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MINISTRA DO STF SUSPENDE
DEMARCAÇÃO CONTÍNUA
DA RESERVA RAPOSA SERRA DO SOL
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Janeiro de 2005
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04/01/2005 - A homologação
da reserva indígena Raposa Serra do Sol se
tornou um impasse jurídico que se estende
há mais de seis anos no país. Nesta
segunda-feira (03), a ministra Ellen Gracie, do
Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu suspender
a portaria do Ministério da Justiça
que, em 1998, estabeleceu a demarcação
contínua da reserva.
No processo formal de reconhecimento de um território
indígena, o primeiro passo é a realização
de um estudo antropológico, realizado pela
Funai, para delimitar a terra. Depois, esse relatório
precisa ser aprovado pelo Ministério da Justiça,
o que conclui a demarcação. Somente
após essa etapa acontece a homologação.
Até a publicação da portaria,
suspensa nesta segunda-feira, foram dez anos de
negociações com índios, fazendeiros,
moradores e o governo do estado para que a área
fosse considerada efetivamente território
indígena.
As discussões começaram em 1977, com
sucessivos grupos de trabalho monitorados pela Fundação
Nacional do Índio (Funai) responsáveis
por esgotar as negociações para a
demarcação das terras. Em 1992, foram
criados grupos interministeriais para discutir o
caso, e somente em 1993 foi publicado no Diário
Oficial da União um estudo com o atestado
de viabilidade técnica-administrativa para
a criação da reserva.
Em 1996, os ocupantes da área fizeram a defesa
pública dos interesses contrários
e favoráveis à criação
da reserva indígena, e somente em 1998 a
portaria determinando a demarcação
das terras foi publicada. Um ano depois, os fazendeiros
que ocupavam as terras já começavam
a deixar a reserva. A maioria foi indenizada pela
Funai, e alguns agricultores deixaram as terras
após negociações com o Conselho
Indígena de Roraima (CIR).
Segundo o antropólogo Paulo Santilli, da
Universidade do Estado de São Paulo (Unesp),
dos 207 fazendeiros que ocupavam as áreas
da reserva em 1999, apenas 67 ainda permaneciam
na região em 2003. A demora do governo federal
em homologar definitivamente a reserva, segundo
o antropólogo, provocou o retorno de muitos
agricultores e fazendeiros para a região.
"O poder judiciário pensa que o tempo
dos índios é eterno", criticou.
Depois da portaria de 1998, uma ação
popular aprovada pela Justiça Federal de
Roraima conseguiu anular a demarcação
da reserva. Em julho de 2004, o STF derrubou a ação
popular e a demarcação voltou a vigorar.
Com a nova decisão da ministra Ellen Gracie,
que ainda precisa ser aprovada pelo plenário
do STF, as terras se tornariam mais uma vez propriedade
do governo do estado de Roraima. A decisão
de Ellen Gracie foi tomada com base em ação
cautelar ajuizada no STF pelo senador Mozarildo
Cavalcanti (PPS-RR), que é contrário
à homologação contínua
da reserva.
Na avaliação da procuradora da República
Débora Duprat, o processo de demarcação
das terras já foi concluído em 1998
e não existe questionamento jurídico
que justifique o retorno das discussões.
"A homologação é só
o ato de conferência dos limites (das terras)
que já tinham sido estabelecidos na demarcação.
Não é o momento de se definir mais
limites da área", criticou a procuradora
durante recente seminário realizado na Universidade
de Brasília.
Segundo Débora Duprat, que coordena a 6ª
Câmara do Ministério Público
Federal, responsável pelas causas que envolvem
as comunidades indígenas, o direito às
terras não pode ser questionado aos índios.
Na opinião da procuradora, uma pequena parcela
da elite do estado está conseguindo reverter
o foco das discussões. "O direito à
identidade é de fluição imediata.
Não se pode protelar ou ficar ao sabor os
interesses da vez", disse.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Gabriela Guerreiro / Spensy Pimentel