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1ª
ASSEMBLÉIA GERAL DOS
POVOS INDÍGENAS DO MARANHÃO
Panorama Ambiental
Manaus (AM) - Brasil
Setembro de 2003
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Nós representantes
dos Povos Indígenas no Estado do Maranhão,
reunidos em Assembléia Geral de 10 a 14 de
setembro, na cidade de santa Inês, MA, ao
tomarmos conhecimento das várias e dramáticas
situações em que se encontram muitos
dos nossos parentes, e nós mesmos, queremos
informar e denunciar publicamente quantos contribuem
com o descaso, a violência, as invasões,
omissão criminosa, a cumplicidade contra
nossa vida.
Exigimos dos poderes públicos que a nossa
indignação e revolta se transforme
em respeito e atendimento concretos aos nossos direitos.
Nesse sentido denunciamos o que vem ocorrendo:
1. Na Terra Indígena Alto Turiaçu,
do povo Guajá: extração maciça
de madeira no norte da área, tendo como porta
de entrada a cidade de Centro de Guilherme, onde
é notória a cumplicidade do prefeito
local e do delegado de polícia. Só
no ano de 2002, nesta região, foram apreendidos
cerca de 3.000 metros cúbicos de madeira.
Todo ano constatam-se várias tentativas de
ocupação para colocar vastas extensões
de roças por parte de dezenas de famílias
na região do Limão e Igarapé
do Sangue, no município de Zé Doca.
2. Na terra indígena Awá-Guajá:
apesar da demarcação física
desta área no mês de fevereiro deste
ano, as fazendas, as madeireiras e os posseiros
permanecem dentro do território indígena,
inclusive aumentando as manifestações
de ameaças contra os índios Awá-Guajá
e quantos apóiam a demarcação.
Sabe-se que por trás de tudo isso existe
a interferência dos representantes da agropecuária
Alto Turiaçu, do grupo Schain-Cury, que ocupa
uma área de 37.800 ha. Ao norte da área
Awá-Guajá. Recentemente, tivemos informações
que o próprio Posto Indígena Juriti,
situado ao sul da área Awá-Guajá,
foi atacado pela enésima vez por posseiros
e seguranças de fazendeiros que ocupam a
área indígena.
3. Na área indígena Caru, do povo
Guajá: no mês de agosto, a região
norte desta área, mais uma vez, foi objeto
de invasão articulada por cerca de 50 famílias.
Só a intervenção tempestiva
da Polícia Federal, conseguiu despejar os
invasores. Entretanto, a ação originou
um conflito armado em que um agente da Polícia
Federal foi ferido a bala. Isso comprova o alto
grau de ousadia dos invasores.
4. Na área indígena Krikati: apesar
de existir um plano de ação formal
para indenização e regularização
das famílias que ainda ocupam a área
Krikati, constata-se a lentidão com que está
se procedendo para efetivar o planejado, acarretando
insegurança e desgaste de toda ordem para
aquele povo indígena.
5. Nas demais áreas indígenas: apesar
de estarem demarcadas e homologadas quase todas
elas são objeto de extração
de madeira, de exploração ilegal da
folha de jaborandi, de matança de caça
e outros. Além disso, com o crescimento demográfico
dos povos indígenas no Estado, o alto nível
de degradação ambiental, e no intuito,
também, de corrigir distorções
cometidas à época da identificação
e demarcação de algumas áreas
indígenas no centro sul do Estado, percebe-se
a necessidade de ampliar algumas terras indígenas.
Há anos os Guajajara de Bacurizinho e Morro
Branco, no município de Grajaú, bem
como os Canela da área Porquinhos, no município
de Barra do Corda, vêm reivindicando uma correção
territorial e ampliação de suas terras,
sem obterem significativos resultados.
6. No que tange à saúde, o quadro
que emergiu, a partir das informações
apresentadas é bastante caótico. Chamou
a atenção, contudo, o que vem ocorrendo
na região de Pindaré –Alto Turiaçu,
onde a Associação Pró-Vida,
conveniada com a FUNASA tem a responsabilidade de
cuidar da saúde indígena na Região.
Ouvimos relatos de negligência e descaso de
toda ordem por parte de funcionários da Associação
que originaram ao menos 6 mortes de parentes nossos
só neste ano de 2003. Foi feito um apelo
para que o Ministério da Saúde não
delegue para outros, funções e obrigações
constitucionais que ele próprio tem que cumprir.
7. No campo da educação escolar indígena
foram levantadas as omissões e as contradições
do governo do Estado do Maranhão, através
da GDH ( Gerência de Desenvolvimento Humano)
a quem compete garantir o ensino fundamental em
nossas áreas. O não cumprimento de
acordos e promessas de cursos sistemáticos
para capacitar os nossos professores, a falta de
construção de escolas e que estas
respondam às nossas necessidades culturais,
a falta de um projeto global de política
educacional no Estado, a inexistência de instrumentos
e canais de consulta com os professores e lideranças
indígenas para elaborar, implementar e fiscalizar
as ações educacionais em áreas
indígenas, a indefinição e
insegurança quanto á remuneração
dos professores e muitas outras omissões,
fazem da educação indígena,
no Estado, algo marginal, o que nos envergonha e
nos indigna.
Diante de tudo isso, sentimos a necessidade de sermos
ouvidos e consultados. Sentimos indignação
suficiente para gritar e reivindicar respeito e
atendimento aos nossos direitos. Queremos fazer
tudo isso num clima de diálogo, de construção
coletiva e afirmativa com os poderes públicos,
com o Governo Federal, com a Funai, com o Ministério
Público Federal, com o Governo do estado
do Maranhão e com todas aquelas instituições
que se dispõem a colaborar no respeito e
na prática da justiça, sem renunciar,
entretanto, ao que temos de mais sagrado: a nossa
autonomia e a nossa vida.
Santa Inês, Maranhão, 13 de setembro
de 2003.
Coordenação das Organizações
e Articulações dos Povos Indígenas
do Maranhão (Coapima)
Com o apoio das Organizações
Indígenas:
Articulação dos Povos e Organizações
Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito
Santo (Apoinme)
Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab)
Warã Instituto Indígena Brasileiro
Fonte: COIAB – Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira/www.amazonia.org.br
Assessoria de imprensa