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MANIFESTANTES
TENTAM IMPEDIR AUDIÊNCIA SOBRE REVITALIZAÇÃO
DO SÃO FRANCISCO
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Fevereiro de 2005
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Aracaju - Cerca
de cinco mil pessoas – entre elas artistas, trabalhadores,
políticos e representantes de instituições
da sociedade civil – são esperadas para um
manifesto que visa impedir, hoje, a realização
da audiência pública sobre o Projeto
de Integração do Rio São Francisco
às Bacias do Nordeste Setentrional, segundo
informou à Agência Brasil o presidente
da Ordem dos Advogados do Brasil de Sergipe (OAB/SE),
Henri Clay Andrade.
De acordo com o presidente, a manifestação
será em frente ao Centro Federal de Educação
Tecnológica (Cefet), local onde será
realizada a audiência, marcada para as 18h30
(horário local). Coordenada pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), a audiência tem
como objetivo discutir com a população
o projeto de integração e o processo
de licenciamento ambiental. É a segunda vez
que o Ibama tenta promover o encontro na capital
sergipana.
Henri Clay Andrade argumentou que o governo deveria
iniciar primeiro as obras de revitalização
do Velho Chico e não de integração
do rio. "A transposição é
um golpe mortal ao rio", ressaltou. Além
disso, ainda segundo o presidente da OAB/SE, é
preciso realizar um estudo mais aprofundado do impacto
ambiental do projeto, antes de sua discussão.
"A revitalização é necessária.
Se não for feita, daqui a 20 anos o rio estará
morto", afirmou.
Há duas semanas a OAB ajuizou ação
civil pública contra a realização
da audiência pública. Na ação,
a Ordem alega ainda que o projeto do governo é
ilegal. De acordo com Andrade, a contestação
está baseada em três argumentos: o
objetivo principal da integração é
facilitar o cultivo de camarão em grande
escala para exportação; a bacia doadora
não possui condições de transpor
as águas; e falta de provas de que os estados
que vão receber a água realmente necessitam.
A ação ainda não foi julgada.
Para o diretor de licenciamento ambiental do Ibama,
Nilvo Silva, a mobilização contra
a audiência é uma forma de acabar com
o diálogo à força. "Ser
contra é absolutamente legítimo. O
que não é aceitável, infelizmente,
é o que acontece aqui em Sergipe, quando
ser contra significa ser contra o debate, impedir
o debate à força. Tudo o que o Ibama
está fazendo é pelo seu papel institucional
e cumprindo a lei do Brasil. Impedir uma audiência
pública é impedir a aplicação
da lei", disse. E ressaltou que quem sai perdendo,
sem a audiência, é a própria
sociedade.
Nilvo Silva destacou que o órgão não
vai admitir qualquer manifestação
"violenta e desrespeitosa". E lembrou
que a realização da audiência
no estado foi uma iniciativa do Ibama. Durante 75
dias, o instituto abriu espaço para que os
estados da Bacia Hidrográfica do São
Francisco manifestassem interesse em discutir o
licenciamento ambiental com o órgão
– apenas Minas Gerais solicitou uma audiência.
"Se tem uma instituição nesse
país que quer realizar o debate é
o Ibama", afirmou. Ele explicou que o papel
do órgão é fazer uma "análise
crítica do projeto", que é do
Ministério da Integração Nacional.
Quanto à revitalização do rio,
o diretor insistiu que esta é a principal
preocupação do Ibama. E que o processo
de integração não deverá
interferir na recuperação do rio.
"Alguns questionamentos poderão ser
encaminhados para o Ministério da Integração
Nacional. A população terá
ainda 10 dias, após a audiência, para
enviar propostas sobre o projeto. A revitalização
do rio é uma necessidade independente da
discussão do processo do rio São Francisco",
acrescentou, destacando que os governos estaduais
também precisam assumir essa responsabilidade.
O Ibama não tem prazo para apresentar a conclusão
sobre o licenciamento ambiental do projeto. A expectativa
do Ministério da Integração
Nacional é iniciar as obras em abril. O projeto
de integração do Rio São Francisco
às bacias do Nordeste vai beneficiar o sertão
e o agreste dos estados de Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte e Ceará. A previsão
é que sejam construídos dois canais:
um a Leste, que vai abastecer cidades de Pernambuco
e da Paraíba; e outro na direção
Norte, que vai levar água para municípios
do Ceará e do Rio Grande do Norte. A idéia
é garantir água para 12 milhões
de pessoas que vivem no Polígono da Seca.
De acordo com o Ministério da Integração
Nacional, será captado apenas um 1% da água
que o São Francisco joga no mar para consumo
humano e animal no semi-árido nordestino.
Fonte: Agência Radiobras
(www.radiobras.gov.br)
Carolina Pimentel