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MEDIDAS
CONTRA DESMATAMENTO NÃO ENTUSIASMAM
GREENPEACE
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) – Brasil
Março de 2004
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Governo
Lula não enfrenta as causas da destruição
da maior floresta tropical do planeta
O Greenpeace recebeu
com pouco entusiasmo o anúncio feito
ontem pelo governo Lula, em Brasília
(DF), de uma série de medidas para
conter o desmatamento na Amazônia. Para
a organização ambientalista,
embora o plano de ação pareça
formar um todo coerente de iniciativas e ações
interministeriais que pretendem minimizar
os impactos do processo de colonização
da Amazônia, as verdadeiras causas econômicas
e sociais da destruição da floresta
continuam a não ser
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enfrentadas. “O
governo Lula foi eleito com base no compromisso
de mudar o modelo de desenvolvimento adotado pelo
Brasil e proteger a Amazônia. O país,
no entanto, parece estar preso numa armadilha: a
necessidade de gerar superávits para pagar
a gigantesca dívida externa e interna, e
atender à demanda da população
resulta em pressão cada vez maior sobre as
florestas. O carro-chefe da economia brasileira
tem sido a agropecuária de exportação,
e essa atividade, de acordo com dados do Banco Mundial,
é mais rentável na Amazônia
do que nas demais regiões do País”,
disse o coordenador da Campanha da Amazônia
do Greenpeace, Paulo Adário.
O Greenpeace reconhece que a maior integração
dos diferentes ministérios e órgãos
do governo envolvidos com as questões amazônicas
representa um avanço considerável,
e que algumas medidas — tais como o aumento dos
recursos destinados à fiscalização
e o monitoramento (que saltariam de R$ 22 milhões
em 2003 para R$ 68 milhões em 2004), o zoneamento
ecológico-econômico do Arco do Desflorestamento
e a criação de áreas protegidas
— podem inibir a ocupação e exploração
predatória. Mas a questão central
é saber se esse pacote de iniciativas será
suficiente para reverter o assalto à Amazônia
conduzido pela iniciativa privada. “Nas décadas
de 60 e 70, o desmatamento foi resultado de uma
política de ocupação da Amazônia
conduzida pelo governo militar. Hoje, no entanto,
são as forças do mercado que conduzem
este processo, e o governo se beneficia disso, já
que a crise econômica de 2003, e suas consequências
políticas, teriam sido muito piores se não
fosse o boom do setor de agronegócios”, disse
Adário.
O Plano Plurianual 2004-2007 formulado pelo governo
Lula, em fase de análise pelo Congresso,
deixa claro que as linhas centrais do modelo de
desenvolvimento serão mantidas: o Brasil
quer retomar o crescimento econômico (que
atingiria 5% ao ano em 2007), gerar 7,8 milhões
de empregos, triplicar a exportação
de carne bovina (que pularia para três milhões
de toneladas em 2007) e manter as altas taxas de
crescimento da agricultura, assumindo a liderança
mundial na produção e exportação
de soja e outros grãos. Medidas de desenvolvimento
sustentável são de maturação
lenta. Para produzir, beneficiar e escoar a produção
agrícola estimada pelo governo, o Brasil
precisa ampliar a área ocupada, além
de produzir energia e construir estradas. “É
óbvio que isso não será conseguido
apenas com ganhos de produtividade e absorção
de tecnologia em prazo tão curto. A fronteira
agrícola continuará crescendo e a
Amazônia e o Cerrado continuarão pagando
um preço alto”, disse o coordenador da Campanha
da Amazônia.
O atual modelo de desenvolvimento econômico
para a Amazônia tem profundas causas sociais,
econômicas e culturais. A expansão
da agricultura e da pecuária de larga escala
em terras baratas se beneficia da ausência
do poder público em muitas regiões,
envolve a grilagem de terras públicas, a
concentração de poder econômico
e político nas mãos de poucos, a impunidade,
o avanço descontrolado da exploração
ilegal de madeira, a injustiça social, a
ausência de uma política real de reforma
agrária em outras regiões do país
para conter o fluxo contínuo de novos colonos
etc.
A Amazônia é muito mais do que um celeiro
de oportunidades de desenvolvimento econômico:
é a jóia da coroa do meio ambiente
no planeta, tem a maior biodiversidade do mundo
e é de importância vital para o clima
e o ciclo das águas. É também
o lar de 20 milhões de brasileiros. Segundo
o Greenpeace, o desenvolvimento sustentável
da região exige, por isso mesmo, uma mudança
radical de concepção do modelo, que
não pode ser deixado à mercê
das forças de mercado, com sua visão
predatória e imediatista.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o desmatamento
no período agosto 2002-agosto 2003, ainda
não divulgado oficialmente, teria sido semelhante
ao do período anterior, que atingiu inaceitáveis
25.476 km2, o segundo maior da história.
Em dois anos, mais de cinco milhões de hectares
foram completamente destruídos, o equivalente
a mais de nove campos de futebol desmatados a cada
minuto. O período agosto 2001-agosto 2003
também pode ser considerado o biênio
da destruição — o pior em toda a história
da Amazônia Brasileira.
“Nos governos anteriores, a cada má notícia
para a Amazônia o governo anunciava um pacote
de medidas bem intencionadas. A implementação
das decisões, no entanto, sempre foi um grande
problema. É preciso romper esse paradigma”,
concluiu Adário.
Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa