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AMBIENTALISTA
INDIANA PEDE MAIOR RIGOR
NA QUESTÃO DOS TRANSGÊNICOS
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2003
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A ecologista indiana
Vandana Shiva pediu à ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, para que interceda junto ao governo
brasileiro na tentativa de mudar diretrizes em nível
global que estariam causando prejuízos ao meio
ambiente e à sociedade, como as da OMC (Organização
Mundial do Comércio). Elas se encontraram na
última sexta-feira, no Ministério do
Meio Ambiente. "Nós duas temos preocupações
semelhantes com o meio ambiente, com as injustiças
sociais. Quando nos encontramos, procuramos debater
temas emergentes no contexto internacional. Além
disso, Brasil e Índia têm em comum sua
força biológica e cultural", justificou
a indiana.
Segundo Vandana, houve um acirramento do interesse
das grandes indústrias farmacêuticas
em nível global pelos recursos genéticos
após a chamada rodada de Doha da OMC, em novembro
de 2001. "Precisamos de mais alianças
com países europeus para tentar garantir a
manutenção dos conhecimentos e das culturas
tradicionais e da própria diversidade biológica
frente à predominância dos valores de
mercado", disse. Em setembro, no México,
ocorrerá nova reunião da Organização
Mundial do Comércio. Na ocasião, a ministra
Marina Silva deverá participar de uma mesa
redonda com outras lideranças globais para
tratar de comércio internacional e meio ambiente.
OGMs
De acordo com a ativista,
a tentativa de avanço das culturas transgênicas
na Índia se assemelha em muito ao ocorrido
no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul. "Em
meu país pequenos agricultores também
foram iludidos sobre supostas vantagens dos OGMs",
disse. Conforme Vandana, empresas transnacionais "inventam
dados" e "pregam a contaminação"
de lavouras com transgênicos, forçando
uma "política de fato consumado".
Artigo recente da revista inglesa Science mostrava
supostos benefícios das culturas geneticamente
modificadas em solo indiano. Vandana entregou à
ministra Marina Silva uma coleção de
estudos desenvolvidos por universidades, institutos
e organizações não-governamentais
que contradizem os dados apresentados pela revista.
"Esse é um documento oficial para o governo
indiano. Os cientistas que assinam aquele artigo nunca
estiveram na Índia, apenas repassaram informações
recebidas de uma grande empresa de biotecnologia",
afirmou. "Os organismos geneticamente modificados
estão agora proibidos na Índia devido
ao fracasso, sob todos os aspectos, das experiências
que se realizaram em quatro Estados", salientou
a ecologista.
Conforme Marina Silva, o Brasil também sofre
forte pressão pela liberação
comercial dos transgênicos, mas o Brasil, como
signatário da Convenção da Biodiversidade,
deveria seguir os princípios desse documento.
"O Ministério do Meio Ambiente sempre
defendeu o princípio da precaução,
a exportação da safra transgênica
atual e a manutenção das atribuições
de direito de cada órgão do governo
federal", enfatizou a ministra.
Diálogos
Em janeiro deste ano,
durante o Fórum Social Mundial, o físico
e ecologista Fritjof Capra propôs à ministra
Marina Silva a realização de uma série
de reuniões com especialistas de todo o globo
para auxiliar o novo governo brasileiro nos mais variados
temas. O primeiro desses encontros, chamados de Diálogos,
ocorrerá em agosto deste ano, e irá
tratar de temas como: alfabetização
ecológica, agricultura orgânica, energia
e remodelagem de processos industriais.
Vandana Shiva, uma das participantes confirmadas,
acredita que o Brasil tem a oportunidade de unir e
mobilizar muitos países para que o mundo tomenovo
e melhor rumo. "Todo o globo está de olhos
voltados para o Brasil, para as atitudes que vocês
têm tomado em relação ao meio
ambiente, à sociedade, à economia",
disse. Para ela, o futuro trará uma nova relação
social e entre as pessoas e a natureza, sem destruição
da biodiversidade, com mais justiça social.
"Espero poder trazer meus netos ao Brasil no
futuro e não ser obrigada a consumir qualquer
organismo geneticamente modificado", comentou
otimista a indiana.
Vandana Shiva é criadora e coordenadora da
Fundação de Pesquisa para Políticas
de Ciência, Tecnologia e Recursos Naturais da
Índia, Vandana é pós-doutora
em Filosofia da Ciência e autora de livros como
Biopirataria e Monoculturas da Mente.
Fonte: Ministério do Meio
Ambiente (www.mma.gov.br)
Assessoria de imprensa |