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COMISSÃO
DA CÂMARA DISCUTE INSTALAÇÃO
DE
GUARNIÇÕES MILITARES EM TERRAS
INDÍGENAS
Panorama Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Setembro de 2003
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Respeito às
terras, a cultura e aos povos indígenas.
Esse foi o principal pedido dos índios durante
audiência pública na Comissão
de Relações Exteriores e de Defesa
Nacional da Câmara, para discutir o projeto
de lei que autoriza a construção de
guarnições militares em terras indígenas.
“Não somos contra, mas na instalação
de guarnições devem ser seguidos alguns
preceitos”, argumentou o representante da Federação
das Organizações Indígenas
do Rio Negro (FOIRN), Edilson Martins. Ele levou
uma proposta à comissão com regras
de convivência entre índios e militares.
Entre os pedidos, estão que a comunidade
indígena local seja comunicada antes da instalação
do pelotão e que a construção
considere a vida na aldeia e os impactos que podem
causar. “No Alto do Rio Negro há pelotão
a 100 metros da aldeia, e isso causa um impacto
muito grande”, disse.
Para o índio macuxi Júlio José
de Souza, do Conselho Indígena de Roraima,
a presença do Exército em seu estado
tem sido repleta de histórias tristes. Segundo
ele, até 87 a relação com Exército
era boa, mas a partir daí seu povo tem sofrido
com ações do Exército e da
polícia. “Onde vamos buscar ajuda se quem
está para defender a soberania nacional está
fazendo isso?”, questionou. Ele criticou também
a relação dos soldados do Exército
com as índias. “Hoje mesmo uma índia
me ligou pedindo ajuda porque está grávida
de um homem do Exército”, revelou.
Já no Mato Grosso, o Exército vem
colaborando com as comunidades indígenas
realizando levantamentos das terras para demarcação,
segundo representante das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira, Estevão
Takane. “Vamos precisar da colaboração
do Exército”, disse.
O projeto de lei autorizando as construções
de guarnições militares em terras
indígenas modifica a Lei nº 6.001, conhecida
como o Estatuto do Índio. Segundo as lideranças,
o estatuto está ultrapassado e precisa ser
revisado. O representante do Ministério da
Justiça, Cláudio Beirão, presente
na audiência, é da mesma opinião.
“Há necessidade da aprovação
de um novo Estatuto ou uma revisão da lei
6.001”, afirmou.
O representante do Ministério da Defesa,
coronel engenheiro Luiz Mensório Júnior,
disse que a presença do Exército nas
fronteiras é importante para garantir a soberania
nacional, proteger a Amazônia com valorização
da presença militar, além de serem
priorizadas ações para desenvolver
e vivificar a faixa da fronteira, em especial na
região Norte e Centro-Oeste. Ele explicou
que na fronteira desses locais há terras
indígenas e diversas unidades de conservação.
Representam, por exemplo, 89% da fronteira com a
Venezuela e 80% com a Colômbia. Mensório
Júnior disse que o governo deve estar nesses
locais para garantir a soberania brasileira, respeitando,
segundo ele, a comunidade local. “O Ministério
e o próprio ministro entende que postulados
dos índios devem ser reconhecidos por todos”,
afirmou.
Fonte: Agência Brasil (www.radiobras.gov.br)
/ www.amazonia.org.br
Luciana Vasconcelos