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MINISTRA
DE MINAS E ENERGIA DECEPCIONA EM BONN
Panorama
Ambiental
Bonn – Alemanha
Junho de 2004
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Na Conferência
Mundial sobre Energias Renováveis, que reuniu
na última semana delegados de 154 países
em Bonn, na Alemanha, Dilma Rousseff frustrou ao
defender as grandes hidrelétricas como energia
renovável, desconsiderando seus impactos
socioambientais.
“A participação do Brasil na Conferência
Mundial sobre Energias Renováveis, que terminou
hoje (4/6) em Bonn, bloqueou os avanços nas
negociações internacionais para a
promoção de uma matriz energética
global sustentável, com maior participação
das novas fontes renováveis de energia, surpreendendo
a todos os países e instituições
presentes pela flagrante contradição
com as posições e compromissos que
o país vinha assumindo nos últimos
anos. Como resultado do posicionamento intransigente
da delegação brasileira, liderada
pela ministra Dilma Rousseff, a conferência
aprovou uma declaração morna, que
não estabelece compromissos e metas claras
para a sustentabilidade energética e inclui
as grandes hidrelétricas como energia renovável,
ignorando os seus enormes impactos sociais e ambientais,”
critica o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(FBOMS), do qual o Instituto Socioambiental (ISA)
faz parte, em documento distribuído na sexta-feira
à noite (4/6).
Durante a Rio+10, o governo brasileiro apresentou
uma proposta para que as novas fontes de energias
renováveis correspondessem a 10% matriz energética
mundial até 2010, que não foi aprovada,
mas desencadeou a iniciativa do governo alemão
de realizar a Conferência Mundial sobre Energias
Renováveis. Era esperado, portanto, um papel
muito mais construtivo do Brasil em Bonn, onde delegados
de 154 países aprovaram por consenso uma
declaração política com o compromisso
de aumentar o uso dos recursos renováveis
e um plano de ação voluntário
formado por 165 projetos de uso de energias renováveis
por países, regiões, organizações
e empresas.
Para o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Jürgen
Trittin, o plano de ação vai permitir
uma redução de 1,2 bilhão de
toneladas de dióxido de carbono (CO2) no
ano 2015.
Na quinta-feira (3/6), quando o Brasil comemorou
oficialmente o Dia Mundial do Meio Ambiente no Palácio
do Planalto com o anúncio pela ministra Marina
Silva de quase 500 mil hectares de Unidades de Conservação
(UCs), a ministra de Minas Energia não atendeu
aos apelos da sociedade civil e fez um discurso
curto, de menos de 10 minutos, no qual defendeu
as usinas hidrelétricas como a fonte mais
importante barata da América Latina para
o suprimento de energia e as novas fontes, entre
as quais a eólica, como complementares, mas
não substitutas.
De acordo com o documento do FBOMS, Dilma, para
piorar o quadro, não admitiu qualquer restrição
ou qualificação socioambiental a esses
empreendimentos e apoiou a posição
da delegação de Uganda para que não
fossem adotados como critérios para a construção
de hidrelétricas as recomendações
da Comissão Mundial de Barragens – organismo
independente que produziu o relatório Barragens
e Desenvolvimento: Um Novo Modelo para a Tomada
de Decisões lançado em novembro de
2000, no qual é proposto, entre outros, a
avaliação abrangente das opções,
o aproveitamento das barragens existentes, a preservação
de rios e meios de subsistência, o reconhecimento
de direitos adquiridos e compartilhamento de benefícios,
a garantia de cumprimento e compartilhamento dos
rios para a paz, desenvolvimento e segurança
e maior grau de transparência para todos os
envolvidos.
Em uma mesa-redonda sobre financiamento, Dilma defendeu
os financiamentos públicos para as grandes
hidrelétricas, enquanto oficiais do Banco
Mundial e do Banco Europeu de Reconstrução
e Desenvolvimento advertiram a ministra sobre seus
impactos e recomendaram que conversasse com as ONG.
Durante reunião com representantes da sociedade
civil na quarta-feira, a ministra adiantou que não
admitiria nenhuma declaração formal
ou documento final da conferência que discriminasse
negativamente as hidrelétricas, grandes ou
pequenas, ou que as questionasse como fonte renovável,
relatou Rubens Born, coordenador executivo do Vitae
Civilis Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente
e Paz, representante do Grupo de Trabalho (GT) Energia
do FBOMS presente à conferência.
“No Brasil, as grandes barragens já deslocaram
mais de 1 milhão de pessoas e inundaram 34
mil km2 de terras agricultáveis e florestas.
Mais preocupante é o fato de que 64% do potencial
hidrelétrico restante no Brasil encontra-se
na Amazônia, e que o país está
priorizando o represamento dos grandes rios da região,
como o Araguaia, Xingu, Tapajós e Madeira.
Antes de planejar medidas de eficiência e
racionalização do uso de energia em
todos os níveis, de redução
das perdas de transmissão, de repotencialização
das hidrelétricas velhas e de maior participação
nas novas renováveis, o governo Lula vê
como prioritários os megaprojetos de hidreletricidade
que devem implicar enormes impactos na diversidade
biológica e nas populações
ribeirinhas e indígenas. Somado a isso, não
descarta a intenção de construir mais
uma usina nuclear (Angra III) e de expandir a geração
a carvão mineral no sul do Brasil”, finaliza
o texto do fórum.
Apesar da lamentável participação
brasileira, a ministra de Minas e Energia, o secretário-executivo
do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio
Langone, e o ministro de Meio Ambiente da Alemanha,
Jurgen Trittin, assinaram um memorando de entendimento
para cooperação na área de
energias alternativas, que prevê a troca de
informações e a parceria entre os
dois governos em projetos de energia eólica,
solar, biomassa, geotérmica e de hidrogênio,
segundo informou a Agência Brasil.
Durante a conferência, foi distribuído
o resumo do documento Doze Razões para Excluir
as Grandes Barragens das Iniciativas para Energias
Renováveis, endossado por mais de 260 grupos
e instituições de todo o mundo, entre
as quais o GT Energia do FBOMS, e reproduzido
abaixo.
Doze Razões
para Excluir as Grandes Barragens das Iniciativas
para Energias Renováveis
Este documento foi endossado por mais de 260 grupos
e redes de organizações de todo o
mundo, entre as quais o GT Energia do Fórum
Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, e a versão
completa pode ser obtida em inglês e espanhol
no site da Internacional Rivers Network (IRN). Este
resumo foi preparado para distribuição
na Conferência Internacional sobre Energias
Renováveis em Bonn, em junho de 2004.
Os recursos para reduzir os impactos das mudanças
climáticas e outros impactos ambientais decorrentes
da produção e do consumo de energia,
para que se avance na promoção do
desenvolvimento sustentável e para aumentar
a segurança energética, devem ser
utilizados na promoção das "Novas
Energias Renováveis". As mais importantes
"novas renováveis" são a
biomassa moderna (sustentável), energia geotérmica,
eólica, solar, marinha e as pequenas centrais
hidrelétricas - PCHS (<10MW) adequadas
às recomendações da Comissão
Mundial de Barragens (CMB).
Abaixo estão 12 razões para os projetos
hidrelétricos serem excluídos dos
esforços globais para a promoção
das energias renováveis:
1. Grandes barragens
não apresentam os benefícios de redução
de pobreza das energias renováveis descentralizadas
As grandes barragens são capital-intensivas
e dependentes de grandes centros de demanda e de
longas linhas de transmissão. Em contraste,
as "novas renováveis" podem ser
construídas em pequenas unidades de capacidade,
geograficamente dispersas, minimizando custos de
transmissão e as perdas de energia e ampliando
o alcance dos benefícios do desenvolvimento
econômico. Prover serviços de energia
modernos a um quarto da população
mundial atualmente sem acesso a estes requer um
enorme esforço de expansão das renováveis
descentralizadas. A promoção de grandes
represas irá apenas distrair os fundos e
a atenção deste esforço.
2. Incluir grandes
represas nas iniciativas renováveis irá
saturar os fundos para novas renováveis
As grandes centrais hidrelétricas estão
entre os projetos de infra-estrutura mais caros
do Planeta. Incluir subsídios para estes
nas negociações sobre renováveis
irá consumir o a maior parte dos fundos especiais,
deixando muito pouco para a promoção
das "novas renováveis".
3. Os promotores
das grandes represas subestimam os custos e exageram
os benefícios
Os promotores das barragens têm regularmente
subestimado os custos econômicos dos grandes
projetos hidrelétricos, bem como o número
de pessoas que requerem reassentamento ou compensação
por perda de terras, casas e fontes de sobrevivência.
Enquanto os custos ficam na média bem mais
altos dos previstos, das grandes centrais hidrelétricas
geralmente geram menos energia do que o prometido.
4. Grandes barragens
aumentarão a vulnerabilidade às mudanças
climáticas
Os promotores das grandes barragens não levam
em consideração os impactos hidrológicos
das mudanças climáticas. Isto significa
que as barragens estão sendo construídas
com base em projetos que não suportam os
novos extremos de secas ou inundações
previstos como causa do aquecimento global. Isto
traz sérias implicações para
a performance das barragens - particularmente as
secas reduzirão notavelmente a geração
hidrelétrica - e a segurança.
5. Não existe
benefício de transferência de tecnologia
das brandes barragens
Fundos globais para renováveis e mecanismos
de comércio de carbono supostamente devem
facilitar a transferência de novas tecnologias
dos países do Norte para os do Sul e fornecer
o suporte necessário para aumentar a produção
e baixas os custos unitários destas tecnologias.
Estes argumentos não se aplicam às
grandes barragens, as quais já constituem
uma tecnologia madura e bem estabelecida nos países
do Sul.
6. Grandes barragens
implicam em grandes impactos sociais e ecológicos
De acordo com a Comissão Mundial de Barragens
(CMB), as grandes barragens são responsáveis
pelo desalojamento de 40 a 80 milhões de
pessoas, com muitos dos deslocados recebendo nenhuma
ou inadequada compensação. Milhões
de pessoas têm também perdi suas terras
e modos de vida e têm sofrido por causa dos
efeitos à jusante e de outros impactos indiretos
das grandes barragens. As grandes barragens são
um importante fator no rápido declínio
da biodiversidade fluvial no mundo todo.
7. Os esforço
para mitigar os impactos das grandes barragens tipicamente
falham
Muitos impactos das grandes barragens não
são reconhecidos ou são subestimados,
e as medidas para prevenir ou reduzir seus impactos
freqüentemente falham. Mesmo quando as pessoas
são reconhecidas como elegíveis para
reassentamento, raramente têm seus modos de
vida restaurados. Existe um recorde similar assombroso
de esforços falidos para mitigar os impactos
ambientais das grandes barragens.
8. Os promotores
das grandes barragens se opõe às medidas
que previnam a construção de projetos
destrutivos
A CMB desenvolveu critérios para o planejamento
energético e do uso da água que podem
encorajando melhores alternativas e reduzindo os
impactos de projetos existentes. Mas já que
seguir estes critérios significaria construir
menos barragens, os proponentes das hidrelétricas,
como banco Mundial e as Associação
Internacional de Hidroenergia, têm atacado
a credibilidade da CMB e feito lobby para prevenir
a aplicação de suas recomendações.
9. Grandes reservatórios
podem emitir grande quantidade de gases de efeito
estufa
A decomposição da matéria orgânica
nos reservatórios das hidrelétricas
causa a emissão de metano e gás carbônico.
Mesmo que ainda exista muita controvérsia
científica sobre a medição
das emissões das barragens e comparação
destas com as emissões das plantas a combustíveis
fósseis, parece que os projetos de hidrelétricas
com grandes reservatórios nos trópicos
podem ter maior impacto climático por unidade
de energia gerada que a geração com
base em combustíveis fósseis.
10. As grandes barragens
são construídas lentamente e a empurrões,
são inflexíveis e cada vez se tornam
mais caras
Por causa das suas grandes dimensões e requerimentos
específicos de localização,
os projetos de grandes barragens levam mais tempo
para serem construídos e são mais
caros que outros tipos de plantas de geração
de energia. Enquanto as grandes centrais hidrelétricas
levam em média seis anos para serem , turbinas
eólicas e painéis solares podem começar
a prover os benefícios e a pagar os empréstimos
dentro de meses da entrada em construção.
O Banco Mundial descobriu que o custo da capacidade
hidrelétrica está continuamente aumentando
porque os melhores locais em termos de potencial
hidrelétrico já foram explorados.
Grandes centrais hidrelétricas adicionam
grande capacidade às redes de transmissão
de forma descontínua, enquanto a demanda
geralmente cresce de forma gradual. Adições
de capacidade desta forma desparelha podem significar
racionamentos de energia antes que a nova capacidade
esteja disponível, e então uma custosa
sobre capacidade uma vez que a nova planta esteja
pronta.
11. Muitos países
já são demasiadamente dependentes
da hidreletricidade
Grandes barragens contribuem com mais da metade
do total do suprimento de energia em 63 países,
quase todos no Sul global e na ex-União Soviética
. Muitos destes países dependentes da hidreletricidade
experimentam "apagões" induzidos
por secas e racionamento de energia, um problema
que se espera seja exacerbado pelas mudanças
climáticas. Mesmo assim, é nestes
países onde a maior parte dos novos projetos
de barragens está planejada.
12.
Os reservatórios das grandes barragens são
freqüentemente declarados não-renováveis
por sedimentação
Os reservatórios das hidrelétricas
são reduzidos com o tempo por sedimentação,
um sério problema que eventualmente impede
ou acaba com a habilidade de uma planta hidrelétrica
em produzir eletricidade. A grande maioria da cargas
anuais de sedimentos são carregadas durante
os períodos de cheia. A maior intensidade
e freqüência de inundações
devido ao aquecimento global devem aumentar as taxas
de sedimentação e então reduzir
o tempo de vida útil dos reservatórios.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)