da Madenorte na fazenda Uruará “porque
a terra não pode ser arrendada por alguém
que não a possui”. Depois da negativa do
Ibama, várias destas pessoas apresentaram
seus próprios PMFs ao Ibama, usando o mesmo
engenheiro florestal, que é empregado da
Madenorte. Todos os planos foram aprovados.
Fonte: Greenpeace (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa
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