Panorama
 
 
 

PROJETO “ARAQUIÇAUA” LAGOA ARARI
PATRIMÔNIO NATURAL DA HUMANIDADE, ILHA DO MARAJÓ

Panorama Ambiental
Ilha do Marajó (PA) – Brasil
Setembro de 2003

Ensinar o caboclo a restaurar o rio da sua vida e a refazer a história

O Grupo em Defesa do Marajó (GDM) tendo participado da inauguração da exposição itinerante do Museu do Marajó na histórica localidade de seu nascimento, em Santa Cruz do Arari – às margens do Lago Arari, berço ancestral da civilização marajoara e lugar da antiga Fazenda Santa Cruz, das missões da Companhia de Jesus na ilha do Marajó – evocou a Paz do rio dos Mapuá de 1659, entre os Sete Caciques marajoaras e portugueses e tupinambás do Pará, sob patrocínio de Antônio Vieira.
No momento, solicitou e obteve apoio da comunidade para o pleito que se trata nestas linhas dirigido à Presidência da República Federativa do Brasil. Cuja manifestação por meio público já se havia feito individual e anteriormente aos candidatos a Presidente e ao Presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva.
Quis o GDM na solenidade singela assinalar o movimento impregnado de símbolos ancestrais e reminiscências históricas, em que se casam energias humanas em busca de um destino comum. Cujo futuro se deseja demarcar no horizonte de 2010, com reconhecimento pela UNESCO dos esforços gerais de revitalização do tempo e do espaço, com a Reserva da Biosfera na Ilha do Marajó, inclusive em memória da paz de 26 de Agosto de 1659, que se perdeu entre árvores e chuvas do Rio dos Mapuá. Deste modo expedito, a gente marajoara às margens ancestrais do Lago Arari, no dia da Independência do Brasil, em 2003, dirigiu sua mensagem de apoio a estas arrojadas e utópicas idéias, que autoriza a continuar, passo a passo, a antiga demanda das gentes do lugar:

Corredor Ecológico e Ecoturístico da Bacia Arari

1. Sítio Araquiçaua: monumento do patrimônio natural, com interesse para educação patrimonial com ênfase no meio ambiente e na cultura popular para treinamento de recursos humanos aplicados ao ecoturismo e outras formas de desenvolvimento local sustentável.

2. Reserva de Desenvolvimento Sustentável Arari: a ser localizada no dito sítio Araquiçaua com fins científicos e proteção da mata ciliar do Baixo Arari com uso sustentável pela população tradicional ribeirinha; servindo de referência para planos de manejo com a proteção da natureza e manutenção da diversidade biológica e cultural de seus habitantes.

3. Consórcio Ecoturístico do Arari:

3.1 – Cidade de Cachoeira do Arari: portal para o corredor como um todo, deverá ter o Museu do Marajó, Casa de Dalcídio Jurandir e a Casa do Gallo como pontos focais. Seu porto fluvial no curso médio do rio Arari, integrado ao aeródromo e entroncamento rodoviário com a Foz do Camará (Salvaterra) e Ponta de Pedras tornam-na principal entroncamento da bacia.

3.2 – Comunidade de Tartarugueiro: localidade de afro descendentes na ilha de Sant’Ana (município de Ponta de Pedras) à margem da baía do Marajó, potencial para ecoturismo. Tem aptidão para repovoamento de tartarugas precisando de intensiva educação patrimonial (donde a educação ambiental se torna implícita), donde além da valorização de recursos culturais e do conhecimento tradicional deve agregar valor econômico à conservação e recuperação de recursos naturais.

3.3 – Lugar de Caracará: na foz do rio Arari, margem esquerda em face de Tartarugueiro. Porto para lanchas e veleiros entre a ilha do Marajó e Belém ou Icoaraci. Do porto Caracará sai ramal de estrada da rodovia Cachoeira do Arari – Foz do Camará (Salvaterra).

3.4 – Ilha Sant’Ana: município de Ponta de Pedras, antiga sesmaria dos frades das Mercês (1696), vestígios do primeiro engenho de açúcar da Ilha do Marajó. Dispõe de vila de moradores afros descendentes de grande interesse para ecoturismo.

3.5 – Igarapé Crairu: tradicional população ribeirinha descendente de antigos povos marajoaras, na ilha de Sant’Ana; tributário do Baixo Arari pela margem direita. A ilha está assentada em terreno geológico antigo, caracterizado pelo escudo pedregoso em grez do Pará, onde se acham as fontes do igarapé margeado por matas de palmeiras açaí (Euterpe oleracea).

3.6 – Porto Santo: comunidade cooperativa do município de Ponta de Pedras foi propriedade senhorial até meados do século XX. Adquirida pela Diocese de Ponta de Pedras passou a assentar trabalhadores rurais sem-terra em regime de cooperativa integral. Tem potencial para turismo cooperativo rural.

3.7 – Sítio Araquiçaua: indicado para monumento do patrimônio natural e reserva de desenvolvimento sustentável (a ser declarado, conforme este memorial).

3.8 – Igarapé do Por Enquanto: curso fluvial típico da zona de campos inundáveis na estação das chuvas, atalho antigo de tribos marajoaras em suas incursões entre a costa da baía e a região dos lagos, margeando o rio principal.

3.9 – Tesos dos Bichos: sítio arqueológico de cerâmica Joanes classificado pelo IPHAN pode ser declarado monumento do patrimônio natural pelo SNUC integrado ao corredor Arari.

3.10 – Igarapé do Severino: área preservada de interesse para pesquisa científica e ecoturismo e turismo rural em propriedade privada.

3.11 – Fazendas ecoturísticas: conjunto de propriedades particulares integradas ao corredor podendo ter RPPN’s em certos casos, com interesse histórico e pesquisas científicas inclusive.

3.12 – Vila do Jenipapo: comunidade tradicional de pescadores lacustres que deve ser objeto de projeto específico com vistas ao desenvolvimento sustentável com experiências em energia alternativa, saneamento básico, tecnologia pesqueira e pesquisa científica compatível.

3.13 – Teso do Pacoval: sítio arqueológico donde saíram as primeiras peças de coleção do Museu do Marajó. E donde, provavelmente, saíram originais para museus nacionais e estrangeiros. Convém declará-lo monumento do patrimônio natural como recurso à educação patrimonial da comunidade local.

3.14 – Santa Cruz do Arari: sede municipal e centro de pecuária familiar, tem potencial para turismo de interesse especial em referência ao Lago Arari e a arquitetura típica que oferece, adaptada da migração ibérica. Deveria dispor de observatório científico de referência ao ecossistema lacustre insular da foz do Amazonas.

4 – Lago Arari: – a ser declarado Patrimônio Natural da Humanidade como penúltima etapa preparatória ao reconhecimento internacional da ilha do Marajó como Reserva da Biosfera dentro do processo integrado supracitado.

5 – Ilha do Marajó: a ser declarada, cerca de 2010, em coroamento do encaminhamento referido e outros procedimentos específicos nas demais bacias, Reserva da Biosfera.
Segundo a Lei Federal nº 9.985/2000, art. 41; reserva da biosfera é um modelo de gestão integrada e participativa, adotada internacionalmente, contendo uma ou várias áreas-núcleo destinadas à proteção integral da natureza. Uma ou várias zonas de amortecimento onde só são admitidas atividades que não resultem em dano para as áreas-núcleo. E uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de ocupação e o manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos de modo participativo e em bases sustentáveis.
Tendo o ano 2010 por horizonte, pretende-se sensibilizar e mobilizar a comunidade marajoara acionando os poderes constituídos no sentido de uma série de medidas preparatórias à declaração oficial em epígrafe, em coordenação pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA e cooperação internacional. A idéia básica para projeto integrado participativo como o supracitado, inclusivo da população tradicional local e da cooperação externa multilateral, é antiga aspiração do GRUPO EM DEFESA DO MARAJÓ – GDM. Conforme expresso na Carta do Marajó-Açu ao encerramento do X Encontro em Defesa do Marajó, na cidade de Ponta de Pedras, em 30 de abril de 1995.
A ONG marajoara é oriunda da educação ambiental do campi Marajó, da Universidade Federal do Pará (UFPA), há mais de 20 anos. Converge o GDM, fundado com participação ativa de Camillo Vianna, com objetivos essenciais do MUSEU DO MARAJÓ – MdM, o qual recebe assistência técnica do Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG. O MdM foi criado originalmente por Giovanni Gallo, na vila de Jenipapo, com auxílio fundamental da comunidade de pescadores do Lago Arari, em 1973, transferido e estabelecido na cidade de Cachoeira do Arari, em 1981. O escritor Dalcídio Jurandir identificou na obra do fundador do MdM, junto à comunidade cabocla do Arari, motivos originais de seus romances da série Extremo-Norte, reconhecida pela Academia Brasileira de Letras com o prêmio Machado de Assis. De modo que a aliança estratégica que se estabeleceu em torno da parceria GDM – MdM vem revestida de legitimidade requerida para levar a bom termo o processo democrático para o desenvolvimento sustentável da população tradicional marajoara.
Significa dizer que a UFPA e o MPEG, através do GDM e do MdM respectivamente, têm realizado – embora de maneira embrionária – esta extensão especial em Marajó a ser melhor aproveitada. A indicação para projeto integrado em tela, a fazer parte da AGENDA MARAJÓ 21, é oportunidade para a União Federal, representada pelos órgãos federais citados, formalizar cooperação destacada na aliança marajoara estratégica incluindo a Associação de Municípios do Arquipélago do Marajó (AMAM), Associação de Vereadores da Ilha do Marajó (AVIM), Instituto Dalcídio Jurandir (IDJ) e outras instituições governamentais e não-governamentais.
Assim, o GDM contempla atividades integradas de parceria para criação de Reserva da Biosfera na ilha de Marajó até cerca de 2010, como meta de processo democrático, cujo inicio pode ser fixado na promulgação da Constituição do Estado do Pará, em 1989; que determinou dispositivo considerando o arquipélago de Marajó área de proteção ambiental. A fim de assegurar participação popular ao processo, o GDM pretende ademais promover a Educação Patrimonial da gente marajoara resgatando a memória de seus principais feitos históricos e a conservação do patrimônio natural e cultural.
O GDM propõe a Bacia do Rio Arari como campo específico para projeto demonstrativo a ser realizado por etapas, levando ao envolvimento parcial da comunidade do Estuário amazônico inclusive a população urbana de Belém e Macapá em suas interações com a ecorregião insular. O passo inicial podendo ser o sítio etno-histórico Araquiçaua acompanhado de atividades integradas na cidade de Cachoeira do Arari e comunidades de Retiro Grande, Caracará, ilha de Sant’Ana e fazendas do entorno rural tendo projetos de Ecoturismo e/ou RPPN em vista.
Sobre o mal conhecido Araquiçaua do rio Arari pode-se dizer que é neste porto do Sol onde o astro do dia ata a rede de seu pernoite e dorme até o nascer de um novo dia (conforme mitologia tupinambá, a partir do Maranhão para norte; evidenciada, sobretudo pela posição relativa da Ilha do Sol ou Ilha dos Tupinambás (Colares-PA), ícone da invenção da Amazônia (como pode ser visto em estudo histórico-geográfico onde a Etnologia e História sul-americanas sejam devidamente consultadas e integradas sem preconceitos).
No ignorado Araquiçaua etnológico, o pequeno e fiel GDM quer replantar a semente fecunda e mais bonita da América do Sol. Sêmen do Mito fecundador da amazonidade do Brasil em terra tapuia, mistura fina da democracia socioambiental, que há de gerar a Reserva da Biosfera Ilha do Marajó, nascida da Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, § 1º, incisos I, II, III e IV; regulamentado pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000; que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC. Do mesmo modo como sonha com a muldisciplinaridade científica, a transversalidade das competências institucionais e a participação das comunidades locais, através da sua sonhada Unilivre MARAJÓ.
Se, finalmente, depois de séculos de intolerância ideológica e esquecimento político a antiga utopia selvagem transformar-se em bons frutos palpáveis e desfrutados pelo povo marajoara; cumpre registrar desde logo o singelo percurso destes voluntários militantes do GDM e sua indelével presença no processo de desenvolvimento sustentável da Amazônia, inclusive através do Pólo Marajó de turismo.
Perto da Foz do Arari, na baía do Marajó, existe o lugar vocacionado a ser considerado pelo SNUC como monumento do patrimônio natural denominado Araquiçaua (do tupi arakyxawa ou arakyçawa, ara, o dia; ky, rede; e xawa, sitio, lugar), tendo significado de “sítio onde o sol ata rede” de alto interesse etno-histórico da Amazônia brasileira, a nosso ver.
Cuja demanda permitiria responder a esta paradoxal questão: por que o Brasil prima por ignorar a extraordinária saga do Bon Sauvage tupinambá e a empolgante utopia que o entusiasmou a empreender com poucos portugueses e mamelucos de façanha o grande feito do século XVII, a invenção da Amazônia? Acreditamos que o espantoso silêncio é revelador do estado devastador a que chegamos a cabo do colonialismo com suas mais perniciosas seqüelas.

Fonte: GRUPO EM DEFESA DO MARAJÓ
ONG promotora da Universidade Livre do Marajó – Unilivre MARAJÓ

 
 
 
 

 

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