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LÍDER
INDÍGENA COLOMBIANO É ENCONTRADO
MORTO EM TERRITÓRIO BRASILEIRO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Janeiro de 2005
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18/01/2005 Pertencente
a etnia Uitoto e responsável por um importante
trabalho de articulação política
das organizações indígenas
da Amazônia colombiana, Saúl Márquez
Tovar foi achado com cinco tiros na cabeça
e marcas de tortura.
O líder indígena colombiano Saúl
Márquez Tovar, 28 anos, foi assassinado e
o corpo encontrado, no último dia 7 de janeiro,
nas proximidades da cidade de Tabatinga (AM), na
fronteira com a Colômbia, 1.105 km a noroeste
de Manaus. Pertencente à etnia Uitoto, Tovar
era presidente da Associação Indígena
da cidade de Arica, na Colômbia, e porta-voz
da Associação de Autoridades Tradicionais
Indígenas do estado colombiano do Amazonas.
Ele vinha desenvolvendo um importante trabalho nas
negociações realizadas com o governo
para a implementação de programas
de saúde indígena, especialmente na
fronteira Colômbia–Peru.
Nos próximos dias, o Instituto Socioambiental
(ISA) vai encaminhar um informe sobre o caso ao
Ministério da Justiça e à Secretaria
Especial de Direitos Humanos com um pedido formal
de providências da parte do governo brasileiro.
O corpo de Saúl Tovar foi achado com as mãos
e pés amarrados, cinco tiros na cabeça
e vários sinais de tortura, entre eles marcas
que podem ser de estrangulamento, uma orelha e os
dentes arrancados. A notícia do assassinato
provocou comoção e protesto entre
as organizações indígenas da
Colômbia, que pediram ao governo do país
que paute o assunto durante o encontro a ser realizado
entre o presidente Álvaro Uribe e o presidente
Luís Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira,
dia 19 de janeiro, na cidade colombiana de Letícia,
separada por uma rua de Tabatinga.
A hipótese de motivação política
não foi descartada, mas entidades indigenistas
colombianas informaram que a causa mais provável
para o crime é o latrocínio – roubo
seguido de morte – cometido por uma quadrilha formada
por colombianos e brasileiros. A polícia
da Colômbia já teria detido quatro
suspeitos. Segundo versões de alguns de seus
colegas do movimento indígena, Tovar teria
sido visto pela última vez antes de entrar
em um táxi, em Letícia. O taxista
o teria abordado com o recado de que um amigo precisava
de sua ajuda em Tabatinga.
Tovar circulava com quantias vultosas de dinheiro
recebido do governo para desenvolver projetos, realizar
compras e obras para a sua comunidade. Na Colômbia,
os chefes indígenas são reconhecidos
pela Lei como autoridades públicas e, no
departamento do Amazonas (unidade político-administrativa
local), alguns deles recebem recursos do Estado
diretamente.
Pouco antes de ser achado morto, Tovar estava em
Letícia justamente para cobrar os repasses
de verbas para seu povo. Ele havia chegado à
cidade em novembro para participar da VI Mesa Permanente
de Cordinación Interadministrativa, que é
a instância onde se reúnem as organizações
indígenas e o governo local para avaliar
a execução dos programas de educação
e saúde indígenas.
Em outubro de 2002, o líder indígena
foi roubado em 54 milhões de pesos colombianos
– pouco mais de R$ 61 mil – dentro de uma delegacia,
em Tabatinga, depois de ser revistado e detido por
policiais militares brasileiros para uma suposta
averiguação da origem do dinheiro.
Apesar das denúncias feitas pelo próprio
Tovar a autoridades colombianas e brasileiras, o
caso não foi esclarecido até hoje.
Os direitos indígenas
na Colômbia
A Colômbia
é um dos países onde mais se avançou
no reconhecimento de direitos aos povos indígenas.
Entre 1982 e 11000, o governo do país reconheceu
cerca de 20 milhões de hectares de terras
indígenas na Amazônia colombiana, garantindo
aos povos indígenas a propriedade coletiva
desses territórios, considerados como inalienáveis,
imprescritíveis e impenhoráveis.
A aprovação de nova Constituição
e a ratificação da Convenção
169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), em 1991, abriu espaço para
novos avanços relacionados à gestão
dos territórios indígenas dentro da
legislação nacional, como é
o caso do Decreto nº 1.088, de 1993, que regula
a criação das Associações
de Autoridades Tradicionais Indígenas (AATIs),
organizações indígenas reconhecidas
como de direito público, cujo objetivo é
coordenar, junto a autoridades locais, regionais
e nacionais, a execução de projetos
de saúde, educação e gestão
de acordo com as prioridades estabelecidas pelos
povos indígenas.
A criação dessa figura jurídica
permitiu que as Autoridades Indígenas da
Amazônia trabalhassem na consolidação
da administração autônoma de
seus territórios, dentro da ordem jurídica
e política do Estado colombiano. Para tanto,
foram criadas as chamadas Mesas Permanentes de Coordenação
Interadministrativa (MPCI), espaços de comunicação
e coordenação entre as AATIs e outros
órgãos públicos locais e regionais,
que se reúnem periodicamente para discutir
e coordenar os esforços e ações
nos diferentes campos das políticas públicas
(saúde, educação, gestão
territorial, atividades produtivas etc.).
No Brasil, na região do Alto Rio Negro (AM),
a Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (Foirn) busca traçar
um caminho semelhante, por meio de sua proposta
de Programa Regional de Desenvolvimento Indígena
Sustentável do Rio Negro (PRDIS-RN), que
pretende estabelecer um conjunto coordenado de ações
e políticas públicas, a partir de
demandas e prioridades estabelecidas pelas organizações
indígenas locais, com apoio dos governos
local, estadual e federal.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)