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ESTUDO MOSTRA
QUE ÁREAS PROTEGIDAS GARANTEM
ÁGUA PURA A CUSTO MAIOR PARA AS GRANDES
CIDADES
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Setembro de 2003
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Mais de 30% das
105 maiores cidades do mundo dependem de áreas
protegidas (parques e reservas) para seu abastecimento
de água, revela um estudo que o WWF e o Banco
Mundial estão lançando hoje em
Genebra, na sede da Organização das
Nações Unidas. Segundo a pesquisa,
as florestas protegidas por tais áreas ajudam
a manter a boa qualidade da água e podem
até ajudar a aumentar a quantidade, no caso
das
florestas tropicais úmidas.
Entre as cidades analisadas figuram seis capitais
brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília,
Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza. A situação
do Rio de Janeiro e de outras cinco cidades do mundo
é
analisada em profundidade. Com exceção
de Fortaleza, todas as cidades brasileiras pesquisadas
dependem em maior ou menor graus de áreas
protegidas para o abastecimento.
O estudo - realizado pela Aliança para a
Conservação de Florestas e Uso Sustentável,
formada pelo WWF e pelo Banco Mundial - traz dados
econômicos que demonstram como é muito
mais barato conservar as
florestas nas áreas de mananciais (fontes
de água) do que construir centros de tratamento
mais complexos para purificar a água poluída.
A cidade de Nova York ilustra essa equação.
Há décadas a administração
da
cidade optou por purificar a água potável
filtrando-a naturalmente pelas florestas, a um custo
inicial de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão
no período de dez anos. É sete vezes
mais barato do que os US$ 6 a 8 bilhões que
seriam gastos na forma tradicional de tratar e distribuir
água potável, mais US$ 300 a 500 milhões
anuais em custos operacionais.
"Não entender que áreas de mananciais
são estratégicas para o desenvolvimento
e a sobrevivência das cidades gera mais exclusão
social e prejuízo econômico e nos coloca
numa dinâmica suicida", afirma Samuel
Barrêto, coordenador do Programa Água
Para a Vida, do WWF-Brasil.
Florestas naturais bem manejadas minimizam o risco
de desmoronamento, erosão e assoreamento.
Elas melhoram substancialmente a pureza da água,
e em alguns casos também retêm e armazenam
a água, garantindo a integridade do solo.
O estudo será debatido no Congresso Mundial
de Parques, uma reunião que ocorre a cada
dez anos e que terá como tema em 2003 Benefícios
Além dos Limites. O Congresso será
em Durban, na África do Sul, de 8 a 15 de
setembro.
Intitulado "A Água, as Florestas e as
Cidades", o estudo traz três recomendações
para que as grandes cidades consigam garantir o
abastecimento de água para suas populações.
A primeira providência é a criação
de áreas protegidas em torno dos reservatórios
e mananciais. A segunda é o manejo de mananciais
que estão fora das áreas protegidas.
A ocupação ao redor dos reservatórios
precisa obedecer a critérios que garantam
a proteção da água. Finalmente,
o estudo ressalta a importância de restaurar
áreas degradadas.
A última recomendação é
urgente para as cidades brasileiras, sobretudo na
região da Mata Atlântica, em cidades
como São Paulo e Rio de Janeiro. Embora a
legislação restrinja a ocupação
de áreas de mananciais, há milhares
de pessoas habitando a beira de reservatórios,
como as represas Billings e Guarapiranga, em São
Paulo, ou morando dentro de áreas protegidas,
como o Parque Estadual da Cantareira, que também
abriga um importante manancial paulistano. Com a
degradação dessas áreas, as
companhias de abastecimento são obrigadas
a buscar água mais longe, a um custo maior.
"As alternativas estão se esgotando
ou ficando cada vez mais caras, principalmente na
Mata Atlântica", ressalta Barrêto.
"Mesmo reconhecendo a complexidade do problema,
o governo e a sociedade precisam encará-lo
com medidas concretas que não podem mais
ser adiadas, como o cumprimento da lei, garantindo
os direitos básicos dos cidadãos.
Nesse processo, as florestas e áreas protegidas
são aliadas estratégicas para o suprimento
de água nas cidades."
O WWF-Brasil propõe as seguintes medidas
a serem adotadas pelo Poder Público para
reverter o processo de degradação
de nossas reservas hídricas:
- Promover a integração das políticas
e intervenções setoriais, internalizando
a temática ambiental nos diversos setores
do Governo, para que a água seja entendida
como elemento estratégico para o
desenvolvimento do país;
- Ampliar as ações em parceria com
os Governos Estaduais, Municipais e Companhias de
Água e Esgoto para a proteção
dos mananciais e na recuperação e
revitalização dos rios e demais corpos
d'água;
- Incorporar na gestão dos recursos hídricos
os parâmetros representados pelo papel estratégico
das florestas no regime hídrico regional;
- Mudar a concepção adotada para a
água, de simples commodity para suporte à
vida;
- Preservar as funções hidrológicas,
biológicas e químicas dos ecossistemas,
adaptando as atividades humanas aos limites da capacidade
da natureza;
- Universalizar os serviços de saneamento
ambiental, assegurando uma oferta adequada de água
de boa qualidade para população e
promovendo a inclusão hídrica.
A proteção
dos mananciais é um dos eixos principais
da campanha "Água Para a Vida, Água
Para Todos", lançada pelo WWF-Brasil
em junho deste ano. "Nós consideramos
essa questão como prioritária e estaremos
trabalhando pela proteção, manejo
e recuperação dos mananciais e bacias,
como nosso estudo recomenda", diz Barrêto.
A Aliança
Em abril de 1998 o WWF e o Banco Mundial formaram
a Aliança Para a Conservação
de Florestas e Uso Sustentável em resposta
à contínua exaustão da biodiversidade
das florestas mundiais e dos bens e serviços
produzidos pela floresta, essenciais para o desenvolvimento
sustentável.
A íntegra
do estudo "A Água, as Cidades e as Florestas"
em inglês e um resumo da publicação
em português estão disponíveis
no endereço www.wwf.org.br.
Fonte: WWF (www.wwf.org.br)
Rebeca Kritsch (Assessoria de Comunicação)