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ÍNDIOS
MANTÊM OCUPAÇÃO DA FUNAI,
EM MANAUS (AM)
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Janeiro de 2005
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29/01/2005 Lideranças
exigem saída do administrador-executivo regional,
cobram participação das comunidades
nas decisões do órgão e apuração
de denúncias.
Depois de 22 dias, os mais de 300 índios
acampados na sede da Fundação Nacional
do Índio (Funai), em Manaus (AM), resolveram
manter no local apenas 15 lideranças. Na
segunda-feira, dia 24 de janeiro, os representantes
da mobilização reuniram-se com a juíza
federal Jaíza Fraxe e aceitaram negociar
com o administrador regional substituto do órgão,
Manoel Hélio Alves de Paula. Na próxima
sexta-feira, dia 28, acontece uma nova audiência
de conciliação na Justiça Federal
da capital amazonense.
O movimento exige a exoneração do
administrador-executivo regional, Benedito Rangel
de Morais, afastado temporariamente em virtude da
pressão exercida pela ocupação.
Os índios também reivindicam a participação
efetiva na administração da Funai
e a apuração de denúncias de
desvio de recursos públicos e de outros crimes
cometidos pelos próprios funcionários
do órgão.
Na quinta-feira, dia 20 de janeiro, o clima ficou
tenso por conta de uma liminar de reintegração
de posse pedida pela Fundação à
Justiça Federal. Uma equipe formada por policiais
federais e um oficial de Justiça chegou a
ir até o local para comunicar o fato. Os
índios atearam fogo em pneus, no meio da
rua, e decidiram resistir a uma possível
ação de invasão do prédio.
A notícia de que Rangel havia sido afastado
acalmou os ânimos. Durante toda a semana passada,
participantes do IV Fórum Social Pan Amazônico
(FSPA), que aconteceu em Manaus, realizaram manifestações
de apoio à mobilização.
“Queremos uma mudança concreta em todas as
políticas da Funai, para isso, é preciso
garantir a participação dos índios
nas decisões e nos projetos”, argumenta Benjamim
Baniwa. Ele informa que também está
sendo negociada a criação de um conselho
consultivo com integrantes das comunidades. “Queremos
que a Funai abandone a sua visão de tutela
para adotar uma gestão participativa”.
Também na semana passada, as várias
organizações indígenas apoiadoras
do movimento, entre elas a Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), divulgaram
um manifesto que, além de exigir a saída
de Rangel e do próprio presidente da Funai,
Mércio Pereira Gomes, critica duramente toda
a política indigenista do governo Lula. O
documento ataca o que seriam morosidade e dubiedade
da administração federal, especialmente
em relação aos processos de demarcação
de Terras Indígenas.
O texto denuncia também o uso particular
de viaturas da Funai, a não apuração
de denúncias de atos de violência sexual
supostamente perpetrados por funcionários
da própria Fundação, a demora
do encaminhamento de reivindicações
para a sede do órgão, em Brasília,
e o que está sendo classificado pelos índios
de “fábrica de diárias” na administração
regional, isto é, o desvio do dinheiro das
diárias dos servidores. “O órgão
que deveria lutar por nossos interesses não
está atendendo mais as necessidades dos povos
indígenas. A Funai é uma máfia”,
chegou a afirmar à imprensa Jecinaldo Sateré-Mawé,
presidente da Coiab.
Os índios acusam o presidente Luís
Inácio Lula da Silva de não cumprir
promessas de campanha de agilizar e ampliar as demarcações
de terras. Eles também apontam a conivência
do governo com tentativas de setores antiindígenas
de revisar e destruir direitos consagrados pela
Constituição. O manifesto aponta ainda
o que seria uma tendência do governo de militarizar
a questão indígena.
Entenda a invasão
da Funai em Manaus
No dia 3 de janeiro,
cerca de 30 índios da etnia Mura, vindos
do município de Autazes, 100 km ao sul de
Manaus, invadiram a sede da Funai na capital amazonense,
no bairro de Adrianópolis. A principal reivindicação
do grupo era a demarcação das terras
indígenas da região, cujos processos
estão paralisados.
No dia 4 de janeiro, os índios entraram em
choque com policiais federais numa primeira tentativa
de retirada dos ocupantes. No meio do bate-boca
e da confusão, o presidente da Coiab teve
decretada sua voz de prisão.
A partir daí, o movimento recebeu adesões
de mais 17 organizações e 14 etnias.
Segundo as lideranças indígenas, mais
de 500 pessoas passaram pelo local durante toda
a mobilização. A pauta de reivindicações
foi ampliada, com o pedido de afastamento do administrador-executivo
regional e de investigação de várias
denúncias de má gestão. Várias
audiências foram realizadas com a participação
de representantes das lideranças indígenas,
da Justiça Federal, do Ministério
Público Federal, da Polícia Federal
e da própria Funai.
No dia 10 de janeiro, os acampados chegaram a deixar
o prédio com a promessa de continuidade das
negociações, mas, três dias
depois, o vice-presidente da Fundação,
Roberto Lustosa, descumpriu o acordo. Durante todo
esse tempo, o presidente Mércio Pereira Gomes
recusou-se a negociar diretamente com os índios,
justificando que o assunto deveria ser resolvido
em nível regional. Até a Presidência
da República chegou a intervir no caso.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)