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PESQUISADORES
DISCUTEM ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS
PARA A AMAZÔNIA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Janeiro de 2005
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10/01/2005 Pesquisadores
de sete países que formam a Amazônia
estarão reunidos em Belém, de 19 a
28 deste mês, para trocar experiências
sobre a utilização de Sistemas Agroflorestais
(SAFs) como alternativa à degradação
ambiental. Esses sistemas caracterizam-se basicamente
em aliar o plantio de culturas agrícolas
a essências florestais, seja em pequenas propriedades,
grandes fazendas ou outros cenários. É
fazer agricultura em harmonia com a floresta, ou
levar a própria floresta para áreas
agrícolas e de pastagens.
O workshop é promovido pelo Centro Mundial
Agroflorestal (Icraf), que tem sede em Nairobi,
no Quênia; pela Embrapa Amazônia Oriental,
Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,vinvulada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento; e pelo Centro Internacional de
Agricultura Tropical (Ciat), que tem sede em Kali,
na Colômbia. Ele faz parte das ações
da Iniciativa Amazônica, um consórcio
de cooperação internacional que reúne
instituições de pesquisa e desenvolvimento
de seis países amazônicos em torno
de um desafio: melhorar as condições
de vida no ambiente rural da Amazônia Continental
e reverter o processo acelerado de degradação
dos recursos naturais na região.
Esta é a primeira atividade concreta da Iniciativa
Amazônica de forma colaborativa. Espera-se
que a partir desse evento seja desencadeado um processo
de formação de uma rede de pesquisa
na Amazônia, centrada na utilização
de sistemas agroflorestais como alternativa viável
e sustentável à degradação
ambiental”, explica Roberto Porro, secretário
executivo da Iniciativa Amazônica.
A Amazônia Continental tem uma área
total de 7.8 milhões de quilômetros
quadrados, com uma população de 35
milhões de pessoas. Nos últimos 30
anos, essa região perdeu cerca de 80 milhões
de hectares de sua floresta para atividades, via
de regra, não sustentáveis, sendo
que cerca de 30 milhões de hectares encontram-se
em acentuado estado de degradação.
Nesse cenário, a implantação
dos sistemas agroflorestais aparece como alternativa
concreta à degradação de recursos
naturais. Eles ensejam um manejo de recursos naturais
dinâmico e ecológico, que através
da integração de árvores em
pequenas propriedades agrícolas, grandes
fazendas e outros cenários, diversifica e
aumenta a produção, promovendo benefícios
econômicos e sociais para os usuários
dos recursos naturais.
A pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental,
Gladys Souza explica que existem iniciativas na
região no uso de SAFs, mas são feitas
ainda de forma isolada. Ela cita como exemplo uma
experiência local: a da Cooperativa Agrícola
Mista de Tomé-Açu – CAMTA. Lá,
o cultivo de fruteiras e essências florestais
é bastante utilizado entre os agricultores.
Essa experiência, inclusive, será visitada
pelos participantes do evento. No município,
os pesquisadores conhecerão sistemas que
utilizam espécies como seringueira, taperebá,
cupuaçu e mogno, além de cacau e freijó.
Um dos objetivos do workshop, na opinião
de Roberto Porro, é fazer com que as experiências
isoladas sejam intercambiadas e utilizadas como
base para a formulação de políticas
públicas. “Queremos entender por que isso
não está ocorrendo hoje, e quais as
principais barreiras, tanto no aspecto biofísico,
quanto socioeconômico e político, que
impedem a adoção em uma escala mais
ampla dessas iniciativas promissoras”, completa
o secretário executivo da IA.
O evento, além materializar essa troca de
experiência, é uma importante expressão
do processo de formação da rede de
pesquisa na região. Ele, inclusive, transcende
a própria Iniciativa Amazônica na medida
em que envolve instituições de outras
naturezas – como universidades e organizações
não governamentais– nesse processo.
Experiências do Brasil, Bolívia, Colômbia,
Equador, Peru e Venezuela serão apresentadas
nos nove dias de intensa programação.
Ao final, como mais um resultado do evento, será
editada uma publicação que condensará
todos os relatos.
Entre os convidados do workshop, está o ecólogo
Philip Fearnside do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia, que vai proferir o seminário
inaugural “Degradação de recursos
naturais na Amazônia: implicações
para a utilização de sistemas agroflorestais”.
Fearnside é norte-americano e naturalizado
brasileiro e está entre os pesquisadores
mais citados na literatura mundial.
Outro nome de destaque no evento é Jean Dubois,
pioneiro na pesquisa e extensão agroflorestal
na Amazônia. Ele foi fundador da Rede Brasileira
Florestal – Rebraf. Dubois vai apresentar uma avaliação
dos principais avanços e dificuldades para
a implantação dos SAFs na região
ao longo das duas últimas décadas.
A partir desse workshop está prevista para
este ano a realização de eventos regionais
e nos países da Amazônia.
Iniciativa
Uma reunião
em março deste ano em Santa Cruz de La Sierra,
na Bolívia, é mais um passo da Iniciativa
Amazônica (IA) rumo ao seu grande desafio:
por meio da pesquisa colaborativa e participativa,
intervir na realidade de degradação
ambiental e pobreza social da região. Para
isso, o consórcio reúne seis países
amazônicos através de suas mais renomadas
instituições de pesquisa. Mais de
200 pesquisadores já foram indicados pelas
instituições participantes.
O grupo de especialistas vai buscar estabelecer
programas colaborativos com a participação
de organizações da sociedade civil
da Amazônia e assim tentar compreender melhor
as interfaces que existem entre degradação
dos recursos naturais e pobreza e ainda subsidiar
a elaboração de políticas públicas
de fato realistas voltadas à preservação,
redução e recuperação
das áreas degradadas.
A Iniciativa Amazônica tem hoje como instituição
coordenadora atual a Embrapa, através da
Embrapa Amazônia Oriental(PA). Mas, como esclarece
Adilson Serrão, pesquisador da Embrapa e
coordenador da Iniciativa Amazônica, a parceria
é bem mais ampla: na Bolívia, o Ministério
de Assuntos Camponeses e Agropecuários- Maca;
na Venezuela, o Instituto Nacional de Pesquisas
Agrícolas- Inia; no Equador, o Instituto
Nacional de Pesquisas Agropecuárias – Iniap;
na Colômbia, a Coorporação Colombiana
de Pesquisa Agropecuária – Corpoica e no
Peru, o Instituto Nacional de Pesquisa e Extensão
Agrária – Iniea. A Iniciativa Amazônica
conta ainda com a participação efetiva
de instituições internacionais de
pesquisa do Sistema CGIAR (Grupo Consultivo Internacional
de Pesquisa Agropecuária: os Centros de Agricultura
Tropical (CIAT), de Pesquisa Florestal (CIFOR),
de Recursos Fitogenéticos (IPGRI) e Mundial
Agroflorestal (ICRAF).
Fonte: Embrapa (www.embrapa.gov.br)
Assessoria de imprensa (Ana Laura Lima)