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ALTO ÍNDICE
DE DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA LEGAL
REQUER AÇÃO CONJUNTA DO GOVERNO
Panorama Ambiental
Porto Alegre (RS) – Brasil
Junho de 2003
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Efetivar
a transversalidade da questão ambiental em
todas as áreas de governo é a única
forma de evitar os índices alarmantes constatados
em 2002, como a perda estimada de mais 25 mil km2
de cobertura florestal.
Os dados divulgados
pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)sobre
o desmatamento na Amazônia, que revelam um
aumento de 40% entre 2001 e 2002, representam um
duro golpe nos esforços pelo desenvolvimento
sustentável. Indicam a perda do controle
pelos poderes públicos sobre uma situação
em si já grave, em que estes índices
se encontravam relativamente estáveis no
elevado patamar de 17 mil quilômetros quadrados
desmatados por ano. Neste contexto, os 25 mil quilômetros
quadrados estimados para 2002 pelo INPE soam catastróficos.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) instituiu
um grupo de trabalho com representantes de diversos
órgãos governamentais (Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
- Ibama, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
- Embrapa, Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária - Incra, Sistema de Vigilância
da Amazônia - Sivam), institutos de pesquisa
(Museu Paraense Emílio Göeldi - MPEG
e Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
- Inpa), e organizações não-governamentais
(Instituto Socioambiental - ISA, Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia - Ipam e Instituto do
Homem e do Meio Ambiente da Amazônia - Imazon)
para analisar e qualificar os dados do desmatamento,
com vistas a identificação das áreas
críticas e dos principais vetores. Com isso,
espera-se avançar em medidas de prevenção
e controle mais adequadas e eficientes.
Além da perda em cobertura florestal e do
impacto sobre a biodiversidade e os recursos hídricos,
o desmatamento de 2002 representou a emissão
de cerca de 260 milhões toneladas de carbono
na atmosfera, agravando o efeito estufa. Ou seja,
além das perdas internas, o aumento do índice
amplia a vulnerabilidade do país diante da
comunidade internacional, colocando o Brasil entre
os cinco maiores emissores do Planeta. O desmatamento,
nestes níveis, representa cerca de ¾
das emissões nacionais de gases estufa.
É inadiável que o governo brasileiro
assuma compromissos com a redução
consistente e progressiva dos índices gerais
de desmatamento, combatendo frontalmente o desmatamento
ilegal. Cabe-lhe decidir imediatamente sobre um
conjunto de medidas que tenha como referência
as áreas críticas, que respondem pelo
aumento do desmatamento, e as áreas de risco
de seu crescimento em função da expansão
da fronteira agrícola e da implantação
de obras de infra-estrutura, para nelas concentrar
os mecanismos de controle existentes, estabelecer
condicionamentos rígidos à concessão
de crédito, e viabilizar condições
locais de governabilidade antes de implantar novas
obras ou pavimentar estradas.
As medidas requeridas para enfrentar esta emergência
precisam envolver diretamente os ministérios
responsáveis pelas políticas que provocam
o desmatamento, como Agricultura, Transportes, Minas
e Energia e Desenvolvimento Agrário, de modo
a dar tradução concreta ao posicionamento
da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, de que
as questões ambientais devem ser tratadas
de forma transversal pelo conjunto do governo.
No entanto, também é indispensável
que os programas do MMA, como o Programa Piloto
de Proteção às Florestas Tropicais
- PPG7, o Programa Nacional de Florestas - PNF e
o Áreas Protegidas da Amazônia - ARPA,
que se encontram virtualmente paralisados desde
o final do governo passado, sejam reorientados segundo
a análise dos índices agora divulgados
e passem a apresentar níveis mais satisfatórios
de implementação e de integração.
O governo deveria, ainda, reavaliar a posição
oficial do Brasil no âmbito das negociações
internacionais sobre mudanças climáticas
globais, que tem sido meramente defensiva neste
aspecto, propondo a inclusão no Protocolo
de Kioto de algum mecanismo que permita estimular
os países em desenvolvimento a reduzirem
emissões de gases estufa oriundas de desmatamento,
mediante compensação pela comunidade
internacional.
Os dados do INPE estão disponíveis,
desde ontem (25/06), no site www.obt.inpe.br
.Em uma decisão inédita, o governo
brasileiro passa, a partir de agora, a divulgar
e manter acessíveis as informações
mapeadas pelo Instituto. Com essa iniciativa o monitoramento
do desmatamento poderá ser feito em tempo
real, com a participação da sociedade
em geral, o que não acontecia antes.
Fonte: Instituto Sócio
Ambiental (www.socioambiental.gov.br)
Assessoria de imprensa