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EXPEDIÇÃO
BUSCA DADOS FINAIS PARA PROTEGER
“TERRA DO MEIO”
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Janeiro de 2005
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Demora na criação
de áreas protegidas em região de conflitos
e desmatamento no sul do Pará preocupa ONGs
11/01/2005 - Representantes
do Centro Nacional de Populações Tradicionais
(CNPT) do Ibama, da Comissão Pastoral da
Terra do Xingu (CPT-Xingu) e da Fundação
Viver, Produzir e Preservar, acompanhados de uma
equipe de documentação do WWF-Brasil,
iniciaram no domingo uma expedição
pelo rio Xingu, na chamada “Terra do Meio”, no sudeste
do Pará, com o intuito de levantar in loco
as últimas informações necessárias
à criação de um mosaico de
áreas protegidas (parques e reservas) na
região. Essa e outras duas expedições
na região, com a mesma finalidade, estão
sendo financiadas pelo programa federal Áreas
Protegidas da Amazônia (leia abaixo).
Um dos últimos grandes territórios
contínuos de florestas úmidas ainda
sem proteção legal na Amazônia
Oriental, a Terra do Meio compreende aproximadamente
9 milhões de hectares, tendo como limites
o rio Iriri, a oeste, e o rio Xingu, um dos principais
tributários do rio Amazonas, a leste. Embora
protegida ao sul e ao norte por terras indígenas,
nos últimos anos vem sendo rapidamente dilapidada
pelo avanço de interesses econômicos
oriundos principalmente do município de São
Félix do Xingu. Nesse avanço, populações
tradicionais têm sido expulsas, terras públicas
griladas e a floresta convertida ilegalmente em
pastagens de baixa rentabilidade.
Apesar disso, a Terra do Meio ainda acolhe centenas
de famílias de extrativistas, que retiram
dos recursos naturais da região seus meios
de vida, e se tornou refúgio para grandes
mamíferos, como a onça (Pantera onca).
Sua importância foi reconhecida pelo Programa
Nacional de Diversidade Biológica, do Ministério
do Meio Ambiente, que, com base no conhecimento
disponível sobre a região, aponta
a Terra do Meio como “área de muito alta
importância” para a conservação
da biodiversidade. A decretação de
um mosaico de áreas protegidas é visto
como necessária para ordenar a ocupação
e a exploração dos recursos naturais
e proteger os processos ecológicos nesse
vasto território.
O mosaico
A criação
de um conjunto articulado de áreas protegidas
na Terra do Meio está sob avaliação
desde 2001, quando a Secretaria de Coordenação
da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente,
por reivindicação do movimento social
da Transamazônica, contratou estudos para
esse fim. A primeira proposta apresentada pelo Ministério,
em 2002, previa a criação de uma Estação
Ecológica com 2,9 milhões de hectares
e de um Parque Nacional com 780 mil hectares, ladeadas
por três reservas para proteger as populações
tradicionais da região. Propunha ainda a
criação de uma Área de Proteção
Ambiental - APA, categoria de unidade de conservação
que admite a presença de propriedades particulares
em seu interior - com 1,29 milhão de hectares
sobre a área ocupada por propriedades rurais
de São Félix do Xingu. No total, esse
primeiro mosaico de áreas protegidas teria
7,2 milhões de hectares.
No entanto, a mudança no comando do Executivo
federal, a influência de setores econômicos
regionais e divergências entre o governo paraense
e o governo federal adiou sucessivamente a decretação
do mosaico. Enquanto isso, a fronteira econômica
acelerou seu avanço sobre a Terra do Meio,
motivado tanto pelas notícias do asfaltamento
da BR-163 (a rodovia Cuiabá-Santarém),
quanto pelo próprio anúncio de que
parte da área seria convertida em unidades
de conservação.
No último mês de novembro, diante dos
números preliminares referentes ao desmatamento
na Amazônia em 2004, que pode chegar a 24
mil km2, o governo federal acelerou a decisão
de proteger a Terra do Meio, onde foram registrados
elevados índices de desmatamento. Em 7 de
novembro, criou a Reserva Extrativista Riozinho
do Anfrísio, com 736.000 hectares dentro
do mosaico apresentado em 2002. Um mês depois,
o Ministério do Meio Ambiente e o governo
do Pará estiveram reunidos em Brasília
para solucionar suas divergências quanto ao
destino da Terra do Meio. No acordo extraído
dessa reunião, decidiram fazer as consultas
públicas necessárias à criação
de um parque nacional e da APA de São Félix
do Xingu, realizadas dias 20 e 21 de dezembro. Decidiram
também que parte do mosaico seria criado
pelo governo estadual, vinculando-o ao projeto de
lei que define o zoneamento econômico-ecológico
do Pará, que deveria ser aprovado este mês
pela Assembléia Legislativa durante a convocação
extraordinária. No entanto, a projeto de
zoneamento nem entrou na pauta dessa convocação.
“Estamos preocupados com esse adiamento e com a
ambigüidade da posição do governo
do Pará em relação à
Terra do Meio. Em nossa avaliação,
o governo federal deveria ter maior protagonismo
nessa questão e assumir a criação
de um grande parque nacional para proteger as áreas
remanescentes da Terra do Meio”, afirma Rosa Lemos
de Sá, superintendente de Conservação
do WWF-Brasil. Segundo ela, se isso não for
feito nas próximas semanas, o país
poderá perder uma oportunidade histórica
para instalar um corredor ecológico de 25
milhões de hectares na bacia do rio Xingu,
conectando os ecossistemas do cerrado, ao sul, à
floresta amazônica.
O que é o
ARPA
O Programa Áreas
Protegidas da Amazônia (ARPA) integra as políticas
do Governo Federal para promover a conservação
da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável
na Amazônia brasileira. Seu objetivo é
proteger uma amostra representativa da biodiversidade
da região, estabelecendo pelo menos 50 milhões
de hectares de unidades de conservação.
Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente,
o ARPA é implementado em parceria com Ibama,
governos estaduais e municipais, o Fundo Global
para o Meio Ambiente (GEF) e o Banco Mundial, o
governo da Alemanha, o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
(Funbio) e o WWF-Brasil. Juntas, essas entidades
se comprometem a investir aproximadamente US$ 400
milhões em 10 anos para consolidar um sistema
de unidades de conservação na Amazônia
brasileira.
Fonte: WWF-Brasil (www.wwf.org.br)
Assessoria de imprensa